Igreja de Nossa Senhora da Glória e Saúde
Igreja de Nossa Senhora da Glória e Saúde | |
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Geografia | |
País | Brasil |
Localidade | Salvador |
Coordenadas |
A Igreja de Nossa Senhora da Glória e Saúde é uma das mais antigas da Bahia. Localizada na Praça Severino Vieira, Largo da Saúde, na cidade de Salvador, em local antigamente conhecido como Alvo.[1] A igreja está isolada em três lados e se abre para um largo onde convergem cinco ruas. Os sobrados que compõem a praça, datados do século XIX, estão muito deteriorados e modificados. A igreja integra o sítio da Saúde, tombado pelo IPHAN e considerado zona de preservação rigorosa.
História[editar | editar código-fonte]
A Igreja da Saúde e Glória foi construída em terras do Tenente Coronel Manoel Ramos Parente, cidadão e cavalheiro professo da Ordem de Christo e familiar do Santo Ofício, a conta de sua fazenda e de sua mulher D. Bárbara de Almeida dos Reis. A primeira pedra de prata lavrada foi posta pelo Exmo. Sr. Vasco Fernandes Cesar de Menezes, Vice-Rei do Brasil, em 2 de fevereiro de 1723. Em um ano estavam prontas a capela-mor, a sacristia, a casa das tribunas, e então a Imagem de Nossa Senhora foi levada em procissão solene pelas ruas da cidade até trono na Igreja, sendo celebrada a primeira missa em 1724.
Histórico Arquitetônico[editar | editar código-fonte]
1723 – Colocada a pedra fundamental em 2 de fevereiro de 1723.
1724 – Concluídas a capela-mor, a sacristia e as tribunas. Foi celebrada a 1ª missa.
1769 - 1770 – Incumbe-se ao mestre entalhador Antônio Roiz Mendes retificar o retábulo da capela-mor e ao pintor Domingos da Costa Filgueira executar o teto da nave e sacristia, a pintura debaixo do coro, dos painéis para as paredes laterais da nave, douramento de três altares, pintura das tribunas e sanefas e encarnação de imagens.
1791 – Em 14 de Fevereiro de 1791, foi proposta a execução de um novo nicho para abrigar a imagem de Nossa Senhora e para esse trabalho foi contratado o mestre escultor Félix Pereira Guimarães .
1783 – Em 4 de maio de 1783 foi contratado o mestre entalhador Manoel Bernardo de Santa Ana para fazer dezoito sobreportas. O serviço foi concluído em sete meses.
1784 – Em 15 de Fevereiro de 1784 foi contratado o mestre Manoel do Carmo Pinheiro para dourar as sobreportas, no prazo de quarto meses.
1814 – Toda a talha existente foi substituída por uma nova executada por Francisco Hermógenes de Figueiredo. A troca das talhas da igreja iniciou em 3 de abril de 1814, e os documentos indicam que a obra de substituição das talhas sofreu grande atraso.
1827 - 1828 – A Irmandade pagou ao ferreiro Antônio José de Santa Rita para a execução de grades e, no mesmo período, o mesmo ferreiro foi contratado para serviço de manutenção nas grades do comungatório.
1841 – Decadência do culto.
1844 – Foi executado revestimento em mármore no piso da igreja, sacristia e corredor direito. Entre 1844 e 1845 a Irmandade pagou a Giuseppe Carreira por 324 pedras de mármore para completar o ladrilho da igreja e 170 pedras grandes de lousa preta foram doadas por Carlos da Silva Lopes e seu filho João da Silva Lopes para ladrilhar o restante do corredor. No mesmo período a Mesa pagou a José Joaquim de Almeida por 500 pedras de mármore para o ladrilho da sacristia e parte da igreja.
1853 – Em 13 de março de 1853 foram ladrilhadas algumas sepulturas.
1857 – Em 1857 ainda foi pago ao pedreiro Plácido Moreira Dantas, por pedras de mármore para o ladrilho que ele executou.
1874 - 1875 – Entre 1874 e 1875, Euzébio Manoel da Boa Morte foi pago pelos furos feitos para a colocação das grades da capela-mor.
1887 – Nesse período o culto foi suspenso pois a igreja entrara em obras. Iniciou-se a restauração interna e a construção de um adro com piso em mármore, gradil e portão de ferro. A parte central do teto da capela foi adulterada quando J. Rabut a repintou a título de manutenção, numa restauração desastrosa realizada entre 1887 e 1789, permanecendo porém íntegras as demais partes. Ainda entre 1887 e 1889 a Irmandade pagou a Giobatto Denegri por degraus de mármore para o novo presbitério da capela-mor. A talha substituída em 1814 só foi finalmente dourada e pintada entre os anos 1887 e 1889, período no qual as contas acusam um pagamento de alto valor a Emílio Busquet pelo douramento de todo o interior da capela. Ainda nestas época, Heráclio Augusto Odilon foi contratado para a execução de um painel a óleo representando São João para ser colocado no batistério.
1889 – Finalizadas as obras, a Igreja foi reaberta ao culto.
Arquitetura[editar | editar código-fonte]
O edifício é de notável valor arquitetônico. Detém elementos barrocos, rococós e, no seu interior, neoclássicos. Configura-se numa Igreja de nave única, com corredores laterais e tribunas.
Planta[editar | editar código-fonte]
Sua planta é característica às das demais igrejas do começo do século XVIII, com corredores laterais e tribunas sobrepostas. Esta planta, porém, ainda não apresenta a sacristia transversal que é um desenvolvimento natural do partido em "T", adotado no século XVII. Como outras igrejas baianas do mesmo tipo, ela se inscreve num retângulo perfeito, a exemplo da Igreja de São Francisco de Paula, São Bartolomeu de Pirajá, Igreja dos Aflitos, entre outras.
Frontispício[editar | editar código-fonte]
Possui frontispício em estilo rococó tardio e terminações das torres iguais à da Igreja da Penha, isto é, em forma de pêra embrechada de louça, apoiada sobre cornijas arqueadas, elemento provavelmente inspirado nos frontões curvos da torre da igreja do Passo.
Forro[editar | editar código-fonte]
Possui na nave um dos primeiros tetos de concepção ilusionista barroca realizados na Bahia, intitulado “A Assunção de Nossa Senhora”, composição pintada por Domingos da Costa Filgueira[2] que representa a Santíssima Trindade, utilizando a técnica de perspectivista, que dá a sensação de três dimensões às pinturas. Estes tetos foram introduzidos no Brasil no final da primeira metade do século XVIII, e tem sua origem na Igreja de Santo Ignácio de Roma, pintados em 1694 pelo jesuíta Andrea Pozzo.[3] Tal decoração produzia um efeito cenográfico típico do Barroco, pois oferecia ilusões de arquiteturas abertas ao espaço, ao encontro de céus onde pairavam santos, anjos e outras figuras gloriosas da Igreja.
Altares[editar | editar código-fonte]
A construção possui altares em estilo neo-clássico.
Retábulo[editar | editar código-fonte]
O retábulo caracteriza-se por um arremate em frontão curvo e cúpula bulbosa, sustentado por oito colunas, quatro em cada lateral, de capitéis compósitos e fustes canelados com delicada marcação nos extremos superiores e nos terços inferiores. A referência mais próxima desse modelo está no retábulo-mor da Igreja de Santo Antônio Além do Carmo, de autoria e data desconhecidas, mas que pode ser do final do século XVIII para princípio do século XIX. Em 24 de abril de1769, foi acertada com o Mestre Antônio Roiz Mendes a policromia e douramento do rétabulo, em caráter de manutenção. Da policromia e douramento dessa obra temos registro importante que nos dão ideia do padrão ornamental existente antes da restauração de 1887, estas informações são encontrados no Termo de Resolução e Determinação que o Desembargador Provedor dos Resíduos, Antônio Gomes Ribeiro, mandou fazer. Neste termo é discriminado, entre outras recomendações, que no retábulo da capela-mor fosse feito douramento, no trono da mesma forma, porém com mais pintura alegre e nas suas guarnições, filetes dourados. O nicho de Nossa Senhora por dentro seria forrado com seda e as figuras todas seriam encarnadas e decoradas com tafetá. As cornijas da capela-mor e guarnições das tribunas que fossem feitas em talha, também seriam douradas e os fundos pintados de branco. As portas seriam todas “atartarugadas”, com seus filetes feitos em prata e seus painéis estofados.
Azulejos[editar | editar código-fonte]
Possui na parte baixa das paredes lateriais da nave e capela-mor importantes painéis de azulejos datados da transição do século XVIII para o XIX, de autoria de Francisco de Paula Oliveira, com legenda “VESITAN-SE / S. IZABEL” e emolduramento do tipo arquitetônico, que incluíam os seguintes motivos: colunas, mísulas, cornijas e frisos festonados em amarelo, vinho e verde. O painel representa os quatros Evangelistas, os dois doutores da igreja, o Coração de Jesus e Nossa Senhora das Dores. É complementado na parte inferior por azulejos mamoreados em roxo e verde, que segundo Carlos Ott foram adquiridos em Portugal por volta de 1786.
Tombamento[editar | editar código-fonte]
A Igreja de Nossa Senhora da Saúde é tombada em nível federal, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pelo IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia). Ela foi tombada com o processo de número 274-T, na data de 25 de setembro de 1941, no Livro do Tombo Histórico.
De acordo com o IPHAN (ou SPHAN), o acervo da igreja também é tombado no processo administrativo número 13/85, no Livro do Tombo das Belas Artes.[4]
Restauração de 2012[editar | editar código-fonte]
O IPHAN iniciou em 2012 a restauração da histórica Igreja de Nossa Senhora da Saúde e Glória com investimento de cerca de R$ 1,2 milhão.[5] A Igreja estava em condições precárias e com alto risco de desabamento. A intervenção teve como objetivo principal a reforma da estrutura interna, do telhado e do taboado do primeiro pavimento do templo, que estava com muitas infiltrações. Além da restauração da Igreja as edificações vizinhas, pertencentes à Irmandade passaram a abrigar espaços integrados à igreja, com diversas possibilidades de uso, auxiliando na sustentabilidade e manutenção do templo. As obras duraram cerca de um ano, uma vez que a restauração do conjunto de edifícios foi extremamente complexa e precisou ser feita de forma cuidadosa. Em relação às obras de consolidação da estrutura da cobertura e do forro, estas tiveram prazo de conclusão de três meses. De acordo com o IPHAN, tratou-se de intervenção delicada, já que a situação das estruturas estavam bastante prejudicadas e havia sério risco ao monumento se nenhuma intervenção fosse realizada. Durante a restauração o monumento não foi interditado, mesmo com a realização das obras, que foram executadas em etapas.
Referências
- ↑ «:: Salvador Cultura Todo Dia ::». www.culturatododia.salvador.ba.gov.br
- ↑ «Revistas do IPHAN - DocReader Web». docvirt.com
- ↑ POZZO, Andrea. Prospettiva de Pittori e architetti. Roma, 1793. 2 p.
- ↑ «SIPAC - Sistema de Informações do Patrimônio Cultural da Bahia». patrimonio.ipac.ba.gov.br. Consultado em 7 de outubro de 2019
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 18 de maio de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- OTT, Carlos. Evolução das artes plásticas nas Igrejas do Bonfim, Boqueirão e Saúde. Salvador, 1979. p. 332-333.
- SANTOS, Paulo Ferreira. Barroco e o jesuítico na arquitetura do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos,1951. p. 172.
- COSTA, Lucio. A arquitetura dos jesuítas no Brasil. in Revista do Patrimônio
- Histórico e Artístico Nacional; 60 anos: a revista. no. 26. 1997. p. 131.
- BAHIA: Tesouros da Fé, 2000. Salvador: Bustamente Editores, Barcelona, Esc. Coelba.
- POZZO, Andrea. Prospettiva de Pittori e architetti. Roma, 1793. 2 p.
- ALVES, Marieta. História da Venerável Ordem Terceira da Penitência do Seráfico Pe. São Francisco da Congregação da Bahia. Bahia, Imprensa Nacional, 1948
- VALLADARES, Clarival do Prado. O ecumenismo na pintura religiosa Brasileira dos setecentos. Revista do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n.17, p. 177, 1969.
- ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e seus tempos. Coletânea de textos sobre artes e letras, Rio de Janeiro, Fundação Nacional Pró-Memóiria, 1986, p. 58-65.
- OTT, Carlos. A Santa Casa de Misericórdia da Cidade do Salvador. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1960. p. 167-169.