Mostrar código-fonte de Batalha de Macau

{{Info/Conflito militar
|nome   = Batalha de Macau
|conflito       = [[Guerra Luso-Holandesa]]
|imagens_tamanho=<!--por omissão: 300-->
|imagem         = Nieuhof-Ambassade-vers-la-Chine-1665 0739.tif
|imagem-tamanho = 300
|legenda        = Barcos holandeses a disparar os seus canhões em águas macaenses, desenho de 1665
|data           = {{Dtlink|22|6|1622}}–{{Dtlink|24|6|1622}}
|local          = [[Macau]], [[Dinastia Ming|China]]
|resultado      = Vitória decisiva portuguesa
|combatente1    = {{flagicon|Portugal|1578}} [[Império Português]]
|combatente2    = {{flagicon image|Statenvlag.svg}} [[República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos|Províncias Unidas]]
|comandante1    = [[Lopo Sarmento de Carvalho]]
|comandante2    = [[Cornelis Reijersen]],<br>[[Hans Ruffijn]]{{KIA}}
|força1         = {{circa}} 150 tropas portuguesas<br>Número desconhecido de escravos africanos
|força2         = 1.300 (800 no desembarco)<br>13 barcos
|força3         = 
|baixas1        = 6 portugueses (ibéricos) mortos<br>Pequeno número de escravos mortos<br>~20 feridos
|baixas2        = 300+ mortos (136 holandeses)<br>126 feridos <br>4 barcos afundados
}}
{{Campanhainfo Campanhas coloniais portuguesas}}

A '''Batalha de Macau''' em 1622 foi um conflito da [[Guerra Luso-Holandesa]] travada na colônia portuguesa de [[Macau]], no sudeste da [[Dinastia Ming|China]]. Os portugueses, em inferioridade numérica e carecendo de fortificações adequadas, conseguiram repelir os holandeses numa vitória muito celebrada a [[24 de junho]], após uma batalha de três dias. Até hoje, a batalha permanece como a única batalha significativa travada entre duas nações europeias na [[China continental]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=86|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref>

==Contexto==
Desde que os portugueses foram autorizados pela [[dinastia Ming]] a estabelecer uma base permanente comercial em Macau em 1557, o porto de Macau beneficiou-se de maneira assaz por ser o [[Rota Hanban|intermediário]] do lucrativo comércio sino-japonês, dado que as rotas diretas estavam [[Haijin|proibidas]] pelos Ming, temendo os piratas ''[[wokou]]''. O sucesso português em Macau chamou a atenção doutras potências marítimas europeias que estavam a ter mais dificuldade a assentar-se no [[Extremo Oriente]]. Quando [[Filipe II de Espanha|Filipe II da Espanha]] se tornou Rei de Portugal após a [[Crise de 1580|crise dinástica portuguesa de 1580]], as colónias portuguesas tornaram-se então no alvo dos inimigos de Espanha, especialmente dos holandeses e dos ingleses, que desejavam também expandir os seus impérios ultramarinos. Macau já tinha resistido razias dos holandeses em 1601, 1603 e em 1607, mas a invasão de 1622 foi a primeira tentativa real de capturar a cidade. Os holandeses, frustrados com a pouca rentabilidade do seu posto comercial em Hirado e o sucesso dos portugueses em [[Nangasaque]] devido ao acesso por parte dos lusos ao lado chinês; esperavam que a captura de Macau dar-lhes-ia uma base comercial na China e ao mesmo tempo livrar-se dos portugueses da rota Macau-Nangasaque.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=72|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref> A queda de Macau também teria deixado os castelhanos nas [[Filipinas]] sem meios de apoio e facilitaria uma invasão holandesa de [[Manila]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=73|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref>

Apesar das razias, as autoridades portuguesas não foram capazes de erguer um sistema de defesa integral e extensivo devido à interferência de oficiais chineses. Os meios de defesa que Macau tinha na altura estavam limitados a umas poucas baterias: um no extremo oeste da [[península de Macau]] (posterior local da fortaleza de São Tiago da Barra), uma em cada extremo meridional da baía da [[Praia Grande (Macau)|Praia Grande]] (São Francisco no leste e Bom Parto no oeste) e outra em construção, a de [[Fortaleza do Monte (Macau)|Fortaleza do Monte]], pela [[Ruínas de São Paulo (Macau)|Catedral de São Paulo]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=76|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref> O mau estado das defesas de Macau era bem conhecido pelos holandeses quando o barco holandês ''Gallias'' capturou um navio português em 1621 na costa de [[Península de Malaca|Malaca]] que transportava cartas relativas às defesas de Macau. A julgar pelas cartas interceptadas e a informação disponível vinda do Japão, o [[Governador-geral das Índias Orientais Neerlandesas]] [[Jan Pieterszoon Coen]] achou que Macau não conseguiria resistir um ataque sério, pelo que começou a planificar a invasão.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=74|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref>

==Consequências==
[[Ficheiro:Macau in Livro das Plantas de Todas as Fortalezas.jpg|thumb|Mapa da [[península de Macau]] em 1639, após a melhora das fortificações e defesas da cidade.]]
A batalha foi a vitória mais decisiva alguma vez produzida pelos portuguesas aos holandeses no Extremo Oriente, dado que as perdas humanas dos atacantes superavam grandemente àquelas dos defensores.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=83-84|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref> A estimação mais reduzida portuguesa diz que foram mortos mais de trezentos inimigos nesse dia, enquanto a maioria das fontes lusas mencionam seiscentos ou oitocentos mortos inimigos. A lista oficial holandesa refere cento e trinta e seis mortos e cento e vinte e seis feridos, sem ter em conta os mercenários bandaneses e japoneses. O historiador [[C. R. Boxer]] sugere que o número real de mortos poderia ser de trezentos se os mortos bandaneses e japoneses fossem contados. As perdas de oficiais holandeses foram especialmente sérias, dado que sete capitães, quatro lugar-tenentes e sete insígnias foram perdidos na batalha. Além disso, os holandeses perderam todos os seus canhões, bandeiras e equipamento. Em comparação, as mortes portuguesas apenas contabilizam quatro portuguesas, dois espanhóis e alguns escravos; por volta de vinte teriam sido feridos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=84|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref> Na Batávia, Jan Pierterszoon Coen estava enraivecido pelo resultado da batalha, grafando "desta maneira embaraçosa perdemos a maioria dos nossos melhores homens juntamente com a maior parte das armas".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=C. R. Boxer|ano=1948|local=Haia|página=83|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref>[[Ficheiro:Jardim da Vitoria.jpg|thumb|Monumento no Jardim da Vitória em Macau, comemorativo da batalha.
]]

Acerca da defesa portuguesa, Coen disse: "Os portugueses venceram-nos em Macau com os seus escravos; não foi feito com nenhum soldado, para o que não há nenhum em Macau. [...] Vide como o inimigo defende assim as suas possessões tão facilmente enquanto nós nos desperdiçarmos a nós próprios".<ref name=":0">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|página=85|lingua=en|oclc=186321609|autorlink=C. R. Boxer}}</ref> Ele também que disse que "Os escravos dos portugueses em Macau serviram-nos tão bem e tão fielmente, que eram que eles que tinham derrotado e expulsado a nossa gente dali o ano passado" e que "A nossa gente viu muitos poucos portugueses" durante a batalha.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?ei=zvq6TtccxN3RAZH6qNcJ&ct=result&id=3s8VAQAAIAAJ&dq=Jan+Coen,+who+had+been+sent+to+establish+a+Dutch+base+on+the+China+coast,+wrote+about+the+slaves+who+served+the+Portuguese+so+faithfully:+%22It+was+they+who+defeated+and+drove+away+our+people+last+year.%22&q=jan+coen&redir_esc=y|título=Routes of Passage: Rethinking the African Diaspora: Volume 1, Part 1|ultimo=Hamilton|primeiro=Ruth Simms|editora=Michigan State University Press|ano=2007|local=East Lansing|página=143|lingua=en|isbn=978-0870136320|oclc=75968994}}</ref><ref>{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Studia_revista_semestral.html?id=8gdmAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Studia, revista semestral|editora=Centro de Estudos Historicos Ultramarinos|ano=1968|local=Lisboa|página=[https://books.google.com.br/books?ei=Kfu6TpniFIP10gHPmvXeCQ&ct=result&id=8gdmAAAAMAAJ&dq=85,+quotes+a+report+from+the+Dutch+governor-general,+Coen,+in+1623:+%C2%ABThe+slaves+of+the+Portuguese+at+Macao+served+them+so+well+and+faithfully,+that+it+was+they+who+defeated+and+drove+away+our+people+last+year%C2%BB.&q=coen&redir_esc=y/ 89]|oclc=906146118}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Japan_and_Africa.html?id=8IEFAQAAIAAJ&redir_esc=y|título=Japan and Africa: The Evolution and Nature of Political, Economic and Human Bonds, 1543-1993|ultimo=Sono|primeiro=Themba|data=|editora=HSRC Publishers|ano=1993|local=Pretória|página=[https://books.google.com.br/books?id=8IEFAQAAIAAJ&q=A+year+later,+Captain+Coen+was+still+harping+on+the+same+theme:+%22The+slaves+of+the+Portuguese+at+Macao+served+them+so+well+and+faithfully,+that+it+was+they+who+defeated+and+drove+away+our+people+there+last+year%22&dq=A+year+later,+Captain+Coen+was+still+harping+on+the+same+theme:+%22The+slaves+of+the+Portuguese+at+Macao+served+them+so+well+and+faithfully,+that+it+was+they+who+defeated+and+drove+away+our+people+there+last+year%22&hl=en&ei=mPu6Tp3hA4LX0QGzl_XeCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&redir_esc=y/ 23]|lingua=en|isbn=978-0796915252|oclc=30375035}}</ref> Quando oficiais chineses menores levaram cabeças de holandeses a Cantão como prova do serviço português na defesa de território chinês,<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Pepper_Guns_and_Parleys.html?id=dim6AAAAIAAJ&redir_esc=y|título=Pepper, Guns, and Parleys: The Dutch East India Company and China, 1662–1681|ultimo=Wills|primeiro=John Elliot|editora=Harvard University Press|ano=1974|local=Los Angeles|página=8|lingua=en|isbn=978-0674661813|oclc=64281732}}</ref> aparentemente relataram também a bravura dos escravos, fazendo com que o Almirante Provincial (海道副使; chamado nas fontes europeias ''haitao'') ficasse impressionado e enviasse um presente de duzentos [[Picul|picuis]] de arroz para serem distribuídos entre eles.<ref name=":0" /> A defesa bem-sucedida significou que Portugal poderia continuar a controlar o comércio entre a China e o Japão, que naquela altura era o único comércio rentável para o poder português em declínio. Apenas vinte anos depois desta batalha o Japão expulsou os portugueses em 1639 e a [[Batalha de Malaca (1641)|possessão portuguesa de Malaca caiu para os holandeses]] em 1641.<ref>{{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/_/X1S7PQAACAAJ?hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwjy_qzhpPCGAxWoqpUCHcKoAgkQre8FegQIExAG|título=The Portuguese Embassy to Japan (1644-1647): And the Embassy of Captain G. de Siqueira|ultimo=Boxer|primeiro=Charles R.|editora=ABC-CLIO, LLC|ano=1979|local=Bloomsbury|lingua=en|isbn=978-0313269820|oclc=1887980|autorlink=C. R. Boxer|anooriginal=1928}}</ref>
==Comemorações==
Sendo uma grande vitória para os portugueses em Macau, a batalha foi comemorada de muitas formas. Em 1871, foi erguido um monumento da batalha no [[Jardim da Vitória]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=24Wxr5vL1YcC&source=gbs_navlinks_s|título=The Defences of Macau: Forts, Ships and Weapons over 450 years|ultimo=Garrett|primeiro=Richard J.|editora=Hong Kong University Press|ano=2010|local=Hong Kong|página=13|lingua=en|isbn=978-9888028498|oclc=489006759}}</ref> Além disso, os residentes de Macau começaram a celebrar o 24 de junho como o Dia da Cidade para comemorar a vitória. Este dia foi [[feriado]], sendo observado todos os anos até à [[Transferência da soberania de Macau|transferência de soberania para a China]], em 1999. Desde aí, a tradição do arraial em honra de São João tem-se mantido, acima de tudo por iniciativa de algumas associações de matriz portuguesa.<ref>{{Citar web|ultimo=Lopes|primeiro=Fernando Sales|ultimo2=Pinheiro|primeiro2=Gonçalo Lobo|url=https://www.revistamacau.com.mo/2016/08/17/sao-joao-baptista-padroeiro-da-cidade/|titulo=São João Baptista, Padroeiro da Cidade|data=2016-08-17|acessodata=2024-06-22|website=Revista Macau|lingua=pt-PT}}</ref>

{{Referências|col=2}}

== Bibliografia ==

* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Fidalgos_in_the_Far_East_1550_1770.html?id=PePUAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao|ultimo=Boxer|primeiro=Charles Ralph|editora=Martinus Nijhoff|ano=1948|local=Haia|páginas=297|lingua=en|oclc=186321609}}
* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=24Wxr5vL1YcC&source=gbs_navlinks_s|título=The Defences of Macau: Forts, Ships and Weapons over 450 years|ultimo=Garrett|primeiro=Richard J.|editora=Hong Kong University Press|ano=2010|local=Hong Kong|páginas=288|isbn=978-9888028498|oclc=489006759}}
{{Portal3|História|Guerra|China|Países Baixoss|Portugal}}

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