Língua lingala

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O lingala (em lingala, lingála ou ngala) é uma das grandes línguas bantus, falada como idioma materno na região noroeste da República Democrática do Congo (Congo-Quinxassa) e uma grande parte da República do Congo (Congo-Brazavile). Além disso, serve como língua franca em toda a extensão do território do primeiro país, e goza também de certa importância em partes de Angola e da República Centro-Africana. É falada por mais de dez milhões de pessoas. Sua classificação é "C.36D" no sistema Guthrie de categorização de línguas bantus, e "C.40" no sistema SIL.

História[editar | editar código-fonte]

Distribuição geográfica do lingala com as regiões onde é língua materna (verde-escuro) e as demais regiões onde é usada

As origens do lingala remontam ao bobangui, língua falada ao longo do Rio Congo entre Lisala e Quinxassa. O bobangui era a língua comum dos comerciantes da região anteriormente à criação do Estado Livre do Congo. Nas últimas duas décadas do século XIX, após o rei Leopoldo II da Bélgica haver estimulado a ocupação e exploração da área, o bobangi tornou-se mais difundido. Os intermediários e intérpretes empregados pelos Europeus, oriundos de outras partes do continente, como Zanzibar, Comores e o interior de Tanganica, aprenderam-na e influenciaram-na ao misturá-la com os seus próprios idiomas. A administração colonial, necessitando de instituir uma língua comum no território, passou a usar este novo dialeto para propósitos de catequismo e administração, chamando-a de bangala para distingui-la do antigo bobangi. Por voltas da virada do século, missionários da Congregatio Immaculati Cordis Mariae (CICM ou Congregação do Coração Imaculado de Maria em português) embarcaram em um projecto para "purificar" a língua e fazer com que voltasse a ser integralmente bantu.

Meeuwis (1998:7) escreve o seguinte:

Missionários como o protestante W. Stapleton e mais tarde, e com mais influencia, o próprio E. De Boeck julgaram que a gramática e léxico desta língua eram demasiado pobres para propósitos de educação, catequismo, e outros tipos de comunicação vertical com os africanos no noroeste e centro-oeste da colónia. (…) Eles incumbiram-se de 'corrigir' e 'expandir' a língua, utilizando-se dos elementos gramaticais e léxicos das línguas que os rodeavam.

Neste processo de "purificação", o nome bangala foi substituído por lingala, ao emprestar-se um prefixo de uma das línguas regionais. O novo termo aparece pela primeira vez de forma escrita em 1903 em uma publicação do missionário Egide De Boeck da CICM.

O vocabulário do lingala contém inúmeros empréstimos do francês e um número bem menor vindo do inglês, como milk ("leite"), que virou míliki, e book ("livro"), que virou búku. Há também uma considerável influência do português, surpreendente pelo facto de as duas línguas jamais haverem estado em contacto directo.

Alfabeto[editar | editar código-fonte]

O alfabeto utilizado é o latino com as seguintes particularidades:

  • sete vogais - a, e, ɛ (é), i, o, ɔ (ó), u

Nota - o Y é considerado uma consoante - som "I".

  • Consoantes do alfabeto latino sem Q e X, mais os grupos consonantais GB, MB, MP, ND, NG, NK, NS, NT, NY, NZ, SH;

A língua Lingala apresenta 4 tons assim marcados:

Vocabulário proveniente do português[editar | editar código-fonte]

Acredita-se que as seguintes palavras em lingala tenham a sua origem no português. No entanto, é possível que algumas provenham do francês.[1]

  • A - ananasi (ananás)
  • B - batisimu (baptismo), bendele (bandeira)
  • F - felo (ferro de engomar), fulele (flor)
  • K - kamela (camelo), kaminyo (camião), kazaka (casaco), kopo (copo), koyekola (estudar[nota 1]), Kristo (Cristo), kuruse (cruz)
  • L - lomingo (domingo), loso (arroz)
  • M - manga (manga/fruto), makuta (macuta[nota 2]/dinheiro), manteka (manteiga), matabisi (matabicho), mesa (mesa), mosantu/basantu (santo/santos), mosikitele (mosquiteiro)
  • N - ndoki (bruxo), nzambe (Deus)
  • P - palata (prata), pilipili (piri-piri)
  • S - sabala (sábado), saboni (sabão), saki (saco), sapato (sapato), satana (Satanás), sefu (chefe), sinema (cinema), sukali (açúcar)
  • T - tomati (tomate), tribunali (tribunal), tumbako (tabaco)
  • V - vinu (vinho)
  • W - wolo (ouro)

Amostra de texto[editar | editar código-fonte]

Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Em lingala:

Bato nyonso na mbotama bazali nzomi mpe bakokani na limemya mpe makoki. Bazali na mayele mpe basengeli kofanda na bondeko okati na bango.

Em português:

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São providos de razão e consciência e devem agir uns em relação aos outros num espírito de fraternidade.

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Notas
  1. Derivado de "ir à escola"
  2. Macuta era o nome da primeira moeda angolana
Referências


  1. «Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». Consultado em 11 de março de 2006. Arquivado do original em 16 de fevereiro de 2006 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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