Norah Borges

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Norah Borges
Norah Borges
Norah Borges - 1928
Nascimento Leonor Fanny Borges Acevedo
4 de março de 1901
Buenos Aires
Morte 20 de julho de 1998 (97 anos)
Buenos Aires
Sepultamento Cemitério da Recoleta
Cidadania Argentina
Progenitores
  • Jorge Guillermo Borges Haslam
  • Leonor Rita Acevedo Suárez
Cônjuge Guillermo de Torre
Irmão(ã)(s) Jorge Luis Borges
Ocupação pintora, ilustradora, crítica de arte, desenhista
Empregador(a) La Barraca

Leonor Fanny Borges, também conhecida com o pseudônimo Norah Borges[1] (Cidade de Buenos Aires, 4 de março de 1901 - 20 de julho de 1998) foi uma artista plástica e crítica de arte argentina pertencente ao Grupo de Flórida.

Norah era irmã do escritor Jorge Luis Borges, que apelidou-a de Norah e retratava-a como na citação abaixo:

Em todas as nossas brincadeiras ela sempre foi a líder, eu o retardatário, o tímido, o submisso. Ela subia ao telhado, subia nas árvores e nas colinas, eu a seguia com menos entusiasmo do que medo.
— J. L. Borges.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Norah Borges e Guillermo de Torre (1928).

Norah se mudou com sua família em 1912 para a Suíça para tratar a cegueira progressiva do pai, o advogado Jorge Guillermo Borges.[2] Estudou na École dês Beaux-Arts de Genebra com o escultor classicista Maurice Sarkisoff e com Arnaldo Bossi em Lugano, próximo de expressionistas alemães exilados como Ernst Kirchner; com Bossi aprendeu xilogravura e a estética expressionista, segundo declarou ela mesma numa reportagem de 1940 na revista Atlántida.[3] Na Suíça, escreveu e ilustrou seu primeiro livro poético, Notas longínquas (1915).[4] A estadia na Europa se alongou por causa da Primeira Guerra Mundial por 4 anos. Depois de viajar por toda a Provenza (Norah fica muito impressionada por Nîmes, a cuja paisagem dedica algumas peças) entram na Espanha, local em que ampliou seus estudos e participou nas Vanguardas. Vão primeiro a Barcelona e depois, em 1919, a Palma de Mallorca, onde Norah estudou com Sven Westman; ali os irmãos Borges colaboraram na revista Baleares (Norah seus "Músicos cegos", etcétera); foram depois a Sevilla, onde entraram na Vanguardia do Ultraísmo; publicou trabalhos seus em Grécia, Ultra, Tabuleiros e Reflector, bem como, em 1920, o projeto de capa para O jardim do centauro, um livro de poemas de Adriano do Vale; passam por Granada e finalmente voltam a Madri, onde Norah estudou com o pintor Julio Romero de Torres. Ali iniciou amizade também com Juan Ramón Jiménez, alguns de cujos poemas ilustrou, e quem lhe dedicou um dos retratos líricos de seu livro Espanhóis de três mundos. Voltam depois a Palma de Mallorca em junho de 1920.[5]

Em março de 1921, volta a Buenos Aires. Como pintora naïf, Norah se vinculou à vanguarda literária formada pelo Grupo de Flórida; desde Prisma começou a divulgar o Ultraísmo na Argentina, mas então explodiu a influênncia do Cubismo que tinha começado a assimilar com seus contatos franceses na Espanha em suas ilustrações para revistas como Mural, Proa ou Martín Fierro, recuperando as imagens de balaustradas e vasos de flores, portões e imagens em extinção como as que habitam a primeira edição de Fervor de Buenos Aires (1923), o livro poético de seu irmão Jorge Luis.[6]

Em 1923, a revista surrealista francesa Manomètre de Lyon e, em 1924, a revista Martín Fierro, publicaram suas pinturas.[7] Em 1926 expôs 75 trabalhos (óleos, xilogravuras, desenhos, aquarelas e tapeçarias) na Associação Amigos da Arte. Casou-se em 1928, com Guillermo de Torre, escritor e crítico espanhol, estudioso do movimento ultraísta e grande experiente nas vanguardas artísticas e literárias, a quem tinha conhecido na Espanha quando ainda não havia completado 19 anos; com ele teve dois filhos.

Na Segunda Guerra Mundial ela teve participação na Junta da Vitória na Argentina, associação feminista antifascista dirigida por Cora Ratto de Sadosky e Ana Rosa Schlieper de Martínez Guerreiro. Na Junta, militaram a escritora María Rosa Oliver, a fotógrafa Annemarie Heinrich, a psicanalista Mimí Langer, a artista Raquel Forner e a poeta Silvina Ocampo.[8] Norah ilustrou a edição de seu Caderno San Martín como tinha feito antes com Lua de defronte e Fervor de Buenos Aires e os livros As convidadas (1961) e Autobiografía de Irene (1962) de Silvina Ocampo.[9] Exerceu a crítica de arte no Anales de Buenos Aires com o pseudónimo de Manuel Pinedo. Pesquisou sobre o gravuras e não deixou de pintar até praticamente sua morte, mesmo suas obras doadas não cuidou de realizar exposições regularmente.[10]

Em 1942, publicou-se na Argentina uma edição de Platero e eu de Juan Ramón Jiménez com ilustrações e quadrinhos de Norah, que também atuou como artista gráfica em outros livros dos espanhóis emigrados na Argentina como Ramón Gómez da Serna, Rafael Alberti e León Felipe. Ilustrou os livros de seu irmão e o de outros escritores argentinos como Silvina Ocampo, Victoria Ocampo, Adolfo Bioy Casares, Norah Lange e Julio Cortázar. Também desenhou a cenografia de uma obra teatral de Federico García Lorca. Está por ser estudada ainda sua amizade com Maruja Mallo e Xul Solar.[11]

Utilizou as técnicas do óleo, a aquarela, a gravura, a xilogravura, o desenhos a tinta e lápis, as temperas, o acrílico e a tapeçaria.

Norah Borges foi considerada, como seu irmão, integrante de um grupo de pessoas escritoras que ficaram conhecidas como o Grupo Flórida, denominado assim porque a revista na qual publicavam se localizava nas cercanias na rua de mesmo nome em Buenos Aires, e se reuniam na Confitería Richmond, que incluiu nomes como os de Victoria Ocampo, Leopoldo Marechal, Oliverio Girondo, entre outros escritores argentinos, em oposição à dialética literária com o que é lembrado o Grupo Boedo, que publicava na Editorial Clareza e se reunia no Café O Japonês, de tradição bem mais humilde, com integrantes como Roberto Arlt, entre outros.[12]

Em 2020, organizou-se no Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires (MNBA) uma exposição retrospectiva sobre toda sua obra. A mostra tem como título Norah Borges, uma mulher na vanguarda e se junta a mais de 200 obras, entre pinturas, gravuras, ilustrações, tapeçarias e textos, curada pelo pesquisador Sergio Baur.[13][14][15]

Seus restos mortais se encontram na abóbada familiar de Cemitério da Recoleta, junto a seu esposo e seus pais.[16]

Referências

  1. Fernández, Jorge Juan Juan (9 de outubro de 2019). El hecho religioso diario (em espanhol). [S.l.]: PPC Editorial. ISBN 978-84-288-3357-8. Consultado em 2 de dezembro de 2020 
  2. «Norah Borges: una mujer en la vanguardia». www.cultura.gob.ar (em espanhol). Consultado em 2 de junho de 2021 
  3. «Norah Borges, ilustradora - LA NACION». La Nación (em espanhol). ISSN 0325-0946. Consultado em 21 de junho de 2021 
  4. Cultura, Equipo de Desarrollo de la Dirección de Sistemas | Secretaría de Gobierno de. «Museo Nacional de Bellas Artes». www.bellasartes.gob.ar. Consultado em 2 de junho de 2021 
  5. «Las pinturas sin viento de Norah Borges». ramona. Consultado em 2 de junho de 2021 
  6. Bradford, Matías Serra (13 de dezembro de 2019). «Norah Borges en el MNBA. Momento de ser norahístas». www.clarin.com (em espanhol). Consultado em 2 de junho de 2021 
  7. «Martín Fierro nº 38 – Ahira» (em espanhol). Consultado em 2 de junho de 2021 
  8. «Cuando la patria es el idioma: la correspondencia inédita de NorahBorges a Gabriela Mistral (1935-1948)» 
  9. «Otro cuadro de la Colección Paideia del Estudio Garrido elegido por Correo Argentino para celebrar la Navidad». Abogados.com.ar (em espanhol). Consultado em 2 de junho de 2021 
  10. «Historia de un descubrimiento: Norah Borges, la artista que creaba en la oscuridad». La Vanguardia (em espanhol). 23 de agosto de 2016. Consultado em 14 de dezembro de 2021 
  11. «Con B de Borges». Agencia Paco Urondo | Periodismo militante (em espanhol). 19 de julho de 2020. Consultado em 2 de junho de 2021 
  12. Poggi, Damián (10 de julho de 2020). «Norah Borges y sus personajes que sueñan con el amor.». 3 minutos de arte (em espanhol). Consultado em 2 de junho de 2021 
  13. Centenera, Mar (9 de janeiro de 2020). «Norah Borges sale de las sombras en Argentina». El País (em espanhol). ISSN 1134-6582. Consultado em 11 de janeiro de 2020 
  14. «UNA RETROSPECTIVA PONE EN VALOR LA OBRA DE NORAH BORGES, "LA PINTORA DEL ULTRAÍSMO"». Artishock Revista (em espanhol). 13 de janeiro de 2020. Consultado em 2 de junho de 2021 
  15. «Norah Borges. Una mujer en la vanguardia. | Fundación Medifé». www.fundacionmedife.com.ar. Consultado em 2 de junho de 2021 
  16. Efemérides Culturales Argentinas. Jorge Luis Borges: familia. Ministerio de Educación de la Nación. Subsecretaría de Coordinación Administrativa. Página acessada em 21-12-07.