Judaísmo nazareno

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 Nota: Não confundir com Igreja do Nazareno, nem com Judaísmo Messiânico.
Judaísmo Nazareno
Judaísmo nazareno
Menorá
Divindade O SENHOR
Tipo Monoteísta, Antitrinitarismo, Restauracionismo
Religiões relacionadas Abraâmicas
Escrituras Torá, Nevi'im, Ketuvim, Brit Chadashá, Deuterocanônicos, Apócrifos
Língua litúrgica Hebraico
Clero Shaliach, Rabino
Cisma Judaísmo messiânico

Judaísmo Nazareno (hebraico: יהדות נצרי, romaniz.: Yahadut Netsari) é uma religião unicista e restauracionista baseada nas Escrituras Hebraicas e no Novo Testamento que busca trazer de volta a fé dos antigos fiéis da seita dos nazarenos. Os judeus nazarenos praticam os mandamentos da Torá e creem que Jesus de Nazaré é o Messias prometido à humanidade, o Filho de Deus e a própria Torá encarnada. A religião busca restaurar a fé primordial dos seguidores judeus de Cristo.[1][2]

Os judeus nazarenos consideram-se portadores da fé dos antigos nazarenos, judeus que criam na messianidade de Jesus e continuavam a praticar as ordenanças da Lei.[3] Portanto não se autodenominam cristãos nem buscam ter alguma relação com o Cristianismo, o qual consideram ser uma apostasia da fé dos apóstolos e uma deturpação helenizada da fé verdadeira.[4]

Crenças[editar | editar código-fonte]

Unicismo e antitrinitarismo[editar | editar código-fonte]

Recorrendo ao Shemá Israel para defender suas teses, o judaísmo nazareno não crê na existência de três hipóstases distintas em Deus e não enxerga o dogma da Trindade como uma crença monoteísta.[5] Em vez disso adota uma doutrina unicista e acredita que Deus é uma única hipóstase que pode se manifestar de formas plurais. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são considerados, portanto, no judaísmo nazareno, como três diferentes manifestações do único Deus.[6] Na teologia judaico-nazarena essas manifestações são chamadas de "k'numeh" (plural de "k'numah"), palavra aramaica polissêmica que pode significar substância, manifestação, natureza, essência, etc.[7][8] Os nazarenos se apoiam nas Escrituras e na tradição mística judaica para explicar as três manifestações de Deus. Na cabalá se apoiam mais especialmente no Zohar, obra magna do misticismo judaico, de onde extraem a palavra aramaica "gaun", sinônimo de "k'numah".[9][10]

Cumprimento da Torá[editar | editar código-fonte]

O movimento religioso não acredita na revogação da Lei, crendo que a Torá é antecedente a tudo que foi feito no universo e que é a instrução perfeita que Deus enviou aos homens e que nunca será abolida, mesmo que os céus ou a terra passem. Os nazarenos creem que Jesus é a própria Torá encarnada e que a fé genuína em Cristo gera a vontade de cumprir os mandamentos ordenados no Pentateuco no indivíduo salvo.[11][12]

Escrituras Sagradas[editar | editar código-fonte]

O judaísmo nazareno reconhece como Escritura Sagrada da antiga aliança o Tanaque, os Deuterocanônicos e alguns livros apócrifos.[nota 1] Os livros da nova aliança incluem todo o Novo Testamento, que também é chamado de "Brit Chadashá" (Nova Aliança) ou "Ketuvim Netzarim" (Escritos Nazarenos).[13] Os judeus nazarenos defendem que o Novo Testamento, como escritura sagrada, não foi escrito em grego, visto que não era a língua nativa da maioria dos judeus no primeiro século, mas em aramaico, língua predominante em todo o Levante até as conquistas islâmicas. Assim como o hebraico, o aramaico também é considerado uma língua sagrada pelo judaísmo como um todo, pelo fato de que a maioria dos textos literários do judaísmo na história foram escritos em aramaico, além de haver partes da Bíblia Hebraica escritas nesta língua. Por esse motivo, e somado ao fato de haver muitas variantes textuais entre os manuscritos gregos usados como base para a maioria das traduções do Novo Testamento, muitas sinagogas nazarenas adotam o uso e leitura do NT da Peshitta, a versão da bíblia em aramaico siríaco usada pelas igrejas orientais de tradição siríaca, a qual é considerada a versão original do Novo Testamento no judaísmo nazareno. Os manuscritos em hebraico de Shem Tob e de Du Tillet, ambos do Evangelho de Mateus, também são estudados pelos nazarenos.

Organizações[editar | editar código-fonte]

Union of Nazarene Jewish Synagogues[editar | editar código-fonte]

A UNJS é uma organização que tem como objetivo promover e apoiar a restauração do Judaísmo Nazareno em todo o mundo. Fundada com a missão de fortalecer a unidade entre as congregações e líderes Nazarenos, a UNJS busca incentivar o crescimento espiritual e o bem-estar geral das comunidades Nazarenas. Além disso, a organização oferece suporte na criação e desenvolvimento de novas sinagogas, bem como na formação e capacitação de líderes através de conferências e seminários de liderança regulares. Por meio de recursos educacionais e materiais disponibilizados, a UNJS visa enriquecer o conhecimento e a prática do Judaísmo Nazareno entre as comunidades e seus líderes. A organização também se dedica a apoiar causas relacionadas ao povo judeu em todo o mundo, com um foco especial em Israel. A adesão à UNJS é aberta a Sinagogas Judaicas Nazarenas que atendam aos critérios e padrões estabelecidos pela organização, com diferentes níveis de associação para congregações de tamanhos variados. Através de reuniões anuais e outras atividades, a UNJS busca fortalecer os laços entre as comunidades Nazarenas e fomentar a discussão de questões relevantes para o Judaísmo Nazareno.[14]

Worldwide Nazarene Assembly of Elohim[editar | editar código-fonte]

Organização internacional que reúne nazarenos ao redor de todo o mundo.[1]

International Nazarene Beit Din[editar | editar código-fonte]

O International Nazarene Beit Din, também conhecido como INBD, é um órgão criado em 1996 liderado pelos zakenim[nota 2] da congregação, que segue os princípios da Torá. Seu objetivo principal é resolver questões haláquicas e outras questões designadas ao Beit Din. O sistema beit din é tanto o caminho bíblico quanto o caminho judaico para o Judaísmo Nazareno estabelecer halacá e governar a si mesmo. Segundo o rabino James Trimm o INDB se baseia na tradição do beit din nazareno antigo, liderado por Tiago, o Justo, mencionado em Atos 15. Muitos nazarenos e assembleias nazarenas em todo o mundo aceitam suas decisões, que incluem todas as assembleias da UNJS. O INBD publica decisões e atividades que são pertinentes à sua comunidade e continua a expandir e se ajustar para atender às necessidades dos nazarenos em todo o mundo. O objetivo do INBD é reestabelecer a halacá do primeiro século do Judaísmo Nazareno. Ele colabora com outras organizações e pessoas que se dedicam à fé em Yeshua e à leitura da Torá para atingir esse objetivo.[15][16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. São estes: 1º e 2º Esdras; 3º e 4º Macabeus; a Carta de Jeremias; 1º Enoque; e o Livro de Jasar.
  2. Este termo significa, em hebraico, "ancião".

Referências

  1. a b «Nazarene Judaism – The Original Jewish Followers of Yeshua» (em inglês). Consultado em 31 de maio de 2024 
  2. TRIMM, James Scott (2006). Nazarene Jewish Manifesto (PDF). Hurst: Netzarim Publishing. p. 7 
  3. «"Authentic" Netzarim – Nazarene Judaism» (em inglês). Consultado em 31 de maio de 2024 
  4. «ANSWER-18». web.archive.org. 25 de abril de 2003. Consultado em 31 de maio de 2024 
  5. Derech, Tsadok Ben (10 de maio de 2020). «PARTE VII: A Doutrina da Trindade é politeísta». Congregação Messiânica B'nei Or. Consultado em 31 de maio de 2024 
  6. «Wayback Machine». web.archive.org. 25 de outubro de 2005. Consultado em 31 de maio de 2024 
  7. Derech, Tsadok Ben (10 de maio de 2020). «PARTE V: Entendendo as K'numeh do ETERNO». Congregação Messiânica B'nei Or. Consultado em 31 de maio de 2024 
  8. Trimm, James Scott. «Deity of Messiah Part 3». Nazarene Judaism. Consultado em 31 de maio de 2024 
  9. PAULI, Christian William H. (1863). The Great Mystery: Or How Can Three Be One?. Londres: William Macintosh. p. 24. ISBN 978-1104391836 
  10. Derech, Tsadok Ben (10 de maio de 2020). «PARTE XI: Cabalá Kasher: A Elohut do Mashiach revelada pelas antigas tradições cabalistas». Congregação Messiânica B'nei Or. Consultado em 31 de maio de 2024 
  11. Derech, Tsadok Ben (15 de maio de 2011). «Chag HaSukot e o nascimento do Mashiach, a Torá Viva». Congregação Messiânica B'nei Or. Consultado em 1 de junho de 2024 
  12. «Nossa Declaração de Fé!!!». 15 de julho de 2015. Consultado em 1 de junho de 2024 
  13. The International Nazarene Beit Din (2010). Mishna HaMashiach. Hurst: The Worldwide Nazarene Assembly of Elohim. pp. 132–137 
  14. «By». web.archive.org. 19 de julho de 2004. Consultado em 31 de maio de 2024 
  15. Trim, James Scott (15 de setembro de 2007). «International Nazarene Beit Din». International Nazarene Beit Din. Consultado em 1 de Junho de 2024. Arquivado do original em 25 de março de 2009 
  16. «International Nazarene Beit Din». NazareneSpace Blog (em inglês). Consultado em 31 de maio de 2024