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Materialismo histórico

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O materialismo histórico[1] é uma uma teoria científica[2][3] (embora na filosofia da ciência isso seja discutido)[4][5] que contém uma abordagem metodológica[6][7] ao estudo da sociedade, da economia e da história que foi pela primeira vez elaborada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). O materialismo histórico procura as causas de desenvolvimentos e mudanças na sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem, coletivamente, as necessidades da vida. As classes sociais e a relação entre elas, além das estruturas políticas e formas de pensar de uma dada sociedade, seriam fundamentadas em sua atividade econômica.[8]

O materialismo histórico, na qualidade de sistema explanatório, foi expandido e refinado por milhares de estudos acadêmicos desde a morte de Marx.

Ideias Centrais[editar | editar código-fonte]

De acordo com a tese do materialismo histórico, defende-se que a evolução histórica, desde as sociedades mais remotas até as atuais, se dá pelos confrontos entre diferentes classes sociais decorrentes da "exploração do homem pelo homem". A teoria serve, também, como forma essencial para explicar as relações entre sujeitos. Assim, como exemplos apontados por Marx, temos, durante o feudalismo, os servos que teriam sido oprimidos pelos senhores, enquanto que, no capitalismo, seria a classe operária pela burguesia.

Esta teoria de evolucionismo[9] histórico fundamentava o pensamento Marxista que conduziu à implementação dos regimes comunistas pela "Revolução", ou seja, a rebelião das classes operárias contra os capitalistas.

O materialismo histórico como propulsor\impulsionador da evolução histórica foi posto em causa quer pelos pensadores liberais, que levaram ao desenvolvimento das Democracias do Norte da Europa, Reino Unido e América do Norte, quer pelos pensadores corporativistas que levaram ao desenvolvimento dos regimes autoritários de Itália, Portugal e Espanha.

No capítulo III da obra "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", Friederich Engels afirma:[10]

"A concepção materialista da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz ou pelo modo de trocar os seus produtos."

Fundamentos[editar | editar código-fonte]

O materialismo histórico, pensamento desenvolvido por Karl Marx, fundamenta-se, inicialmente, na análise da realidade a partir da teoria da infraestrutura e superestrutura que circundam um determinado modo de produção. Isto significa dizer que a história sempre está ligada ao mundo dos homens enquanto produtores de suas condições concretas de vida e, portanto, tem sua base fincada nas raízes do mundo material, organizado por todos aqueles que compõem a sociedade. Os modos de produção são históricos e devem ser interpretados como uma maneira que os homens encontraram, em suas relações, para se desenvolver e dar continuidade à espécie. Segundo Marx:[11]

"Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência"

O fato de Marx estar ligado a essa percepção material da vida e, por conseguinte, vinculado ao entendimento das relações humanas a partir dessa lógica da realidade que se faz presente no cotidiano das pessoas, nos dá a possibilidade para compreendermos que o pensamento marxista se estrutura, principalmente, por meio da inversão do pensamento Hegeliano. O propósito de uma história pautada no materialismo aparece como uma oposição ao idealismo.[12] A realidade dos povos, segundo Marx, não pode ser explanada a partir de um parâmetro que entenda as ideias como um fator que figurem em primeiro plano, uma vez que estas somente encontram o seu valor enquanto fornecedoras dos alicerces que sustentam a imensa estrutura econômica, que nada mais é do que o próprio mundo material, o mundo real.

As ideias seriam, então, o reflexo da imagem construída pela classe social dominante. O poder que ela exerce sobre as pessoas está diretamente relacionado com a edificação ideológica que esta “elite” constrói dentro das mentes de seus dominados, fornecendo sua visão de mundo. É dessa forma que a ideologia permeia a consciência de todos, transformando-os em objetos de uso e de exploração. Assim sendo, Marx acreditava que a manutenção da estrutura econômica se dá mediante essa inversão da realidade, que se encontra no direito, na religião, e nas mais diversas formas de controle.

Segundo Marx, a sucessão de um modo de produção por outro ocorre devido à inadequação desse mesmo modo de produção e suas forças produtivas. Exemplo: no final da Idade Média, quando houve o desenvolvimento do comércio, as relações servis começaram a desempenhar um papel de entrave ao desenvolvimento das forças produtivas, provocando assim uma implosão dentro do sistema e originando outro novo: o capitalismo. Compreende-se, então, que o capitalismo nasceu a partir das contradições do sistema feudal, e que a burguesia (classe dirigente), ao criar a sua oposição, o operariado, engendrou também o seu futuro extermínio, cavando a sua própria cova.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Dicionário Político - Marxismo-Leninismo». www.marxists.org. Consultado em 21 de novembro de 2017 
  2. Harnecker, Marta (1977). Los conceptos elementales del materialismo histórico 38.ª ed. México: Siglo Veintiuno Editores. p. 276. OCLC 37333810 
  3. Cohen, G. A. (1983). «Reconsidering Historical Materialism». NOMOS: American Society for Political and Legal Philosophy. 227 páginas. Consultado em 20 de agosto de 2022 
  4. Shea, Brendan (2013). «Karl Popper: Philosophy of Science | 2. Falsification and the Criterion of Demarcation». Internet Encyclopedia of Philosophy (em inglês). Consultado em 9 de junho de 2024. ...Popper contrasta este método legítimo e científico de revisão de teorias —falsificacionismo— com o uso ilegítimo e não científico de hipóteses ad hoc para resgatar teorias da falsificação. Aqui, uma hipótese ad hoc é aquela que não permite a geração de previsões novas e falsificáveis. Popper dá o exemplo do marxismo, que ele argumenta ter originalmente feito previsões definidas sobre a evolução da sociedade: o sistema capitalista de livre mercado se autodestruiria e seria substituído pela propriedade conjunta dos meios de produção, e isso aconteceria primeiro em as economias mais desenvolvidas. 
  5. Imre, Lakatos (2007). Escritos filosóficos 1: A metodologia dos programas de pesquisa científica (PDF) (em espanhol). [S.l.]: Alianza Madrid. pp. 12–15. ISBN 978-8420687216. Para um popperiano, o marxismo é científico se os marxistas estiverem dispostos a especificar os factos que, se observados, irão levaria ao abandono do marxismo. Se se recusarem a fazê-lo, o marxismo torna-se uma pseudociência. É sempre interessante perguntar a um marxista que evento concebível o levaria a abandonar o seu marxismo. Se você está ligado ao marxismo, achará imoral especificar um estado de coisas que possa refutá-lo. Por tanto, uma proposição pode fossilizar até se tornar uma dogma pseudocientífico, ou tornar-se conhecimento genuíno, dependendo de estarmos dispostos a especificar as condições observáveis ​​que o refutariam [...] o marxismo alguma vez previu alguma coisa com sucesso? Nunca. Ele tem algumas previsões famosas de que não foram cumpridos. Ele previu o empobrecimento absoluto da classe trabalhadora. Ele previu que a primeira revolução socialista aconteceria na sociedade industrial mais desenvolvida. Ele previu que as sociedades os socialistas estariam livres de revoluções. Ele previu que eles não existiriam conflitos de interesse entre países socialistas. Portanto, as primeiras previsões do marxismo foram ousadas e surpreendentes, mas estes falharam. Os marxistas explicaram todos os fracassos: explicaram a elevação dos padrões de vida da classe trabalhadora criando uma teoria do imperialismo; eles até explicaram as razões pelas quais a primeira revolução socialista ocorreu num país industrialmente atrasado como a Rússia. Eles “explicaram” os acontecimentos de Berlim em 1953, Budapeste em 1956 e Praga em 1968. "Eles explicaram" o conflito russo-chinês. Mas todas as suas hipóteses auxiliares foram fabricado após os eventos para proteger a teoria dos fatos. O programa newtoniano deu origem a novos factos; O programa marxista ficou para trás em relação aos factos e tem corrido para recuperar o atraso desde então...  zero width space character character in |citacao= at position 626 (ajuda)
  6. Martins, Lígia Márcia; Lavoura, Tiago Nicola (setembro–outubro de 2018). «Materialismo histórico-dialético: contributos para a investigação em educação». Educar em Revista. pp. 223–239. doi:10.1590/0104-4060.59428. Consultado em 9 de agosto de 2022 
  7. Franco, Kaio José Silva Maluf (setembro–outubro de 2018). «PESQUISA QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO: BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA METODOLOGIA MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO». Consultado em 9 de agosto de 2022 
  8. Nikolai Bukharin. «Historical Materialism: A System of Sociology» 
  9. Richard Lewontin, Biology as Ideology: The Doctrine of DNA, Penguin, London, 1993, p 9
  10. «Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico» 
  11. «Karl Marx: Contribuição à Crítica da Economia Política» 
  12. Marx, Karl, O Capital, Prefácio a 2ª edição Alemã (187Marx, Karl, O Capital, Prefácio a 2ª edição Alemã (187
  13. «Marx/Engels on Historical Materialism» 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • White, James D. (1996). Karl Marx and the Intellectual Origins of Dialectical Materialism (em inglês). [S.l.]: Palgrave Macmillan 
  • Echeverría, Bolívar (2011). EL MATERIALISMO DE MARX - Discurso crítico y revolución (em espanhol). [S.l.]: Itaca. ISBN 978-607-7957-04-1 
  • Balibar, Étienne (1974). Cinq études du matérialisme historique (em francês). [S.l.]: François Maspero