Ministério de libertação

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No cristianismo, ministério de libertação refere-se a grupos que realizam práticas para limpar as pessoas de demônios e espíritos malignos. Esses grupos atribuem os problemas físicos, psicológicos, espirituais e emocionais de certas pessoas às atividades desses espíritos malignos em suas vidas.[1] Nem todos os cristãos aceitam as doutrinas e práticas destes ministérios.[2]

A libertação tem como objetivo expulsar espíritos malignos (também conhecidos como "demônios"), ajudando as pessoas a superar comportamentos, sentimentos e experiências negativas por meio do poder do Espírito Santo.[1][3] Cada evento é diferente, mas muitos incluem algumas ou todas estas etapas significativas: diagnóstico, nomeação do demônio, expulsão e alguma forma de ação tomada pela pessoa afetada após sua libertação para impedir o retorno do demônio. A distinção entre o ministério de libertação e o exorcismo é que enquanto o exorcismo se concentra principalmente na possessão e é tanto para crentes como para incrédulos, a libertação se concentra mais na opressão espiritual e é mais para os crentes.[4] Em ambos os casos, ao expulsar espíritos, os intercessores estariam seguindo o exemplo de Jesus Cristo e dos seus discípulos, dado no Novo Testamento.[1][5]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Precedentes bíblicos[editar | editar código-fonte]

Muitos crentes no ministério de libertação citam precedentes bíblicos como fonte autorizada para seus rituais; isso constitui uma parte significativa nas discussões em torno das práticas de libertação.[5] O precedente bíblico para purificar as pessoas dos espíritos malignos retorna até Jesus.[6]

O Novo Testamento menciona Jesus expulsando espíritos malignos cinquenta e cinco vezes, mas apenas descreve os eventos em detalhes cinco vezes.[5] Ele expulsa demônios de um homem na sinagoga (Marcos 1) e de dois homens perto dos túmulos (Mateus 8). Em ambos os episódios, Jesus conversa com os demônios, e eles o reconhecem como Filho de Deus, antes que sejam expulsos.[7] Jesus também expulsa demônios de uma menina (Marcos 7) e de um menino (Lucas 9), ambos eventos que a Bíblia expressamente conecta ao fortalecimento da fé de seus pais;[8] os praticantes modernos do ministério de libertação interpretam as suas experiências de expulsão de demônios como uma oportunidade para fortalecer também a sua própria fé. Jesus cura um homem possuído (Mateus 12) para mostrar seu chamado messiânico e o cumprimento da profecia,[9] levando os crentes modernos a verem exorcismos bem-sucedidos como evidência do poder de Jesus em suas vidas.[5]

Os discípulos de Jesus também expulsaram demônios muitas vezes ao longo do Novo Testamento como sinal de sua própria fé em Jesus. Isso ocorre antes e depois da morte de Jesus. Após a sua morte, os crentes interpretam os acontecimentos como prova da autoridade que os discípulos ainda têm através da fé em Jesus.[10] Cada evento de exorcismo é diferente na Bíblia, e os métodos usados para expulsar demônios mudam; alguns participantes do ministério de libertação moderno interpretam isso como significando que não existe uma maneira "certa" ou única de expulsar demônios, mas que muitos métodos podem ser usados, desde que estejam enraizados no cristianismo.[5] Os praticantes do ministério de libertação prestam muita atenção a cada um desses exemplos bíblicos enquanto perpassam e interpretam atividades demoníacas e rituais de libertação em suas próprias vidas.[5]

Todavia, cabe ressaltar que, mesmo no Novo Testamento, há casos relatados onde os próprios discípulos foram incapazes de expulsar demônios, tendo que recorrer diretamente a Jesus,[11] ou mesmo outros, que não sendo seguidores diretos de Jesus, falharam ao tentar expulsar demônios invocando o Seu nome.[12] Há ainda o recordatório de que, mesmo aqueles que se dizem capazes de expulsar demônios em nome de Jesus, serão repudiados por Ele no Dia do Juízo, por não terem sido capazes de cumprir fielmente a Sua palavra.[13]

Práticas de libertação pós-bíblicas[editar | editar código-fonte]

O exorcismo foi praticado pelos católicos durante a Idade Média.[14] Martinho Lutero praticou-o na Alemanha durante os anos 1500, como forma de participar na "guerra com o diabo", uma tradição continuada pelos luteranos desde a Reforma até os dias atuais.[5][15] Ele simplificou a cerimônia para evitar chamar a atenção para poderes malignos.[5] As práticas de libertação tornaram-se um pouco mais difundidas com o crescimento do movimento pentecostal, e especialmente com o movimento carismático que começou na década de 1960.[6][16] Estes movimentos continuam a ver-se como parte da guerra espiritual, na qual entende-se que os cristãos estão em guerra com as forças do mal que atuam no mundo de forma eficiente, afligindo as pessoas com todos os tipos de problemas (físicos, emocionais, espirituais).[6] As pessoas acreditam que podem combater essas forças do mal através do poder e da autoridade de Deus.[6][16]

Fontes de presença demoníaca[editar | editar código-fonte]

De acordo com os crentes na opressão, acredita-se que os demônios podem entrar na vida de uma pessoa de muitas maneiras diferentes.[17] Alguns acreditam que os objetos, pela sua própria natureza, abrigam demônios;[18] por exemplo, certos tipos de literatura, especialmente se levar o leitor a questionar sua fé, e outras mídias, como romances ou filmes de fantasia/terror, Dungeons & Dragons ou outros tipos de jogos de RPG, gravações de CD de suposta música satânica, arte com temas não religiosos ou blasfemos/pecaminosos, ou artefatos representando deuses pagãos. Textos sagrados (textos religiosos falsos) ou simples decorações de uma religião não-cristã também podem ser esconderijos para demônios. Outros tipos, são os objetos com uma história pecaminosa (por exemplo, uma joia de um relacionamento adúltero, um objeto comprado com ganância, etc).[17]

Também é dito que os demônios "ocorrem em famílias". A causa comum seriam ancestrais que eram satanistas, maçons ou bruxos, ou que morreram sem arrependimento de pecados terríveis, como abuso, adultério ou assassinato. Alguns afirmam que traços e práticas negativas ocorrem nas famílias por causa da presença demoníaca que é transmitida de pai para filho.[17][18][19] Outros afirmam que doenças físicas e problemas persistentes, como pobreza e comportamentos de dependência (drogas, pornografia, etc.) podem ser causados pelo pecado ancestral e pelas maldições familiares resultantes.[18]

Referências

  1. a b c Unruh, Ty (outubro de 2023). «Ministério de Libertação - Expulsando Demônios». Burning Point Ministries. Consultado em 5 de maio de 2024 
  2. «Os perigos no Ministério de Libertação». Canção Nova. 7 de agosto de 2017. Consultado em 5 de maio de 2024 
  3. Csordas, Thomas J. (1997). The sacred self : a cultural phenomenology of charismatic healing (em inglês). Berkeley: University of California Press. ISBN 978-0-520-91906-8. OCLC 43476838 
  4. Carroll, Rory (9 de junho de 2022). «Irish exorcist calls for extra help for people oppressed by evil spirits». The Guardian 
  5. a b c d e f g h Silcock, Jeffrey G. (2013). «A Lutheran approach to the ministry of deliverance». Lutheran Forum (em inglês). 47 (4): 51–57 – via EBSCOhost 
  6. a b c d Hunt, Stephen (maio de 1998). «Managing the demonic: Some aspects of the neo-Pentecostal deliverance ministry». Journal of Contemporary Religion (em inglês). 13 (2): 215–230. ISSN 1353-7903. doi:10.1080/13537909808580831 
  7. Mateus 8:28-34
  8. Lucas 9:38-42
  9. Mateus 12:16-32
  10. Mateus 10:1
  11. Mateus 17:14-20
  12. Atos 19:13-20
  13. Mateus 7:22
  14. Sluhovsky, Moshe (2007). Believe not every spirit: possession, mysticism, & discernment in early modern Catholicism (em inglês). Chicago: University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-76295-1. OCLC 309871210 
  15. Harris, Elise (14 de maio de 2019). «Exorcists see ecumenical agenda in fighting 'voluntary possession'» (em inglês). Crux. Consultado em 13 de maio de 2024 
  16. a b Valle, Edênio (30 de setembro de 2004). «A Renovação Carismática Católica. Algumas observações» (em inglês). Scielo. Consultado em 13 de maio de 2024 
  17. a b c McCloud, Sean, Verfasser. (2015). American possessions : fighting demons in the contemporary United States. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-020538-6. OCLC 950475394 
  18. a b c Peterlevitz, Luciano R. (1 de fevereiro de 2019). «Maldição hereditária: uma análise teológica». teologiabrasileira.com.br. Consultado em 16 de maio de 2024 
  19. «Maldição hereditária e cura entre gerações: as superstições e os desvios». ocatequista.com.br. 25 de fevereiro de 2022. Consultado em 16 de maio de 2024 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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