Saltar para o conteúdo

Glones Mirranes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outras pessoas de mesmo nome, veja Glones.
Glones Mirranes
Nacionalidade Império Sassânida
Ocupação General
Título

Glones Mirranes (em grego: Γλώνης Μιρράνης; romaniz.: Glónes Mirránes; em armênio: Գոլոն Միհրան; romaniz.: Gołon Mihran), de acordo com Sebeos, mas também chamado Gorgom ou Gorguém (na grafia corrigida) a partir do selo duma coleção museológica de Londres a ele atribuído, foi o general sassânida (aspebedes) que tornou-se marzobã da Armênia de 573 a 575 (ou 580). Foi citado na História de Heráclio de Sebeos, porém devido a defasagem no registro não há consenso entre os historiadores se Glones pode ser o general Mirranes Mirabandaces que aparece no mesmo período.

Nome[editar | editar código-fonte]

Dracma de Cosroes I (r. 531–579)

Walter Bruno Henning afirmou que "Glones" ou "Glom" são as variantes helenizadas do armênio Gołon e Włon. Para ele, Włon-Gołon-Glon são formas tardias de Vrthraghna (Varhran, Bahram e assim por diante).[1] Por sua vez, Mirranes (Μιρράνης) ou Mitranes (Μιτράνης) são as formas gregas do nome persa médio Mirã (Mihrān),[2] que derivou do persa antigo Mitrana (*Miθrāna-). [3] Foi registrado em armênio como Mirã (em armênio/arménio: Միհրան; romaniz.: Mihran) e Merã (Մեհրան / Մէհրան, Mehran)[4] e em georgiano como Miriã (em georgiano: მირიან; romaniz.: Mirian).[2] Em sua forma georgiana, foi latinizado como Meribanes pelo historiador Amiano Marcelino.[5][6] Segundo a Vida de Vactangue, esse nome estava ligado a Mirdates, que deu origem a Mitrídates e outros nomes análogos.[7]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Em 571/2, o marzobã Surena assassinou Manuel II Mamicônio. Para se vingar, o irmão do falecido, Vardanes III, se rebelou e matou o marzobã. O Cosroes I (r. 531–579) enviou à Armênia o general Mirranes Mirabandaces a frente dum exército de 20 mil homens para suprimir a revolta, mas foi derrotado na planície de Calamaque, em Taraunitis, e Vardanes capturou os seus elefantes.[8] Depois, outro general, chamado Vardanes Usnaspes, foi enviado, mas também nada logrou sucesso e foi reconvocado em 573.[9]

Vida[editar | editar código-fonte]

Dracma de Vararanes VI (r. 590–591)

Um fragmento de Sebeos parece recordar que então Glones Mirranes, que acabara de ser derrotado na Ibéria,[10] foi à Armênia como o chefe de outro exército de 20 mil persas apoiados por elefantes de guerra e inúmeros auxiliares de povos que habitavam o Cáucaso, e que quiçá incluíam hunos,[11] para "exterminar a população da Armênia, destruir, matar e barbarizar impiedosamente o país". No ano de 575, marchou ao sul e capturou a fortaleza de Anglo, em Bagrauandena, mas uma lacuna no texto não permite que se saiba o que ocorreu depois. Um fragmento inserido depois da lacuna afirma que participou nas expedições do príncipe Filipe em Calamaque e em Utmus, mas foi derrotado em ambas as ocasiões. [12] Apesar disso, deve ter ficado no país até cerca de 580 antes de partir.[9]

A historiadora Rika Gyselen descobriu numa coleção museológica de Londres o selo do mirrânida Gorgom (Gōrgōn) que serviu como aspabedes do Azerbaijão (uma das quatro divisões do Império Sassânida). De seu nome, Gyselen o corrigiu para Gorguém (Gōrgēn) e o associou ao avô do futuro xá Vararanes VI (r. 590–591), que alegou ser tataraneto do lendário Gorguém Milade (Gōrgēn Mīlād), a quem os mirrânidas atribuíam sua linhagem. Esse Gorguém, por sua vez, ainda foi associado pelo historiador Parvaneh Pourshariati a Glones e Mirranes Mirabandaces, que entende serem a mesma pessoa. Ele reforça sua ideia no fato que Vararanes e ele são os únicos designados por esse epíteto por Sebeos.[10] A associação de Glones e Mirranes Mirabandaces já havia sido proposta por René Grousset com base em semelhanças narrativas; seus exércitos tinham a mesma composição e Calamaque, a região que Filipe atacou com Glones, foi onde Vardanes derrotou Mirranes.[13] Apesar disso, Sebeos distingue-os e Cyril Toumanoff considera que houve dois marzobãs distintos.[14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Vardanes Usnaspes
Marzobã da Armênia
573-575 (580?)
Sucedido por
Tamcosroes

Referências

  1. Maenchen-Helfen 1973, p. 391.
  2. a b Rapp 2014, p. 225.
  3. Tavernier 2007, p. 250.
  4. Ačaṙyan 1942–1962, p. 332.
  5. Rapp 2003, p. 293–295.
  6. Toumanoff 1967, p. 83–84, 377.
  7. Rapp 2014, p. 224, 225 (nota 209).
  8. Grousset 1947, p. 244-245.
  9. a b Martindale 1992, p. 890.
  10. a b Pourshariati 2008, p. 103.
  11. Traina 2020, p. 171.
  12. Grousset 1947, p. 245.
  13. Grousset 1947, p. 245.
  14. Toumanoff 1990, p. 506-507.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Սանատրուկ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians] (in Armenian). Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Grousset, René (1947). História da Armênia desde suas origens até 1071. Paris: Payot 
  • Maenchen-Helfen, Otto J. (1973). The World of the Huns: Studies in Their History and Culture. Berkeley, Los Angeles e Londres: Imprensa da Universidade da Califórnia. ISBN 9780520015968 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-20160-8 
  • Pourshariati, Parvaneh (2008). Decline and Fall of the Sasanian Empire: The Sasanian-Parthian Confederacy and the Arab Conquest of Iran. Nova Iorque: IB Tauris & Co Ltd. ISBN 978-1-84511-645-3 
  • Rapp, Stephen H. (2003). Studies In Medieval Georgian Historiography: Early Texts And Eurasian Contexts. Lovaina: Peeters Publishings. ISBN 90-429-1318-5 
  • Rapp, Stephen H. Jr. (2014). The Sasanian World through Georgian Eyes: Caucasia and the Iranian Commonwealth in Late Antique Georgian Literature. Farnham: Ashgate Publishing, Ltd. ISBN 1472425529 
  • Tavernier, Jan (2007). «4.2.1113. *Miθrāna-». Iranica in the Achaemenid Period (ca. 550–330 B.C.): Lexicon of Old Iranian Proper Names and Loanwords, Attested in Non-Iranian Texts. Dudley, Massachussetes: Peeters Publishers 
  • Toumanoff, Cyril (1967). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press 
  • Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila 
  • Traina, Giusto (2020). «VI Armenian Sources». In: Balogh, Dániel. Hunnic Peoples in Central and South Asia - Sources for their Origin and History. Eelde: Barkhuis