Alice Munro

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Alice Munro Medalha Nobel
Alice Munro
Nascimento Alice Ann Laidlaw
10 de julho de 1931
Wingham, Condado de Huron, Ontário, Canadá
Morte 13 de maio de 2024 (92 anos)
Port Hope, Ontário, Canadá
Nacionalidade canadiana
Cidadania Canadá
Cônjuge James Munro, Gerald Fremlin
Alma mater
Ocupação Escritora
Prémios Prémio PEN/Malamud (1997)

National Book Critics Circle Award (1998)
Prémio Internacional Man Booker (2009)
Nobel de Literatura (2013)

Obras destacadas Falsos Segredos,

O Amor de Uma Boa Mulher, A Vista de Castle Rock.

Alice Ann Munro, nascida Alice Ann Laidlaw (Wingham, 10 de julho de 1931 – Port Hope, 13 de maio de 2024), foi uma escritora canadiana de contos, considerada uma das principais escritoras da atualidade em língua inglesa. Foi agraciada com o Prémio Nobel da Literatura em 2013 e saudada como "mestre do conto contemporâneo".[1] O trabalho de Munro foi descrito como revolucionário para a arquitetura do conto moderno, especialmente em sua tendência de avançar e retroceder no tempo, e com ciclos integrados de contos de ficção. Seu estilo tem sido comparado, ao longo dos anos, ao do grande escritor russo Anton Tchekov.[2]

A partir de meados da década de 1970, Munro iniciou seu relacionamento de longa data com a revista New Yorker, expandindo substancialmente seu público na América do Norte e além. Seu trabalho foi traduzido para 20 idiomas.[3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Ontario, Canadá, local onde muitos dos contos de Munro são ambientados.

Alice Munro nasceu em Wingham, Condado de Huron, Ontário, em julho de 1931.[4] Viveu primeiro numa quinta a oeste dessa zona, numa época de depressão económica. Conheceu, muito jovem, James Munro, na Universidade de Western Ontario.[5] Por essa época, Alice exercia trabalhos manuais para manter os estudos. Os dois se casaram em 1951, e instalaram-se em Vancouver. Tiveram três filhas, em 1963 mudaram-se para Victoria, na Colúmbia Britânica onde abriram a livraria Munro's Books, que ainda hoje funciona.[6] O casal divorciou-se em 1972, e Alice regressou à sua província natal, sendo escritora-residente na sua antiga universidade.

Voltou a casar-se em 1976, com Gerald Fremlin. A partir daí consolidou a carreira de escritora, que tinha iniciado jovem com crónicas (desde 1950). Munro reconheceu a influência na sua obra de grandes escritoras, como Katherine Anne Porter, Flannery O’Connor, Carson McCullers ou Eudora Welty, bem como de James Agee e especialmente William Maxwell. Os seus relatos centram-se nas relações humanas analisadas através da lente da vida quotidiana. Por isso, e pela sua qualidade, tem sido chamada "a Chekov do Canadá".[7]

Obra[editar | editar código-fonte]

Munro começou a escrever quando ainda era adolescente. Sua primeira coletânea de histórias, "Dance of the Happy Shades" [Dança das Sombras Felizes] (1968), foi aclamada pela crítica e ganhou o maior prêmio literário do Canadá, o Governor General's Award for Fiction.[8]

Esse sucesso foi seguido por "Lives of Girls and Women" [Vidas de Meninas e Mulheres]] (1971), uma coleção de histórias interligadas e "Who Do You Think You Are?" [Quem Você Pensa Que É?] (1978),[9] este último rendendo a Munro um segundo Prêmio Literário do Governador General, tendo sido também selecionado para o Prêmio Booker de Ficção em 1980 sob seu título internacional, "The Beggar Maid".[10]

Munro's Books, livraria fundada por Alice e o, então, marido, Jim, em Victoria, Columbia Britânica.

De 1979 a 1982, Munro viajou pela Austrália, China e Escandinávia para aparições públicas e leituras. Em 1980, ela ocupou o cargo de escritora residente na Universidade de British Columbia e na Universidade de Queensland. Ainda na década de 80 publica as coletâneas de contos "The Moons of Jupiter" [As Luas de Júpiter] (1982) e "The Progress of Love" [O Progresso do Amor] (1986).

Na década de 90 publica alguma de suas coletâneas mais aclamadas: "Open Secrets" [Falsos Segredos] (1994) e "The Love of a Good Woman" [O Amor de Uma Boa Mulher] (1998), recebendo por este último o prêmio National Book Critics Circle Award de ficção em 1998 e o Prêmio Giller no mesmo ano.[11]

Em 2001, lança "Hateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage [Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento]" e em 2004, mais uma coletânea intitulada "Runaway" [Fugitiva] (2004) ambos os livros com histórias adaptadas para o cinema por cineastas famosos como Pedro Almodóvar e Sarah Polley.

Em The View from Castle Rock [A Vista de Castle Rock], de 2006, faz um balanço da história da sua família, que emigrou para o Canadá, e descreve as dificuldades que os seus pais tiveram na nova terra. O título da coletânea de contos é inspirado em um dos episódios narrados na primeira parte do livro: do alto da rocha de um castelo na Escócia o protagonista acredita ver a América no meio do mar. Munro anunciou sua aposentadoria após a publicação de "A Vista de Castle Rock" em 2006, porém lançaria ainda mais duas coletâneas até o seu afastamento do mundo literário. Em 2009 lança Too Much Hapiness [Felicidade Demais], no qual o conto homônimo se concentra nos dias que antecedem a morte da matemática russa Sofia Kovalevskaya.

Sua última coletânea de contos foi intitulada "Dear Life" [Vida Querida] (2012), livro que trazia vários aspectos autobiográficos da autora. Após a publicação do livro, Alice Munro anunciou o fim de sua carreira como escritora.

Alice Munro foi entrevistada pela célebre The Paris Review em 1994. Foi por três vezes vencedora do prémio de ficção literária «Governor General's Literary Awards», do seu país. Munro publicou 14 volumes de contos em inglês, contendo mais de 150 contos. Existem também numerosos contos em revistas que ainda não foram incluídos em nenhuma coleção.

Munro é conhecida por sua associação de longa data com o editor e editor Douglas Gibson. Quando Gibson deixou a Macmillan do Canadá em 1986 para lançar o selo Douglas Gibson Books na McClelland and Stewart, Munro devolveu o adiantamento que a Macmillan já havia pago a ela por "The Progress of Love" para que ela pudesse seguir Gibson na nova empresa. Munro e Gibson mantiveram sua associação profissional; quando Gibson publicou suas memórias em 2011, Munro escreveu a introdução, e até sua morte, Gibson frequentemente fazia aparições públicas em nome de Munro quando sua saúde a impedia de comparecer pessoalmente.[12]

Prêmio Nobel de Literatura[editar | editar código-fonte]

Por toda a sua obra, em 2013, Alice Munro recebeu o Prêmio Nobel de Literatura como “mestre do conto contemporâneo”. O prêmio foi para o Canadá pela primeira vez e para uma mulher pela 13ª vez; foi também a primeira vez que um escritor exclusivamente contista recebeu o prêmio.[13]

Morte[editar | editar código-fonte]

Alice morreu em 13 de maio de 2024, aos 92 anos, em Port Hope. A causa da morte não foi divulgada.[14]

Estilo e legado[editar | editar código-fonte]

Alice Munro por Andreas Vartdal

Frequentemente comparada com Anton Chekhov, John Cheever e um punhado de outros contistas, Munro alcançou uma estatura rara para uma forma de arte tradicionalmente colocada abaixo do romance. A Academia Sueca declarou-a uma “mestre do conto contemporâneo” que poderia “acomodar toda a complexidade épica do romance em apenas algumas páginas curtas”. Suas histórias supostamente "incorporam mais do que anunciam, revelam mais do que desfilam".

Seu mundo ficcional abrange todo o Canadá, de Ontário à Colúmbia Britânica, mas a maioria dos leitores concorda que suas histórias de Ontário, enraizadas como estão em seu próprio passado formativo, representam cenários mais evocativos vividos na infância e relembrados por uma memória adulta perceptiva.[15]

Segundo o crítico norte-americano Harold Bloom, Munro figura ao lado de alguns dos contistas mais proeminentes do século XX, tais como: Ítalo Calvino, Thomas Mann, Flannery O'Connor, Eudora Welty, Vladimir Nabokov, Edith Wharton, Katherine Anne Porter, Vladimir Nabokov, Shmuel Yosef Agnon, Isak Dinesen, Edna O'Brien, entre outros. O critico chama sua arte de mimética, afirmando que "Munro desfoca a linha entre o objetivo e o subjetivo, entre o pequeno e o grande, a fim de descobrir o que será suficiente para satisfazer uma vida mais abundante".[16]

A escritora era admirada por nomes literários de peso como John Updike, Jonathan Franze e Cynthia Ozick que alcunhou-a como "a Tchekhov da América". A colega e autora canadense Margaret Atwood a chamou de pioneira para as mulheres e para os canadenses.[17]

Adaptações cinematográficas[editar | editar código-fonte]

Várias adaptações das histórias de Alice Munro apareceram nas telas. Munro chegou às telas pela primeira vez através de uma produção para a televisão exibida pela rede canadense CBC. Trata-se da adaptação do conto "The Ottawa Valley" (1974), publicado no livro "Something I’ve Been Meaning to Tell You" (1974). Em 1984, estreou um curta baseado em “Boys and Girls” (do livro "Dance of the Happy Shades") e foi estrelado por Megan Follows, tendo ganhado um Oscar de melhor curta-metragem em 1984. Em 1994, foi lançado o suspense "Edge of Madness" baseado em “Uma Estação Deserta”, conto presente na coletânea "Falsos Segredos" do mesmo ano.

Em 2006, Away from Her, dirigido por Sarah Polley, foi lançado uma notável versão cinematográfica estrelada pela lendária atriz Julie Christie, para o conto “The Bear Came Over the Mountain”, presente em sua coleção de 2001 "Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento". O conto que da título à coletânea de 2001 também foi adaptado para o cinema sob o título de Hateship Loveship (2013), estrelado por Kristen Wiig e Guy Pearce. Em 2016 foi lançado Julieta, de Pedro Almodóvar, filme inspirado em diversas histórias da coletânea "Fugitiva" (2006).[3]

Obras[18][editar | editar código-fonte]

  • Dance of the Happy Shades, 1968.
  • Vidas de Raparigas e Mulheres (PT) ou Vidas de Meninas e Mulheres (BR) - no original Lives of Girls and Women, 1971, romance (contos interligados)
  • Something I’ve Been Meaning to Tell You, 1974.
  • Who Do You Think You Are? (também publicado com o título The Beggar Maid, nos EUA), 1978.
  • As Luas de Júpiter - no original, The Moons of Jupiter, 1982.
  • O Progresso do Amor - no original, The Progress of Love, 1986.
  • Amiga de Juventude - no original, Friend of My Youth, 1990.
  • Falsos segredos - no original, Open Secrets, 1994.
  • O Amor de uma Boa Mulher - no original The Love of a Good Woman, 1998.
  • Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento - no original, Hateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage, 2001.
  • Fugas (PT) ou Fugitiva (BR) - no original Runaway, 2004.
  • A Vista de Castle Rock - no original The View from Castle Rock, 2006.
  • Demasiada felicidade (PT) ou Felicidade Demais (BR) - no original Too much happiness, 2009.
  • Amada vida (PT) ou Vida querida (BR) - no original Dear Life, 2012.

Coletânea de contos[editar | editar código-fonte]

  • Selected Stories (mais tarde renomeado Selected Stories 1968–1994 e A Wilderness Station: Selected Stories, 1968–1994) – 1996[19]
  • No Love Lost – 2003[20]
  • Vintage Munro – 2004[21]
  • Alice Munro's Best: A Selection of Stories – Toronto 2006 / Carried Away: A Selection of Stories – Nova York 2006; ambas as 17 histórias (abrangendo 1977-2004) com uma introdução de Margaret Atwood[22]
  • My Best Stories – 2009[23]
  • New Selected Stories – 2011[24]
  • Lying Under the Apple Tree. New Selected Stories – 2014[25]
  • Family Furnishings: Selected Stories 1995–2014 – 2014[26]

Referências

  1. «Nobel prizes» (PDF). Nobel prize. Consultado em 10 de outubro de 2013 
  2. Merkin, Daphne. «Northern Exposures» (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2024 
  3. a b Duffy, Dennis. «Alice Munro». The Canadian Encyclopedia. Consultado em 16 de maio de 2024 
  4. «Alice Munro: escritora canadense e vencedora do Prêmio Nobel morre aos 92 anos». BBC News Brasil. 14 de maio de 2024. Consultado em 16 de maio de 2024 
  5. «Vencedora do Nobel, Alice Munro morre aos 92 anos». Bravo!. Consultado em 16 de maio de 2024 
  6. «Alice Munro, prêmio Nobel de literatura, morre aos 92 anos». G1. 14 de maio de 2024. Consultado em 16 de maio de 2024 
  7. «Canadense Alice Munro vence o Nobel de Literatura 2013». entretenimento.uol.com.br. Consultado em 16 de maio de 2024 
  8. «The Governor General Literary Awards - Past Winner». Consultado em 15 de maio de 2024 
  9. «Past Winner». Consultado em 15 de maio de 2024 
  10. «The Booker Prize 1980» (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2024 
  11. Santos, Lilian. «Morre Alice Munro, vencedora do Nobel de Literatura aos 92 anos». Consultado em 15 de maio de 2024 
  12. Ahearn, Victoria. «Alice Munro unlikely to come out of retirement following Nobel win». Consultado em 15 de maio de 2024 
  13. «The Nobel Prize in Literature 2013». 10 de outubro de 2013. Consultado em 10 de outubro de 2013 
  14. DePalma, Anthony (14 de maio de 2024). «Alice Munro, Nobel Laureate and Master of the Short Story, Dies at 92». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de maio de 2024 
  15. «Internet Archive - Alice Munro». Consultado em 16 de maio de 2024 
  16. «Bloom Modern Critic View - Alice Munro». Consultado em 16 de maio de 2024 
  17. Itália, Hillel. «Alice Munro, ganhadora do Nobel de literatura reverenciada como mestra do conto, morta aos 92 anos». Consultado em 16 de maio de 2024 
  18. «Alice Munro». The Canadian Encyclopedia. Consultado em 10 de outubro de 2013 
  19. «A Wilderness Station: Selected Stories, 1968-1994». Penguin Random House. Consultado em 14 de julho de 2023. Cópia arquivada em 2023 
  20. «No Love Lost». Penguin Random House. Cópia arquivada em 2024 
  21. «Vintage Munro». Good Reads. Cópia arquivada em 2024 
  22. «Glenn Sumi's Reviews > Alice Munro's Best: Selected Stories». Good Reads. Cópia arquivada em 2019 
  23. «My Best Stories». Penguin Random House. Cópia arquivada em 2022 
  24. «New Selected Stories». Good Reads. Cópia arquivada em 2018 
  25. Wigfall, Clare (2014). «Lying Under the Apple Tree review – Alice Munro's astonishing tales of small-town Canada». The Guardian. Cópia arquivada em 2024 
  26. Rafferty, Terrence (2014). «'Family Furnishings,' Selected Stories by Alice Munro». The New York Times. Cópia arquivada em 2023 

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Sheila Munro, Lives of Mothers and Daughters: Growing up with Alice Munro, Toronto, McClelland & Stewart, 2001, memórias da sua filha.
  • Robert Thacker, Alice Munro: Writing Her Lives, Douglas Gibson Books, 2005, biografia.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Nobel de Literatura
2013
Sucedido por
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