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Imigração alemã em Santa Catarina

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Inscrição Ich liebe Blumenau ("eu amo Blumenau" em alemão) em frente à prefeitura de Blumenau, representando a influência que a colonização alemã teve sobre a cidade.

A imigração alemã em Santa Catarina teve início com a chegada dos primeiros colonos à região em 1828 num grupo com 523 colonos imigrantes católicos, originários da região do Hunsrück, na Renânia, sudoeste alemão, além de mais algumas famílias luxemburguesas. Os primeiros colonizadores alemães instalaram-se em São Pedro de Alcântara. Esta foi a primeira colônia de imigrantes alemães em território catarinense e a segunda colônia alemã da região sul do Brasil. Posteriormente, novas colônias foram fundadas no estado.

Principais colônias[editar | editar código-fonte]

Igreja Matriz de Itajaí projetada por um arquiteto alemão chamado Simão Gramlich e construída pelo Padre José Locks, tendo sua inauguração 15 anos após o início das obras. Sua arquitetura é um mesclado entre os estilos gótico e o romântico Alemão que impressiona a todos, e por isso se tornou em dos cartões-postais da cidade.

Colônia de São Pedro de Alcântara[editar | editar código-fonte]

Apesar dos primeiros colonizadores alemães terem chegado ao estado em 1828, a primeira colônia que viera a acolher os alemães em Santa Catarina foi fundada somente no ano seguinte, em 1829.[1] Devido a ausência de informações concretas quanto a vinda dos alemães, o governo estadual não havia determinado que fossem derrubadas as matas e que fossem realizadas as construções das estradas que viriam a ser a colônia. Assim, os colonos que chegaram a Desterro, atual Florianópolis, nos navios Marquês de Viana e Luiza, foram alojados provisoriamente na Armação da Lagoinha.[2] Localizada numa região montanhosa, distante apenas 32km da capital do estado, São Pedro de Alcântara acolheu na grande maioria, famílias oriundas do Hunsrück e Eiffel, à época sudeste alemão.[3]

Ao todo, a Colônia de São Pedro de Alcântara acolheu ao longo de sua existência mais de duzentas famílias alemãs, sendo elas: Achtert, Agnes, Ahl, Albers, Alflen, Ambre, Arns, Backes, Balles, Barthes, Bass, Bauer, Baumgarten, Becker, Behrens, Bender, Berg, Bergmann, Besen, Beuren, Beurer, Bins, Bissel, Bläser, Blasius, Boeckler, Bohnen, Bonherts, Born, Bornhausen, Bornhofer, Both, Böttger, Brand, Brandenburger, Braun, Bries, Brüchnem, Brück, Brückenem, Brütner, Bückler, Büdinger, Bühler, Burlschenbusch, Bursliet, Büttinger, Cammer, Cher, Colin, Conradi, Croemer, Dahmann, Danner, De Neuve, Depré, Deschamps, Dewes, Diederich, Diedmann, Dör, Eich, Emmerich, Erz, Esper, Felber, Feltes, Fischer, Franzener, Freiberger, Friedes, Fridrich, Frilhs, Fuchs, Fuhrmann, Gansen, Gebien, Geise, Geissbusch, Gesser, Gödert, Görent, Gorges, Grab, Griele, Grundhöfer, Gysing, Habitzreuter, Hack, Händchen, Hanssen, Haskel, Heck, Heingmann, Heinzen, Henne, Herath, Hermes, Herkes, Hesser, Hoffmann, Holze, Holzer, Horn, Huber, Hutmann, Jakob, Jakobsen, Jäp, Jasper, Jeantié, Juchem, Junk, Junkers, Junklaus, Justen, Kahl, Kehrig, Kenzer, Kerbach, Kich, Kiefer, Kiele, Kirchen, Kirckn, Klasen, Kleger, Klok, Klocker, Kobes, Köche, Kohlen, Kommes, König, Kons, Kremer, Kretzer, Kreusch, Kreutz, Krick, Kroemer, Kron, Kuber, Kuhnen, Laubentahl, Lauer, Laux, Lee Fleuer, Lennhardt, Lenz, Lesseln, Lieser, Loch, Lohn, Lohr, Longen, Lorich, Lucas, Ludwig, Mannebach, Mannerich, Mannes, Martendahl, May, Meier, Meinschein, Mergener, Merger, Merges, Mertens, Meurer, Michels, Milwerstedt, Müller, Münnich, Münter, Muthmann, Nau, Neckel, Neiss, Netver, Neumann, Orels, Ostermann, Otto, Palm, Pauli, Payeken, Peters, Petri, Petry, Pfeiffer, Philippi, Pies, Pirmassing, Plancl, Plevoets, Preis, Pretz, Prim, Pudinger, Pütz, Radat, Rausch, Reichert, Reinadus, Reinert, Reiter, Remackles, Rengel, Reuter, Richard, Rinkus, Rohden, Rohles, Rohrs, Rosar, Rothanermel, Rübler, Ruöte, Ruppel, Sabel, Salis, Schäfer, Scharf, Schauren, Scheid, Schell, Schenk, Scherer, Schiff, Schimke, Schmidt, Schmitt, Schmitz, Schneid, Schneider, Schnitzler, Schock, Schreiner, Schroeder, Schmacher, Schütz, Schwabe, Schwartz, Schwarz, Schweitzer, Sens, Sensheim, Sepular, Sesterhenn, Sieglin, Simonis, Soechting, Spengler, Stähelin, Stein, Steinbach, Steins, Stock, Stoll, Theiss, Theissen, Thomas, Tiegendorf, Tildris, Trierweiler, Van Bursliet, Von Kurz, Vicker, Vürtz, Wagner, Waldorf, Waldrich, Weber, Weinand, Welter, Werner, Westrup, Wiedrick, Wiewe, Wild, Wilhelm, Will, Wilvert, Winter, Wirschem, Wolf, Wollscheid, Zerpes, Ziegler, Zimmer, Zimmermann e Zischer.[4]

Colônia Santa Isabel[editar | editar código-fonte]

Outra importante colônia instalada em Santa Catarina, ano de 1847, foi a Colônia Santa Isabel. A grande maioria dos imigrantes alemães que chegaram a Santa Isabel, eram agricultores e pessoas humildes do estado alemão da Renânia-Palatinado. Os alemães eram praticantes de duas fés distintas: a católica e a luterana. Geograficamente, a colônia se localizada próxima ao antigo Caminho das Tropas, por onde passavam os tropeiros que faziam os itinerários do planalto serrado ao litoral catarinense. O nome "Santa Isabel" é uma homenagem do Governo à então Princesa Isabel. Além da sede colonial, o qual era tido como um local excessivamente montanhoso e que era impróprio para a agricultura, foram povoadas as linhas coloniais de Löffelscheidt e Primeira Linha. Na década de 1860, o Governo ao perceber que a colônia crescia apenas internamente, por meio de incentivos e trabalhos da população que fora recebida somente até 1851, resolvera trazer uma nova onda migratória para Santa Isabel. Por estes motivos, o núcleo foi ampliado e submetido ao regime colonial com a vinda de novos alemães, tendo sido instaladas novas linhas coloniais, das quais citam-se: Segunda Linha, Terceira Linha, Quarta Linha, Quinta Linha, Rancho Queimado, Linha Scharf e Taquaras.[5]

Decorridos vinte anos de sua fundação, em 1867 o comissário imperial, Ignácio da Cunha Galvão, visitou as propriedades da colônia e em relatório elencou o estágio de seu desenvolvimento. Em seus pareceres, disse "tão desanimador estado da colônia". O Governo Imperial ao tomar conhecimento dos apontamentos do comissário sugeriu que fosse promovida a migração dos colonos descontes, bem como depois realizar a emancipação colonial. À época, o diretor colonial Theodor Todeschini foi instruído por seus superiores a conceder títulos provisórios de propriedade aos imigrantes, o que foi feito no ano seguinte, em 1868. Tais documentos eram bilíngues, contendo além do brasão de armas imperial, a designação e localização dos lotes, os quais serviam como uma garantia no sentido de aquisição de propriedade, com o pagamento integral de sua importância, bem como tudo que dever à Fazenda Nacional e provado que tenha tido no mesmo lote um ano, pelo menos, de residência habitual e cultura efetiva. Esses títulos serviram para ser uma forma de pré-emancipação colonial.[6]

Na data de 28 de maio de 1869, o Ministério dos Negócios da Agricultura e Obras Públicas remeteu ao Presidente Provincial de Santa Catarina, um ofício contendo algumas determinações que deveriam ser postas em prática que trariam grande impacto entre os imigrantes, dentre as quais havia a ordem de exoneração dos funcionários coloniais. Após realizar o determinado, o Presidente Provincial, Carlos Augusto Ferras de Abreu, em 11 de junho daquele mesmo ano, através da Lei Provincial nº 628, declarou a colônia emancipada. Assim, houve a inviabilização de fato para que Santa Isabel se desenvolvesse social e economicamente. Em partes, isso estimulou que muitos imigrantes que, agora estavam lançados a própria sorte, rumassem para outras comunidades de Santa Catarina.[7]

Colônia Itajahy[editar | editar código-fonte]

O surgimento da Colônia Itajahy se deu em 1860, quando o Governo Imperial Brasileiro determinou que o Presidente Provincial de Santa Catarina, Francisco de Araújo Brusque, desse inicio a colonização da região do Rio Itajaí-Mirim. Com o viés de obedecer as ordens superiores, fundou-se a colônia em 04 de agosto daquele mesmo ano. O diretor colonial foi o Barão Von Schneéburg, ex-membro da cavalaria austríaca que havia chegado ao estado na companhia de outros 54 colonos.[8] As primeiras dez famílias que se assentaram na Colônia Itajahy foram: Hoefelmann, Wilhelm, Neuhaus, Scharfenberg, Ortmann, Boiting, Morsch, Ostendarp, Walther e Richter. Posteriormente, outras três ondas migratórias foram recebidas na colônia, totalizando a quantia de 290 adultos, 116 menores e 90 famílias.[9] Em se tratando do primeiro grupo que lá se assentou, estes encontraram uma região densamente povoada, não apenas pelos nativos, mas por outros alemães recém-chegados que resolveram se aventurar. Um deles era o Pedro José Werner, conhecido como Vicente Só. Já haviam três engenhos de serra, pertencendo cada qual, respectivamente aos senhores Pedro José Werner, Sr. Sallentien, e Paulo Kellner. Também Reinhold Gaertner, sobrinho do Dr. Blumenau, era proprietário de um imóvel na região.[10]

Passados alguns anos de sua fundação, no ano de 1867 fora instalada a Colônia Príncipe Dom Pedro, distante em média 6km da sede de Brusque. Colonos vindos da América do Norte ocuparam aquelas novas terras. Ocorre que este projeto de colonização não prosperou ante a má gestão do Governo. Isso ocasionou com que muitos migrantes marchassem para outras localidades, e com isso o território da nova colônia foi anexado a Itajahy, passando a ser conhecida como Colônia Itajahy-Brusque. Isso se deu em 06 de dezembro de 1869. Com o passar dos anos, houve um drástico declínio na vinda de famílias germânicas, tentando-se então que fossem fixados poloneses, não obtendo êxito. Já a partir dos anos de 1875, o território passou a ser ocupado pelos imigrantes italianos que chegaram ao estado.[11]

Colônia de Teresópolis[editar | editar código-fonte]

Instituída pelo Governo Imperial em 03 de junho de 1860 no Vale do Cubatão, ao longo de sua existência Teresópolis recebeu inúmeros alemães católicos e luteranos. Praticamente todos os alemães que lá se assentaram, tinham raízes nas regiões da Renânia-Palatinado e Renânia-Westfália, estados alemães. Foram trazidos e transportados pela Companhia Steinmann, sediada na Antuérpia. Ainda em 1860, a colônia recebera outro grupo de alemães, mas desta vez vindos do sudeste brasileiro: eram trabalhadores de plantações de café, chamados de Die Kaffeepfluecker, trazidos da Europa por fazendeiros produtores de café.[12] Durante muitos anos de sua existência, Teresópolis foi comandada por Theodor Todeschini, e, inclusive seu nome é uma homenagem à Imperatriz Teresa Cristina. Incontáveis levas imigratórias foram recebidas por Teresópolis, o que fez com que seus limites se expandissem, criando novas linhas coloniais. Além da sede, haviam: Rio do Cedro, Rio Miguel, Rio Cubatão, Rio Novo, Rio Salto e Alto Capivari. Nestas linhas os colonos adquiriram terrenos, cuja extensão era de 100 braças de frente por 1000 de fundos, enquanto o preço era fixado pela Companhia Steinmann, equivalendo a 3 réis a braça quadrada.[13]

Desde os seus primeiros momentos de existência, Teresópolis demonstrou ser um importante centro comercial, administrativo e religioso. Inclusive, foi lá que se iniciou o movimento conhecido como Restauração da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, da Ordem dos Frades Menores, denominados de franciscanos. Os padres Guilherme Roer, Francisco Topp, João Batista Steiner e Augusto Schwirling são alguns dos quais marcaram fortemente a vida religiosa dos moradores de Teresópolis.[14] Seguindo o exemplo de outras colônias instituídas em Santa Catarina, os terrenos de Teresópolis eram localizados em regiões montanhosas e pedregosas, de difícil desenvolvimento para a agricultura. Apesar disso, até 1863 sua produção tinha como base exclusivamente o cultivo de batata, milho e feijão. Outras produções bastante vantajosas em outros pontos do Brasil, como cana-de-açúcar, algodão e café, não se adaptaram ante as condições climáticas.[15]

Colônia Blumenau[editar | editar código-fonte]

A história de Blumenau teve início na Alemanha a partir das decisões e ambições de um jovem da cidade de Hassefelde-Braunschweig. Com a idade de 23 anos, após contato com naturalistas e principalmente com a família Müller, Hermann Blumenau começou a observar mais as questões e elementos naturais e despertou-lhe a curiosidade em conhecer as terras na América. Muitos alemães emigravam para a América do Norte e, em menor quantidade, para o Brasil.

Johann Jacob Sturz: No final do ano de 1843, Hermann Blumenau viajou para a capital da Inglaterra, a trabalho. Foi tentar conseguir uma patente de invenção para os preparados químicos e autorização para a comercialização deles. Em Londres, conheceu o cônsul-geral do Brasil na Prússia, Johann Jacob Sturz.

A conversa foi longa com o diplomata brasileiro na Prússia. Neste encontro, Hermann Blumenau ouviu muitas histórias sobre o Brasil, desde narrativas sobre a natureza e muito da propaganda do que o governo brasileiro vinha fazendo na Europa, para atrair imigrantes e povoar, o quanto antes, o inabitado sul do Brasil. Hermann Blumenau pesquisou muito sobre a imigração e a colonização no Brasil. Procurou conversar com brasileiros, pesquisou a história do Brasil e a movimentação migratória que aconteceu de seu país para o Brasil.

No final da década de 40 do século XIX, chegavam notícias do Brasil na Alemanha. As notícias mencionavam a propaganda e promessas do Estado brasileiro na Europa - Alemanha - aliciando pessoas que mudassem para o Brasil para trabalhar e povoar o sul. As notícias chegantes do Brasil afirmavam que parte destas promessas não era de fato, cumpridas.

Oportunisticamente, com intenções claras de conhecer o Brasil pessoalmente, Hermann Blumenau não perdeu tempo em candidatar-se a uma vaga de Agente Fiscal do governo alemão da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães"- Colonisation Vereins Hamburgo - 1845/1846 - com sede em Hamburgo. Como representante oficial do governo alemão, visitou colônias de imigração alemã nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em abril de 1846 – com 27 anos, embarca a trabalho, como representante do governo alemão para o Brasil. Despediu-se de seus pais e embarcou no veleiro Johannes, no porto de Hamburgo.

Viajou por mais de dois meses e chegou no Rio Grande no dia 19 de junho de 1846. Visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrado, através de correspondência, aos seus pais - na Alemanha.

Ao contrário de verificar a situação de seus contemporâneos e emitir relatórios ao governo prussiano, fez contatos e outras pesquisas, visando montar sua colônia. Em 1847, Hermann Blumenau ouviu alguns conterrâneos seus no sul do Brasil, pesquisou possibilidades de negócios e fez contatos. Depois seguiu para a capital do Brasil - a cidade do Rio de Janeiro. Permaneceu na cidade do Rio de Janeiro, por aproximadamente 8 meses, igualmente efetuando estudos e contatos.

Nesse tempo, articulou e procurou conhecer toda a tramitação para efetivação da imigração e colonização de terras, bem como suas vantagens e desvantagens. Também estudou clima e a geografia de algumas províncias do Brasil. Em abril de 1847, Hermann Blumenau embarca para Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, a partir da qual, visitou a Colônia de São Pedro de Alcântara, primeiro núcleo de imigrantes alemães na Província, fundada em 1829. Neste momento, Hermann Blumenau ouviu pela primeira vez, falar da região do Vale do Itajaí, para a qual voltou toda sua atenção nos tempos seguintes. Desta colônia, parte de famílias locais, mudaram-se para o Vale do Itajaí.

A Família Wagner respondeu a muitas perguntas de Hermann Blumenau, durante a sua visita - a primeira na região. Perguntas como: As terras são propícias ao plantio? Os alemães se adaptam bem? Há contato com o restante do mundo? As crianças se desenvolvem? Como se mora? como se vive? A Família Wagner serviu um refeição aos dois visitantes, a partir dos "frutos" produzidos em sua propriedade. No decorrer da troca de ideias - Hermann Blumenau continuou a receber informações destes que já residiam no local há um bom tempo e tiravam da propriedade, a sobrevivência das famílias. Anotou as informações. Os Wagner, e outros que já residiam na região (Atual Gaspar) subiram o Rio Itajaí-Açu a fim de observar o local que despertou o interesse de Hermann Blumenau, ao ponto de o mesmo querer assentar imigrantes alemães e no local fundar uma colônia.

Nesta mesma viagem, no retorno à capital da Província, Hermann Blumenau se dirigiu à Assembleia Provincial, com uma proposta de colonização das terras por ele visitadas - como fiscal e funcionário da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães. Ou seja, estava no Brasil, para observar como viviam os imigrantes alemães no país, no entanto, efetuava estudos para iniciar seu negócio, no Brasil.

Neste período, existiam 17 famílias de imigrantes alemães na região do Vale do Itajaí, nas proximidades onde surgiu a centralidade da colônia Blumenau. A última propriedade e que estava mais próxima da sede onde seria a Colônia Blumenau, era a propriedade da Família Wagner, oriunda da Colônia de São Pedro de Alcântara e que hospedou o funcionário da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães - Hermann Blumenau. Em Desterro, em posse de um requerimento datado de 26 de março de 1848- elaborado pelo Presidente da Província, Marechal Antero pretendia partir. Hermann Blumenau seria o procurador da concessão, na qual recebiam terras às margens do Rio Itajaí Açu.

Em Desterro, o Marechal Antero - presidente da Província, em um primeiro momento, recebeu muito bem a proposta e pessoalmente, foi favorável, emitindo um ofício externando sua opinião, aprovada facilmente na Assembleia Legislativa e acompanhada de um projeto de Lei, para ser sancionada. O projeto tinha nove artigos. Os planos mudaram um pouco. Hermann Blumenau oportunamente fez sociedade com o comerciante de Desterro, imigrante alemão, Ferdinand Hackradt. A empresa foi chamada de Blumenau e Hackradt. O Marechal Antero, em um primeiro momento, concedeu terras nas imediações do Ribeirão Garcia - cerca de uma gleba de terra, aumentada no decorrer do tempo, atingindo a área de 150000 jeiras ou 378.000.000m2. A empresa Blumenau & Hackradt seria uma empresa particular de agricultura e indústria. Ficou acertado entre os dois sócios que enquanto Blumenau estivesse na Europa para buscar os imigrantes, o Hackradt permaneceria nas terras, preparando o local, construindo ranchos, efetuando plantações e preparando o local para as primeiras acomodações dos colonos. Ferdinand Hackradt foi para a região, na companhia de cinco escravos, adquiridos junto ao administrador de Itajaí - Iniciaram a construção de ranchos, roças e engenhos no local onde atualmente está a foz do ribeirão da Velha.

As famílias anteriormente fixadas nas proximidades do atual limite Gaspar e Blumenau, como os Wagner, enviaram homens de Belchior para contribuírem com os trabalhos, pois tinham interesse no êxito do projeto, que era assunto freqüente em Belchior e região. Não durou muito tempo o auxílio e a troca, por incompatibilidade com o método de trabalho adotado pelo sócio de Hermann Blumenau. Com o passar do tempo a empreitada quase foi abandonada. Do projeto original restaram um rancho, um engenho de serra semiacabado. Sem plantações.

Hermann Blumenau levou dois anos para retornar à região, da Alemanha. Hackradt retornou para seus outros negócios em Nossa senhora do Desterro. Comunicou ao sócio, por carta, que estavam saindo da sociedade. Nesta correspondência disse que o engenho construído na foz do Ribeirão da Velha estava ameaçado de ser carregado pela enchente e as tábuas serradas alcançavam preço muito baixo. Esta questão atestava que já existia um pequeno comércio na região, antes da chegada dos pioneiros de Blumenau. Hachkradt, um tempo depois aconselhou o imigrante e colono, seu sobrinho Carl Hoepcke, que veio para a Colônia Blumenau, que não ficasse residindo na mesma e fosse trabalhar com ele em Desterro. Disse-lhe, que não era um bom negócio. E assim aconteceu. Após um trabalho intenso de propaganda na Alemanha, Hermann Blumenau conseguiu reunir um pequeno grupo de pessoas para imigrar para o Vale do Itajaí. O embarque do grupo foi no mês de junho de 1850. Depois de 84 dias de viagem, chegaram no Rio de Janeiro. No veleiro, Blumenau trouxe mudas de roseiras e árvores frutíferas.

Hermann Blumenau veio na frente do grupo e encontrou o local da foz do ribeirão da Velha abandonado. Neste, estavam velhas cabanas com um velho escravo paralítico e uma escrava, sua companheira. Também, tinha um engenho de serra, que não funcionava. Não haviam plantações, somente um pasto com meia duzia de vacas. Este era o quadro existente, quando chegaram na foz do ribeirão da Velha, o sobrinho de Hermann Blumenau, Reinhold Gärtner e os primeiros 16 moradores da Colônia Blumenau que simbolicamente surgia neste momento. O grupo viajou da Alemanha para o Brasil com o veleiro Christian Mathias Schroeder.

Os primeiros imigrantes eram da religião protestante luterana. Logo que aportaram, iniciaram a construção de novos ranchos, fizeram derrubadas, limpezas de terrenos e plantações. Desde que chegaram, contaram com o apoio de famílias residentes na região. Destas - 17 eram famílias de imigrantes alemães.

Os primeiros 17 trazidos por Hermann Blumenau foram: Reinhold Gaertner, Franz Sallenthien, Paul Kellner, Julius Ritscher, Wilhelm Friedenreich, Minna Friedenreich, Clara Friedenreich, Alma Friedenreich, Daniel Pfaffendorf, Friedrich Geier, Friedrich Riemer, Erich Hoffmann, Andreas Kuhlmann, Johanna Kuhlmann, Maria Kuhlmann, Christine Kuhlmann e Andreas Boettcher. Este grupo era composto por ferreiros, agrimensores, agricultores, carpinteiros, marceneiros, dentre outros.[16]

Colônia Dona Francisca[editar | editar código-fonte]

Estação da Memória de Joinville.

Acertado o noivado da princesa D. Francisca de Bragança (filha do imperador D. Pedro I e irmã de D. Pedro II), com Francisco Fernando de Orléans, o Príncipe de Joinville (filho de Luís Filipe I, rei dos franceses), o Governo Imperial Brasileiro, nesse tempo chefiado por D. Pedro II, tratou logo de sancionar uma lei (n° 166 de 29 de setembro de 1840) que garantia o dote que caberia à princesa.

Após estudo e consultas, foi decretado mais tarde que este patrimônio em terras pertencentes à Nação deveria ser de 25 léguas quadradas e localizado na Província de Santa Catarina, entre os rios Pirabeiraba e Itapocu, nas proximidades da baía de São Francisco. Esse patrimônio transferido para o domínio particular da Princesa Dona Francisca, passou a ser conhecido por "Domínio Dona Francisca" (atual Joinville) e aí a origem do seu nome. Para proceder a medição das terras dotais da Princesa Dona Francisca foi designado Jerônimo Francisco Coelho, tenente-coronel do Corpo Imperial de Engenheiros. As terras assim demarcadas abrangiam a área de 155.812 hectares.

Por volta de 1843, esta região era quase inteiramente virgem, apenas encontravam-se alguns moradores da orla marítima e no Planalto de Campo Alegre.

Em 1849, Léonce Aubé, procurador dos Príncipes de Joinville, firmou contrato com o senador Christian Mathias Schroeder de Hamburgo para a fundação e colonização das terras. O contrato é aprovado e ratificado em 26 de abril de 1849, pelos Príncipes de Joinville. São entregues gratuitamente ao senador Schroeder (ou à Companhia que o mesmo teria de organizar) 8 léguas quadradas de terras, obrigando este a colonizá-las com imigrantes trazidos da Europa, ficando a cargo do mesmo todo o trabalho e organização da Colônia.

Parque Vila Germânica, criado para lembrar a imigração alemã em Blumenau.

A colônia Dona Francisca foi formada por germânicos das mais variadas origens, eram alemães de diversas províncias (antigos reinos, ducados e principados antecedentes a unificação alemã de 1871) principalmente do norte, nordeste e região média do território germânico hoje correspondente a Alemanha e Polônia. Os suiços e imigrantes de variadas regiões, alemães do sul alemão (baváros, suábios, badenses. etc.) e ainda imigrantes do antigo Império Austro-Húngaro constituíram grande e não menos importante grupo. teuto-russos e mesmo escandinavos vieram a habitar a colônia.

Da colônia Dona Francisca surgiram diversos prosperos municípios frutos da colonização e imigração alemã tais quais Joinville (a matriz resultante dessa colônia), São Bento do Sul e a região do vale do Itapocu, onde Jaraguá do Sul é o "município" matriz.

Sul catarinense[editar | editar código-fonte]

Construção típica em São Martinho.
Casa em estilo colonial da família Arns, em Forquilhinha.

O Sul do estado teve colonização alemã variada: foram colonos vindos da "colônias velhas" catarinenses (região da grande Florianópolis), colonos das "colônias velhas" gaúchas e ainda algumas famílias vindas diretamente da Europa. Sendo que nessa região, o destaque maior é para os colonos teuto-brasileiros (grande parte de origem na renania, do Hunsrück) vindos da região do vale dos sinos, das "colônias velhas", no Rio Grande do sul, de lá veio grande quantia de famílias para colonizar áreas do sul do estado. Cita-se como exemplos de municípios que no passado receberam estas famílias, as localidades de São Martinho, Forquilhinha, São Ludgero, Braço do Norte, Rio Fortuna, dentre outras.

Oeste catarinense[editar | editar código-fonte]

O oeste catarinense foi colonizado e explorado em" grande escala" da década de 1910 em diante (grande fluxo a partir da década de 1930) em maioria por "alemães" ja nascidos no Brasil. Eram em grande parte já da terceira geração brasileira descendente dos imigrantes alemães colonizadores das "colônias velhas" do Rio Grande do Sul ,colonizadas entre 1824 a fins da década de 1850.Estes colonos em grande parte (se não todos) vinham em direção ao oeste pela escassez de terras disponíveis no RS e quando do advento da abertura dessas "colonias novas" milhares de "alemães-gauchos" não perderam tempo em colonizar.

No oeste a colônia "Dreizehnlinden" atual cidade de Treze Tílias foi uma raridade por ter sido fundada e colonizada quase que exclusivamente por colonos vindos diretamente da Europa, eram austríacos (com destaque para os tiroleses).

Legado da cultura alemã no estado[editar | editar código-fonte]

Há uma diversidade cultural e de costumes entre os próprios imigrantes e seus descendentes. São distintos dialetos, ramos profissionais, hábitos e práticas religiosas. Danças, idioma, culinária, religiosidade, vestuário, folclore.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «História da Colonização – Inicio». Consultado em 14 de junho de 2024 
  2. «Imigração Alemã». www.tonijochem.com.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  3. «História da Colonização – Inicio». Consultado em 14 de junho de 2024 
  4. «Imigração Alemã». www.tonijochem.com.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  5. «Imigração Alemã». www.tonijochem.com.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  6. «Imigração Alemã». www.tonijochem.com.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  7. «Imigração Alemã». www.tonijochem.com.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  8. Glatz, Rosemari (26 de março de 2017). «Alemães: a epopeia de uma imigração Itajahy-Brusque». O Município. Consultado em 14 de junho de 2024 
  9. «Relação dos Colonos entrados na Colonia Itajahy em 1860 - Sala Virtual Brusque». enciclopedia.brusque.sc.gov.br. Consultado em 14 de junho de 2024 
  10. Glatz, Rosemari (26 de março de 2017). «Alemães: a epopeia de uma imigração Itajahy-Brusque». O Município. Consultado em 14 de junho de 2024 
  11. Morelli, P1 Design | Paulo. «Mapa da Colônia Itajahy-Brusque». Brusque Memória - A História Fotográfica de Brusque na Internet -. Consultado em 14 de junho de 2024 
  12. «COLÔNIA ALEMÃ TERESÓPOLIS FAZ 155 ANOS DE FUNDAÇÃO – 03 DE JUNHO – Município de Águas Mornas». 4 de janeiro de 2021. Consultado em 14 de junho de 2024 
  13. «COLÔNIA ALEMÃ TERESÓPOLIS FAZ 155 ANOS DE FUNDAÇÃO – 03 DE JUNHO – Município de Águas Mornas». 4 de janeiro de 2021. Consultado em 14 de junho de 2024 
  14. «COLÔNIA ALEMÃ TERESÓPOLIS FAZ 155 ANOS DE FUNDAÇÃO – 03 DE JUNHO – Município de Águas Mornas». 4 de janeiro de 2021. Consultado em 14 de junho de 2024 
  15. «COLÔNIA ALEMÃ TERESÓPOLIS FAZ 155 ANOS DE FUNDAÇÃO – 03 DE JUNHO – Município de Águas Mornas». 4 de janeiro de 2021. Consultado em 14 de junho de 2024 
  16. Wittmann, Angelina (sábado, 2 de setembro de 2023). «Angelina Wittmann - Arte-Cultura-História e Antropologia : A História da Fundação de Blumenau e suas Principais Personalidades Históricas». Angelina Wittmann - Arte-Cultura-História e Antropologia. Consultado em 14 de junho de 2024  Verifique data em: |data= (ajuda)