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Enchentes em Porto Alegre em 1941

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Enchente em Porto Alegre em 1941
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A enchente de 1941 em Porto Alegre foi a segunda maior enchente já registrada na cidade de Porto Alegre, sendo superada apenas pela enchente de 2024. Durante 22 dias, nos meses de abril e maio de 1941, as águas do Guaíba alcançaram uma cota de 4,76 metros[1][2][3] (sendo a média normal de 1 metro[4]).

O centro da cidade ficou debaixo d'água e os barcos se tornaram o principal meio de transporte de Porto Alegre. As águas atingiram pontos da cidade como o Mercado Público, a Prefeitura Municipal e a Rua da Praia. Os bairros mais atingidos em Porto Alegre, foram o Centro, Navegantes, Passo D’Areia, Menino Deus e Azenha.[5]

Foto do porto e centro histórico durante enchente que aconteceu na cidade de Porto Alegre, em maio de 1941

Causas[editar | editar código-fonte]

A Enchente de 1941 atingiu todo o Rio Grande do Sul.[5] Apesar disso, Porto Alegre foi uma das cidades mais atingidas em função de sua posição geográfica, nas margens do Lago Guaíba. A Região Hidrográfica do Guaíba cobre cerca de 1/3 da área do estado e, consequentemente, as chuvas de toda esta região escoam para o lago. Nestas sub-bacias ocorrem algumas das maiores precipitações pluviométricas do estado.[6] Na época da Enchente de 1941 a precipitação somou 791 milímetros.[2] Mesmo com o fim das chuvas, um vento sudoeste represou as águas da Lagoa dos Patos de volta a Porto Alegre.[1] O tempo de recorrência dessa cheia é de 370 anos.[7]

Consequências[editar | editar código-fonte]

No total, 70 mil habitantes ficaram desabrigados, quase um quarto da população de Porto Alegre (de 272 mil habitantes) na época,[1][2] sem energia elétrica e água potável. Cerca de 600 empresas suspenderam suas atividades.[1] Os prejuízos causados pela Enchente de 1941 foram calculados em 50 milhões de dólares.[5]

Uma rede de solidariedade foi formada para assegurar abrigo, remédios e alimentação aos flagelados. A Cruz Vermelha Norte-americana destinou US$ 10 mil aos flagelados do RS.[8]

Em consequência da mistura destas águas com os esgotos e outro resíduos, houve a proliferação de doenças na população local.[3]

Outra consequência da enchente foi a destruição de grande parte da Ferrovia do Riacho, que interligava o centro histórico com os bairros da zona sul da cidade.[9]

Fotos da Revista do Globo sobre os efeitos da enchente em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Obras de engenharia decorrentes da enchente[editar | editar código-fonte]

Visando evitar a repetição destes problemas, o Muro da Mauá foi construído (ao lado do Cais Mauá), conjuntamente a um sistema de contenção e drenagem.

A enchente de 1941 deu urgência à canalização do Arroio Dilúvio, que havia sido iniciada em 1939, após longo planejamento ao longo da primeira metade do século XX.[10]

Saúde pública e óbitos registrados[editar | editar código-fonte]

Durante a inundação, surgiu a expressão "abobado de enchente", ou "abobadinho da enchente"[11] cujo significado é impreciso, mas que provavelmente se refere a pessoas que tiveram surtos de doenças, em decorrência da exposição às águas e das condições sanitárias da cidade.[12][3] No entanto, outros significados foram atribuídos, incluindo: "aqueles que agem de forma desmotivada, vagarosa, descansada ou preguiçosa, assim como aqueles que se excedem no empenho de angariar atenção."[11]

Em relação ao número de óbitos diretamente relacionados à enchente de 1941, a quantidade de mortes não foi consolidada.[13] Apesar disso, existem algumas estimativas, como a relizada pelo jornalista Rafael Guimaraens no livro A enchente de 41, que apontam para 9 óbitos.[14] Segundo o jornalista Guimaraens: "Não há um número consolidado em relação a 1941. O que consta do meu livro são algumas mortes que pude identificar a partir de documentos em arquivos, especialmente da Santa Casa de Misericórdia, que era a grande instituição de saúde da época, e notícias de jornais."[13] Os óbitos relacionados indiretamente à enchente são principalmente os relativos ao surto de leptospirose, posterior à enchente, que variam entre 25 ou 26 mortes.[13]

Outras enchentes em Porto Alegre[editar | editar código-fonte]

A enchente de 1941 é considerada a segunda maior já ocorrida em Porto Alegre, só ficando atrás da enchente de 2024, conforme fica evidente em diversos levantamentos[15] e na tabela a seguir contendo as cotas máximas (em metros) que a água atingiu.

Comparação de imagens de satélite de 20 de abril e 6 de maio de 2024 mostrando a enchente no Rio Grande do Sul, Brasil

Outras enchentes relevantes:

Ano Cota máxima (em metros) Fonte
1873 3,50 [7]
1914 2,60 [7]
1928 3,20 [7]
1936 3,22 [7]
1967 3,13 [2]
1984 2,50 [2]
2002 2,46 [2]
2015 2,94 [16]
2016 2,65 [17]
2023 3,46 [18]
2024 5,35 [15]
Cheia de 2015 na bacia do Guaíba


Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Guimaraens, Rafael (2015). Águas do Guaíba. Porto Alegre: Libretos. 216 páginas. ISBN 978-855-54-90-03-3 
  2. a b c d e f «Porto Alegre protegida contra enchentes como a de 1941». Prefeitura de Porto Alegre. Consultado em 7 de maio de 2019 
  3. a b c Guimaraens, Rafael (2009). A Enchente de 1941. Porto Alegre: Libretos. 100 páginas. ISBN 978-85-88412-21-7. OCLC 457551796 
  4. CEIC - Centro Integrado de Comando da Cidade de Porto Alegre. «Dados Históricos das Réguas Eletrônicas do Guaíba». Consultado em 7 de maio de 2019 
  5. a b c «Histórias e fotos da maior enchente de Porto Alegre». Sul 21. 18 de outubro de 2015. Consultado em 7 de maio de 2019 
  6. RAUBER, V.; ILGENFRITZ, M.G. Serviços de saneamento: a proteção contra inundações e a drenagem urbana. In: MENEGAT, R. et al. (Ed.). Atlas ambiental de Porto Alegre. 3. ed. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2006. p. 228.
  7. a b c d e «Características topográficas e cheias na cidade». Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Consultado em 7 de maio de 2019 
  8. «Diário de Notícias» (PDF). Página Sete - Primeira Secção 
  9. HUYER, André. A Ferrovia do Riacho: um Caminho para a Urbanização da Zona Sul de Porto Alegre. UFRGS, Porto Alegre, 2010
  10. Burin, Carolina Wolff (24 de setembro de 2009). «O caso da canalização do arroio Dilúvio em Porto Alegre : ambiente projetado x ambiente construído». Lume inicial. Consultado em 10 de janeiro de 2022 
  11. a b Machado, Cássio Andrado (2022). Crônicas De Um Atravessador De Pandemia. [S.l.: s.n.] 
  12. «Carta de 1941 conta sobre a enchente em Porto Alegre». Elenara Leitão. 13 de outubro de 2015. Consultado em 5 de maio de 2024 
  13. a b c BBC; Guimaraens, Rafael (14 de maio de 2024). «Autor de livro sobre enchente de 1941 ficou ilhado em bairro alagado de Porto Alegre». G1. Consultado em 11 de junho de 2024 
  14. Guimaraens, Rafael (2013) [2008]. A enchente de 41 4 ed. Porto Alegre: Libretos. p. 32-34 
  15. a b «Nível do Guaíba chega a 5,35 m e deve baixar lentamente». Agora RS. 5 de maio de 2024 
  16. RS, Do G1 (12 de outubro de 2015). «Guaíba volta a subir e atinge maior nível desde 1941 em Porto Alegre». Rio Grande do Sul. Consultado em 7 de maio de 2019 
  17. «Guaíba já registra quarta maior cheia desde 1941». GaúchaZH. 21 de outubro de 2016. Consultado em 7 de maio de 2019 
  18. «Porto Alegre deve enfrentar nova enchente; 6 comportas serão fechadas». Agora RS. 1 de maio de 2024 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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