Revisão de texto

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Define-se a revisão de texto como as interferências no texto, visando a sua melhoria. Essas mudanças podem atingir palavras, frases ou parágrafos e ocorrem por cortes, inclusões, inversões ou deslocamentos. A pessoa encarregada desta tarefa é revisor de textos, cujo papel é verificar, com o editor da matéria, o orientador ou coautores, se há erros de ortografia, se a matéria está corretamente direcionada aos factos citados, entre outros. Tratando-se de um processo de autorrevisão, as mudanças são feitas pelo próprio autor sem a ajuda de um colega ou do revisor.

O revisor exerce uma função essencial na preparação de textos para a circulação pública. Embora muitas vezes a ocupação seja identificada com as áreas de Jornalismo e Edição, a revisão é parte do processo de elaboração de qualquer produto final que utilize linguagem verbal (jornal, revista, livro, publicidade, encartes de CDs e DVDs, embalagens de produtos...), bem como na finalização de trabalhos académicos. No entanto, muitas empresas reduziram ou mesmo eliminaram as equipas de revisores após a introdução da informática nas redações. A revolução tecnológica verificada nos últimos anos não conseguiu substituir, através das suas inovações informáticas, a leitura humana e subjetiva. A análise de documentos exige uma adaptação ao contexto específico de cada trabalho e uma validação de regras linguísticas complexas. Uma máquina ou um software não tem ainda competências para tal.[1] Também é raro que as instituições de ensino e pesquisa estejam dotadas de revisores de textos, embora a contratação desse serviço seja comum na academia.

É recorrente a ideia equivocada de que a revisão de textos se restringe à correção de aspectos gramaticais. A revisão vai muito além da simples correção, pois a coerência interna e externa do texto devem ser observadas. Entende-se como coerência interna a adequação da língua ao gênero textual. O texto literário, por exemplo, não poderá ser revisado com os mesmos critérios utilizados na revisão de um texto acadêmico, e mesmo dentro de cada um desses gêneros existem usos específicos que identificam diferentes comunidades de escrita. Vinculada à coerência interna, há o princípio da não-contradição, que consiste em se evitar afirmações que se contradigam ao longo do texto. Como coerência externa, entende-se a relação do conteúdo do texto com a realidade extratextual. Por exemplo, o uso de conceitos, no interior do texto, que não se compatibilizem com determinada realidade constitui um rompimento da coerência externa.

Idealmente, qualquer texto destinado à circulação pública deveria ser submetido a diversas fases de revisão; as primeiras e a última pelo próprio autor, mas outras pessoas devem rever o trabalho para que os diversos tipos de problemas sejam reduzidos ao mínimo.

O autor, devido à sua familiaridade com o assunto e proximidade ao texto, ou mesmo por incompleto domínio da linguagem escrita, comete quase sempre lapsos e equívocos que ele próprio não identifica em sucessivas leituras do seu trabalho. Mesmo os orientadores acadêmicos, formalmente responsáveis pelo acompanhamento da produção, pelos mesmos motivos, estão sujeitos a tais enganos e lapsos.

Os revisores profissionais trabalham melhor se o texto lhes for entregue “pronto”, inteiro, de forma que, depois de revisado, não sofra mais modificações que não sejam aquelas apontadas durante o tratamento editorial. A interlocução entre revisores e autores é necessária para garantir que suas intenções e ideias sejam corretamente interpretadas, sendo, portanto, parte constitutiva desse processo.[2]

Tipos de revisão de textos[editar | editar código-fonte]

Revisão primária[editar | editar código-fonte]

Para alguns, confunde-se com o copidesque (em inglês copy desk) ou com preparação de texto (em inglês revision); aponta incoerências, repetições, uso incorreto da língua e falta de normalização. Normalmente inclui mecanismos eletrónicos de verificação da ortografia e sintaxe. Em alguns casos inclui a formatação de texto, inclusive em se tratando de trabalho académico, quando serão obedecidas normas da ABNT, Vancouver, APA, ISO, por exemplo, ou as normas da própria instituição ou veículo a que se destina o texto.

Nessa fase é comum e aconselhável a interação com autor ou autores, bem como editores, orientadores e outros responsáveis pelo texto.

Revisão secundária[editar | editar código-fonte]

Verifica uniformidade e constância temporal e pessoal das formas verbais, vícios de eufonia, linguagem oral ou desconhecimento etimológico, clareza, ordenação sintática e hierarquização das ideias. Verificação “final” de todos os aspectos linguísticos, metodicamente, conferindo os diferentes aspectos na seguinte ordem:

  • erros de digitação, ortografia, pontuação e concordância não detectáveis pelos revisores eletrônicos;
  • uniformidade e constância temporal e pessoal;
  • vícios decorrentes da linguagem oral ou desconhecimento etimológico;
  • vícios de eufonia (cacófatos e outros);
  • ordenação sintática e hierarquização das ideias.

Revisão de provas[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revisão de provas

Um revisor lê a obra já paginada em formato de página (em inglês proofreading), verificando não só erros de português como inconsistências de tipologia, espaços a mais ou a menos, numerações, “caminhos de rato”, “viúvas”, “forcas”, "linhas penduradas", "dentes de cavalo" e outros problemas de paginação.

Revisão académica[editar | editar código-fonte]

Revisão de teses, dissertações, monografias, artigos, comunicações e trabalhos académicos em geral. Normalmente requer a interferência de profissional habituado ao jargão universitário, familiarizado com as normas e objetivos do texto científico.

Revisão técnica[editar | editar código-fonte]

Inclui interferência crítica feita por um profissional com qualificação académica no objeto do trabalho, proporcionando ao autor a tranquilidade de uma opinião externa e descomprometida com o conteúdo do texto e com a sua produção, sendo um importante recurso para os autores que trabalham distantes de seus orientadores formais.

Revisão final[editar | editar código-fonte]

No jargão dos revisores, conhecida como “cata piolho” e outras expressões do género. Refere-se à última leitura do texto, antes do esgotamento do prazo para entrega. Verifica todas as mínimas questões remanescentes; e sempre haverá mais a ser revisado, enquanto houver tempo.

Listas de checagem[editar | editar código-fonte]

Diversos revisores usam listas de checagem (em inglês checklists) nas diversas fases da revisão. Estas listas, longe de substituírem a leitura atenta e o conhecimento linguístico e a vivência profissional, subsidiam a rotina de trabalho, favorecendo o treinamento dos profissionais em formação e garantindo a padronização em equipes de trabalho. Nenhuma lista de checagem é completa ou perfeita, elas se sobrepõem e se complementam.

Checagem objetiva[editar | editar código-fonte]

  • Primeira etapa

Tem o objetivo de corrigir principalmente os erros e textos em versão eletrônica, eliminando os erros recorrentes desse tipo de redação e edição pelo autor, ou autores e demais pessoas que interferiram no texto, editores ou orientadores – por exemplo. O quadro que se segue exemplifica o procedimento, mas não o esgota.

Quadro 1 – Formatação primária
OCORRÊNCIA JUSTIFICATIVA INTERFERÊNCIA
Duplo parágrafo. Tentativa de formatar o parágrafo, dando espaços. Substituir parágrafo duplo por simples.
Múltiplos espaços entre as palavras. Erro na digitação ou movimentação de palavras ou grupos. Localizar e substituir espaços duplos por simples.
Espaços antes ou depois de marcas de parágrafo. Mais comumente por erro de digitação. Localizar e substituir os espaços excedentes.
Espaços antes de sinais de pontuação. Mais comumente por erro de digitação. Localizar e substituir os espaços excedentes.
Uso de hífen entre as palavras. Os autores não conhecem a diferença entre hífen, vírgula inglesa e travessão. Localizar e substituir adequadamente.
  • Segunda etapa

Corrige os erros mais comuns; os que ocorrem em abundância em quase todos os textos devem ser procurados de forma sistemática ao longo do trabalho. O quadro seguinte exemplifica as ocorrências típicas e procedimentos.

Quadro 2 – Erros comuns
OCORRÊNCIA JUSTIFICATIVA INTERFERÊNCIA
Um, uma. Abuso de pronomes e artigos indefinidos. Excluir supérfluos.
Aonde, onde. Impropriedades: regência e/ou inadequação. Substituir um pelo outro ou adequar.
Do / da. Impropriedade no emprego da preposição no sujeito. Substituir por “de o / de a”.
Nível de... Impropriedade no emprego em sentido figurado ou como locução adverbial expletiva. Substituir pelo advérbio correspondente ou suprimir, segundo o caso.

Checagem subjetiva[editar | editar código-fonte]

Compreende aspectos que somente a leitura atenta do texto inteiro pode proporcionar. Esta relação é baseada nas instruções do On-Line Writing Lab[3].

  • O texto é amigável, incluído o que o leitor precisa saber e só o que ele precisa saber?
  • O texto tem uma tese ou propósito?
  • Os parágrafos se relacionam com a tese ou propósito?
  • Cada parágrafo tem um tópico frasal com a ideia central?
  • Os detalhes de cada parágrafo se relacionam com a ideia central?
  • Alguns detalhes devem ser movidos para outro parágrafo?
  • Há uma frase de conclusão para o parágrafo?
  • Há transição entre os parágrafos?
  • O verbo concorda sempre com o sujeito?
  • A escolha dos pronomes e sua posição está correta?
  • As estruturas de coordenação e subordinação sintática estão corretas?
  • Há orações muito longas que devem ser separadas?
  • Há sequências de frases muito curtas?
  • Há palavras faltando?
  • Há palavras repetidas?

Referências

  1. «Revisão e Correção de texto». fraseafrase.net. 1 de dezembro de 2019. Consultado em 14 de dezembro de 2019 
  2. SALGADO, Luciana Salazar (2017). Ritos genéticos editoriais: autoria e textualização. Bragança Paulista: Margem da Palavra 
  3. Segundo LEFFA:1996
Notas


Bibliografia
  1. ANDRASICK, Kathleen, D. “Independent repatterning: Developing self-editing competence”. English Journal, v. 82, n. 2, p. 28-31, 1993.
  2. ARROJO, Rosemary. “A relação exemplar entre autor e revisor (e outros trabalhadores textuais semelhantes) e o mito de Babel: alguns comentários sobre História do Cerco de Lisboa, de José Saramago”. D.E.L.T.A. v. 19, n. Especial, 2003.
  3. ATHAYDE, Públio. Revisão de textos: teoria e prática. Belo Horizonte: Keimelion, 2012.
  4. BUENO, Silvia Senz. “‘En lugar de la Mancha’... Procesos de control de calidad del texto, libros de estilo y políticas editoriales”. Panace@. v. VI, n. 21-22, set.-dez. 2005.
  5. CÁLIS, Orasir Guilherme Teche. A reescrita como correção: sobras, ausências e inadequações na visão de formandos em Letras. Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
  6. DAIUTE, Colette. “Physical and cognitive factors in revising: Insights from studies with computers.” Research in the Teaching of English, v. 20, n. 2, p. 141-159, 1986.
  7. GEHRKE, Nara Augustin. “Na leitura, a gênese da reconstrução de um texto.” Letras de Hoje, v. 28, n. 4, p. 115-154, 1993.
  8. HAWISHER, Gail E. “The effects of word processing on the revision strategies of college students”. Paper presented at the Annual Meeting of the American Educational Research Association (San Francisco), 1986. (ERIC Document Reproduction Service No.ED 268 546)
  9. HUNTER, Sylvia. “Why copy editors matter”. Journal of Scholarly Publishing. out. 2004.
  10. IRBY, Janet R. “How does a story grow?: Revision as collaboration". Quill and Scroll, v. 69, kn. 3, p. 7-9, 1995.
  11. KURTH, Ruth J. “Using word processing to enhance revision strategies during student composing.” Paper presented at the Annual Meeting of the American Educational Research Association (San Francisco), 1986. (ERIC Document Reproduction Service No.ED 277 049)
  12. LEHR, Fran. “Revision in the writing process”. (ERIC Document Reproduction Service No. ED ED379 664)
  13. LEFFA, Vilson J. “O processo de auto-revisão na produção do texto em língua estrangeira”. Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional da ANPOLL, João Pessoa, 2 a 6 de junho de 1996.
  14. LEVESQUE, France. “Réviseur: un métier, deux pratiques”. Rédiger. n. 2, 1998.
  15. MacDONALD, Susan. “Becoming editors”. English Quarterly, v. 25, n. 1, p. 14-18, 1993
  16. MARTINS FILHO, Plínio. “O bom revisor de textos”. Em: RIBEIRO, Ana Elisa; COSCARELLI, Carla Viana (org.). Conversas com editores. Belo Horizonte: UFMG, 2007. (Cadernos Viva Voz)
  17. MUNIZ JR., José de Souza; SALGADO, Luciana Salazar. “Da interlocução editorial: a presença do outro na atividade dos profissionais do texto”. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 1, n. 5, p. 87-102, 2011.
  18. MUNIZ JR., José de Souza. “Uma perspectiva ergodialógica sobre a atividade de editores, preparadores e revisores na produção de livros”. Anais do Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso. Porto Alegre: PUCRS, 2011. p. 252-260.
  19. MUNIZ JR., José de Souza. “Revisor, um maldito: questões para o trabalho e para a pesquisa”. In: RIBEIRO, Ana Elisa; VILLELA, Ana Maria Nápoles; SOBRINHO, Jerônimo Coura; SILVA, Rogério Barbosa da (Org.). Leitura e escrita em movimento. São Paulo: Peirópolis, 2010. p. 269-290.
  20. MUNIZ JR., José de Souza. “A intervenção textual como atividade discursiva: considerações sobre o laço social da linguagem no trabalho de edição, preparação e revisão de textos”. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba: Intercom, 2009.
  21. PLUMB, Carolyn et al. “Error correction in text: Testing the processing-deficit and knowledge-deficit hypotheses.” Reading and Writing: An Interdisciplinary Journal; v. 6, n. 4, p. 347-60, 1994.
  22. POWERS, Rachel L. “The editors' table: Best seat in the classroom”. Perspectives in Education and Deafness, v. 13, n. 3, p. 20-21, 1995.
  23. RIBEIRO, Ana Elisa. “Em busca do texto perfeito: (in)distinções entre as atividades do editor de texto e do revisor de provas na produção de livros”. Anais do XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste, Juiz de Fora (MG). São Paulo: Intercom, 2007.
  24. RIBEIRO, Ana Elisa. “Recados ao revisor de textos: representações do profissional de texto nas crônicas de Eduardo Almeida Reis”. Verso e Reverso. v. 22, 2008.
  25. SALGADO, Luciana S. “O autor e seu duplo nos ritos genéticos editoriais”. Eutomia, n. 1 (525-546), 2008.
  26. SALGADO, Luciana S. Ritos genéticos no mercado editorial: autoria e práticas de textualização. Tese (Doutorado), Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2007.
  27. SOMMERS, Nancy. Revision strategies of student writers and experienced adult writers. Washington, DC: National Institute of Education, 1982. (ERIC Document Reproduction Service No.ED 220 839)
  28. VAN DE POEL, Kris (org), “Text editing: from a talent to a scientific discipline.” Antwerp Papers in Linguistics n. 103, Antuérpia: Universiteit Antwerpen, 2003.
  29. VIGNEAU, François et al. “La révision de texte: une comparaison entre réviseurs débutants et expérimentés”. Révue des sciences de l’éducation. vol. XXIII, n. 2, pp. 271–288, 1997.
  30. VITA, Ercilene Maria de Souza. O sujeito, o outro e suas relações com o texto na revisão de textos escolares. Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
  31. YAMAZAKI, Cristina. “Editor de texto: quem é e o que faz”. Anais do XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Santos (SP). Intercom: São Paulo, 2007.
  32. YAMAZAKI, Cristina. “Por uma edição de livros sem preconceitos”. Anais do XIII Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, Pelotas (RS). Intercom: São Paulo, 2008.
  33. YODER, Sue Logsdon. “Teaching Writing Revision: Attitudes and Copy Changes”. Journalism Educator, v. 47, n. 4, p. 41-47, 1993.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

(em inglês) Função do revisor de texto na União Europeia