Rita Barém de Melo

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Retrato de Rita Barém de Melo na Revista Mensal do Partenon Literário.

Rita Barém de Melo (Porto Alegre, 30 de abril de 1840 — Rio Grande, 27 de fevereiro de 1868) foi uma poetista brasileira.

Filha de João Pedro Freire Barém e Severina Augusta, seu pai foi comerciante e funcionário público, mas tinha poucos recursos, e tendo muitos filhos, não pôde dar-lhes senão uma educação primária. Não obstante Rita Barém foi uma leitora ávida e cedo revelou-se como um talento literário. Com 17 anos casou-se com José Correia de Melo, com quem teve dois filhos, ambos falecidos com menos de um ano. Segundo Caldre e Fião, que a conheceu pessoalmente, levou uma vida atribulada, e a perda do segundo filho imprimiu-lhe uma permanente nota de melancolia, mas "teve a força d'alma de se fazer notar pela agudeza do seu espírito, pela clareza de sua razão". Faleceu precocemente.[1]

Promovia saraus literários, publicou o livro Lira dos 15 anos em 1855 e foi colaboradora das revistas O Guayba e Atualidade, os primeiros periódicos literários da província, assinando seus poemas com o pseudônimo Jurity, recolhidos no volume Sorrisos e prantos, publicado postumamente em 1868.[2][3] Embora em parte presa às convenções da época, muitas vezes se desvia, tanto na forma como na expressão e na temática, do programa domesticado pela sociedade sulina fortemente tradicionalista e patriarcal, que concebia a poesia feminina tipicamente como um entretenimento leve e sentimental, abordando aspectos do cotidiano, da subjetividade feminina, do amor e do patriotismo, geralmente com um lirismo romântico intenso, vigoroso e musical, mas também com passagens de uma objetividade crítica, deixando um legado qualificado.[2][4][5] Segundo Cícero Lopes, deixou ainda "poemas que apontam a preocupações sociais referentes às camadas sociais, que viriam à baila com o condoreirismo. Nesse sentido, antecede a produção castralvina, considerando que Os escravos saiu em 1876. [...] Além dos franceses Lamartine, Alexandre Dumas e Victor Hugo, observam-se em sua obra leituras de poetas portugueses, Camões, Garret, Herculano e outros. Foi leitora perspicaz também de seus contemporâneos brasileiros, como Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, além do gaúcho Félix da Cunha".[6]

Na análise de Ana Aquino da Silva et alii, "a sua poesia não se resume a descrever estados emocionais da alma em que o Eu lírico apenas sofre pela pessoa amada. Seus versos revelam o amor em suas nuanças subjetivas, mas, contudo, tocando a realidade. A poesia de Rita Barém de Melo é rica e seria empobrecê-la se relegássemos seus escritos a interpretações meramente circunscritas aos ditames do que se consolidou como saber do período romântico no Brasil. Os poemas trazem o olhar de uma escritora mulher sobre esses temas e nesse sentido também apresenta algo novo: um jeito de falar de amor, de construir poesia e falar sobre sentimentos. [...] Apesar de ter sido extremamente importante para a literatura do período do romantismo a poetisa não recebeu a merecida atenção da crítica e da historiografia literária sulina".[4] Para Walter Spalding ela foi "uma das expressões mais perfeitas e elevadas da poesia feminina",[7] e segundo Donaldo Schüler, "não lhe faltam momentos em que se coloca à altura do que de melhor se produziu, em poesia, no Brasil".[5] Em 1955 a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou a denominação de uma rua com seu nome.[8] É patrona da cadeira 32 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Caldre e Fião, José Antônio do Vale. "Rita Barem de Melo". In: Revista Mensal da Sociedade Parthenon Litterario, 1873; 2 (2):49-59
  2. a b Resende, Fabiane de Oliveira & Carlos Alexandre Baumgarten. "A poesia de Rita Barém de Melo". In: VIII Salão de Iniciação Científica. Porto Alegre, UFRGS, 1996
  3. Ferreira, Athos Damasceno. Imprensa Literária de Porto Alegre no Século XIX. EdUFRGS, 1975, pp. 17-18; 36
  4. a b Silva, Ana Beatriz Aquino da et al. "A representatividade sobre a voz e autoria feminina na Literatura a partir dos poemas 'Sina de mulher' e 'O canto da índia' de Rita Barém de Melo para promover a leitura de mulheres em sala de aula". In: VII Encontro Nacional de Literatura Infanto-Juvenil e Ensino, 2018
  5. a b Schüler, Donaldo. "A guerra nos versos de duas poetisas do século passado". In: Letras de Hoje, 1985; 18 (3): 65-74
  6. Lopes, Cícero Galeno. Literatura Brasileira Comentada. Peres, 2016, pp. 86-87
  7. Spalding, Walter. "Literatura Brasilera: III Parte". In: Revista Universidad Pontificia Bolivariana, 1946; 12 (44): 163-186
  8. Fontes, Rosa Ângela (org.). Logradouros públicos em Porto Alegre: presença feminina na denominação. Câmara Municipal de Porto Alegre, 2007
  9. Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul. 50 anos de literatura: perfil das patronas. Instítuto Estadual do Livro, 1993, p. 132