Almutadide
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Almutadide | |
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Miralmuminim | |
Dinar de ouro de Almutadide cunhado em 892/3 (285 A.H.) | |
16.º califa do Califado Abássida | |
Reinado | 15 de outubro de 892-5 de abril de 902 |
Antecessor(a) | Almutâmide |
Sucessor(a) | Almoctafi |
Nascimento | c. 854 ou 861 |
Samarra, Califado Abássida | |
Morte | 5 de maio de 902 |
Baguedade, Califado Abássida | |
Sepultado em | Baguedade |
Cônjuge | Catre Anada |
Descendência |
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Dinastia | abássida |
Pai | Almuafaque |
Mãe | Dirar |
Religião | Islamismo sunita |
Abu Alabas Amade ibne Talha Almuafaque (em árabe: أبو العباس أحمد بن طلحة الموفق; romaniz.: Abū al-ʿAbbās Aḥmad ibn Ṭalḥa al-Muwaffaq; 853/4 ou 860/1 – 5 de abril de 902, mais conhecido por seu nome de reinado Almutadide[1][2] ou Almutádide Bilá[3] (em árabe: المعتضد بالله; romaniz.: al-Muʿtaḍid bi-llāh; lit. "Buscando Apoio em Deus"[4]), foi o califa do Califado Abássida de 892 até sua morte em 902.
Almutadide era filho de Almuafaque, que foi o regente e governante efetivo do Estado Abássida durante o reinado de seu irmão, o califa Almutâmide. Como príncipe, o futuro Almutadide serviu sob o comando de seu pai durante várias campanhas militares, principalmente na supressão da Revolta Zanje, na qual desempenhou papel importante. Quando Almuafaque morreu em junho de 891, Almutadide o sucedeu como regente e rapidamente deixou de lado seu primo e herdeiro aparente, Almufauade; quando Almutâmide morreu em outubro de 892, ele subiu ao trono. Tal como o seu pai, o poder de Almutadide dependia das suas estreitas relações com o exército. Estas foram forjadas pela primeira vez durante as campanhas contra os zanjes e foram reforçadas em expedições posteriores lideradas pessoalmente pelo califa: Almutadide provaria ser o mais militarmente ativo de todos os califas abássidas. Através da sua energia e capacidade, conseguiu restaurar ao Estado Abássida parte do poder e das províncias que este tinha perdido durante a turbulência das décadas anteriores.
Numa série de campanhas, recuperou as províncias de Jazira, Tugur e Jibal e efetuou uma reaproximação com os safáridas no leste e os tulúnidas no oeste que garantiu seu reconhecimento - embora em grande parte nominal - da suserania califal. Estes sucessos vieram ao custo de orientar a economia quase exclusivamente à manutenção do exército, o que resultou na expansão e ascensão ao poder da burocracia fiscal central e contribuiu à duradoura reputação de avareza do califa. Almutadide era conhecido por sua crueldade ao punir criminosos, e os cronistas subsequentes registraram seu uso extenso e engenhoso da tortura. Seu reinado viu a mudança permanente da capital de volta para Baguedade, onde se envolveu em grandes atividades de construção. Apesar de firme defensor da ortodoxia tradicionalista sunita, manteve boas relações com os álidas e se interessou pelas ciências naturais, renovando o patrocínio califal de acadêmicos e cientistas.
Apesar de seus sucessos, o reinado de Almutadide foi, em última análise, muito curto para efetuar uma reversão duradoura na sorte do califado, e o renascimento que liderou dependeu demais da presença de personalidades capazes no comando do Estado. O breve reinado de seu filho e herdeiro menos capaz, Almoctafi, ainda viu alguns ganhos importantes, notadamente a anexação dos domínios tulúnidas, mas seus sucessores posteriores não tinham energia e novos inimigos apareceram na forma dos carmatas. Além disso, o partidarismo dentro da burocracia, que se tornou aparente durante os últimos anos do reinado de Almutadide, debilitaria o governo abássida nas próximas décadas, eventualmente levando à subjugação do califado por uma série de homens fortes militares, culminando na conquista de Baguedade pelos buídas em 946.
Vida[editar | editar código-fonte]
Primeiros anos[editar | editar código-fonte]
Almutadide nasceu Amade, filho de Talha, um dos filhos do califa Mutauaquil (r. 847–861), e uma escrava grega chamada Dirar (falecido em setembro de 891, enterrado em Rusafa[5]). A data exata de seu nascimento é desconhecida; como é registrado como tendo trinta e oito ou trinta e um anos de idade na época de sua ascensão, nasceu por volta de 854 ou 861.[6][7][8] Em 861, Mutauaquil foi assassinado por seus guardas turcos em conluio com seu filho mais velho, Almontacir (r. 861–862). Isso deu início a um período de turbulência interna, conhecido como "Anarquia em Samarra", decorrido na capital califal, que terminou em 870 com a ascensão ao trono do tio de Amade, Almutâmide (r. 870–892). O verdadeiro poder, no entanto, residiu na elite dos soldados escravos turcos (gulans) e no próprio pai de Amade, Talha, que, como principal comandante militar do califado, serviu como intermediário entre o governo califal e os turcos. Assumindo o nome honorífico Almuafaque no estilo dos califas, Talha logo se tornou o governante efetivo do califado, posição consolidada em 882 após a tentativa falha de Almutâmide de fugir ao Egito que levou ao seu confinamento em prisão domiciliar.[9][10]
A autoridade califal nas províncias entrou em colapso durante a "Anarquia em Samarra", com o resultado de que na década de 870 o governo central havia perdido o controle efetivo sobre a maior parte do califado fora da região metropolitana do Iraque. No oeste, o Egito caiu sob o controle do soldado escravo turco Amade ibne Tulune, que também disputou o controle da Síria com Almuafaque, enquanto o Coração e a maior parte do Oriente islâmico foram assumidos pelos safáridas, uma dinastia persa que substituiu os clientes leais dos abássidas, os taíridas. A maior parte da península Arábica também foi perdida para potentados locais, enquanto no Tabaristão uma dinastia radical xiita zaidita assumiu o poder. Mesmo no Iraque, a revolta dos zanjes, escravos africanos trazidos para trabalhar nas plantações do Iraque Inferior (Sauade), ameaçou Baguedade, e mais ao sul os carmatas eram uma ameaça nascente.[11][12][13] A regência de Almuafaque foi, portanto, uma luta contínua para salvar o cambaleante califado do colapso.[14] Suas tentativas de recuperar o controle do Egito e da Síria de ibne Tulune falharam, com este último capaz de expandir seu território e obter o reconhecimento como governante hereditário,[15][16] mas conseguiu preservar o núcleo do califado no Iraque ao repelir a invasão safárida de Iacube ibne Alaite Alçafar (r. 861–879) destinada a capturar Baguedade e subjugar os zanjes após uma longa luta.[10][17]
Campanhas contra zanjes e tulúnidas[editar | editar código-fonte]
Foi contra os zanjes que o futuro Almutadide - nesta época geralmente referido pelo seu cúnia de Abu Alabas - adquiriria a sua primeira experiência militar e estabeleceria os estreitos laços militares que caracterizariam o seu reinado. Almuafaque deu a seu filho uma educação militar desde cedo, e o jovem príncipe tornou-se um excelente cavaleiro e um comandante solícito, que demonstrava atenção pessoal ao estado de seus homens e cavalos.[6][18]
Uma década após a eclosão da revolta em 869, os zanjes conquistaram a maior parte do Iraque Inferior, incluindo as cidades de Baçorá e Uacite, e expandiram-se para o Cuzestão.[19] Em 879, a morte do fundador do Estado Safárida, Iacube Alçafar, permitiu ao governo abássida concentrar totalmente a sua atenção contra a rebelião zanje,[10] e a nomeação de Abu Alabas para comandar em dezembro de 879 10 mil soldados marca o ponto de viragem da guerra.[20] Na longa e difícil luta que se seguiu, que envolveu operações anfíbias nos pântanos da Mesopotâmia, Abu Alabas e seu próprio gulans - dos quais Ziraque Aturqui, de longa data, era o mais eminente - desempenharam o papel principal. Embora os exércitos abássidas eventualmente tenham aumentado com reforços, voluntários e desertores zanjes, foram os poucos, mas de elite, gulans que formaram a espinha dorsal do exército, ocupando suas posições de liderança e suportando o peso da batalha, muitas vezes sob o comando pessoal de Abu Alabas.[21] Depois de anos apertando gradualmente o cerco em torno dos zanjes, em agosto de 883 as tropas abássidas invadiram sua capital, Almoctara, pondo fim à rebelião.[22][23] Um relato detalhado da guerra por um ex-rebelde zanje, preservado na história escrita por Tabari, enfatiza o papel de Almuafaque e Abu Alabas como os heróis que, em defesa do Estado muçulmano em apuros, suprimiram o rebelião; a campanha bem-sucedida tornar-se-ia uma ferramenta importante no seu esforço de propaganda para legitimar a sua usurpação de facto do poder do califa.[24]
Após a morte de ibne Tulune em maio de 884, os dois generais califais Ixaque ibne Cundaje e Maomé ibne Abi Alçaje procuraram tirar vantagem da situação e atacaram os domínios tulúnidas na Síria, mas os seus ganhos iniciais foram rapidamente revertidos. Na primavera de 885, Abu Alabas foi enviado para assumir o comando da invasão. Logo conseguiu derrotar os tulúnidas e forçá-los a recuar à Palestina, mas depois de uma briga com ibne Cundaje e ibne Abi Alçaje, os dois últimos abandonaram a campanha e retiraram suas forças. Na Batalha de Tauaim em 6 de abril, Abu Alabas confrontou pessoalmente o filho e herdeiro de ibne Tulune, Cumarauai. O príncipe abássida foi inicialmente vitorioso, forçando Cumarauai a fugir, mas foi derrotado e fugiu do campo de batalha, enquanto grande parte de seu exército foi feito prisioneiro.[25][26] Após esta vitória, os tulúnidas expandiram seu controle sobre a Jazira e as terras fronteiriças (o Tugur) com o Império Bizantino. Seguiu-se um acordo de paz em 886, pelo qual Almuafaque foi forçado a reconhecer Cumarauai como governador hereditário do Egito e da Síria durante 30 anos, em troca de um tributo anual.[15][16] Nos anos seguintes, Abu Alabas esteve envolvido nas tentativas malsucedidas de seu pai de arrancar Pérsis do controle safárida.[27]
Prisão e ascensão ao trono[editar | editar código-fonte]
Durante este período, as relações entre Abu Alabas e seu pai deterioraram-se, embora a razão não seja clara. Já em 884, os gulans de Abu Alabas se rebelaram em Baguedade contra o vizir de Almuafaque, Saíde ibne Maclade, possivelmente por causa de salários não pagos. Eventualmente, em 889, Abu Alabas foi preso e colocado na prisão por ordem de seu pai, onde permaneceu apesar das manifestações dos gulans leais a ele. Aparentemente, permaneceu preso até maio de 891, quando Almuafaque retornou a Baguedade após dois anos em Jibal.[6][28]
Almuafaque, que sofria de gota,[4] estava claramente à beira da morte; o vizir Ismail ibne Bulbul e o comandante da cidade de Baguedade, Abu Alçacre, chamaram Almutâmide e seus filhos, incluindo o herdeiro aparente Almufauade, à cidade, na esperança de explorar a situação para seus próprios propósitos. Esta tentativa de marginalizar Abu Alabas falhou devido à sua popularidade entre os soldados e o povo comum. Ele foi libertado para visitar o leito de morte de seu pai e pôde assumir imediatamente o poder quando Almuafaque morreu em 2 de junho. A turba de Baguedade saqueou as casas de seus oponentes e ibne Bulbul foi demitido e jogado na prisão, onde morreu devido a maus-tratos depois de alguns meses. Destinos semelhantes aguardavam qualquer um dos apoiadores de ibne Bulbul que fossem capturados pelos agentes de Abu Alabas.[29][30]
Agora "todo-poderoso",[29] Abu Alabas sucedeu a seu pai em todos os seus cargos, com o título de Almutadide Bilá e uma posição na linha de sucessão após o califa e Almufauade.[31] Dentro de alguns meses, em 30 de abril de 892, Almutadide removeu totalmente seu primo da sucessão.[32] Assim, quando Almutâmide morreu em 14 de outubro de 892,[33] Almutadide assumiu o poder como califa.[6][34]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Almutadide Nascimento: 857 Morte: 902
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Precedido por: Almutâmide |
Califas abássidas 892–902 |
Sucedido por: Almoctafi |
Referências
- ↑ Mattoso 1992, p. 425.
- ↑ Coelho 1972, p. 365; 368.
- ↑ Lima 1988, p. 108.
- ↑ a b Bowen 1928, p. 25.
- ↑ ibns Assai 2017, p. 97.
- ↑ a b c d Kennedy 1993, p. 759–760.
- ↑ Bowen 1928, p. 26.
- ↑ Zetterstéen 1987, p. 777.
- ↑ Kennedy 2001, p. 148–150.
- ↑ a b c Bonner 2010, p. 323–324.
- ↑ Mottahedeh 1975, p. 77–78.
- ↑ Bonner 2010, p. 313–327.
- ↑ Kennedy 2001, p. 148.
- ↑ Bonner 2010, p. 314.
- ↑ a b Kennedy 2004a, p. 177.
- ↑ a b Bonner 2010, p. 335.
- ↑ Mottahedeh 1975, p. 79.
- ↑ Kennedy 2001, p. 151, 156.
- ↑ Kennedy 2004a, p. 177–179.
- ↑ Kennedy 2001, p. 153–154.
- ↑ Kennedy 2001, p. 151, 153–156.
- ↑ Bonner 2010, p. 324.
- ↑ Kennedy 2004a, p. 179.
- ↑ Kennedy 2003, p. 26–35.
- ↑ Sobernheim 1987, p. 973.
- ↑ Bianquis 1998, p. 104–105.
- ↑ Bosworth 1975, p. 119–120.
- ↑ Kennedy 2001, p. 152.
- ↑ a b Bowen 1928, p. 27.
- ↑ Kennedy 2001, p. 152–153.
- ↑ Fields 1987, p. 168.
- ↑ Fields 1987, p. 176.
- ↑ Fields 1987, p. 178.
- ↑ Bonner 2010, p. 332.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Coelho, António Borges (1972). Portugal Na Espanha Árabe: Organização, Prólogo E Notas de António Borges Coelho Vol. I. Lisboa: Seara Nova
- ibne Assai (2017). Consorts of the Caliphs: Women and the Court of Baghdad. Translated by Shawkat M. Toorawa and the Editors of the Library of Arabic Literature. Introduction by Julia Bray, Foreword by Marina Warner. Nova Iorque: New York University Press. ISBN 978-1-4798-0477-1
- Lima, José Fragoso de (1988). Monografia arqueológica do concelho de Moura. Moura: Edição da Câmara Municipal de Moura
- Mattoso, José; Brito, Raquel Soeiro de (1992). História de Portugal, Volume 1. Lisboa: Círculo de Leitores