Homo naledi

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Homo naledi
Intervalo temporal: not dated
Holotype specimen of Homo naledi, Dinaledi Hominin 1 (DH1)
Classificação científica
Reino:
Filo:
Classe:
Ordem:
Família:
Gênero:
Espécies:
H. naledi
Nome binomial
Homo naledi
Berger et al., 2015

Homo naledi é uma espécie extinta da tribo Hominini, uma nova espécie de hominídeo, anunciada em 2015, que tem características do pré-humano Australopithecus e poderia ser a espécie mais antiga do gênero Homo.[1] A espécie é caracterizada por ter estatura e massa corporal semelhantes a populações humanas de pequena estatura mas com um pequeno volume endocranial semelhante aos australopithecus.

Estimou-se inicialmente sua origem em cerca de 2 milhões de anos por conta da morfologia, mas análises dos restos recém-concluídas em 2017 indicam que os exemplares estudados teriam vivido há entre 236 mil e 335 mil anos, época que coincide com a que se acredita que o Homo sapiens evoluiu na África subsaariana.

O Homo naledi difere dos demais espécimes do gênero Homo do Pleistoceno Médio e Tardio (o que inclui Homo antecessor, Homo heidelbergensis, Homo rhodesiensis, além de Homo sapiens e Neandertais arcaicos) pela sua menor capacidade cranial e pela ausência de toro supra orbital arqueada e espessa verticalmente. Ademais, o H. naledi apresenta mandíbula mais grácil em comparação com os demais representantes do gênero Homo. Ele também apresenta fossa canina bem definida, similar ao H. antecessor. [2]

Descoberta[editar | editar código-fonte]

Os fósseis foram descobertos, em 2013 por Lee Berger e colaboradores, dentro do sistema de câmaras Dinaledi no Sistema de Cavernas Estrela Ascendente, sítio considerado Patrimônio Mundial a 50 km de Joanesburgo, na África do Sul.[3] O anúncio se deu em setembro de 2015 pela equipe responsável pela investigação. As cavernas da Estrela Ascendente já haviam sido mapeadas na época da descoberta dos fósseis. No entanto, foi apenas em 2013, durante explorações dos cavernistas amadores Steven Tucker e Rick Hunter, que a câmara de Dinaledi foi descoberta, há 30 metros de profundidade. Os primeiros fósseis se encontravam há 90 metros da entrada.[4]

Restos de 1.550 ossos pertencentes a 15 indivíduos (sendo 1.413 espécimens de ossos e 137 de dentes) foram encontrados durante as investigações iniciais.[5] Os ossos encontrados incluem crânios, mandíbulas, costelas, dentes, ossos de um quase completo, uma mão e ossos internos da orelha; há ossos de idosos adultos e crianças, estas identificadas por pequenos ossos vertebrais.[6] Alguns dos ossos têm a aparência dos ossos do humano moderno e outros parecem ser mais antigos que os do australopithecus, um antigo ancestral do homem. O polegar, o pulso e os ossos da palma da mão são como os atuais mas os dedos da mão são curvados, como os do australopithecus e usados para escalada.[6] O holótipo, um indivíduo do sexo masculino, encontra-se na Universidade de Witwatersrand, Johannesburg, África do Sul.[2]

Discussões[editar | editar código-fonte]

Seus descobridores, cientistas patrocinados pela National Geographic, anunciaram a descoberta dos ossos como a de uma espécie nova de humanos antigos, mas especialistas diferentes desejam que novas evidências sejam mostradas para que a afirmação possa ser cientificamente justificada; um deles, Christoph Zollikofer, antropólogo da Universidade de Zurique, declarou que muitas das características dos ossos encontrados são vistas em animais mais primitivos e por definição não poderiam ser usadas para definir uma nova espécie; por sua vez, Tim White, paleontólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley, declarou que o que foi apresentado até agora pelos descobridores pertence a um tipo primitivo homo erectus, espécie catalogada e nomeada no século XIX.[3]

Também foi postulado de forma controversa que esses indivíduos receberam ritos funerários e foram carregados e colocados na câmara. O fato dos ossos terem sido descobertos juntos aponta para algum comportamento ritual da espécie, o que seria notável, já que se acredita que este tipo de comportamento tivesse surgido apenas muito tempo depois entre os Homo sapiens e Homo neanderthalensis.[6]

Nome[editar | editar código-fonte]

O nome da espécie é uma referência à caverna de Dinaledi, onde foram encontrados, no sistema de caverna Rising Star, na África do Sul. O termo "naledi" significa "estrela" em Sotho (também chamada de Sesotho), que é uma das línguas faladas na África do Sul.

Leti[editar | editar código-fonte]

O primeiro crânio parcial e dentes de um Homo naledi criança encontrado na Caverna Rising Star no Berço da Humanidade. A criança morreu há quase 250 000 anos, quando tinha cerca de quatro a seis anos de idade. Foi encontrada em uma passagem remota da caverna, a cerca de 12m além da Câmara Dinaledi, o local original de descoberta dos primeiros restos de H. naledi.

Os 28 fragmentos de crânio e seis dentes da criança foram recuperados durante um trabalho adicional nos espaços apertados da caverna em 2017. O crânio da criança foi encontrado sozinho e nenhum restos de seu corpo foram recuperados. A equipe nomeou a criança de "Leti" após a palavra Setswana "letimela", que significa "o perdido".

Quando reconstruído, o crânio mostra as órbitas frontais e o topo do crânio com alguns dentes. Não havia partes replicantes enquanto montado o crânio e muitos dos fragmentos se encaixavam, indicando que todos vieram de uma única criança.

O tamanho do cérebro de Leti é estimado em cerca de 480 cm³ a 610 cm³, o que teria sido cerca de 90 a 95 por cento de sua capacidade cerebral adulta

Ainda não foi estabelecido há quanto tempo os restos de Leti têm. No entanto, uma vez que outros fósseis encontrados na Câmara Dinaledi próxima datam de entre 335 000 e 241 000 anos atrás, assim é provável que Leti seja de um período similar, com base na preservação e proximidade.[7]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

As características físicas de H. naledi apresentam semelhanças ao gênero Australopithecus, e ainda traços mais característicos do gênero Homo, bem como características não conhecidas em outras espécies hominíneas.[8] H. naledi media cerca de 150 centímetros de altura, sua estatura é próxima dos pequenos seres humanos modernos. Os machos adultos mediam cerca de 150 centímetros de altura e pesavam em média 45 quilos, enquanto as fêmeas eram um pouco menores e pesavam um pouco menos. Uma análise do esqueleto de H. naledi sugere que ele ficava em pé e era totalmente bípede. A sua mecânica de quadris é similar aos australopitecos, mas seus pés e tornozelos são mais semelhantes aos do gênero Homo.[9]

Tabela comparativa das espécies Homo
Espécie Período de existência (Ma) Onde viveu Altura (adulto) Massa (adulto) Capacidade encefálica (cm³) Registro fóssil Descoberta / publicação do nome
Hominídeo de Denisova 0.04 Krai de Altai (Rússia) 1 sitio 2010
H. antecessor 0.85 – 0.75 Espanha 1,75 m 90 kg 1.000 2 sitios 1997
H. cepranensis 0.8 – 0.35 Itália 1.000 1 calota craniana 1994/2003
H. erectus 1.8 – 0.03 África, Eurásia (Java, China, Índia, Cáucaso) 1.8 m 60 kg 850 (primeiro) – 1.100 (último) Muitos 1891/1892
H. ergaster 1.8 – 1.3 África Oriental e Austral 1,9 m 700–850 Muitos 1975
H. floresiensis 0.095 – 0.012 Indonésia 1,0 m 25 kg 400 7 indivíduos 2003/2004
H. gautengensis 1.9 – 0.6 África do Sul 1,0 m 1 indivíduo 2010/2010
H. georgicus 1.8 Geórgia 600 4 indivíduos 1999/2002
H. habilis 2.1 – 1.5 África 1,0 – 1,5 m 33 – 55 kg 510–660 Muitos 1960/1964
H. heidelbergensis 0.6 – 0.2 Europa, África, China 1,8 m 90 kg 1.100–1.400 Muitos 1908
H. neanderthalensis 0.23 – 0.028 Europa, Sudoeste Asiático 1,6 m 55 – 70 kg 1.200–1.900 Muitos (1829)/1864
H. naledi 0.2 - 0.3 (2017 estimativas) África do Sul 1,5 m 45 kg 560 1 sitio (2013)/2015
H. rhodesiensis 0.3 – 0.125 Zâmbia 1.300 Muito poucos 1921
H. rudolfensis 2.5 - 1.8 Quênia 1 crânio 1972/1986
Homem da caverna do Veado Vermelho 0.0145 - 0.0115 China Muito poucos 1979/2012
H. sapiens idaltu 0.16 – 0.15 Etiópia 1.450 3 crânios 1997/2003
H. sapiens sapiens (humanos) 0.195 – presente Mundo 1,5 – 1,8 m 50 – 80 kg 1.000–1.850 Ainda vivo —/1758

[editar | editar código-fonte]

Para carcaterizar os pés do Homo naledi, foram utilizados 107 elementos pedais, incluindo um pé adulto praticamente completo. No que tange à função e anatomia, o pé do Homo naledi se aparenta predominantemente com oo de humanos modernos. Ele apresentava hálux aduzido, tarso alongado e articulações do tornozelo e calcaneocuboide mais derivadas, características que apontam para um bipedalismo bem desenvolvido. No entanto, suas falanges pedais proximais mais curvadas e seu arco medial longitudinal reduzido demonstram que ele também apresenta características únicas, que apontam para a diversidade no aparelho locomotor no gênero Homo.[10]

Mão[editar | editar código-fonte]

150 elementos ósseos da mão atribuídos ao H. naledi foram encontrados, representando pelo menos seis indivíduos adultos e dois indivíduos imaturos. 23 desses 150 ossos foram recuperados de uma mão parcialmente articulada, com a palma para cima e dedos flexionados, sendo essa mão pequena com o tamanho similar ao de uma fêmea de Australopithecus sediba. Essa mão apresenta um polegar longo e robusto e uma morfologia do pulso derivada, que é compartilhada com os Neandertais e humanos modernos, considerada adaptativa para manipulação manual intensificada. No entanto, os ossos dos dedos são mais longos e curvos do que na maioria dos Australopithecus, indicando uso frequente da mão para agarrar durante a escalada e durante a suspensão. Esses dedos especialmente curvos em combinação com um pulso e palma semelhantes aos humanos indicam um grau significativo de escalada, apesar da natureza derivada de muitos aspectos da mão e de outras regiões do esqueleto.[11]

Cultura[editar | editar código-fonte]

Uma reconstrução facial do Homo naledi

Comida[editar | editar código-fonte]

Lascas e desgaste dentário indicam o consumo habitual de pequenos objetos duros, como sujeira e poeira, e o desgaste em forma de xícara nos dentes posteriores pode ter origem em partículas arenosas. Estes podem ter se originado de raízes e tubérculos não lavados. Alternativamente, a aridez poderia ter espalhado partículas nos alimentos, cobrindo os alimentos com poeira. É possível que comessem habitualmente produtos duros maiores, como sementes e nozes, mas estes eram processados ​​em pedaços menores antes do consumo.[12][13]

H. naledi ocupou um nicho aparentemente único dos anteriores hominídeos sul-africanos, incluindo Australopithecus e Paranthropus. Os dentes de todas as três espécies indicam que eles precisavam exercer alta força de cisalhamento para mastigar, talvez, fibras vegetais ou musculares. Os dentes de outros Homo não conseguem produzir forças tão elevadas, talvez devido ao uso de algumas técnicas de processamento de alimentos, como cozinhar.[12]

Tecnologia[editar | editar código-fonte]

H. naledi poderia ter produzido indústrias da Idade da Pedra Inicial (Acheuleana e possivelmente a antiga Oldowan) ou da Idade da Pedra Média porque elas têm as mesmas adaptações manuais que outras espécies humanas que estão implicadas na produção de ferramentas. H. naledi é a única espécie humana identificada que existiu durante o início da Idade da Pedra Média na região de Highveld, África do Sul, possivelmente indicando que esta espécie fabricou e manteve esta tradição pelo menos durante este período de tempo. Nesse cenário, tais indústrias e técnicas de corte de pedra teriam evoluído de forma independente diversas vezes entre diferentes espécies e populações de Homo, ou seriam transportadas por longas distâncias pelos inventores ou aprendizes e ensinadas.[14]

Funerais[editar | editar código-fonte]

Uma ilustração da sistema de câmaras Dinaledi no Sistema de Cavernas Estrela Ascendente

Em 2015, o arqueólogo Paul Dirks, Berger e colegas concluíram que os corpos deviam ter sido deliberadamente carregados e colocados na câmara por pessoas porque pareciam estar intactos quando foram depositados pela primeira vez na câmara. Não há evidências de trauma por ter caído na câmara nem de predação, e há uma preservação excepcional. A câmara é inacessível a grandes predadores, parece ser um sistema isolado e nunca foi inundada. Ou seja, as forças naturais não estavam em jogo.[14]

Não há nenhuma passagem escondida pela qual as pessoas possam ter caído acidentalmente, e não há evidência de alguma catástrofe que tenha matado todos os indivíduos dentro da câmara. Eles disseram que também é possível que os corpos tenham caído por uma rampa e caído lentamente devido à irregularidade e estreiteza do caminho, ou a uma almofada de lama macia para pousar. Em ambos os cenários, os agentes funerários precisariam de luz artificial para navegar pela caverna. O local foi usado repetidamente para sepultamentos, pois os corpos não foram depositados todos ao mesmo tempo.[14]

Em 2016, a paleoantropóloga Aurore Val respondeu que tal preservação pode ter sido devida à mumificação, em vez de um enterro cuidadoso, e a ausência de cabeças de ossos longos lembra a predação. Ela acredita que não se justifica desconsiderar as forças naturais, como as inundações, para o depósito dos corpos. Ela identificou evidências de danos causados ​​por besouros, larvas de besouros e caracóis, que facilitam a decomposição. A câmara não apresenta condições ideais para caracóis, nem contém conchas de caramujos, o que indicaria decomposição iniciada antes da deposição na câmara.[15]

Em 2017, Dirks, Berger e colegas reafirmaram que não há evidências de fluxo de água para dentro da caverna e que é mais provável que estes H. naledi tenham sido deliberadamente depositados na câmara. Eles disseram que é possível que tenham sido depositados por Homo contemporâneos, como os ancestrais dos humanos modernos, em vez de outros H. naledi, mas que o comportamento cultural das práticas funerárias não é impossível para o H. naledi. Eles propuseram que a colocação na câmara pode ter sido feita para remover corpos em decomposição de um assentamento, prevenir necrófagos ou como consequência de laços sociais e luto.[14]

Em 2018, o antropólogo Charles Egeland e colegas ecoaram os sentimentos de Val e afirmaram que não há provas suficientes para concluir que a espécie humana desenvolveu um conceito de vida após a morte tão cedo. Eles disseram que a preservação dos indivíduos Dinaledi é semelhante à das carcaças de babuínos que se acumulam nas cavernas, seja pela morte natural dos babuínos que vivem nas cavernas ou por um leopardo arrastando as carcaças.[16]

Em 2021, após a análise dos fragmentos ósseos de um indivíduo imaturo, Juliet Brophy e Berger afirmaram mais uma vez que os restos mortais de H. naledi foram enterrados propositalmente por algumas espécies humanas.[17] Isso tornaria o Homo naledi a evidência mais antiga de sepultamento por hominídeos.[18] Estas conclusões são contestadas.[19]

Em 2023, Lee Berger e colegas novamente publicaram um artigo reafirmando evidências de sepultamento deliberado dos mortos pelo H. naledi. Através de novas escavações realizadas Sistema de Cavernas Estrela Ascendente, forneceram evidências de pelo menos três características de sepultamento, duas na Câmara Dinaledi e uma terceira na cavidade da Antecâmara da Colina.[20] Entretanto, no mesmo ano, um trabalho publicado contestava essas evidências, dizendo que "Os investigadores não empregaram a ampla gama de métodos científicos (por exemplo, cronologia, tafonomia, sedimentologia, micromorfologia, geoquímica) projetados para responder às perguntas formuladas, nem aplicaram os princípios básicos da arqueotanatologia para identificar um sepultamento deliberado.", além disso, é citado no trabalho que não é possível reconhecer gestos estereotipados ou 'ritualizados' que caracterizariam algum tipo de comportamento funerário complexo nos H. naledi.[21]

Polêmicas[editar | editar código-fonte]

Persona non grata[editar | editar código-fonte]

Em função de suas ideias e hipóteses heterodoxas, além de certo excesso em sua ambição carreirista, Lee Berger foi considerado persona non grata por parte da comunidade científica. Além disso, Berger vai na contramão do mainstream científico ao enfatizar que as raízes da humanidade se deram na África do Sul, e não no leste africano.[22]

Polêmica Racial[editar | editar código-fonte]

A descoberta dos fósseis foi, na época, alvo de críticas por personalidades importantes sul-africanas, que temiam que os fósseis suscitassem o racismo no país, ainda marcado pelos anos de Apartheid. Entre eles, Zwelinzima Vavi, secretário-geral do sindicato Cosatu (aliado do Congresso Nacional Africano), que afirmou que "Ninguém vai desenterrar ossos de macacos velhos para alimentar a teoria de que venho do babuíno". O deputado do grupo parlamentar do ANC, Mathole Motshekgaalegou, alegou que a descoberta "sustenta que somos infra-homens e por isso nós africanos não somos respeitados no mundo, convém ao que era dito durante o apartheid, quando nos negaram a condição de seres humanos para justificar a escravidão, o colonialismo e a opressão". Também se juntaram às críticas o Conselho de Igrejas da África do Sul. O líder da organização, Ziphozihle Siwa, afirmou que "É um insulto dizer que viemos dos babuínos. Muitos ocidentais pensam que os negros são babuínos". Lee Berger combateu as críticas, ressaltando que "a ciência não leva em conta religiões, nem põe em xeque as crenças de ninguém".[23]

Ida ao Espaço[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 2023, em um voo organizado pela e presa aeroespacial americana Virgin Galactic, fósseis de Australopithecus sediba e de H. naledi foram enviado para um voo suborbital. Os ossos foram enviados dentro de um contêiner de fibra de carbono.[24] Para Lee Berger, que fez parte da organização da viagem, o feito foi uma suposta homenagem aos feitos científicos da sul-africanos, e enfatizou que “a viagem dos fósseis ao espaço representa a apreciação da humanidade pela contribuição de todos os antepassados e dos nossos antigos parentes. Sem a contribuição [desses antepassados] para a evolução da mente humana contemporânea, empreendimentos tão extraordinários como os voos espaciais não teriam acontecido”.[25] No entanto, o feito foi extremamente criticado pela comunidade científica e por paleoantropólogos ao redor do mundo, sobretudo por suas preocupações acerca da preservação dos fósseis e das relações de poder envolvidas na posse de patrimônios arqueológicos. O feito com chamado de "antiético" e de "golpe publicitário". A Agência Sul-Africana de Recursos do Patrimônio (SAHRA) emitiu uma licença de exportação à Berger. No entanto, a política de licenciamento da SAHRA só permite que fósseis dessa natureza viagem com fins científicos e com embalagem devida para evitar danos. Durante o voo, os fósseis ficaram no bolso do bilionário sul-africano Timothy Nash, enquanto ele flutuava livremente.[26] Em artigo publicado na The Conversation, o voo das ossadas foi considerado "uma ameaça à herança sul-africana", além de escancarar relações de poder desiguais em jogo no acesso a patrimônios arqueológico ao apontar que "apenas homens brancos ricos, famosos e privilegiados têm acesso a fósseis. Comunidades mais pobres não têm acesso aos mesmos privilégios?".[27]

Uma espécie nova?[editar | editar código-fonte]

Para alguns pesquisadores, incluindo o antropólogo britânico Chris Stringer, o H. naledi não apresenta evidências suficientes de que é, de fato, uma nova espécie. A ausência de datação e seus aspectos morfológicos mistos, com uma combinação de caracteres primitivos e derivados (tal como o pequeno tamanho cranial e dedos curvados, que se assemelha aos Australopithecus e aos primeiros Homo habilis, enquanto as pernas, pés e mãos se parecem com os Neandertais e humanos modernos), fazem com que parte da comunidade credite o material, na verdade, ao Homo erectus de Dmanisi. [28]

Cultura Popular[editar | editar código-fonte]

Literatura[editar | editar código-fonte]

  • Il mistero di Homo naledi. Chi era e come viveva il nostro lontano cugino africano: storia di una scoperta rivoluzionar, publicado em 2016 por Damiano Marchi. O livro conta a experiência do único paleoantropólogo italiano presente na expedição que culminou na descoberta do Homo naledi.
  • Almost Human: The Astonishing Tale of Homo Naledi and the Discovery That Changed Our Human Story, publicado em 2017 por Lee Berger. O texto desvenda a expedição de descoberta dos fósseis.
  • Naledi: A Short Story. Ebook publicado em 2020 por Robert Bocking.

Streaming[editar | editar código-fonte]


Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Nova espécie do gênero humano é descoberta na África do Sul». OESP. Consultado em 10 de setembro de 2015 
  2. a b Berger, Lee R; Hawks, John; de Ruiter, Darryl J; Churchill, Steven E; Schmid, Peter; Delezene, Lucas K; Kivell, Tracy L; Garvin, Heather M; Williams, Scott A (10 de setembro de 2015). Krause, Johannes; Conard, Nicholas J, eds. «Homo naledi, a new species of the genus Homo from the Dinaledi Chamber, South Africa». eLife: e09560. ISSN 2050-084X. doi:10.7554/eLife.09560. Consultado em 14 de maio de 2024 
  3. a b «Homo naledi: New species of ancient human discovered, claim scientists». The Guardian. Consultado em 10 de setembro de 2015 
  4. «O que o "Homo naledi" pode dizer sobre a evolução humana? – DW – 10/09/2015». dw.com. Consultado em 14 de maio de 2024 
  5. Alford, Justine. «New Species Of Human Discovered In South Africa». iflscience.com. Consultado em 10 de setembro de 2015 
  6. a b c «This Face Changes the Human Story. But How?». National Geograph. Consultado em 10 de setembro de 2015 
  7. Rusch, Neil (Dezembro de 2022). «SOUNDTRACK OF THE WORLD Sonorous stones and the rock of ages» (PDF). The digging stick. Consultado em 17 de maio de 2024 
  8. New human-like species discovered in S Africa por Pallab Ghosh - "BBC News" (2015)
  9. Homo naledi - Geological and taphonomic context for the new hominin species Homo naledi from the Dinaledi Chamber, South Africa por Paul HGM Dirks, et al em "eLife", 2015; 4 DOI: 10.7554/eLife.09561
  10. Harcourt-Smith, W. E. H.; Throckmorton, Z.; Congdon, K. A.; Zipfel, B.; Deane, A. S.; Drapeau, M. S. M.; Churchill, S. E.; Berger, L. R.; DeSilva, J. M. (6 de outubro de 2015). «The foot of Homo naledi». Nature Communications (em inglês) (1). 8432 páginas. ISSN 2041-1723. doi:10.1038/ncomms9432. Consultado em 16 de maio de 2024 
  11. Kivell, Tracy L.; Deane, Andrew S.; Tocheri, Matthew W.; Orr, Caley M.; Schmid, Peter; Hawks, John; Berger, Lee R.; Churchill, Steven E. (6 de outubro de 2015). «The hand of Homo naledi». Nature Communications (em inglês) (1). ISSN 2041-1723. PMC 4597335Acessível livremente. PMID 26441219. doi:10.1038/ncomms9431. Consultado em 16 de maio de 2024 
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  13. Towle, I.; Irish, J. D.; de Groote, I. (2017). «Behavioral inferences from the high levels of dental chipping in Homo naledi» (PDF). American Journal of Physical Anthropology. 164 (1): 184–192. PMID 28542710. doi:10.1002/ajpa.23250 
  14. a b c d Berger, Lee R; Hawks, John; Dirks, Paul HGM; Elliott, Marina; Roberts, Eric M (9 de maio de 2017). Perry, George H, ed. «Homo naledi and Pleistocene hominin evolution in subequatorial Africa». eLife: e24234. ISSN 2050-084X. PMC 5423770Acessível livremente. PMID 28483041. doi:10.7554/eLife.24234. Consultado em 1 de janeiro de 2024 
  15. Val, A. (2016). «Deliberate body disposal by hominins in the Dinaledi Chamber, Cradle of Humankind, South Africa?». Journal of Human Evolution. 96: 145–148. PMID 27039664. doi:10.1016/j.jhevol.2016.02.004 
  16. Egeland, C. P.; Domínguez-Rodrigo, M.; Pickering, T. R.; et al. (2018). «Hominin skeletal part abundances and claims of deliberate disposal of corpses in the Middle Pleistocene». Proceedings of the National Academy of Sciences. 115 (18): 4601–4606. Bibcode:2018PNAS..115.4601E. PMC 5939076Acessível livremente. PMID 29610322. doi:10.1073/pnas.1718678115Acessível livremente 
  17. Brophy, Juliet; Elliot, Marina; De Ruiter, Darryl; Bolter, Debra; Churchill, Stevens; Walker, Christopher; Hawks, John; Berger, Lee (2021). «Immature Hominin Craniodental Remains From a New Locality in the Rising Star Cave System, South Africa». PaleoAnthropology. 2021 (1): 1–14. doi:10.48738/2021.iss1.64 
  18. «Claims that ancient hominins buried their dead could alter our understanding of human evolution» 
  19. Callaway, Ewen (25 de julho de 2023). «Sharp criticism of controversial ancient-human claims tests eLife's revamped peer-review model». Nature. 620 (7972): 13–14. doi:10.1038/d41586-023-02415-w 
  20. Berger, Lee R.; Makhubela, Tebogo; Molopyane, Keneiloe; Krüger, Ashley; Randolph-Quinney, Patrick; Elliott, Marina; Peixotto, Becca; Fuentes, Agustín; Tafforeau, Paul (12 de julho de 2023). «Evidence for deliberate burial of the dead by Homo naledi». eLife (em inglês). doi:10.7554/eLife.89106.1. Consultado em 16 de maio de 2024 
  21. Martinón-Torres, María; Garate, Diego; Herries, Andy I. R.; Petraglia, Michael D. (10 de novembro de 2023). «No scientific evidence that Homo naledi buried their dead and produced rock art». Journal of Human Evolution. 103464 páginas. ISSN 0047-2484. doi:10.1016/j.jhevol.2023.103464. Consultado em 16 de maio de 2024 
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  24. às 09:00, Viny Mathias Publicado 28 de Setembro de 2023 (28 de setembro de 2023). «Empresa decide enviar fósseis humanos pré-históricos ao espaço e vira alvo de críticas de arqueólogos». IGN Brasil. Consultado em 14 de maio de 2024 
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  26. «Cientistas condenam empresa que mandou fósseis raros de hominídeos ao espaço». Galileu. 24 de outubro de 2023. Consultado em 14 de maio de 2024 
  27. Kgotleng, Dipuo Winnie; Pickering, Robyn (22 de setembro de 2023). «South African hominin fossils were sent into space and scientists are enraged». The Conversation (em inglês). Consultado em 14 de maio de 2024 
  28. Stringer, Chris (10 de setembro de 2015). «The many mysteries of Homo naledi». eLife: e10627. ISSN 2050-084X. doi:10.7554/eLife.10627. Consultado em 16 de maio de 2024 

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