Língua crenaque

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Crenaque (krenak)
Falado(a) em: Brasil
Região: Sudeste
Total de falantes: menos de 1000
Família: Macro-Jê
 Botocudo
  Crenaque (krenak)
Escrita: alfabeto latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---

A língua crenaque (também grafado krenak ou krenák) ou borun (mburuŋ ‘gente’[1]) é um idioma pertencente à família linguística botocuda, proveniente do tronco macro-jê.

O Censo demográfico do Brasil de 2010 identificou 238 pessoas que falavam a língua krenák.[2]

No mesmo ano, o Atlas das línguas do mundo em perigo classificou a língua em situação crítica de perigo, em termos de risco de extinção.[3]

Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

Historicamente, os índios crenaque habitavam os vales dos rios Jequitinhonha, Mucuri e Doce, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A partir do século XIX, com as disputas agrícolas e principalmente, no século XX, por causa da mineração, os crenaques se dispersaram por várias partes do Brasil, chegando aos estados de Mato Grosso, Goiás e São Paulo.

Atualmente, a língua crenaque é falada principalmente em Minas Gerais, na Aldeia Crenaque localizada no município de Resplendor.

Situação linguística[editar | editar código-fonte]

De acordo com Silva (1986), não há mais falantes monolíngues do crenaque. Os indígenas que ainda utilizam o idioma o fazem em paralelo ao uso do português, em diferentes graus de fluência.

A língua crenaque foi classificada pelo Atlas das línguas do mundo em perigo, publicado pela UNESCO como situação crítica de perigo, em termos de risco de extinção.[3]

Em 2018, Pedro Ternes Frassetto publicou o Vocabulário Unificado Português-Krenak (Botocudo), Krenak-Português do século XIX contendo uma compilação e unificação de três vocabulários da “língua Botocudo” registrados entre os anos de 1816 e 1899 por diferentes autores: Maximilian Wied-Neuwied, Charles Frederick Hartt, Claro Monteiro do Amaral.[4] O vocabulário foi dedicado ao povo Krenak.

Classificação[editar | editar código-fonte]

O borun é uma língua macro-jê.[5]

Fonologia[editar | editar código-fonte]

A fonologia da língua Crenaque foi determinada por uma série de estudos[6]. Mais recentemente, Katia Nepomuceno Pessoa estudou a língua, sua fonologia e expressões culturais, em uma dissertação de PhD para a Universidade Estadual de Campinas, em 2012[7].

Vogais
Anterior Central Posterior
Fechada i ĩ ɨ u ũ
Semifechada o
Média ə
Semiaberta ɛ ɛ̃ ɔ ɔ̃
Aberta a ã
Consoantes
Bilabial Alveolar Palatal* Velar Glotal
Oclusiva p b t d tʃ dʒ k g ʔ
Fricativa ʒ h
Nasal m̥ m n̥ n ɲ̥ ɲ ŋ̥ ŋ
Aproximante w j (w)
Vibrante simples ɾ

Referências

  1. Nikulin, Andrey. 2020. Proto-Macro-Jê: um estudo reconstrutivo. Tese de Doutorado em Linguística, Universidade de Brasília.
  2. IBGE (2012). «Tabela 3483: Pessoas indígenas de 10 anos ou mais de idade, por alfabetização e localização do domicílio, segundo a condição de falar língua indígena no domicílio, tronco e a família linguística da primeira língua indígena». Censo 2010 - sidra.ibge.gov.br. Consultado em 4 de junho de 2024 
  3. a b Moseley, Christopher (2010). «Atlas of the world's languages in danger». unesdoc.unesco.org. UNESCO. Consultado em 4 de junho de 2024 
  4. Frassetto, Pedro Ternes (2018). Vocabulário Unificado Português-Krenak (Botocudo), Krenak-Português do século XIX (PDF). Brasília: FUNAI. 206 páginas. ISBN 978-85-7546-060-3 
  5. Instituto Socioambiental. Krenak - Nome e língua.
  6. «Krenak». linguistics.berkeley.edu. Consultado em 17 de junho de 2020 
  7. «Análise fonética e fonológica da língua Krenak e abordagem preliminar de contos Botocudo (Pessoa 2012) - Biblioteca Digital Curt Nimuendajú». www.etnolinguistica.org. Consultado em 17 de junho de 2020 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CRISTÓFARO-SILVA, Th. (Th. C. A. da S.) Descrição fonética e análise de alguns processos fonológicos da língua Krenák. 1986. 111 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, 1986.
  • CRISTÓFARO-SILVA, Th. (Th. C. A. da S.) Um problema na análise fonológica dos segmentos vocálicos em Krenák. Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (DELTA), São Paulo, v. 3, n. 2, p. 183–195, ago. 1987.
  • MONTEIRO, C. 1948. Vocabulário Português-Botocudo. São Paulo: Museu Paulista. (Boletim do Museu Paulista, Documentação Lingüística, v. 2).
  • Frassetto, Pedro Ternes. 2018. Recuperação lexical: um vocabulário português-Krenak/Krenak-português. Bacharelado em Linguística, Universidade Estadual de Campinas.
  • SILVA, Thais C. A.Descrição fonética e análise de alguns processos fonológicos da língua krenák. Belo Horizonte: UFMG, 1986. enc. Dissertação (mestrado).
  • Nitsch, Matthias (2013). Grundlagen für die Restitution von Swadesh’s basic vocabulary im Wörterbuch der Botokudensprache. (Fundamentos para a restituição do vocabulário básico de Swadesh no Dicionário da língua dos botocudos) GRIN Verlag, München, ISBN 978-3-656-49579-6 (http://books.google.com.br/books?id=jVjtAAAAQBAJ&printsec&pg=PA1&f=false). (resenha em português)
  • Rothe-Neves, Rui (2014). Resenha de Nitsch (2013): Grundlagen für die Restitution von Swadesh’s basic vocabulary im Wörterbuch der Botokudensprache (Fundamentos para a restituição do vocabulário básico de Swadesh no Dicionário da língua dos botocudos) Em: LIAMES - Línguas Indígenas Americanas v. 14, p. 219–223. Campinas: UNICAMP/IEL. Artigo em PDF

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Vocabulário crenaque - ABREU, S. Fróes. Os índios crenaques (botocudos do rio Doce) em 1926. Revista do Museu Paulista, tomo XVI, São Paulo, 1929, p. 594-600.