Mostrar código-fonte de Abutiu

{{Hiero|Abuwtiyuw|<hiero>D36-D58-G43-G4</hiero><br />
Abuwtiyuw<br />''{{Unicode|ˁbw tjw}}''<br />
Nome do cão de acordo com Reisner,<br />
''transcrição de acordo com a [[lista de Gardiner]]''}}

'''Abutiu''' ({{AFI2|ʔ-bwit-ʔew}}; morreu antes de {{AC|2280|X}}), no [[Antigo Egito]], foi um [[cão]] e um dos primeiros [[animal doméstico|animais domésticos]] documentados cujo nome é conhecido. Acredita-se ter sido um [[cão de guarda]] real que viveu na {{lknb|VI|dinastia|egípcia}} {{-nwrap||2345|2181}}, e recebeu um elaborado enterro cerimonial na [[Necrópole de Gizé]] a mando de um [[faraó]] cujo nome é desconhecido.

Uma pedra inscrita listando os presentes ofertados pelo faraó para o funeral de Abutiu foi descoberta pelo [[egiptólogo]] [[George Andrew Reisner|George A. Reisner]] em outubro de [[1935]]. Aparentemente o material era parte do [[spolia]] incorporado na estrutura de uma [[mastaba]] (túmulo faraônico) da Sexta Dinastia, após a demolição da capela funerária do dono de Abutiu, onde a pedra provavelmente tinha sido originalmente instalada. A tabuleta de [[calcário]] branco mede 54,2 × 28,2 × 23,2 centímetros. A inscrição é composta de dez fileiras verticais de [[hieróglifo]]s, separadas uma a uma por linhas verticais.

O Abutiu parece ter sido um [[cão de caça]] de corpo esbelto semelhante a um [[galgo inglês]], com orelhas eretas e uma cauda encaracolada, provavelmente um [[tesem]], umas das mais antigas raças de cachorro. O túmulo em que sua tabuleta foi descoberta está no Cemitério G 2100 no [[Campo Ocidental de Gizé]], próximo do lado oeste da [[Grande Pirâmide de Gizé]] (Pirâmide de [[Quéops]]).

== Antecedentes ==
[[imagem:La Tombe de Horemheb cropped.jpg|miniaturadaimagem|O deus egípcio [[Anúbis]] (centro) é muitas vezes representado com a cabeça de um cão ou de um chacal]]
De acordo com documentos de [[Heródoto]], os cães eram animais protegidos na [[antiga Pérsia]],{{sfn|Cavendish|2010|p=138}} criados com muito apreço por seus donos durante toda a vida.{{sfn|Hastings|2001|p=512}} Relatos de gregos antigos afirmam que esses animais eram tratados no Egito antigo com o mesmo respeito que na Pérsia, sendo inclusive [[múmia|mumificados]] depois da morte, para então serem enterrados em túmulos da família.{{sfn|Hastings|2001|p=512}}{{sfn|Teeter|2011|p=8}}{{sfn|Hinkler|2006|p=33}} Os antigos egípcios e outros povos do Oriente Médio acreditavam que os cães eram seres espirituais, semelhantes aos humanos, e eles foram "muitas vezes associados a divindades específicas e aos poderes que eles exercem".{{sfn|Morey|2010|p=182}} Alguns cemitérios da dinastia real contém túmulos de cães, junto com os de mulheres e funcionários da casa real.{{sfn|Spence 2008|p=23}} O cemitério de [[Ascalão]] no [[Distrito Sul (Israel)|Distrito Sul]] de [[Israel]] é, talvez, o cemitério de cachorros mais bem documentado do mundo antigo, mas múmias de cães foram desenterradas em massa em várias regiões do [[Egito]] incluindo [[Ilha Rhoda|Rhoda]], no Alto Egito,{{Sfn|Gardner Wilkinson|1837|p=33}} [[Tebas (Egito)|Tebas]], [[Abidos (Egito)|Abidos]], e nos arredores de [[Maghagha]].{{sfn|Morey|2010|p=182}}

Os antigos egípcios mumificavam muitas espécies de animais, desde [[gato]]s e [[gazela]]s, até [[crocodilo]]s, [[babuíno]]s e aves.{{sfn|Velde|Dijk|1997|p=56}}{{sfn|Detweiler|2004|p=170}}{{sfn|Lucas|2003|p=349}} Tipicamente, muitos desses animais também serviam como alimento, mas é altamente improvável que isso ocorresse com os cães.{{sfn|Ikram|2005|p=24}} [[Radiografia]]s de cachorros exumados no mundo antigo revelaram que o processo de mumificação envolvia o embalamento dos ossos embalsamados juntos com ataduras, e a colocação dentro de uma estátua de madeira de [[Anúbis]], a [[Panteão egípcio|divindade]] [[Cinocéfalo|com cabeça de chacal]] associada a mumificação e a [[Vida após a morte#Egito Antigo|vida após a morte]] na [[antiga religião egípcia]].{{sfn|Ikram|2005|p=24}}

== Descoberta ==
A única fonte conhecida na qual Abutiu é mencionado é uma inscrição em tábua de pedra, provavelmente originária da capela funerária do proprietário do animal.{{sfn|Reisner|1936|pp=97–98}} A tábua aparentemente era parte do [[spolia]] usado para a construção de um outro túmulo em cerca de {{AC|2280|X}}, uma [[mastaba]] (um tipo de túmulo faraônico) da [[VI dinastia egípcia|Sexta Dinastia]], após a demolição da capela funerária original.{{sfn|Reisner|1936|p=96}}{{sfn|Martin|1997|p=104}} Ela foi descoberta em 12 de outubro de 1935 pelo [[egiptólogo]] [[George Andrew Reisner]] durante uma expedição conjunta da [[Universidade de Harvard]] e do [[Museu de Belas Artes de Boston]], sendo removida do local quatro dias depois.{{sfn|Hayes|1990|p=65}}{{Sfn|Zahradnik|2009|p=207}}{{sfn|G2188 Y}}{{sfn|G2188}}

A descoberta foi registrada pelo fotógrafo titular da expedição, Mohammedani Ibrahim, que tirou mais de {{formatnum|9321}} placas fotográficas de tamanho grande da expedição de Reisners.<ref name=Inventario/>{{sfn|Ragovin|2007}} A tábua encontra-se atualmente no [[Museu Egípcio (Cairo)|Museu Egípcio]] da cidade do [[Cairo]] (número de inventário: JE&nbsp;67573).<ref name=Inventario/>

Nem o túmulo nem a múmia do cão foram encontrados.{{sfn|Reisner|1936|pp=96–97}} A tumba na qual a tábua foi achada está localizada no Cemitério G 2100 do [[Campo Ocidental de Gizé]], próximo do lado oeste da [[Grande Pirâmide de Gizé]] (pirâmide de [[Quéops]]).{{Sfn|Miller|2012|p=154}}{{Sfn|Leach|1961|p=283}} A tabuleta de calcário branco mede 54,2 × 28,2 × 23,2 centímetros e a inscrição é composta de dez fileiras verticais de [[hieróglifo]]s, separadas uma a uma por linhas verticais. Parte de uma coleira pode ser vista no canto superior direito, sugerindo que a tabuleta completa exibia uma imagem de Abutiu com o seu dono.{{sfn|Reisner|1936|pp=96–97}}

O texto da inscrição, traduzido por Reisner, descreve os presentes ofertados pelo faraó em tributo no momento do funeral de Abutiu:

{{quotation|O cão que foi o guarda de Sua Majestade, Abutiu é seu nome. Sua Majestade ordenou que ele fosse enterrado (cerimonialmente), que lhe fosse dado um caixão do tesouro real, linho fino em grande quantidade, [e] incenso. Sua Majestade [também] deu um unguento perfumado, e [ordenou] que um túmulo fosse construído para ele [Abutiu] pela equipe de pedreiros. Sua Majestade fez isso a fim de que ele [o cão] possa ser honrado [ante o grande deus, Anúbis].{{sfn|Reisner|1936|p=97}}<ref group="nota">Tradução livre de: "''The dog which was the guard of His Majesty, Abuwtiyuw is his name. His Majesty ordered that he be buried (ceremonially), that he be given a coffin from the royal treasury, fine linen in great quantity, (and) incense. His Majesty (also) gave perfumed ointment, and (ordered) that a tomb be built for him by the gangs of masons. His Majesty did this for him in order that he (the dog) might be Honoured (before the great god, Anubis).''"</ref>}}

== Interpretação ==
[[imagem:Tesem.jpg|miniaturadaimagem|Desenho de um cão [[tesem]] do sepulcro de [[Intefe II]] ([[Circa|c]] {{AC|2065|x}})]]
Embora fosse comum enterrar cães no Egito Antigo, o funeral de Abutiu foi extraordinariamente elaborado, uma honra normalmente reservada para os seres humanos das classes mais altas.{{sfn|Reisner|1936|p=96}} Os presentes do faraó sugerem que o cadáver foi mumificado, como era costume ser feito com as pessoas naquela época; eles acreditavam que o "Ka" (a centelha vital) do falecido poderia adentrar o corpo na sua vida pós-morte através da cerimônia de sepultamento.{{sfn|Reisner|1936|p=99}}

Apesar de nenhuma imagem de Abutiu ter sido encontrada, o texto o caracteriza como um ''{{Unicode|Ṯsm}}'' ([[tesem]]), um cão de caça de corpo esbelto semelhante a um [[galgo inglês]], com as orelhas eretas e a cauda encaracolada. O cão tesem aparece em representações pré-dinásticas, fazendo dele uma das mais antigas raças conhecidas de cachorro, e imagens dele são comuns ao longo da história da civilização egípcia antiga.{{sfn|Reisner|1936|p=99}} De acordo com Reisner, o nome "Abuwtiyuw" (Abutiu) não é completamente traduzível, mas ele supôs que ''{{Unicode|bw}}'' (''"bu"'') é uma representação onomatopeica do latido de um cão, pois este componente é encontrado muitas vezes em nomes de cães do Egito Antigo.{{sfn|Reisner|1936|p=99}} Edward C. Martin Jr. afirma que o nome, ou sua variante transliterada como Abutiu, significa "com orelhas pontudas", o que se encaixa com a descrição da raça tesem.{{sfn|Martin|1997|p=104}}

{{Notas}}
* {{Tradução/ref|en|Abuwtiyuw|oldid=693214161}}

{{Referências|col=2|refs=

<ref name=Inventario>{{citar web |url=http://gizapyramids.org/view/people/asitem/Ancients@24965/0?t:state:flow=befdbade-a97b-4d57-b0d8-c2372b56cb59 |titulo=Abutiu (in G 2188) |publicado=Museum of Fine Arts Boston |acessodata=30/01/2016 |língua=en }}</ref>

}}

== Bibliografia ==
{{refbegin|2}}
* {{citar livro|sobrenome=Cavendish|nome=|título=Ancient Egypt and the Near East: An Illustrated History|url=http://books.google.com/books?id=jZ5i39-xxpMC&pg=PA170|local=Nova Iorque|editora=Marshall Cavendish|ano=2010 |isbn=9780761479345|ref=harv}}
* {{citar livro|sobrenome=Detweiler|nome=Laurie|título=Old Testament and Ancient Egypt Teacher's Manual |local= |editora=Veritas Press |ano=2004|páginas=|isbn=9781932168280|ref=harv}}
*{{citar web |ref={{harvid|G2188 Y}}|url=http://www.gizapyramids.org/view/diaries/asitem/PeopleDiaries@2127/851/title-desc;jsessionid=58A6AF70736D5CA959E221C23425DDEB?t:state:flow=58be4929-cf2e-4066-b04d-a7f78177dcc9 |obra=Giza Diary, 1935 |titulo=G 2188 Y |data=13 de outubro de 1935 |acessodata=30/01/2016 }}
*{{citar web |ref={{harvid|G2188}}|url=http://www.gizapyramids.org/view/sites/asitem/PubTombs@100/0/siteNumber-asc;jsessionid=8AF46295F92D11EE9C6A2B3652A44F79?t:state:flow=0457a604-0ffb-4936-a160-282ce3a0929e |obra=Giza Diary, 1935 |titulo=G 2188 |data=17 de outubro de 1935 |acessodata=30/01/2016 }}
*{{citar livro |sobrenome=Gardner Wilkinson|nome=Sir John |autorlink=John Gardner Wilkinson |titulo=Manners and Customs of the Ancient Egyptians |url=http://books.google.com/books?id=CVkEAAAAQAAJ&pg=PA33|ano=1837|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Hastings|nome=James |titulo=Encyclopaedia of Religion and Ethics: Algonquins-Art|url=http://books.google.com/books?id=NyzDrkPG2nIC&pg=PA512 |ano=2001 |editora=Elibron.com|isbn=978-1-4021-9433-7|ref=harv}}
*{{citar livro |último1 =Hayes|primeiro1 =William Christopher|titulo=The Scepter of Egypt: From the Earliest Times to the End of the Middle Kingdom |url=http://books.google.com/books?id=S-4dESBIhrcC&pg=PA65 |ano=1990 |editora=[[Metropolitan Museum of Art]]|isbn=978-0-87099-190-5|ref=harv}}
*{{citar livro |autor=Hinkler |titulo=Discover Ancient Egypt|url=http://books.google.com/books?id=vT_O0VvFWK0C&pg=PA33|data=1 de fevereiro de 2006 |editora=Hinkler Books, Penton Overseas, Inc|isbn=978-1-74157-524-8|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Ikram |nome=Salima |titulo=Divine Creatures: Animal Mummies In Ancient Egypt |url=http://books.google.com/books?id=zz5oNwmdaTcC&pg=PA24 |ano=2005 |editora=American Univ in Cairo Press |isbn=978-977-424-858-0|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Leach|nome=Maria|titulo=God Had A Dog: Folklore of the Dog|url=http://books.google.com/books?id=XpkiAAAAMAAJ|ano=1961 |editora=Rutgers University Press |página=283 |ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Lucas|nome=A.|titulo=Ancient Egyptian Materials and Industries|url=http://books.google.com/books?id=GugkliLHDMoC&pg=PA349 |data=1 de abril de 2003 |editora=Kessinger Publishing|isbn=978-0-7661-5141-3|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Martin|nome=Edward C., Jr.|titulo=Dr. Johnson's Apple Orchard: The Story of America's First Pet Cemetery |url=http://books.google.com/books?id=g_vXAAAAMAAJ |ano=1997 |editora=Hartsdale Canine Cemetery|isbn=978-0-9659266-0-7|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Miller|nome=Steven |titulo=Dogs in Australian Art|url=http://books.google.com/books?id=3TcW9VWgrW0C&pg=PA154|data=17 de fevereiro de 2012 |editora=Wakefield Press |isbn=978-1-74305-017-0|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Morey|nome=Darcy F. |titulo=Dogs: Domestication and the Development of a Social Bond|url=http://books.google.com/books?id=HliAW7Jr9gMC&pg=PA182|data=12 de abril de 2010 |editora=Cambridge University Press |isbn=978-0-521-76006-5|ref=harv}}
*{{citar periódico |ref=harv |url=http://www.tufts.edu/alumni/magazine/spring2007/features/pharaohs.html |titulo=Finding the Pharaohs |sobrenome=Ragovin |nome=Helene |jornal=Tufts Magazine |ano=2007 |acessodata=14 de outubro de 2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090726173622/http://www.tufts.edu/alumni/magazine/spring2007/features/pharaohs.html |arquivodata=2009-07-26 |urlmorta=yes }}
*{{citar periódico |ref=harv |nome=George Andrew|sobrenome=Reisner |autorlink=George Andrew Reisner |titulo=The Dog Which Was Honored by the King of Upper and Lower Egypt |jornal=Bulletin of the Museum of Fine Arts |local=Boston |volume=34 |número=206 |ano=1936 |páginas=96–99 |url=http://www.gizapyramids.org/static/pdf%20library/bmfa_pdfs/bmfa34_1936_96to99.pdf |formato=pdf }}
*{{citar livro |sobrenome=Spence |nome=Lewis |titulo=Myths & Legends of Ancient Egypt|url=http://books.google.com/books?id=Do4v20P_CKAC&pg=PA23 |ano=2008 |anooriginal=1915 |editora=Wildside Press |isbn=978-1-4344-7391-2|ref={{harvid|Spence 2008}}}}
*{{citar livro |sobrenome=Teeter|nome=Emily|titulo=Religion and Ritual in Ancient Egypt|url=http://books.google.com/books?id=uK7bc6QPbwAC&pg=PA8 |ano=2011 |editora=Cambridge University Press |isbn=978-0-521-84855-8|ref=harv}}
*{{citar livro |último1 =Velde|primeiro1 =Herman te|último2 =Dijk|primeiro2 =Jacobus van|titulo=Essays on Ancient Egypt in Honour of Herman Te Velde |url=http://books.google.com/books?id=dv_2slpteq4C&pg=PA56|ano=1997 |editora=BRILL|isbn=978-90-5693-014-1|ref=harv}}
*{{citar livro |sobrenome=Zahradnik |nome=Eveline|titulo=Der Hund als geliebtes Haustier im Alten Ägypten anhand von bildlichen, schriftlichen und archäologischen Quellen: Altes und Mittleres Reich |url=http://books.google.com/books?id=XKYn8KnkWdcC|ano=2009 |editora=Pro Business|isbn=978-3-86805-408-8 |idioma=alemão |ref=harv}}
{{refend}}

{{Portal3|Egito Antigo}}

[[Categoria:Cultura do Antigo Egito]]
[[Categoria:Cães famosos]]
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