Saltar para o conteúdo

Louis Mandrin

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Louis Mandrin
Louis Mandrin
Nascimento 11 de fevereiro de 1725
Saint-Étienne-de-Saint-Geoirs
Morte 26 de maio de 1755 (30 anos)
Valence
Cidadania Reino da França
Ocupação contrabandista, criminoso

Louis Mandrin (pronunciado lwi mɑ̃dʁɛ̃; 11 de fevereiro de 172526 de maio de 1755) foi um contrabandista francês da região do Dauphiné, nascido em Saint-Étienne-de-Saint-Geoirs e conhecido como "o Robin Hood da França".[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

A família de Mandrin era bem estabelecida na região em que nascera, mas não mais próspera como no passado. O pai de Mandrin, um comerciante de cavalos, morreu quando Mandrin tinha 17 anos, deixando para trás nove crianças - Mandrin, o mais velho delas, virou o novo chefe de família.

Mandrin tornou-se famoso por sua rebelião contra a agência dos cobradores de imposto do Antigo Regime, o ferme générale. Nesta época, os impostos eram cobrados na forma de sal, tabaco, ou produtos agrícolas. Os coletores de impostos, chamados fermiers, ou fazendeiros (de impostos), eram encarregados de coletar todos os impostos existentes em nome do rei, mas ficavam com parte para si, o que enraivecia a população.

O primeiro encontro de Mandrin com os fermiers foi em 1748. Ele havia sido contratado pelo governo para fornecer mulas ao exército Francês na Itália, mas na travessia dos alpes, muitos dos animais morreram, ao que os oficiais recusaram-se a pagar Mandrin pela entrega incompleta. Cinco anos mais tarde, em 27 de Julho de 1753, Mandrin e seu amigo Benoit Brissaud envolveram-se em uma briga, e um de seus adversários morreu no confronto. Brissaud foi sentenciado à morte e Mandrin para as galeras. Mandrin conseguiu fugir, mas Brissaud foi pego e enforcado na Praça de Breuil (atual Place Grenette), em Grenoble. No mesmo dia o irmão de Mandrin, Pierre, foi enforcado por falsificação. Mandrin declarou então uma guerra pessoal contra os fermiers.

Entrou em um grupo de contrabandistas que adquiria tabaco nos Cantões da Suíça e no Ducado da Saboia e revendia na França sem o pagamento de impostos - barganha que a população local apreciava. Mandrin rapidamente tornou-se um líder do pequeno exército de cerca de 300 homens, os quais ele transformou em um verdadeiro regimento militar. Eles possuíam depósitos de armas e bens roubados do Ducado, e Mandrin acreditava estar fora do alcance das autoridades francesas. No ano de 1754 ele organizou seis "campanhas militares" contra coletores de impostos impopulares entre a população, ganhando sua afeição. Em pouco tempo, o governo passou leis afim de inibir as atividades comerciais do grupo, ao que Mandrin marchou a Rodez, forçando os cobradores de impostos a comprarem os bens contrabandeados sob a mira de arma.

As autoridades, extasiadas com as ações de Mandrin e sua popularidade, obtiveram ajuda do Exército Real, mas Mandrin refugiou-se na Saboia, Perdo e Pont-de-Beauvoisin. Os coletores de impostos resolveram entrar o Ducado da Saboia ilegalmente, disfarçando 500 homens de plebeus. Mandrin foi traído por dois de seus homens, e os fermiers apreenderam-no em uma fazenda fortificada em Rochefort-en-Novalaise. Quando o rei da Saboia, Carlos Emanuel III da Sardenha, descobriu da invasão francesa a seu território, imediatamente escreveu ao rei da França, Louis XV, exigindo que o prisioneiro lhe fosse entregue, ao que o rei francês cedeu. Todavia, os fermiers estavam tão entusiasmados a livrarem-se de Mandrin que apressaram seu julgamento e execução antes que a mensagem do rei chegasse a eles.

Mandrin foi julgado em 24 de Maio de 1755 na cidade de [Valence-sur-Rhône, e sentenciado à roda, uma pena reservada a sérias ofensas. Foi executado em 26 de Maio de 1755 em frente a 6000 espectadores, muitos deles simpáticos à causa de Mandrin. Seus braços, suas pernas e seu estômago foram quebrados com pauladas de barras de ferro e ele foi prendido à roda e torturado, sem soltar um único grito. Após oito minutos, foi estrangulado para ter seu sofrimento encerrado. Seu corpo mutilado foi posto à exposição da população, e muitos deixaram homenagens ao lado dele - começava a lenda de Mandrin.

A luta de Mandrin contra as injustiças do Antigo Regime foram discutidas por toda a Europa. Voltaire comparou-o com Frederico, o Grande)[3][4] e Turgot. Uma balada popular, Complainte de Mandrin, era cantada por toda a França e é conhecida até os dias de hoje. Seu autor é desconhecido.

Extremamente popular durante sua vida, Mandrin é famoso até hoje na região de seu nascimento, o Dauphiné, e na Saboia, e em grau menor no resto da França. Um longa metragem sobre sua vida foi lançado em 2011.

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

Mural com uma pintura de Mandrin em Brioude
Cerveja com a marca "Mandrin"

Na literatura[editar | editar código-fonte]

Cinema e televisão[editar | editar código-fonte]

  • Mandrin, 1st period : The Liberator (1948)
  • Mandrin, 2nd period : Tragedy of a Century (1948)
  • Le avventure di Mandrin (1952)
  • Mandrin, Gentleman Robber (1962, de um livro por Arthur Bernède)
  • Mandrin, Gentleman robber (1971, série de TV com 6 episódios)
  • Les Chants de Mandrin (2011), "As Baladas de Mandrin" (filme Francês) (em francês)

Exposições[editar | editar código-fonte]

  • No Musée dauphinois em Grenoble, uma exposição intitulada Louis Mandrin, malfaiteur ou bandit au grand cœur ? (Louis Mandrin, malfeitor ou fora da lei com um bom coração?" foi exibida de 13 de Maio de 2005 a 27 de Março de 2006.[6]
  • Alguns pertences de Mandrin foram expostos no Musée-Pontois[7]
  • No Musée national des Douanes, em Bordeaux

Marcas[editar | editar código-fonte]

Em 2002, uma destilaria grenobliense começou a fabricar uma cervejada com seu nome. Hoje, a Brasserie artisanale du Dauphiné fabrica seis marcas diferentes com seu nome.[8]

Referências

  1. Julius Ralph Ruff. Violence in Early Modern Europe 1500–1800. [S.l.]: Cambridge University Press (2001). Consultado em 27 de janeiro de 2012 
  2. Daniel Roche. France in the Enlightenment. Arthur Goldhammer (trans.). [S.l.]: Harvard University Press (1998). Consultado em 27 de janeiro de 2012 
  3. Lyons, M. (1994). Napoleon Bonaparte and the Legacy of the French Revolution. [S.l.]: Palgrave Macmillan. ISBN 9780312121235 
  4. Berchtold, J. (2000). Les prisons du roman: XVIIe-XVIIIe siècle : lectures plurielles et intertextuelles de "Guzman d'Alfarache" à "Jacques le fataliste". [S.l.]: Droz. ISBN 9782600004657 
  5. Les Misérables, Random House Publishing Group, 2000, 1280 pages, ISBN 9780679641551.
  6. Notice biblio des archives du site du Musée Dauphinois
  7. «Pages du site du Musée-Pontois». Consultado em 23 de setembro de 2017. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  8. Brasserie artisanale du Dauphiné

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Jugement souverain qui a condamné à la roue Louis Mandrin du lieu de S. Etienne de S. Geoirs en Dauphiné, 1755, disponível em Gallica.
  • J. de Fréminville (archiviste de la Loire), Notes sur Mandrin, Montbrison, Éleuthère Brassart impr., 1894, disponível em Gallica.
  • Ange Goudar (signant Mandrin), Testament politique de Louis Mandrin, généralissime des troupes de contrebandiers, écrit par lui-même dans sa prison, Genève, 1756, disponível em Gallica.
  • Histoire de la vie et du procès du fameux Louis-Dominique Cartouche, et plusieurs de ses complices, suivi de Dialogue entre Cartouche et Mandrin, Lille, Henry, [17??] disponível em Gallica. – Le « Dialogue entre Louis Dominique Cartouche|Cartouche et Mandrin » a vraisemblablement été écrit peu après l'exécution de Mandrin. L'Histoire de Cartouche date, quant à elle, de 1722.
  • La Mandrinade, ou L'Histoire curieuse, véritable et remarquable de la vie de Louis Mandrin, Saint-Geoirs, [s.n.], 1755, disponível em Gallica.
  • Abbé Regley (auteur supposé, né en 1720), Histoire de Louis Mandrin, depuis sa naissance jusqu'à sa mort, avec un détail de ses cruautés, de ses brigandages et de son supplice. – Rééd. : Montbéliard, Deckherr impr., 1826, disponível em Gallica.
  • Abrégé de la vie de Louis Mandrin : chef des contrebandiers en France, avec le journal de ses excursions et le récit de sa prise et de l'exécution de son jugement à Valence en Dauphiné, Paris, Allia, 1991, 145 p. ISBN 2-904235-35-3. – La notice bibliographique de la Bibliothèque nationale de France|BNF précise : « attribué à Claude-Joseph Terrier de Cléron (1697-1765) ou à l'abbé Regley », et range cette œuvre parmi les « ouvrages avant 1800 ». Contient un choix de documents.
  • Erwan Bergot, Mandrin ou la Fausse Légende, Paris, France-Empire, 1972, 315 p.
  • Arthur Bernède, Mandrin, le bandit bien-aimé. Un héros populaire au temps de Louis XV, 1754-1755, Paris, L. Rombaldi, 1972, 367 p. – En appendice : choix de textes de divers auteurs, par Bruno Tavernier.
  • Arthur Bernède, Mandrin, Paris, Tallandier, coll. « Romans de cape et d'épée. Nouvelle série. 16 », 255 p. – Rééd. sous le titre Mandrin : le bandit bien-aimé, Paris, Tallandier, coll. « Tallandier aventures. Romans de cape et d'épée », 1998, 298 p. ISBN 2-235-00873-9.
  • André Besson, Contrebandiers et Gabelous et particulièrement chapitre 6 : « Louis Mandrin, roi des contrebandiers », France Empire, janvier 1993, 298 p. ISBN 2-7048-0731-0.
  • Georges Bordonove : Mandrin, Paris, Hachette, 1971, 255 p.
  • Henri Bouchot, Mandrin en Bourgogne, décembre 1754, d'après un mémoire inédit, Paris, A. Picard, 1881, 32 p.
  • Marie Brantôme, Mandrin, bandit des Lumières, Paris, Flammarion, 1999, 350 p. ISBN 2-08-067779-9.
  • Françoise d'Eaubonne, Belle Humeur ou la Véridique Histoire de Mandrin, Paris, Amiot-Dumont, 1957, 203 p.
  • Études drômoises, la revue du patrimoine de la Drôme, 23, octobre 2005.
  • Frantz Funck-Brentano, Mandrin, capitaine général des contrebandiers de France, d'après des documents nouveaux, Paris, Hachette Livre|Hachette, 1908, XII, 574 p.
  • Bernard Hautecloque Chapitre "Mandrin le Capitaine Général des Contrebandiers" in Brigands. Incroyables histoires de tous les temps p. 141-168 , De Borée, 2016
  • Valérie Huss (dir.), Louis Mandrin, malfaiteur ou bandit au grand cœur ? : exposition, Musée dauphinois, Grenoble, 12 mai 2005-27 mars 2006, Grenoble, Conseil général de l'Isère, 2005, 144 p. ISBN 2-905375-74-4.
  • Charles Jarrin, La Province au XVIII. Mandrin. Les aides, les contrebandiers au XVIII, les quatre campagnes de 1754…, Bourg, L. Grandin, 1875, disponível em Gallica.
  • Guy Peillon, Le Jugement de Mandrin à travers l'histoire, Lyon, M. Chomarat, 1998, 175 p. ISBN 2-908185-38-5.
  • Guy Peillon, Sur les traces de Louis Mandrin, Lyon, Bellier, 2005, 351 p. ISBN 2-84631-129-3.
  • Marie-Hélène Rumeau-Dieudonné, Mandrin : brigand ou héros ?, Veurey, Le Dauphiné libéré, coll. « Patrimoines », 2005, 51 p. ISBN 2-911739-72-8.
  • Marguerite Segard-Ilieff, Mandrin à Rodez, Rodez, Subervie, 1976, 193 p.-[2] f. de pl.
  • Corinne Townley, La Véritable Histoire de Mandrin, avant-propos de Jean Nicolas, préface de Jean-Pierre Vial, Montmélian, La Fontaine de Siloé, coll. « Archives de Savoie », 2005, 374 p.-[40] p. de pl. ISBN 2-84206-294-9.
  • Antoine Vernière, Courses de Mandrin dans l'Auvergne, le Velay et le Forez (1754), Clermont-Ferrand, G. Mont-Louis impr., 1890, 98 p. – Initialement publié dans la « Revue d'Auvergne », t. VI, 1889.
  • Chantal Villepontoux-Chastel, Belle humeur. Mémoires de Louis Mandrin, capitaine général des contrebandiers de France, Paris, Londreys, coll. « Alizés », 1988, 314 p. ISBN 2-904184-72-4.

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Kwass, Michael (2014). Contraband: Louis Mandrin and the Making of a Global Underground. Cambridge, MA: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-72683-3 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]