Jorge Mario Jáuregui

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Jorge Mario Jáuregui
Nome completo Jorge Mario Jáuregui
Nascimento 1948 (76 anos)[1]
Nacionalidade argentino
brasileiro
Alma mater Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional de Rosário
Movimento Contemporâneo
Obras notáveis Projeto de Urbanização do Complexo do Alemão (2011), Rio de Janeiro[2]
Prêmios Veronica Rudge Green Prize in Urban Design, da Universidade de Harvard[3][4]

Jorge Mário Jáuregui (1948[1]), é um arquiteto e urbanista argentino, radicado no Brasil. Sendo reconhecido internacionalmente pela sua atuação em desenvolvimento urbano e habitação social. Se destacando pelos seus trabalhos realizados no Projeto de Urbanização do Complexo do Alemão, inaugurado em 2011, e por ter sido um dos idealizadores do programa Favela-Bairro, na década de 1990, ambos no Rio de Janeiro.[3][2][5][6][7][8]

Carreira profissional[editar | editar código-fonte]

Jorge Mário Jáuregui nasceu na Argentina, formou-se em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura, Planejamento e Desenho da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.[8][9][2][5] Pertenceu à Juventude Peronista, do Movimento Nacional Justicialista.[10] Em 1978, Jáuregui, a esposa e o primeiro filho, sairam da Argentina em razão da Ditadura Militar implantado no país, indo para o Brasil.[11]

Desde a década de 1980, se radicou na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, onde nasceria seu segundo filho. Também estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo diplomado como arquiteto e urbanista.[11][9][10]

Na década de 1990 passou a pesquisar o espaço urbano do Rio de Janeiro; notadamente em sua divisão socio-espacial, entre as favelas e o restante da cidade. Em seu escritório de arquitetura desenvolveu projetos encomendados por setores públicos e privados; dando importantes contribuições para a gestão e construção do espaço urbano.[9][2]

Projeto Rio-Cidade, no bairro do Catete. Em destaque a Praça José de Alencar como o monumento ao escritor (foto de 18 de outubro de 2021

Mario Jáuregui trabalhou no escritório do arquiteto Paulo Casé[6], e apesar de ter participado da formulação do projeto Rio Cidade, para o bairro do Catete[10][12], entre os projetos de destaque de Jáuregui notam-se a urbanização de mais de 20 comunidades e favelas, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, embora alguns destes projetos não tenham sido executados por completo, como Rio da Pedras (1998), Fernão Cardim, Morro do Fubá e Vidigal.[11][13][3][10][14]

Participou de diversos programas tais como: Favela-Bairro, Programa de Aceleração do Crescimento - Urbanização de Assentamentos Precários (PAC-UAP) e o Morar Carioca, Núcleo Habitacional da Rocinha, Projeto de Urbanização do Complexo do Alemãoe o Projeto do Complexo de Manguinhos; que ajudaram a aumentar o reconhecimento profissional de Jáuregui. Em âmbito internacional há, ainda, o seu Projeto de Urbanização de Domingo Savio, na República Dominicana.[15][9][3][10][16][17]

O plano de reurbanização do Complexo de Manguinhos foi inspirado nas chamadas Ramblas de Barcelona, na Espanha. Por conta disto, Jáuregui denominou o projeto com o nome de "Rambla de Manguinhos". Ali ele derrubou os muros da linha férrea que separavam a comunidade, elevando a estação e a ferrovia em um extenso viaduto; abaixo dele surgiu uma praça arborizada. Criou no projeto um Centro Cívico, um espaço onde ficam biblioteca, escola e outros equipamentos culturais e sociais públicos.[11]

Pelo programa Favela-Bairro, realizado em comunidades do Rio de Janeiro, o escritório de arquitetura de Jorge Mario Jáuregui recebeu, em 6 de dezembro de 2000, a quantia de 20 mil dólares do Prêmio Verônica Rudge Green, em Desing Urbano, oferecido pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.[4] Sendo até então o único arquiteto do Hemisfério Sul que ganhou tal prêmio. Ainda sobre Jáuregui, houve uma exposição e um livro em Harvard.[11][18]

Para Jáuregui, o arquiteto tem o papel de “articulador de diferenças”.[19] O projeto de urbanização de favelas, contrária a política de remoções, foi uma resposta à opressão dos conjuntos habitacionais erguidos para tais fins de reurbanização praticados em épocas anteriores, que Jáuregui tanto critica.[11][20]

Entre seus projetos realizados para a iniciativa privada, o mais conhecido, é a chamada "casa de vidro", do então casal de atores Caio Blat e Maria Ribeiro, no bairro do Itanhangá, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.[21][22][23] Também projetou a residência de Marcílio Marques Moreira, diplomata e ministro da Fazenda no governo do presidente Fernando Collor.[24]

Projeto de Urbanização do Complexo do Alemão[editar | editar código-fonte]

A maior obra urbanística executada de Jorge Mario Jáuregui foi realizada no chamado Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Na idealização inicial do projeto para o Complexo do Alemão foram observadas soluções anteriores adotadas por outras cidades latino-americanas, notadamente o projeto do arquiteto Alejandro Echeverri para Medelin, na Colômbia. Para isto houve até uma visita a Medellín do então governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.[2][13]

O principal objeto deste projeto foi buscar eliminar a "periferização" da comunidade sobre o restante do espaço urbano da cidade, marcado pela imperfeição da infraestrutura urbana e deficiente conectividade; para conduzir a solução deste problema a equipe de Jáuregui criou como referência a construção do teleférico do Complexo do Alemão no conjunto de desenvolvimento de outras formas necessárias de intervenções urbanísticas.[13][2] A ideia do teleférico em uma comunidade não era nova para Jáuregui e seu amigo Paulo Casé, que anteriormente tentaram executar, sem sucesso, a mesma proposta em um projeto anterior realizado no Vidigal, pelo programa Favela-Bairro.[25]

Vista panorâmica do Complexo do Alemão. A imagem mostra as linhas do teleférico do Complexo do Alemão entre as estações (da esquerda para a direita) Palmeiras - Itararé - Alemão - Baiana - Adeus, de onde a foto foi tirada.

O teleférico, projeto inédito no Brasil implantado em uma área de favela, foi criado para ser a base da articulação socioespacial garantindo para o Complexo do Alemão a mobilidade de sua população com o restante da cidade, principalmente através de sua conexão com o transporte ferroviario dos trens da Supervia. A obra custou na época R$ 210 milhões. Cada estação serviria como uma espécie de atrativo turístico por possuírem um mirante com vista da cidade e da Baía de Guanabara, elas eram também dotadas também de algum serviço público de relevância, seja uma agência bancária, seja uma biblioteca pública, por exemplo. O teleférico facilitaria o acesso aos pontos até então mais inacessíveis e altos dos diferentes morros existentes no Complexo, locais estes caracterizados por serem redutos de traficantes antes da obra; estas áreas no entorno das estações seriam posteriormente transformadas em locais comerciais e de serviço devido ao fluxo de passageiros usuários do teleférico. Foram implantados 3,5 quilômetros de cabos para o teleférico, unindo o complexo formado por 17 comunidades.[13][2][26] Também foram erguidas centenas de unidades habitacionais.[13]

Para servir de conexão entre o Complexo do Alemão e os bairros do entorno, foi projetado o chamado Centro Cívico, lugar de centralidade formado por uma Escola Profissionalizante, Hospital Público, Centro de Atendimento Psiquiátrico, Centro de Apoio Jurídico, Centro de Serviços, Centro de Geração de Trabalho e Renda e uma grande Marquise para unir todos estas instituições; todavia, do projeto apenas a escola foi construída.[2][13]

O chamado Teleférico do Alemão foi inaugurado em julho de 2011, e teve a presença da então presidente Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral. Apesar de todos os benefícios sociais e econômicos gerados, um mês após a Olimpíada de 2016, o Teleférico do Alemão fechou para o que seria uma manutenção de apenas seis meses, mas que até os dias atuais nunca mais retornou as atividades. Em 2021 o que restou do teleférico estava em ruínas e a economia local e serviços sociais que surgiram no entorno das estações enfraqueceu ou deixou de existir. Por conta destas e outras dificuldades, o êxito colombiano de Medelim não teve condições de se perpetuar e se repetir no projeto feito por Jorge Mario Jáuregui para o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.[26]

Prêmios e reconhecimento[3][9][editar | editar código-fonte]

Prêmio Ano País
Doctor Honoris Causa, Universidade Nacional de Rosário[8] 2017  Argentina
Grande Premio da IV Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo 1999  Brasil
6º Prêmio Verônica Rudge Green, em Desing Urbano, Universidade de Harvard, Graduate School of Design[3][4] 2000  Estados Unidos
Primeiro Prmio de Investigação da III Bienal Ibero-americana de Arquitetura 2002  Chile

Exposições[9][editar | editar código-fonte]

Título Ano País
“Penso Cidade”[27] 2002  Brasil
“OPEN: Novos Designs para Espaço Público” 2004-2006  Estados Unidos
“World Exhibition of Contemporary Art” 2007  Alemanha
“Small Scale, Big Change : New Architectures of Social Engagment” 2010-2011  Estados Unidos
“The Sreet”, 2011  Bélgica

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Small Scale, Big Change: New Architectures of Social Engagement» (em inglês). MoMA, Museu de Arte Moderna (Nova Iorque). Consultado em 18 de abril de 2024 
  2. a b c d e f g h Fernando Espósito Galarce (2015). Entrevista Mario Jáuregui. Prumo, revista semestral do Departamento de Arquitetura e Urbanismo PUC-Rio. 1. [S.l.]: Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). pp. 6–9. ISSN 2446-7340. Consultado em 13 de maio de 2024 
  3. a b c d e f «Jorge Mario Jáuregui». Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Consultado em 13 de maio de 2024 
  4. a b c «Harvard premia urbanização de favela». Jornal do Commercio, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 28 de outubro de 2000. p. A11. Consultado em 18 de abril de 2024 
  5. a b Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 1. Consultado em 13 de maio de 2024 
  6. a b «Arquiteto nos 60 anos do IAB». Jornal do Brasil, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 25 de janeiro de 1981. p. 1. Consultado em 18 de abril de 2024 
  7. «Objeto Indireto». 'Caderno B' do Jornal do Brasil, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 18 de setembro de 2006. p. B1. Consultado em 18 de abril de 2024 
  8. a b c «Doctor Honoris Causa al Arq. Jorge Mario Jáuregui» (em espanhol). FAPyD, UNR/Facultad de Arquitectura, Planeamiento y Diseño, Universidade Nacional de Rosário. 11 de abril de 2017. Consultado em 13 de maio de 2024 
  9. a b c d e f «Breve Biografia». Jauregui (em francês). Consultado em 13 de maio de 2024 
  10. a b c d e Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 2. Consultado em 13 de maio de 2024 
  11. a b c d e f Artur Xexéo (31 de julho de 2011). «OCriador do teleférico do Alemão se diz 'fazedor de conexões' enquanto muda a cara de comunidades do Rio». jornal O Globo. Consultado em 13 de maio de 2024 
  12. Fabianna Sobral (14 de julho de 1994). «Catete passará por reformas em 1995». Jornal do Brasil, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. p. 14 
  13. a b c d e f Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 3. Consultado em 13 de maio de 2024 
  14. «Arquitetos visitam favela carioca». Jornal do Brasil, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 8 de junho de 1997. p. 40 
  15. Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 4. Consultado em 13 de maio de 2024 
  16. Eduardo Vanini (9 de outubro de 2016). «Projetos popularizam a atuação de arquitetos em moradias». site jornal O Globo. Consultado em 13 de maio de 2024 
  17. Luiza Franco (15 de fevereiro de 2019). «Milícia no Rio de Janeiro: como é a vida em Rio das Pedras, bairro dos suspeitos da morte de Marielle». site BBC Brasil. Consultado em 13 de maio de 2024 
  18. Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 7. Consultado em 13 de maio de 2024 
  19. Romullo Baratto (25 de Março de 2021). «UIA2021RIO inaugura programação virtual com debates sobre arquitetura, periferia e inclusão social». site Archdaily. Consultado em 13 de maio de 2024 
  20. Bianca Alves, com Stéphanie Durante (1 de outubro de 2018). «Arquitetura brasileira é homenageada com duas exposições em Portugal. "Infinito Vão - 90 Anos de Arquitetura Brasileira" e "Duas Casas" são mostras compostas por projetos de emblemáticos arquitetos brasileiros». revista Casa e Jardim. Consultado em 13 de maio de 2024 
  21. «Mansão de vidro de Caio Blat, à venda por R$ 4,5 milhões, tem piscina natural e rampa íngreme de acesso 'equivalente a 4 andares'». jornal Tribuna do Sertão. 14 de maio de 2024. Consultado em 13 de maio de 2024 
  22. Fábia Oliveira (13 de maio de 2024). «Caio Blat explica decisão de vender mansão milionária no Rio; fotos». jornal Metrópoles. Consultado em 13 de maio de 2024 
  23. «'Casa dos sonhos', alvo de disputa entre Caio Blat e Maria Ribeiro, é avaliada em R$ 6 milhões». jornal Extra. 9 de outubro de 2019. Consultado em 13 de maio de 2024 
  24. Antônio Agenor Barbosa; Rachel Paterman; Alberto Goyena (outubro de 2015). «O mestre da habitação social. Entrevista com o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui». Vitruvius. p. 8. Consultado em 13 de maio de 2024 
  25. «O charme do bondinho chega a favela. Prefeitura aprova projeto de teleférico semelhante ao do Pão de Açucar, que vai ligar mirante no Vidigal a Avenida Niemeyer». Jornal do Brasil, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 14 de setembro de 1997 
  26. a b «Teleférico do Alemão está em ruínas». IstoÉ Dinheiro. 26 de abril de 2021. Consultado em 13 de maio de 2024 
  27. «Rio Planejado. Mostra traz projetos para melhorar a qualidade de vida do carioca». jornal Tribuna da Imprensa, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 8 de outubro de 2002. p. 6. Consultado em 18 de abril de 2024