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Amputação no registo paleopatológico

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Tabela 1: Contexto geográfico e cronológico e dados do perfil biológico dos indivíduos com evidências de amputação encontrados na literatura paleopatológica
Ficheiro:Imagem satélite .jpg
Figura 1: Imagem satélite com disposição dos casos paleopatológicos de amputação na Europa
Tabela 2: Características das amputações reportadas na literatura paleopatológica

Em contexto arqueológico e paleopatológico, os casos de amputação (remoção intencional, traumática ou relacionada com algum tipo de doença, de um membro ou parte dele.[1]) são raros mas revelam a sua prática ao longo do tempo, um pouco por todo o mundo e com base em diversas motivações.[1][2][3][4][5][6][7][8][9]

Europa: evidências arqueológicas e paleopatológicas

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As evidências paleopatológicas de amputação na Europa, provêm de diversos e distintos contextos geográficos, arqueológicos e cronológicos[1][2][3][4][5][6][7][8][9] (tabela 1, figura1). As mais antigas remontam ao Neolítico e foram encontradas no úmero direito de um esqueleto recuperado do sítio arqueológico Buthiers-Boulancourt localizado em Paris (França).[2]

Métodos de diagnóstico

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O diagnóstico de amputação em paleopatologia é revestido de enormes limitações sobretudo se não existir remodelação óssea, sendo facilmente confundíveis com fraturas ante mortem não consolidadas ou post mortem.[4] Assim, a grande maioria dos casos é diagnosticada através da evidência de cicatrização do coto.[4] Como métodos complementares são utilizadas a análise métrica aos elementos ósseos afetados[1][2][3][4][5][6][8][9] e as técnicas como a radiologia, a tomografia computorizada, a reconstrução 3D.[1][3][5][6][8] A interpretação das evidências registadas é indissociável das fontes arqueológicas, cronológicas e/ou documentais.[1][2][3][4][5][6][8][9]

Caraterísticas biológicas

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Em populações do passado as amputações eram efetuadas, maioritariamente, nos homens (tabela 1) e acometiam sobretudo as extremidades distais dos antebraços e das pernas com perda das mesmas e das mãos e/ou pés[1][2][3][4][5][6][7][8][9] (tabela 2). As lesões, e à exceção das ocorridas peri mortem[4] (tabela 2), progrediam para a cura, registando-se a formação de tocos remodelados, sem sinais de infeção e com tendência ao desenvolvimento de alguns osteófitos,[1][2][3][5][6][9] podendo culminar na anquilose parcial dos ossos do antebraço[5][9] (tabela 2). Em alguns casos os tocos bastante arredondados e “polidos” nas extremidades dos antebraços que sofreram amputação indiciam forças biomecânicas exercidas, muito provavelmente, pela colocação/utilização de próteses.[1][6]

As circunstâncias em que as amputações ocorreriam baseiam-se na análise da morfologia do coto e nas especificidades do respetivo contexto cronológico e sociocultural, enquadrando-se, essencialmente, em três categorias[1][2][3][4][5][6][7][8][9]:

  1. Intervenção cirúrgica: para remover uma região corporal com o intuito de “estancar” um foco infecioso decorrente de uma lesão severa ou doença.[1][2][5][6][7][8][9]
  2. Punição judicial: aplicada a indivíduos que cometiam atos criminosos.[1][4][5][6][7][8]
  3. Violência interpessoal: ferimentos durante conflitos.[1][5][7]

Outras causas como as práticas rituais e os acidentes não devem ser descartadas.[1][2][3][4][6][7][8][9]

A ausência de evidências

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A escassez de evidências osteológicas de amputação em populações do passado pode residir em diversos fatores entre os quais refira-se[7]:

  1. As pessoas que sofriam amputação sucumbiriam rapidamente não sobrevivendo o tempo suficiente para que o tecido ósseo respondesse ao trauma;[7]
  2. Tendo as lesões ocorrido imediatamente antes da morte do indivíduo, surgem as dificuldades em efetuar a distinção entre fraturas peri ou post mortem;[7]
  3. As evidências ósseas deste tipo de lesão poderão não resistir tendo sido destruídas post mortem, devido à ação dos diversos fatores tafonómicos.[7]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n Binder, M.; Eitler, J.; Deutschmann, J.; Ladstätter, S.; Glaser, F.; Fiedler, D. 2016. Prosthetics in antiquity - An early medieval wearer of a foot prosthesis (6th century AD) from Hemmaberg/ Austria. International Journal of Paleopathology, 12: 29-40.
  2. a b c d e f g h i j Buquet-Marcon, C.; Charlier, P.; Samzun, A. 2007. The oldest amputation on a Neolithic human skeleton in France. Nature Precedings.
  3. a b c d e f g h i Cunha, E.; Silva, A.M. 1997. War lesions from the Famous Portuguese Medieval Battle of Aljubarrota. International Journal of Osteoarchaeology, 7: 595-599.
  4. a b c d e f g h i j k Fernandes, T.; Liberato, M.; Marques, C.; Cunha, E. 2017. Three cases of feet and hand amputation from Medieval Estremoz, Portugal. International Journal of Paleopathology, 18: 63-68.
  5. a b c d e f g h i j k l Mays, S.A. 1996. Healed limb amputations in human osteoarchaeology and their causes: a case study from Ipswich, UK. International Journal of Osteoarchaeology, 6: 101-113.
  6. a b c d e f g h i j k l Micarelli, I.; Paine, R.; Giostra, C.; Tafuri, M. A.; Profico, A.; Boggioni, M.; Di Vincenzo, F.; Massani, D.; Papini, A.; Manzi, G. 2018. Survival to amputation in pre-antibiotic era: a case study from a Longobard necropolis (6th-8th centuries AD). Jounal of Anthropological Science, 96:1-16.
  7. a b c d e f g h i j k l Redfern, R.; Roberts, C. A. 2019. Trauma. Buisktra, J. E. (ed) Ortner´s Identification of Pathological Conditions in Human Skeleton Remains. Academic Press, 3rd edition, 211-284.
  8. a b c d e f g h i j Stuckert, C.M.; Kricun, M.E. 2011. A case of bilateral forefoot amputation from the Romano British cemetery of Lankhills, Winchester, UK. International Journal of Paleopathology, 1: 111-116.
  9. a b c d e f g h i j Zäuner, S. P. Wahl, J.; Aslanis, B.I. 2013. A 6000‐Year‐Old Hand Amputation from Bulgaria—The Oldest Case from South‐East Europe? International Journal of Osteoarchaeology, 23 (5): 618-625.