Retirada de cédulas em Mianmar em 1987
Em 5 de setembro de 1987 foi anunciada a retirada das cédulas de 25, 35 e 75 quiates pelo regime do Partido do Programa Socialista da Birmânia,[1] sob o comando do general Ne Win, deixando apenas 45 e 90 quiates, aparentemente porque apenas as duas últimas têm valores divisíveis por 9, número considerado auspicioso por Ne Win.[2] Nenhuma ação foi tomada pelo governo para permitir a troca dessas cédulas pelas remanescentes, efetivamente dizimando as economias de milhões de pessoas, o que mais tarde seria uma da causas da revolta 8888.[1]
Contexto[editar | editar código-fonte]
Em 1972, o Banco da União da Birmânia assumiu a emissão de notas, introduzindo as cédulas de 1, 5, 10, 25, 50 e 100 quiates entre 1972 e 1979.[3] As notas foram impressas pela Security Printing Works em Wazi, na região de Maguai, sob a direção técnica da gráfica alemã Giesecke & Devrient.[4] Em 3 de novembro de 1985, as notas de 20, 50 e 100 quiates foram desmonetizadas sem aviso, com a justificativa de ser um esquema para frustrar os comerciantes do mercado negro que haviam acumulado grandes quantidades de dinheiro,[5] embora o público tivesse permissão para trocar quantidades limitadas das notas antigas por novas.[6] Em 10 de novembro de 1985, notas de 75 quiates foram introduzidas, a denominação estranha possivelmente escolhida por causa da predileção por numerologia do ditador Ne Win; a nota de 75 quiates foi supostamente introduzida para comemorar seu 75º aniversário.[6] Em seguida, foram introduzidas notas de 15 e 35 quiates em 1 de agosto de 1986.[6]
Em 5 de setembro de 1987, Sein Lwin, Secretário do Conselho da União, assinou uma ordem desmonetizando as cédulas de 25, 35 e 75 quiates sem aviso ou compensação, tornando cerca de 75% das notas em circulação do país sem valor.[6] Em 22 de setembro de 1987, as cédulas de 45 e 90 quiates foram introduzidas, ambas incorporando o número favorito de Ne Win, nove.
Protestos[editar | editar código-fonte]
Estudantes birmaneses ficaram particularmente irritados com a decisão do governo, já que suas poupanças para pagar as mensalidades foram eliminadas instantaneamente.[7] Alunos do Instituto de Tecnologia de Rangoon (RIT) se rebelaram em Rangum, então capital do país, quebrando janelas e semáforos na Insein Road.[8] As universidades em Rangum fecharam e mandaram os estudantes para casa. Enquanto isso, protestos maiores em Mandalai envolveram monges e trabalhadores, com alguns prédios do governo e empresas estatais sendo incendiados.[9] A mídia estatal birmanesa cobriu pouco sobre os protestos, mas as informações se espalharam rapidamente entre os estudantes.[9]
Os distúrbios econômicos resultantes levaram eventualmente a um golpe de Estado em 1988, acabando com a ditadura de Ne Win e com a via birmanesa para o socialismo.
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b «Myanmar: Withdrawal of Currency Notes in 1987». Global Voices (em inglês). 7 de março de 2009. Consultado em 18 de fevereiro de 2021
- ↑ Tucker, Shelby (2001). Burma: the curse of independence (em inglês). Londres: Pluto Press. OCLC 651657384
- ↑ «History of Bank Notes» (em inglês). Central Bank of Myanmar. Consultado em 18 de fevereiro de 2021
- ↑ Wai, Khin Su (14 de março de 2016). «Top secret no longer: Currency designer reveals hidden art». The Myanmar Times (em inglês). Consultado em 18 de fevereiro de 2021
- ↑ Williams Jr., Nick B. (12 de setembro de 1987). «Commerce Snarled as Burma Rules Much of Its Currency Is Worthless». Los Angeles Times. Consultado em 18 de fevereiro de 2021
- ↑ a b c d «Republic of the Union of Myanmar». Treasury Department - ASEAN. 12 de janeiro de 2015. Consultado em 18 de fevereiro de 2021
- ↑ Fong, Jack (2008). Revolution as development : the Karen self-determination struggle against ethnocracy 1949-2004 1st ed ed. Boca Raton, Fla.: Universal Publishers. OCLC 192045477
- ↑ Lwin, Nyi Nyi. (1992). Refugee Student Interviews. A Burma-India Situation Report.
- ↑ a b Boudreau, Vincent (2004). Resisting dictatorship : repression and protest in Southeast Asia. Cambridge, UK: Cambridge University Press. OCLC 54371431