Otto Schacht

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Otto Schacht
Otto Schacht na luta de libertação nacional de Guiné Bissau

Fachada PRincipal
Nome completo Otto Schacht
Nascimento 08 de outubro de 1933 (90 anos)
Canchungo
Morte 14 de novembro de 1980
Causa da morte Assassinato
Nacionalidade Guiné-Bissau
Progenitores Mãe: Carolina da Silva Schacht
Pai: Robert Von Schacht
Cônjuge Alice Herbert Schacht
Ocupação Especialização em Radio telegrafia (criptologia)
Profissão Combatente da pátria e Estadista
Principais trabalhos
PAIGC
Chefe de Segurança inteligência e contra-inteligência
1ª república da Guiné-Bissau
Ministro dos Transportes
Ministro das Telecomunicações
Ministro das Pescas
Prêmios Estrela de Schitimessky - República Checa
Filiação PAIGC

Otto Schacht foi um membro activo do PAIGC (partido africano para independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) que se destacou pelas suas funções primeiramente enquanto Chefe de segurança, inteligência e contra-inteligência ao serviço do fundador e secretário-geral do PAIGC Amílcar Cabral, e posteriormente como Ministro dos Transportes, Telecomunicações e Pescas da 1ª república da Guiné-Bissau ao serviço do Presidente Luís Cabral.

Infância[editar | editar código-fonte]

Nascido em Canchungo a 8 de outubro de 1933, fruto de matrimónio entre a guineense Carolina da Silva Schacht (herdeira de um abastado comerciante e proprietário de imóveis, Alfredo da Silva) com o investidor alemão Robert Von Schacht (conhecido exportador de madeira, proprietário de várias plantações de citrinos), Otto Schacht é protagonista de um percurso de vida no mínimo inspirador pois, embora nascido no seio de uma família abastada dedicou a sua vida ao serviço de um povo que ele acreditava ser merecedor de todos os seus sacrifícios pessoais. Tendo perdido os pais em tenra idade, Otto Schacht viveu uma infância solitária, porém, isso não invalidou o seu interesse pelos estudos tendo inclusive, frequentado o celebre liceu Honório Barreto enquanto adquiria paralelamente conhecimentos em radio telegrafia junto daquele que foi o seu grande mentor, Domingos Vieira, renomado quadro da Central de Correios, Telégrafos e Telefones do Império Colonial Português.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Especializado em telecomunicações mais precisamente na criptografia e radiotelegrafia, tendo inclusive recebido da multinacional Marconi na década de 50, num concurso de cariz internacional, o prémio de melhor radio telegrafista. Apesar da sua bem-aventurança profissional, em 1961 une-se a Amílcar Cabral e ao PAIGC (partido africano para Independência Guiné-Bissau e Cabo Verde), em prol da causa da independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

Foram as suas valências nomeadamente, no planejamento estratégico que o levaram a assumir o cargo de chefe dos serviços de inteligência e contrainteligência do partido entre 1961 e 1974.[1]

Não obstante, e porque logística ocupava um papel preponderante durante a guerra colonial, Otto Schacht acumulava igualmente a função de responsável desta área "chave" para o funcionamento da dinâmica de combate.

Com o assassinato de Amílcar Cabral em 1973,[2] encabeça a 3ª comissão de investigação função esta que desempenhou com afinco pessoal com o objectivo de provar que o assassinato do líder pan-africano não teria sido resultado de uma falha de segurança interna permitindo a acção de forças inimigas, mas sim, fruto de um possível complô no seio do próprio PAIGC.

Pela sua lealdade e compromisso para com a luta pela independência, o Comandante "Kikia de Gãn Cabral "(a coruja de Cabral) como era conhecido, incorpora a nobre lista dos representantes políticos envolvidos nas negociações com Portugal pós 25 de Abril,[3] tendo inclusive assinado o protocolo de acordo para a independência, documento este que ainda consta dos arquivos históricos do palácio de Belém – Museu da presidência em Lisboa.

Cargos Governamentais[editar | editar código-fonte]

Constituído o 1º Governo pós-independência (1975–1980), Otto Schacht aceita o convite do Presidente da República Luís Cabral para assumir o cargo de Ministro dos Transportes, Telecomunicações e Pescas da Guiné-Bissau. Enquanto servidor público ficou registado na história da 1ª república as seguintes realizações; SEMA PESCA companhia nacional de tratamento de frutos do mar para exportação, Guiné Mar companhia nacional de pesca industrial, modernização e operacionalização dos estaleiros navais da marina, modernização da central de telefónica da Guiné- Bissau, investimento nas ligações fluviais de todo o interior país bem como, criação das linhas áereas TAGB e LIA, criação da SILLO DJATA empresa publica de transportes terrestres e ainda, o projecto de construção do novo aeroporto internacional de Bissalanca.

Apesar da natureza silenciosa que o caracterizava, o estadista revelou ter eximias habilidades diplomáticas ao tecer laços com líderes como Jozip Broz Tito Presidente da Ex-Jugoslavia, Ramesh Chandra Majumda Presidente do conselho mundial da paz, Houphouët Boigny Presidente da Costa do Marfim, Léopold Sédar Senghor Presidente do Senegal, Mohamed Siad Barre Presidente da Somália, Moktar Ould Daddah Presidente da Mauritânia, Olof Palme Primeiro-ministro da Suécia e, António Ramalho Eanes Presidente da República de Portugal. Interessado pelas causas que considerava preocupantes para o equilíbrio das relações internacionais, Otto Schacht interagiu com algumas das personalidades revolucionárias mais mediáticas do século 20 de citar, Yasser Arafat líder da Palestina e John Garang líder do Sudão do Sul.

Morte[editar | editar código-fonte]

No decorrer da reunião do concelho superior de luta do PAIGC em 1978, é nomeado pelo comité central secretário executivo do concelho nacional do PAIGC.

Será, pois, no exercício de mais esta missão que o mesmo decide criar a comissão de investigação anticorrupção.[4]

Membros integrantes do seu gabinete afirmam este ter sido o passo que selou o destino fatídico do estadista, morto no Golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, exactamente 1 mês após o início das investigações levadas a cabo pela referida comissão de inquérito. Das possíveis causas do seu assassinato consta igualmente, o relatório confidencial em sua posse cujo conteúdo revelava o envolvimento de elementos da cúpula do PAIGC na morte de Amílcar Cabral. Juntamente com Otto Schacht, constam da lista de mortos do Golpe de Estado de 80 os seguintes membros e quadros do PAIGC;

  • Ministro do Interior, Constantino Teixeira
  • Secretário-Geral do Ministério do Interior, António Alcântara Buscardini
  • Quadro Superior do Ministério do Interior, Johnny Jacob
  • Comandante Militar, André Gomes
  • Comandante Militar, Pedro Ramos
  • Governador da Região de Gabu, Abdoulaye Seck

Legado[editar | editar código-fonte]

Entre rumores e factos, Otto Schacht deixou o seu legado quer seja através de feitos materiais dos quais constam, uma doação pessoal de cerca de 300 hectares de terra cultivável destinada aos Ex-combatentes da pátria quer seja, através de feitos imateriais ao tornar-se num exemplo de resistência á corrupção.

Daquilo que resta do seu acervo pessoal está a Estrela de Schitimessky, condecoração máxima concedida pela República Checa, a homens que se destacaram pela sua performance ao serviço da contrainteligência. No jazigo da família Schacht em Bissau, para além dos lírios azuis que de acordo com os seus próximos eram os seus favoritos, consta uma lapide com os seguintes dizeres da autoria do poeta Agnelo Regalla;

Otto Schacht... Uns, chegam ao fim Outros, ficam pelo caminho Não por desfalecimento

Mas pela sua coragem e valor!

Referências

  1. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05222.000.022#!1 Otto Schacht e Pascoal Alves numa base militar do PAIGC
  2. https://www.rfi.fr/pt/%C3%A1frica/20230120-amilcar-cabral-1973-assass%C3%ADnio-em-conacri-1-3-o-luto-de-duas-guin%C3%A9s Amílcar Cabral 1973, assassínio em Conacri
  3. http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=descon05 Acordo entre o governo português e o partido africano da independência da guiné e cabo verde 1
  4. Entrevista com Alice Herbert Schacht

References[editar | editar código-fonte]