Ivoirité

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Ivoirité (pronúncia em francês: ​[i.vwa.ʁi.te]; às vezes traduzido para Marfinidade[1]) é um conceito de cariz nacionalista e xenófoba usado pela primeira vez por Henri Konan Bédié em 1995.[2] Este conceito foi associado à Primeira e à Segunda Guerra Civil da Costa do Marfim.[3]

Definição[editar | editar código-fonte]

Durante a presidência de Félix Houphouët-Boigny a Costa do Marfim desenvolveu uma certa prosperidade econômica e atraiu milhares de imigrantes de países vizinhos, principalmente de Burkina Faso e Mali, para trabalharem nas lavouras de cacau. Entretanto, com a crise econômica surgida no país na década de 1990 os marfinenses passaram a ressentir da presença de estrangeiros no país, que chegaram representar um terço da população.[4]

A partir dessa insatisfação os intelectuais do sul do país criariam a ideologia da Ivoirité onde somente filhos de marfinenses nascidos na Costa do Marfim eram vistos como autênticos cidadãos marfinenses, enquanto que os imigrantes e filhos de imigrantes, eram tratados como cidadãos de segunda classe.[5] Posteriormente, o conceito de Ivoirité tornaria-se ainda mais restrito com os sulistas predominantemente cristãos sendo considerados como os “verdadeiros marfinenses” e os nortistas muçulmanos passando a serem discriminados como sendo não-marfinenses.

Após a morte do presidente Félix Houphouët-Boigny, Henri Konan Bédié, presidente da Assembleia Nacional na época, assumiu a presidência interina até as eleições de 1995. Entretanto antes das eleições, uma lei rapidamente redigida pelo presidente (e tendo como base a Ivoirité) exigia que somente cidadãos marfinenses poderiam concorrer às eleições presidenciais, tendo como cidadão exclusivamente aqueles que nasceram no país e possuem ambos os pais nascidos na Costa do Marfim. Isto levou à desqualificação do candidato presidencial nortista Alassane Ouattara, que alegava representar a região norte que possui uma população predominantemente muçulmana e com expressiva quantidade de trabalhadores imigrantes, sob a alegação de que sua mãe seria de Burkina Faso.[3][6] Esta lei etnonacionalista não levou somente a exclusão política de Ouattara, mas também de grande parte da população no norte, oeste e centro do país. Bédié seria deposto num golpe militar em 1999, mas um ano depois, Laurent Gbagbo ascenderia a presidência durante a guerra civil, mantendo o discurso da "marfinidade".[1]

Referências

  1. a b AMARO GRASSI (7 de abril de 2011). «Conflito revive guerra civil que dividiu Costa do Marfim há 9 anos». Folha de S.Paulo 
  2. Elio Comarin (17 de janeiro de 2003). «Ivoirité: un concept devenu une mine flottante». RFI 
  3. a b «Xenofobia e racismo são pano de fundo dos conflitos na Costa do Marfim». Deutsche Welle 
  4. «Saiba mais sobre o conflito na Costa do Marfim». BBC Brasil 
  5. Lane Hartill (27 de janeiro de 2006). «Clouding Ivory Coast's peace: Ivoirité». The Christian Science Monitor 
  6. SILVIA BLANCO (2 de abril de 2011). «"Quien controla el cacao controla la política y la guerra"». El País 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]