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A Corrida armamentista naval ocorreu no início do século XX entre Argentina, Brasil e Chile, os países mais ricos e poderosos da América do Sul.[1] Esse processo teve início quando a cúpula do governo brasileiro decidiu, a partir de figuras como o Barão do Rio Branco, pela compra de três dreadnoughts[2], que na época eram verdadeiras máquinas de guerra e poderiam ser comparadas às armas nucleares dos dias atuais.

Foto de 1910 do dreadnought Minas Geraes. Era um dos navios brasileiros mais modernos para a época

Até o ano de 1904, a Marinha brasileira estava muito atrás de Argentina e Chile, que disputavam pela hegemonia naval sul-americana. O sucesso das produções de café e borracha possibilitaram ao Brasil o acúmulo de recursos necessários para o investimento no setor naval, até então esquecido desde a queda da monarquia em 1889.[3]

A ação brasileira logo causou retaliações dos governos argentino e chileno, que romperam um acordo de paz entre os dois países para comprar mais navios e embarcações de guerra. Era o início do entrave entre Barão de Rio Branco, comandante da política externa do Brasil, [2] e o ministro das relações exteriores da argentina, Estanisao Zeballos.[4]

As aspirações navais dos países sul-americanos, porém, se tornaram um verdadeiro pesadelo econômico, fato que foi alvo de críticas por jornais de diferentes países da época. Esse quadro se agravou ainda mais com o ápice da Primeira Guerra Mundial, em que era mais difícil importar grandes invenções como essas. Nesse momento, Chile, Argentina e Brasil já não tinham mais dinheiro para arcar com mais navios de guerra e começaram o processo de venda de suas embarcações.[5]

Conflito entre Argentina e Chile e emergência brasileira[editar | editar código-fonte]

Em 1840, tanto Argentina como Chile enfrentavam períodos econômicos favoráveis. Essa positividade econômica aliada de uma tensão na região da Patagônia permitiu uma corrida armamentista entre os dois países durante muitos anos.[6] Nesse contexto, navios de guerra chilenos apreenderam navios mercantis liberados pelo governo argentino para operar naquela área. Em represália, navios argentinos fizeram o mesmo com uma embarcação licenciada chilena.[7]

Durante alguns anos, os dois países estavam ocupados com problemas internos, enquanto a Argentina intensificava ainda suas ações contra os povos indígenas,[8] [9] o Chile enfrentava a Guerra do Pacífico, luta contra Bolívia e Peru. Após um período de relativa tranquilidade com com poucos navios comprados, Chile voltou a investir no setor naval em 1887, acrescentando 3.329.500 libras esterlinas ao orçamento de sua frota. O governo argentino respondeu a ação encomendando mais embarcações. A corrida continuou, com altos e baixos, até o ano de 1902, quando o governo britânico mediou três pactos que deveriam dar fim àquela corrida armamentista naval entre os dois países. Um dos acordos limitou os navios que Argentina e Chile poderiam ter e impediu a compra de novas embarcações durante 5 anos sem um aviso prévio de dezoito meses.[10]

Situação Brasileira[editar | editar código-fonte]
Barão do Rio Branco, figura política importante para a ascensão naval brasileira no início do século XX.

Enquanto Argentina e Chile disputavam a liderança naval na América do Sul, a Marinha Brasileira estava decadente. Desde a deposição de Dom Pedro ll, o Brasil enfrentava uma extrema instabilidade e se via muito atrás de seus vizinhos. Nesse momento, lembra José Duarte Gonçalves, que "todas as repartições da Marinha estavam desorganizadas, os trabalhos paralisados e o pessoal disperso."[11][12]

Apesar de enfrentar conflitos, como a Revolta da Armada e a Guerra dos Canudos, o final do século XlX e início do século XX marcou importantes vitórias econômicas do governo brasileiro. A economia brasileira estava em alta com o café e o boom da borracha,[13] o que possibilitou investimentos em diferentes campos e áreas. No campo político, esse período foi marcado pela ascensão do Barão do Rio Branco[14], que defendia a compra de muitos navios usados, com o objetivo de equiparar à força naval brasileira a de seus concorrentes na América do Sul.[15] Apesar disso, em um primeiro momento uma corrente contrária venceu e foi aprovado pelo Congresso Nacional, em 1905, a construção de uma frota nova de navios pelo preço de 4 milhões de libras esterlinas.[16]

Estopim para os entraves entre Brasil, Argentina e Chile[editar | editar código-fonte]

Em um primeiro momento, o Brasil encomendou três novos encouraçados e outros navios menores para compor a frota do país. Porém, o pedido foi cancelado e o dinheiro redirecionado para a compra de três dreadnoughts, um conceito novo e que simbolizava uma das armas mais poderosas da época.[17]

Conhecido como "o navio mais poderoso de todos os tempos", os dreadnoughts possuíam um tamanho maior, eram mais resistentes e tinham armas melhores do que seus antecedentes, eram como as armas nucleares dos dias atuais. Nesse contexto, Brasil foi apenas o terceiro país do mundo a adquirir esses navios(atrás apenas de Estados Unidos e Reino Unido),, o que o deixou afrente de grandes potências mundiais e também dos sul-americanos, principalmente Chile e Argentina.[18]

Foto de 1908 revela o lançamento do Minas Geraes, um dos deadnoughts brasileiros.

O episódio chamou a atenção da mídia nacional e internacional. A revista norte-americana Word's Word, por exemplo lembrou que "A questão que está intrigando os diplomatas em todo o mundo é por que o Brasil deveria querer leviatãs ferozes de tamanho, armamento e velocidade a ponto de colocá-los dez a quinze anos antes de qualquer outra nação além da Grã-Bretanha."[19] Por isso, muitos periódicos acusaram o Brasil de comprar essas máquinas com o intuito de vendê-las mais tarde para algum país desenvolvido, o que significaria ganho de tempo na produção delas. Porém, tais acusações nunca foram comprovado no futuro.

Tais ações brasileiras foram vistas por países sul-americanos como uma forma de ganhar soberania e importância no continente, o que de fato, aconteceu. Os deadnoughts representavam um avanço inimaginável para a Marinha do Brasil e a colocava como a mais importante do continente e uma das mais conhecidas do mundo.

Resposta de Argentina e Chile[editar | editar código-fonte]

A mudança profunda na marinha brasileira fez com que o então Ministro das Relações Exteriores da Argentina Manuel Augusto Montes de Oca fosse enfático ao garantir que os navios brasileiros poderiam com facilidade destruir toda a frota argentina e chilena, o que talvez pudesse ser um pouco exagerado. Diante desse cenário, o político lutou para encerrar o pacto de paz naval que estava em vigor entre a Argentina e o Chile.[20]

De fato, a soberania brasileira nas águas era notável, proporcionando muita preocupação e pedidos da mídia para que a Argentina reagisse. Anos mais tarde, o sucessor de Oca, Estanislao Zeballos, planejada pedir parte dos dreadnoughts brasileiros e se não fosse o governo brasileiro recusasse, ele comandaria tropas argentinas em uma invasão até o "Rio indefeso". Sua ideia até então viável vazou para a população argentina, que era extremamente contra gastar uma quantia alta de dinheiro para uma guerra que "seria desnecessária".[3]

Com medo do que o governo brasileiro poderia fazer com os novos dreadnoughts, comendantes argentinos apoiavam a equiparação naval entre os dois países. Nesse contexto, o Brasil garantiu que essas armas não seriam usadas contra a Argentina ou contra as exportações daquele país, já que muitas delas eram realizadas via Rio da Prata.[21]

Apesar disso, a Câmara dos Deputados da Argentina permitiu a compra de três dreadnoughts por uma alta quantia. Dois importantes jornais do país, chamados La Prensa e La Argentina foram totalmente a favor da compra dos três navios, em que fizeram até mesmo uma petição para angariar fundos dos leitores do jornal.[22]

Nesse momento o Chile estava sofrendo uma depressão financeira fruto de um terremoto que havia causado uma queda na exportação de nitratos do país.[23] Dessa forma, somente em 1910 foi possível angariar fundos para a compra dos dreadnoughts, que deveriam ser uma forma re resposta armamentista não só ao Brasil e à Argentina, mas também ao Peru, país que possuía atritos com o Chile.[24]

Os principais navios[editar | editar código-fonte]

Brasil[editar | editar código-fonte]

O Brasil tinha como principal navio o Minas Geraes, que deveria ficar pronto em 1907, pouco tempo antes de São Paulo, o outro dreadnought. Apesar disso, a construção foi adiada em um ano, devido a problemas na conclusão do casco. Após alguns testes, a embarcação foi entregue no começo de 1910 e recebeu o batismo da esposa de Francisco Régis de Oliveira, embaixador brasileiro no Reino Unido. Cinco meses depois, São Paulo também foi entregue após passar nos testes necessários.[25]

Argentina[editar | editar código-fonte]

A Argentina planejou a construção do Rivadavia e do Moreno, que deveriam ser os principais expoentes da equiparação naval do país com o Brasil. Devido a diversos problemas na construção os dois navios só foram oficialmente concluídos em 1914 e 1915, respectivamente. Apesar disso, a partida do Moreno rumo à Argentina sofreu diversos contratempos, pois ele afundou uma vez e encalhou em outras duas oportunidades.[26]

Chile[editar | editar código-fonte]

No Chile, o Almirante Latorre foi lançado no final de 1913, mas após a implosão mundial da Primeira Guerra, os serviços finais foram interrompidos e retomados alguns meses mais tarde. Apesar disso, os chilenos venderam o navio para o Gabinete Britânico. Os outros dois navios(Almirante Cochrane e Almirante Cochraneera) sofreram também com problemas e foram vendidos a outros países.[26]

Derrocada e fim da corrida armamentista naval[editar | editar código-fonte]

Marinheiros brasileiros. em geral eram negros ou mulatos e se rebelaram contra os generais brancos que aplicavam castigos como chibatadas.

Alguns episódios sequentes fizeram com que a Corrida Armamentista Naval na América do Sul chegasse ao seu fim. No caso do Brasil, a Revolta da Chibata em 1910 foi um dos motivos para a decadência da Marinha brasileira, já que houveram manifestações nos principais navios brasileiros.[27]
Apesar disso, a implosão da Primeira Guerra Mundial foi o principal motivo para o fim da luta pelos melhores navios entre Brasil, Argentina e Chile. Nesse momento, os três países venderam suas principais embarcações, seja para o Império Otomano, para o Reino Unido ou para os Estados Unidos.[28]


Referências

  1. Garcia, Eugênio Vargas (2003). «A diplomacia dos armamentos em Santiago: o Brasil e a Conferência Pan-Americana de 1923». Revista Brasileira de História. 23 (46): 173–200. ISSN 0102-0188. doi:10.1590/S0102-01882003000200008 
  2. a b Doratioto, Francisco Fernando Monteoliva (2000). «A política platina do Barão do Rio Branco». Revista Brasileira de Política Internacional. 43 (2): 130–149. ISSN 0034-7329. doi:10.1590/S0034-73292000000200006. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  3. a b Saiani, Renato Cesar Santejo; Grejo, Camila Bueno (24 de agosto de 2017). «O despertar da rivalidade: os debates entre o Barão do Rio Branco e Estanislao Zeballos por meio da imprensa (1904-1908)». Revista Eletrônica da ANPHLAC. 0 (22): 182–201. ISSN 1679-1061 
  4. Saiani, Renato Cesar Santejo; Grejo, Camila Bueno (24 de agosto de 2017). «O despertar da rivalidade: os debates entre o Barão do Rio Branco e Estanislao Zeballos por meio da imprensa (1904-1908)». Revista Eletrônica da ANPHLAC. 0 (22): 182–201. ISSN 1679-1061 
  5. Garay, Cristián (1 de dezembro de 2012). «Las carreras armamentistas navales entre Argentina, Chile y Brasil (1891-1923)». Historia Crítica No.40 (em inglês) (48): 39–57. ISSN 0121-1617. doi:10.7440/histcrit48.2012.03 
  6. «Guerra do Pacífico - Brasil Escola». Guerras Brasil Escola. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  7. Pedraja, Rene De La; Scheina, Robert L. (1988). «Latin America: A Naval History 1810-1987.». Military Affairs. 52 (4). 222 páginas. ISSN 0026-3931. doi:10.2307/1988463. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  8. Desconhecido, Autor. «O Índio na História Argentina: Entre ausências e presenças.» (PDF). XXVII Simbósio Nacional de História. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  9. Reichel, Heloisa. «A PARTICIPAÇÃO DOS INDÍGENAS NA CONSTRUÇÃO DO ESTADO ARGENTINO» 
  10. Scheina, Robert (1987). Latin America: A Naval History, 1810-1987. [S.l.]: Naval Inst Press 
  11. NETO, José. «A Marinha Brasileira no inicio do século XX: tecnologia e política». Consultado em 28 de novembro de 2018 
  12. Alsina, João. «Rio Branco, grand strategy and naval power» (PDF) 
  13. Cardoso, Eliana. «Desvalorizações cambiais, indústria e café: Brasil, 1862-1906» 
  14. Soares, João. Rio-Branco, grande estratégia e o poder naval. [S.l.: s.n.] pp. Capítulo 2– Item 4. A revolta da armada e a aniquilação da força naval 
  15. Soares, Junior. Rio Branco, grande estratégia e o poder naval. [S.l.: s.n.] pp. Capítulo 4 – Rio Branco, Grande Estratégia e poder naval 
  16. Mantins. A marinha brasileira. [S.l.: s.n.] pp. Brazilian Dreadnoughts 
  17. «A DREADNOUGHT FOR BRAZIL.; Order for a Battleship Given to Vickers Sons & Maxim.» (em inglês) 
  18. KEEFER, SCOTT. The Law of Nations and Britain's Quest for Naval Security. [S.l.: s.n.] pp. 220–250 
  19. O Mistério dos Grandes Battleships Brasileiros. [S.l.: s.n.] 
  20. Garay, Cristián (1 de dezembro de 2012). «Las carreras armamentistas navales entre Argentina, Chile y Brasil (1891-1923)». Historia Crítica No.40 (em inglês) (48): 39–57. ISSN 0121-1617. doi:10.7440/histcrit48.2012.03 
  21. «Brazil armament, no menace, but express sovereignty» (PDF). Consultado em 28 de novembro de 2018 
  22. Livemore. [S.l.: s.n.] pp. Diplomacia do Encouraçado 
  23. «G1 > Mundo - NOTÍCIAS - Há 25 anos, Chile sofria terremoto que deixou 177 mortos». g1.globo.com. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  24. Garay, Cristián (1 de dezembro de 2012). «Las carreras armamentistas navales entre Argentina, Chile y Brasil (1891-1923)». Historia Crítica No.40 (em inglês) (48): 39–57. ISSN 0121-1617. doi:10.7440/histcrit48.2012.03 
  25. ALGER (1910). Engenheiros Navais. [S.l.: s.n.] pp. 858–859 
  26. a b «BATTLESHIP SINKS BARGE.; New Argentine Warship Then Runs Aground, but Is Soon Floated.» (em inglês) 
  27. «Revolta da Chibata - História do Mundo». História do mundo. Consultado em 28 de novembro de 2018 
  28. RULERS, Grant. Guns and Money. [S.l.: s.n.] pp. Brazilian Dreadnoughts 

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