Grande Prêmio do Brasil de 1991

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Grande Prêmio do Brasil
de Fórmula 1 de 1991

Décimo GP do Brasil em Interlagos
Detalhes da corrida
Categoria Fórmula 1
Data 24 de março de 1991
Nome oficial XX Grande Prêmio do Brasil[1]
Local Autódromo de Interlagos, São Paulo, São Paulo, Brasil
Percurso 4.325 km
Total 71 voltas / 307.075 km
Condições do tempo Nublado durante a largada, depois choveu
Pole
Piloto
Brasil Ayrton Senna McLaren-Honda
Tempo 1:16.392
Volta mais rápida
Piloto
Reino Unido Nigel Mansell Williams-Renault
Tempo 1:20.436 (na volta 35)
Pódio
Primeiro
Brasil Ayrton Senna McLaren-Honda
Segundo
Itália Riccardo Patrese Williams-Renault
Terceiro
Áustria Gerhard Berger McLaren-Honda

Resultados do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 realizado em Interlagos em 24 de março de 1991. Segunda etapa do campeonato, foi vencido pelo brasileiro Ayrton Senna, da McLaren-Honda, com Riccardo Patrese em segundo pela Williams-Renault e Gerhard Berger em terceiro pela McLaren-Honda.[2][3] Apesar do resultado, a corrida teve um final dramático pois Ayrton Senna perdeu quase todas as marchas de sua McLaren-Honda e sofreu um desgaste físico acima do normal, fazendo com que ele não conseguisse sair sozinho do carro ao cruzar a linha de chegada.[4] Tais elementos fizeram desta uma das provas mais lembradas na carreira do piloto brasileiro.[5]

Treinos[editar | editar código-fonte]

As Williams, pilotadas por Nigel Mansell e Riccardo Patrese se mostravam muito rápidas, em grande parte pela potência dos motores Renault, que começavam a despontar como grandes concorrentes dos motores Honda, que equipavam as McLaren. A disputa pela pole position comprovou esse equilíbrio. Senna conseguiu a pole na última volta, marcando 1:16.392, contra 1:16.775 de Patrese, conquistando assim, sua 54ª pole position.

Corrida[editar | editar código-fonte]

"Não foi a minha maior vitória, mas a mais sofrida. Ficará guardada na minha memória para o resto da vida".[6]
Ayrton Senna.

A corrida começou com Senna na liderança e Mansell em segundo, quando este conseguiu a ultrapassagem em Patrese logo após a largada. Senna e Mansell ditavam o ritmo da prova abrindo larga vantagem com relação aos seus adversários. Com esse andamento, os pit stops poderiam fazer a diferença para se conhecer o vencedor da prova. A parada da McLaren foi perfeita, igualmente o da Williams.

Mansell roda na volta 61, o que dá a Senna a vantagem de 40 segundos sobre Patrese, que assumiu a segunda colocação. Neste momento, os problemas mecânicos começaram a aparecer no carro do brasileiro. Primeiro Senna perdeu a quarta marcha, tendo assim, que passar da terceira direto para a quinta. Depois, nenhuma marcha funcionava sem que ele tivesse que segurar a alavanca de marchas para que ela permanecesse engatada. Senna teve que segurar a alavanca de câmbio com a mão direita e pilotar com a esquerda. Nesse ínterim, Mansell, com problemas no câmbio semiautomático, abandonou a prova.[6] Devido ao problema no seu câmbio, a diferença de Senna para Patrese diminuía a cada volta. O brasileiro terminou a corrida só com a sexta marcha funcionando normalmente. A câmera onboard mostra que Ayrton parou de trocar de marcha nas últimas voltas da corrida, evidenciando o fato.[7]

Faltando duas voltas para o final, começou a chover em Interlagos, o que acabou decidindo a corrida. Após cruzar a linha final, Senna permaneceu no carro, sem forças para sair. Quando parou o carro na reta oposta para receber a bandeira do Brasil, o carro não saiu do lugar, mostrando que de fato o carro estava apenas com 1 marcha.

Depois, auxiliado, entrou em um carro da organização e foi para os boxes. No pódio ficou evidente seu esforço para obter a vitória. Ele mal conseguiu levantar a taça, precisando de ajuda para fazê-lo.[5]

Pós-corrida[editar | editar código-fonte]

Logo após a bandeirada final, a comunicação de rádio da equipe foi aberta na TV, no exato momento em que Ayrton gritava, em parte pela vitória inédita como também pelas dores que sentia devido ao desgaste da corrida. Ainda na pista, em seguida a conquista inédita de Senna, os "fiscais de pista" comemoravam a vitória do brasileiro com pulos e abraços.[8]

Na entrevista, logo após a festa do pódio, Senna explicou o que de fato aconteceu. Relatando com detalhes a perda das marchas e o seu desgaste físico e psicológico.[9][10]

"Faltando 20 voltas para o final, perdi completamente a quarta marcha. Foi quase o fim para mim. Eu precisava mudar as marchas sem passar pela quarta, tinha de fazer um esforço tremendo com o braço. Com isso, além de perder tempo, comecei a ter um desgaste (físico) maior do que teria já com o acumulado da corrida. Faltando oito voltas para o final, a única marcha que entrou foi a sexta. Quando eu tentava mudar entrava o ponto morto. Coloquei a sexta e fui em sexta as sete voltas que faltavam. Na reta tudo bem, mas nas curvas lentas era quase impossível guiar o carro. O esforço que eu tinha que fazer para segurar o volante era maior ainda porque o motor empurrava o carro para fora das curvas lentas. Além desse problema, o motor ficava com numa RPM (rotação) muito baixa, não tinha potência. Eu via o Patrese chegando, chegando. Procurei mudar meu estilo de guiar para manter as RPM mais em cima, mas para isso eu tinha de ir mais forte para as curvas, segurar o volante ainda mais nos braços, literalmente."[6]
Ayrton Senna, em entrevista dada após a corrida.

Logo após o final da corrida, Ayrton retornou a sua mansão na Zona Norte da cidade de São Paulo escoltado por policiais, devido a presença maciça de público em frente a sua residência. Em seguida, já em cima do muro que cerca a mansão, Senna acenou para o público presente.[11][12]

Dois dias depois, quando os equipamentos chegaram em Woking, sede da McLaren, a equipe abriu o câmbio do carro. Segundo informado por um dos mecânicos “havia anéis sincronizadores quebrados e faltavam dentes nas engrenagens”.[6]

Classificação da corrida[editar | editar código-fonte]

Pré-classificação[editar | editar código-fonte]

Pos. Piloto Construtor Tempo Dif.
1 22 Finlândia J. J. Lehto Dallara-Judd 1:19.540
2 33 Itália Andrea de Cesaris Jordan-Ford 1:20.150 + 0.610
3 32 Bélgica Bertrand Gachot Jordan-Ford 1:20.184 + 0.644
4 21 Itália Emanuele Pirro Dallara-Judd 1:20.567 + 1.027
5 35 Bélgica Eric van de Poele Lambo-Lamborghini 1:21.919 + 2.379
6 34 Itália Nicola Larini Lambo-Lamborghini 1:22.944 + 3.404
7 31 Portugal Pedro Chaves Coloni-Ford 1:23.231 + 3.691
8 14 França Olivier Grouillard Fondmetal-Ford 1:23.951 + 4.411

Treinos[editar | editar código-fonte]

Pos. Piloto Construtor Q1 Q2 Dif.
1 1 Brasil Ayrton Senna McLaren-Honda 1:18.711 1:16.392
2 6 Itália Riccardo Patrese Williams-Renault 1:22.069 1:16.775 + 0.383
3 5 Reino Unido Nigel Mansell Williams-Renault 1:20.056 1:16.843 + 0.451
4 2 Áustria Gerhard Berger McLaren-Honda 1:19.557 1:17.471 + 1.079
5 28 França Jean Alesi Ferrari 1:19.350 1:17.601 + 1.209
6 27 França Alain Prost Ferrari 1:20.079 1:17.739 + 1.347
7 20 Brasil Nelson Piquet Benetton-Ford 1:20.105 1:18.577 + 2.185
8 15 Brasil Maurício Gugelmin Leyton House-Ilmor 1:22.196 1:18.664 + 2.272
9 4 Itália Stefano Modena Tyrrell-Honda 1:21.709 1:18.847 + 2.455
10 32 Bélgica Bertrand Gachot Jordan-Ford 1:21.493 1:18.882 + 2.490
11 29 França Eric Bernard Lola-Ford 1:22.127 1:19.291 + 2.899
12 21 Itália Emanuele Pirro Dallara-Judd 1:21.286 1:19.305 + 2.913
13 33 Itália Andrea de Cesaris Jordan-Ford 1:21.710 1:19.339 + 2.947
14 19 Brasil Roberto Moreno Benetton-Ford 1:21.266 1:19.360 + 2.968
15 16 Itália Ivan Capelli Leyton House-Ilmor 1:21.171 1:19.517 + 3.125
16 3 Japão Satoru Nakajima Tyrrell-Honda 1:21.825 1:19.546 + 3.154
17 30 Japão Aguri Suzuki Lola-Ford 1:22.281 1:19.832 + 3.440
18 25 Bélgica Thierry Boutsen Ligier-Lamborghini 1:23.197 1:19.868 + 3.476
19 22 Finlândia J. J. Lehto Dallara-Judd 1:22.243 1:19.954 + 3.562
20 23 Itália Pierluigi Martini Minardi-Ferrari 1:22.852 1:20.175 + 3.783
21 24 Itália Gianni Morbidelli Minardi-Ferrari 1:26.147 1:20.502 + 4.110
22 11 Finlândia Mika Häkkinen Lotus-Judd 1:25.587 1:20.611 + 4.219
23 26 França Erik Comas Ligier-Lamborghini 1:22.682 1:21.168 + 4.776
24 17 Itália Gabriele Tarquini AGS-Ford 1:23.618 1:21.219 + 4.827
25 8 Reino Unido Mark Blundell Brabham-Yamaha 1:23.547 1:21.230 + 4.838
26 7 Reino Unido Martin Brundle Brabham-Yamaha 1:23.271 1:21.280 + 4.888
27 10 Itália Alex Caffi Footwork-Porsche 1:25.555 1:22.190 + 5.798
28 18 Suécia Stefan Johansson AGS-Ford 1:24.698 1:22.432 + 6.040
29 9 Itália Michele Alboreto Footwork-Porsche 1:25.795 1:22.739 + 6.347
30 12 Reino Unido Julian Bailey Lotus-Judd 1:24.947 1:23.590 + 7.198
Fontes:[2]

Corrida[editar | editar código-fonte]

Pos. Piloto Construtor Voltas Tempo/Diferença Grid Pontos
1 1 Brasil Ayrton Senna McLaren-Honda 71 1:38:28.128 1 10
2 6 Itália Riccardo Patrese Williams-Renault 71 + 2.991 2 6
3 2 Áustria Gerhard Berger McLaren-Honda 71 + 5.416 4 4
4 27 França Alain Prost Ferrari 71 + 19.369 6 3
5 20 Brasil Nelson Piquet Benetton-Ford 71 + 21.960 7 2
6 28 França Jean Alesi Ferrari 71 + 23.641 5 1
7 19 Brasil Roberto Moreno Benetton-Ford 70 + 1 volta 14
8 24 Itália Gianni Morbidelli Minardi-Ferrari 69 + 2 voltas 21
9 11 Finlândia Mika Häkkinen Lotus-Judd 68 + 3 voltas 22
10 22 Bélgica Thierry Boutsen Ligier-Lamborghini 68 + 3 voltas 18
11 21 Itália Emanuele Pirro Dallara-Judd 68 + 3 voltas 12
12 7 Reino Unido Martin Brundle Brabham-Yamaha 67 + 4 voltas 26
13 32 Bélgica Bertrand Gachot Jordan-Ford 63 Sistema de combustível 10
Ret 5 Reino Unido Nigel Mansell Williams-Renault 59 Rodada 3
Ret 26 França Erik Comas Ligier-Lamborghini 50 Motor 23
Ret 23 Itália Pierluigi Martini Minardi-Ferrari 47 Rodada 20
Ret 8 Reino Unido Mark Blundell Brabham-Yamaha 34 Motor 25
Ret 29 França Eric Bernard Lola-Ford 33 Radiador 11
Ret 22 Finlândia J. J. Lehto Dallara-Judd 22 Pane elétrica 19
Ret 33 Itália Andrea de Cesaris Jordan-Ford 20 Motor 13
Ret 4 Itália Stefano Modena Tyrrell-Honda 19 Câmbio 9
Ret 16 Itália Ivan Capelli Leyton House-Ilmor 16 Transmissão 15
Ret 3 Japão Satoru Nakajima Tyrrell-Honda 12 Rodada 16
Ret 15 Brasil Maurício Gugelmin Leyton House-Ilmor 9 Cansaço físico 8
Ret 17 Itália Gabriele Tarquini AGS-Ford 0 Suspensão 24
Ret 30 Japão Aguri Suzuki Lola-Ford 0 Bomba de combustível 17
DNQ 10 Itália Alex Caffi Footwork-Porsche Não qualificado
DNQ 18 Suécia Stefan Johansson AGS-Ford Não qualificado
DNQ 9 Itália Michele Alboreto Footwork-Porsche Não qualificado
DNQ 12 Reino Unido Julian Bailey Lotus-Judd Não qualificado
DNPQ 35 Bélgica Eric van de Poele Lambo-Lamborghini Não pré-qualificado
DNPQ 34 Itália Nicola Larini Lambo-Lamborghini Não pré-qualificado
DNPQ 31 Portugal Pedro Chaves Coloni-Ford Não pré-qualificado
DNPQ 14 França Olivier Grouillard Fondmetal-Ford Não pré-qualificado
Fontes:[2][nota 1]

Tabela do campeonato após a corrida[editar | editar código-fonte]

  • Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas.

Notas

  1. Voltas na liderança: Ayrton Senna liderou as 71 voltas da prova.

Referências

  1. a b c «1991 Brazilian GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 5 de junho de 2024 
  2. a b c «1991 Brazilian Grand Prix - race result». Consultado em 7 de julho de 2019 
  3. Livio Oricchio (24 de março de 2016). «Uma marcha, blefe, dança com Pelé... Por trás da 1ª vitória de Senna no Brasil». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 7 de julho de 2019 
  4. «Brazilian GP, 1991». Consultado em 17 de maio de 2020 
  5. a b «Há 20 anos, Senna conquistava primeira vitória no GP do Brasil». globoesporte.com. Globo Esporte. 24 de março de 2011. Consultado em 10 de abril de 2016 
  6. a b c d Livio Oricchio (12 de novembro de 2019). «A verdadeira história da vitória de Senna no GP Brasil de 1991». Start. start.youse.com.br. Consultado em 17 de maio de 2020 
  7. «Verdade ou mito? Veja 10 histórias que marcaram a carreira de Senna». Site oficial Ayrton Senna. 1º de abril de 2015. Consultado em 10 de abril de 2016 
  8. Bernardo Bercht (20 de outubro de 2011). «Há 20 anos, Ayrton Senna era tricampeão e se tornava lenda da Formula 1». correiodopovo.com.br. Consultado em 16 de julho de 2017 
  9. «No Dia do Jornalista, veja entrevistas históricas que marcaram a carreira de Ayrton Senna». ayrtonsenna.com.br. 28 de janeiro de 2016. Consultado em 17 de maio de 2020 
  10. «Grande Prêmio do Brasil – 1991». Site oficial Ayrton Senna. Consultado em 10 de abril de 2016 
  11. Agência Estado (26 de março de 1991). «Câmbio é problema da McLaren, diz o piloto». O Fluminense. memoria.bn.br. Consultado em 17 de maio de 2020 
  12. Flavio Gomes (25 de março de 1991). «Para Ayrton, Deus foi o responsável pela vitória». acervo.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de maio de 2020 

Precedido por
Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1991
FIA Campeonato Mundial de Fórmula 1
Ano de 1991
Sucedido por
Grande Prêmio de San Marino de 1991
Precedido por
Grande Prêmio do Brasil de 1990
Grande Prêmio do Brasil
20ª edição
Sucedido por
Grande Prêmio do Brasil de 1992