Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

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A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) foi um órgão de Estado vinculado ao Governo Federal do Brasil destinada a localizar e reconhecer os desaparecidos pela Ditadura Militar em decorrência de suas atividades políticas no período de 1961 até 1979. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) foi instituída por meio da Lei nº 9.140, de 04 de dezembro de 1995[1][2] e vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, era composta por sete membros, nomeados livremente pelo presidente da República.[3][4]

Conteúdo[editar | editar código-fonte]

Teria produzido 14 relatórios oficiais em suas atividades trimestrais de dezembro de 1995 a dezembro de 2022[5], produziu durante seus anos de operação também um grande acervo sobre isto. O acervo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos é constituído, principalmente, pelo conjunto de documentos que formaram os procedimentos administrativos apreciados a partir do início dos seus trabalhos. Tais documentos, conhecidos como "processos", serviram como base para o início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, além de auxiliarem os trabalhos das Comissões Estaduais e Municipais da Verdade criadas em todo o Brasil.[6] Tendo seu relatório final em dezembro de 2022[7], contabilizando do início ao fim do projeto mais de 400 desaparecidos políticos[8][9][10]

lugares da memória[editar | editar código-fonte]

A Comissão Especial catalogou e registrou em seu banco de dados 222 lugares de memória relacionados a ditadura militar brasileira, dos quais, 3 encontram-se fora do Brasil. A pesquisa procurou relacionar os lugares de memória, em sua maioria, aos casos de pessoas mortas ou desaparecidas, de modo que o mesmo lugar de memória pode relacionar-se a diferentes pessoas vitimadas, em diferentes períodos. A luta pelos lugares de memória relacionados à ditadura militar, como a transformação em memoriais, demarcação com placas e intervenções artísticas, representando dessa forma um importante rompimento com o processo de apagamento da memória coletiva e com o silenciamento. O processo de identificação de lugares associados às graves violências cometidas durante o período vem sendo encampado majoritariamente por ex-presos, familiares de mortos, desaparecidos e perseguidos políticos de maneira independente ou reunidos em comitês e comissões que buscam esclarecer as circunstâncias e violações promovidas pelo Estado[11][12][13] [14][15]


fim e possível retomada[editar | editar código-fonte]

O fim da comissão no governo de Jair Messias Bolsonaro fora questionada em sua legitimidade, tanto devido a opiniões polêmicas do presidente, quanto por ilegalidades em seu encerramento, alguns dos seus questionadores foram Orlando Silva de Jesus Júnior que é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e destacou que a extinção da CEMDP violaria normas internacionais, que determinam o direito inalienável de conhecer a verdade sobre graves violações de direitos humanos. [16][17][18][19][20][21][22][23], esforços foram feitos neste governo também para o encerramento de grupos ligados a indentificação das vítimas, como o Grupo de Trabalho Perus e o Grupo de Trabalho Araguaia, especificamente 1.047 caixas com ossadas da vala comum de um cemitério na zona oeste de São Paulo (SP), e o Grupo de Trabalho Araguaia, responsável pela busca e identificação dos restos mortais da guerrilha do Araguaia. A informação foi confirmada em 22 de abril de 2019 pelo jornal O Estado de S. Paulo. Ambos os grupos são atingidos pelo decreto 9.759, que extinguiu conselhos e comissões que permitiam a participação da sociedade civil no governo federal. [24]

Os grupos são vinculados à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A pasta, chefiada pela ministra Damares Alves, não informou se pretende continuar o trabalho de identificação das ossadas, e disse apenas que “está avaliando, estudando e proporá algo dentro dos parâmetros do decreto”.[25]

Uma votação pelo fim das atividades da CEMDP foi convocada pelo presidente Marco Vinicius Pereira de Carvalho, sendo aprovada por 4 votos a 3, em 15 de dezembro de 2022.[26]

No entanto, o encerramento da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), no final do governo de Jair Bolsonaro, interrompeu a busca e a identificação de ossadas de perseguidos durante a ditadura militar (1964 a 1985). A reinstalação do colegiado para a retomada das investigações, defendida pelo ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos), vai ao encontro de relatórios produzidos por comissões estaduais, municipais e universitárias da Verdade, que funcionaram entre 2012 e 2017, cujos documentos já alertavam para a necessidade de mais tempo de trabalho. Mas, apesar da defesa de Silvio Luiz de Almeida e do aval dos ministérios da Defesa e da Justiça, a retomada dos trabalhos depende da recriação da comissão, proposta pelo ministério e em análise na Casa Civil.[27]

O Ministério Público Federal, no Distrito Federal, recomendou ao governo federal que reinstale em 60 dias, no máximo, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). A recomendação, divulgada em 5 de março de 2024, foi encaminhada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.[28][29]

Para o MPF, além de ferir a norma criadora da comissão, a extinção do grupo, em 2022, também descumpre as recomendações do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), publicado em 2014, como a anotação da causa morte no registro de óbito de pessoas mortas em decorrência de graves violações de direitos humanos, além do prosseguimento de atividades voltadas à localização, identificação e entrega aos familiares dos restos mortais dos desaparecidos políticos. [30]


Referências

  1. https://www.gov.br/participamaisbrasil/cemdp
  2. https://www.gov.br/participamaisbrasil/legislacao5
  3. «Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos - CEMDP». Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Consultado em 29 de julho de 2019 
  4. Vitor Sorano e Felipe Néri (1º de agosto de 2019). «Bolsonaro e Damares trocam integrantes da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos». G1. Consultado em 29 de julho de 2019 
  5. https://www.gov.br/participamaisbrasil/resolucoes3
  6. https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/handle/192/459
  7. https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/bitstream/192/7953/1/26.12.2022%20-%20Relat%c3%b3rio%20Final%20-%20CEMDP.pdf
  8. https://dibrarq.arquivonacional.gov.br/index.php/comissao-especial-sobre-mortos-e-desaparecidos-politicos-2
  9. https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/503469/noticia.html?sequence=1&isAllowed=y
  10. https://oglobo.globo.com/politica/relatorio-da-comissao-da-verdade-vai-incluir-59-nomes-na-lista-de-mortos-desaparecidos-14500547
  11. https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/607/lugares-de-memoria-relacionados-a-ditadura-militar-em-sao-paulo/
  12. https://memorialdaresistenciasp.org.br/lugares-memoria/
  13. https://memorialdaresistenciasp.org.br/lugares/?view_mode=mio_tnc_masonry_grid&perpage=12&paged=1&order=ASC&orderby=date&fetch_only=thumbnail&fetch_only_meta=1046
  14. https://memresist.webhostusp.sti.usp.br/?page_id=8
  15. https://comunicauerj.wordpress.com/2021/09/27/conheca-5-lugares-de-memoria-da-ditadura-civil-militar-brasileira/
  16. https://www.brasildefato.com.br/2022/12/16/governo-bolsonaro-extingue-comissao-de-mortos-e-desaparecidos-que-apurava-crimes-da-ditadura
  17. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/presidente-da-cdhm-questiona-extincao-da-comissao-especial-de-mortos-e-desaparecidos-politicos
  18. https://www.brasildefato.com.br/especiais/pela-1a-vez-desde-a-redemocratizacao-brasil-tem-presidente-que-mitifica-a-ditadura
  19. https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/03/31/em-discurso-no-planalto-bolsonaro-defende-ditadores-militares-e-deputado-reu-por-atos-antidemocraticos.ghtml
  20. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/03/31/bolsonaro-obras-ditadura-militar.htm
  21. https://oglobo.globo.com/epoca/brasil/oito-vezes-em-que-bolsonaro-defendeu-golpe-de-64-24949762
  22. https://veja.abril.com.br/politica/bolsonaro-afirma-que-torturador-brilhante-ustra-e-um-heroi-nacional
  23. https://www.poder360.com.br/brasil/pos-ditadura-extingue-comissoes-e-deixa-militares-impunes-relembre/
  24. https://www.brasildefato.com.br/2019/04/22/bolsonaro-encerra-grupos-responsaveis-por-identificar-ossadas-de-vitimas-da-ditadura.
  25. https://www.brasildefato.com.br/2019/04/22/bolsonaro-encerra-grupos-responsaveis-por-identificar-ossadas-de-vitimas-da-ditadura
  26. «Maioria aliada a Bolsonaro aprova fim da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos». Estadão. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  27. https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/12/10/possivel-retomada-da-comissao-de-mortos-e-desaparecidos-politicos-mira-pendencias-em-ossadas-da-ditadura.ghtml
  28. https://www.brasildefato.com.br/2023/10/02/recriacao-da-comissao-sobre-mortos-e-desaparecidos-politicos-deve-acontecer-em-25-de-outubro
  29. https://www.brasildefato.com.br/2024/03/07/mpf-recomenda-reinstalacao-da-comissao-de-mortos-e-desaparecidos
  30. https://www.brasildefato.com.br/2024/03/07/mpf-recomenda-reinstalacao-da-comissao-de-mortos-e-desaparecidos