Paulo Hodar

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Paulo Hodar (forma aportuguesada do seu nome em Árabe Búlus al-Haddar), (talvez Lataquia, Síria, antiga Laodiceia, entre Maio de 1723 e Junho de 1724 — Coimbra, 2 de Maio de 1780), presbítero maronita e mestre de línguas orientais, estabelecido em Portugal desde os finais dos anos 60 do século XVIII. Em Espanha ficou conhecido por Pablo Hodar.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Estudou no Colégio Maronita de Roma, onde, muito provavelmente, Fr. Manuel do Cenáculo o conheceu. Em 1759, passou por Nápoles; esteve em Caserta durante dois anos; depois mudou-se para Marselha, como professor de línguas orientais. Foi ali que o Maronita Francisco Chudiak o convenceu a ir a Madrid.

Passagem pela Espanha[editar | editar código-fonte]

Em 1761, depois de ter passado por Avinhão, Nimes, Agde, Urgel, Lérida e Saragoça, Hodar chegou a Madrid con Chudiak. Nesta cidade, trabalhou com o padre Miguel Casíri, um outro Maronita, e ensinou línguas orientais. Merece ser lembrado o papel relevante que membros desta comunidade de Cristãos orientais tiveram no fomento dos estudos árabes em toda a Europa católica.[1]

Estabelecimento em Portugal[editar | editar código-fonte]

Em Portugal, Hodar leccionou, inicialmente, no Real Colégio de N.S. de Conceição de Alcobaça, onde o Abade Geral, Fr. Manuel de Mendonça introduziu, no Plano de Estudos, o ensino de línguas orientais, incluindo o Árabe e o Grego.

Em 1770 mudou-se para Lisboa, onde, a convite de Fr. Manuel do Cenáculo e durante quase três anos, ensinou no Convento de N. S. de Jesus. O impacto da sua docência pode ser avaliada pelo facto de ter formado os primeiros arabistas portugueses, entre outros, Fr. António Baptista Abrantes, o primeiro lente português de língua árabe, e Fr. Marcelino José da Silva, futuro bispo de Macau.

Para apoio das aulas, Hodar escreveu os Dialogos Familiares e ainda um outro opúsculo em Latim, o Cathechismus turcico-Arabico. Cum non ita bene editi, neque degesti, tum Linguae turcicae Studiosis sint utilissimi, per rarique, corrector, et in meliorem ordinem transferrebat. D. Paulus Presbyter Maronita (1770). A primeira parte desta obra contém uma espécie de guia de conversação em Árabe e em Turco osmanlica, sendo a segunda dedicada a questões religiosas numa perspectiva de catequese. A osmanlica, uma importante língua de cultura e de diplomacia que, todavia, não suscitou interesse em Portugal.

Em 1773, P. Hodar foi nomeado professor de línguas orientais na Universidade de Coimbra. A sua docência beneficiou, exclusivamente, os estudos hebraicos que floresceram devido à obrigatoriedade do estudo e dos exames desta língua nos cursos de teologia.[2]

Obras[editar | editar código-fonte]

Há uma dezena de manuscritos na Biblioteca Nacional de Madrid, umas seis mil páginas, copiados por Hodar. Muitos dos seus trabalhos estão subsumidos na sua colaboração com o padre Miguel Casíri, no trabalho de catalogação dos manuscritos árabes do Mosteiro de São Lourenço do Escorial, o segundo volume da Biblioteca Arábico-Hispánica.

  • Tratado de las aguas termales de Sacedón (1761)
  • Cópia do manuscrito do Escorial do Kitāb al-Filāḥa, Tratado de agricultura, de Ibn al-Awwām (1762)
  • Kitāb taʕrīf al-ḥukamā
  • Dialogos Familiares
  • Cathechismus turcico-Arabico. Cum non ita bene editi, neque degesti, tum Linguae turcicae Studiosis sint utilissimi, per rarique, corrector, et in meliorem ordinem transferrebat. D. Paulus Presbyter Maronita (1770)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • FIGANIER, Joaquim (1945), “Contribuição para o Estudo da Cultura Arábica em Portugal” in Melanges d’Etudes Luso-Marocaines dédiés à la Mémoire de David Lopes et Pierre de Cenival, Lisbonne, Institut Français au Portugal, pp. 75-138.
  • GEMAYEL, Nasser (1984), Les Echanges Culturels entre les Maronites et l’Europe. Du Collège Maronite de Rome (1584) au Collège ‘AynWarqa (1789), pp. 596-600.
  • KEMNITZ, Eva-Maria von, "Paulo Hodar", Dicionário de Orientalistas de Língua Portuguesa, em linha. Disponível em https://orientalistasdelinguaportuguesa.wordpress.com/paulo-hodar/ (Consultado em 7 de Julho de 2017).
  • RODRIGUES, Manuel Augusto (1985),”D. Paulo Hodar Presbítero Maronita, Professor de Línguas Orientais na Universidade de Coimbra (1773-1780). Algumas notas sobre Hebraístas e Arabistas Portugueses”, Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra, Coimbra, vol. VII, pp. 1-65.
  • SALGADO, Fr. Vicente (1789, 2ª ed. ampliada 1790), Origem e Progresso das Linguas Orientaes na Congregação da Terceira Ordem de Portugal, Lisboa, Officina de Thaddeo Ferreira, pp. 71-73.
  • SIDARUS, Adel (1986), “Os Estudos Árabes em Portugal (1772-1962)” in SIDARUS, A. ed., Islão e Arabismo na Península Ibérica. Actas do XI Congresso da União Europeia de Arabistas e Islamológos (Évora-Faro-Silves, 29 de Set. – 6 de Out. 1982), Évora, Universidade de Évora, p. 39 (a versão inglesa do mesmo artigo “Arabic Studies in Portugal (1772-1962)”, pp. 55-73).
  • TORRES, María Paz (1998), "Pablo hodar, escribiente en la Biblioteca Real, y su relación con dos falsificaciones del XVIII", in Al-Andalus Magreb, n.º 6, pp. 209-235. Disponível em http://revistas.uca.es/index.php/aam/article/viewFile/1013/868 (Consultado em 7 de Julho de 2017).

Referências

  1. KEMNITZ, Eva-Maria von. «"Paulo Hodar" in Dicionário de Orientalistas de Língua Portuguesa». Consultado em 7 de Julho de 2017 
  2. Idem.