Mostrar código-fonte de Celtas

{{Ver desambig|este=os povos europeus|o carro da Chevrolet|Chevrolet Celta|o clube galego|Real Club Celta de Vigo|o comboio internacional|Celta (serviço ferroviário)|a banda espanhola|Celtas Cortos}}
{{Mais notas|data=junho de 2019}}
[[Imagem:Celts in Europe.png|300px|thumb|Distribuição diacrônica dos povos celtas:
{{legend|#ffff43|núcleo do território [[Cultura de Hallstatt|Hallstatt]], por volta do {{-séc|VI}}}}
{{legend|#97ffb6|expansão máxima dos celtas, por volta do {{-séc|III}}}}
{{legend|#b7ffc6|área [[lusitana]] da [[Península Ibérica]] onde a presença dos celtas é incerta}}
{{legend|#27c600|as "seis [[Nações celtas|nações célticas]]" que mantiveram um número significativo de falantes celtas na [[Idade Moderna]]}}
{{legend|#1a8000|áreas onde as línguas celtas continuam a ser faladas hoje}}
]]
{{indo-europeu}}
'''Celtas''' é a designação dada a um conjunto de povos (um [[etnónimo]]), organizados em múltiplas [[tribo]]s e pertencentes à [[Família de línguas|família linguística]] [[Línguas indo-europeias|indo-europeia]] que se espalhou pela maior parte do Oeste da [[Europa]] a partir do {{AC|II milénio|x}}.<ref>{{Citar livro |sobrenome1=Serrão |nome1=Joel |título=Dicionário de História de Portugal |idioma=português |local=Porto |editora=Livraria Figueirinhas e Iniciativas Editoriais |páginas=3500 |volume=2|capítulo=Celtas|página=35}}</ref> A primeira referência literária aos celtas (''Κελτοί'') foi feita pelo historiador grego [[Hecateu de Mileto]] no {{-séc|VI}} Boa parte da população da [[Europa ocidental]] pertencia às etnias celtas até à conquista daqueles territórios pelo [[Império Romano]]; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território desde a [[Península Ibérica]] até à [[Anatólia]]. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais tarde integrada, pelos [[Roma antiga|Romanos]], embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com muitas alterações resultantes da [[aculturação]] devida aos invasores e à posterior [[Cristianismo|cristianização]], sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.

Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os [[bretões]], os [[gauleses]], os [[escotos]], os [[eburões]], os [[belgas]], os [[gálatas]], os [[trinovantes]] e os [[caledónios]]. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais mais tarde baptizaram alguns dos [[Estado-nação|estados-nações]] [[Idade Média|medievais]] e modernos da Europa. Os celtas são considerados os introdutores da [[metalurgia]] do [[ferro]] na Europa, dando origem naquele continente à [[Idade do Ferro]] (culturas de ''[[Cultura de Hallstatt|Hallstatt]]'' e ''[[Cultura de La Tène|La Tène]]''), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das [[estepe]]s asiáticas). Tal como consta que traziam com eles um pequeno cavalo muito parecido com o português [[garrano]], que nessa língua quer dizer "cavalo pequeno".<ref>[http://www.arcadenoe.pt/raca/garrano/392 Garrano, Pequeno Cavalo, Arca de Noé, Memória Visual Lda, 2016]</ref>

Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são o [[País de Gales]], uma entidade subnacional do [[Reino Unido]], a [[Cornualha]] (Reino Unido), [[Escócia]] (Reino Unido), [[Irlanda (ilha)|Irlanda]], a [[Gália]] ([[França]], e Norte da [[Itália]]), o Norte de [[Portugal]] e a [[Galiza]] (Noroeste da [[Espanha]]). Nestas regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos [[toponímia|topónimos]], em algumas formas linguísticas, no [[folclore]] e tradições. A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes conhecidos atualmente como [[celtismo]].

== Nomes e terminologia ==
[[Imagem:Galician_Celtic_Stele_-_Estela_Galaica.jpg|thumb|upright|Estela funerária [[Galaicos|galaica]]: ''Apana · Ambo/lli · f(ilia) · Celtica /Supertam(arica) · / [j] Miobri · /an(norum) · XXV · h(ic) · s(ita) · e(st) · /Apanus · fr(ater) · f(aciendum)· c(uravit) ·'']]

Na [[Antiguidade]] os celtas foram conhecidos por três designações diferentes, pelos autores [[Grécia Antiga|greco]]-[[Roma Antiga|romanos]]: '''celtas''' ({{langx|la|''Celtae''}}; {{lang|grc|Κελτοί||''Keltoí''}}); '''[[gálatas]]''' ({{langx|la|''galatae''}}; {{langx|grc|Γαλάται||''Galátai''}}); e '''[[Gália|galos]]''' ou '''[[gauleses]]''' ({{langx|la|''gallai'', ''galli''}}; {{langx|grc|Γάλλοί||''Galloí''}}).<ref>[http://www.ares.u-net.com/whocelts.htm Who were the Ancient Celts? - The Celts in Ancient History]</ref> Os romanos se referiam apenas aos celtas continentais como ''celtae''; os povos da [[Irlanda]] e das [[ilhas Britânicas]], nunca foram designados por celtas, nem pelos romanos nem por si próprios,<ref>[http://books.google.com/books?id=Xcfgc9BIFbMC&pg=PA78&dq=were+never+called++celts&lr=&as_brr=3&sig=B2Qdnm4ad35QyhC5c-1jgkHCqtE Ancient Ireland: A Study in the Lessons of Archeology and History ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?hl=en&lr=&id=G73f6pKxa70C&oi=fnd&pg=PA7&dq=were+never+called++celts&ots=Y-IA70Fq1t&sig=YrUpbR8o053VtfPcuu68KDUi4FU#PPA17,M1 The Atlantic Celts: Ancient People Or Modern Invention?]</ref>
eram chamados [[Hibérnia|hibérnios]] (''Hiberni'') e [[bretões]] (''Britanni''), respectivamente, e só começaram a ser chamados celtas no {{séc|XVI}}.<ref>[http://books.google.com/books?7id=f899xH_quaMC&pg=PA845&dq=were+never+called++celts&lr=&as_brr=3&sig=oCNZlo_8EwSDbdwFU5GCJjYRbSE Koch, John T.. Celtic Culture: A Historical Encyclopedia] pg 845</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=fdqk4vXqntgC&pg=PA1&dq=celts+origins&lr=&as_brr=3&sig=XT3mp_cQDv35fpwerZPB8JheaC8#PPA2,M1 Celts and the Classical World ]</ref> No ''[[De Bello Gallico]]'', [[Júlio César]] comentou que o nome "celta" era a maneira pela qual os gauleses se chamavam a si próprios na "[[Língua gaulesa|língua celta]]" (''lingua Celtae'').<ref>[http://books.google.com/books?id=PaRNJOLnRMUC&pg=PA88&dq=nostra+Galli+appellantur&lr=&as_brr=3&sig=_-sMmRbKLV4FIKo0xacBhvjFNcY Rome and the Barbarians: 100 B.C.-A.D. 400 pg.88]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=3iQQAAAAYAAJ&pg=PA537&dq=term+%27Celt%27&lr=&as_brr=3 A Classical Dictionary: Containing an Account of the Principal Proper Names pg. 537]</ref> [[Pausânias (geógrafo)|Pausânias]] comentou ainda que os gauleses não só se chamavam a si mesmos celtas como era também por este nome que os outros povos os conheciam.<ref>[http://books.google.com/books?id=uAbuQYaWlWUC&pg=PA299&dq=celts+did+not++name++themselves+Paus%C3%A2nias&lr=&as_brr=3&sig=R-CgSaQqUnOBxMu7NscQ-dB4GmI The Greater Lit.of the World p.299]</ref> A atestar este facto temos evidência na [[epigrafia]] [[funeral|funerária]] na qual se confirma que havia povos chamados celtas que se identificavam como tal, nomeadamente os Supertamarici.<ref>[http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_10/garcia_quintela_6_10.html Celtic Elements in Northwestern Spain in Pre-Roman times]</ref> Plínio, o Velho, registou que os habitantes de [[Miróbriga]] usavam o sobrenome de Céltico: "Mirobrigenses qui Celtici cognominantur".<ref>{{Citar web|url=http://www.thelatinlibrary.com/pliny.nh4.html|titulo=Pliny the Elder: Natural History, Book IV|acessodata=2023-04-19|website=www.thelatinlibrary.com}}</ref> No santuário de Miróbriga um habitante deixa gravado a sua origem celta:<ref>[http://revistas.ucm.es/index.php/GERI/article/viewFile/GERI8888220019A/14757.pdf Breve noticia sobre o santuário campestre romano de Miróbriga dos Célticos]</ref>

{{quote2|''D(IS) M(ANIBUS) S(ACRUM) / C(AIUS) PORCIUS SEVE/RUS MIROBRIGEN(SIS) / CELT(ICUS) ANN(ORUM) LX / H(IC) S(ITUS) E(ST) S(IT) T(IBI) T(ERRA) L(EVIS''}}

A raiz do termo "celta" aparece como elemento dos [[Antroponímia|nomes próprios]] nativos da [[Gália]], ''Celtillos'', e da [[Península Ibérica]], ''Celtio'', ''Celtus'', ''Celticus''; nos nomes tribais, [[célticos]], [[celtiberos]]; e nos [[topónimos]], ''[[Celti]]'', [[Céltica]],[[Céltigos (Galiza)|Céltigos]] e [[Celtibéria]].<ref>[http://books.google.com/books?id=Y1sbAAAAMAAJ&pg=PA101&dq=celti+ancient+geography&lr=&as_brr=3 The Classical Gazetteer: A Dictionary of Ancient Geography, Sacred and Profane pg101]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=2PxFkzlzDvcC&pg=PA21&dq=names+of+the+celts&lr=&as_brr=3&sig=y2s7mOznLx2Ury94LRyuImipd0I#PPA22,M1 The Rise of the Celts pg22]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=_pVY18-0OCgC&pg=PA6&dq=names+of+the+celts&lr=&as_brr=3&sig=nP3n44V4LrD22_0Dw6BJ8b9ihf4 The Celts: Bronze Age to New Age pg6]</ref>

Existem duas principais definições do termo celta, uma dada pelos autores da Antiguidade e uma definição moderna, criada por autores [[Idade Contemporânea|contemporâneos]]. A
definição moderna do termo celta tem significados diferentes em contextos diferentes; [[linguista]]s, [[antropólogos]], [[arqueólogos]], [[historiadores]], [[Folclore|folcloristas]] todos o usam de forma diferente revelando discrepâncias entre os diferentes conceitos.<ref>[http://books.google.com/books?id=eVz2NDNoD3oC&pg=PA2&dq=celt+term+different+meanings&lr=&as_brr=3&client=firefox-a&sig=X3CvGEwg_K4wYhbOAmvNo3T4f-4 Celtic Chiefdom, Celtic State: The Evolution of Complex Social Systems in Prehistoric Europe (New Directions in Archaeology) pg.2]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=bi1tP7tReP4C&pg=PA348&dq=the+celts+Anthropological+Society&lr=&as_brr=3&client=firefox-a&sig=ACfU3U3QUzMoEeYJj5oQh86BDUm6QovIEA A World History of Nineteenth-Century Archaeology: Nationalism, Colonialism, and the Past (Oxford Studies in the History of Archaeology)pg 348]</ref> A validade de empregar o termo celta, para além da definição dada pelos autores greco-romanos da Antiguidade, é polémica e já era contestada por autores do {{séc|XIX}}.<ref>[http://books.google.com/books?id=6aAWf2TBvNIC&printsec=frontcover&dq=subject:%22Celts%#PPA2,M1 Brown, Terence.Celticism. Royal Irish Academy, European Science Foundation pg2]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=EU7Z_jCXh5kC&pg=PA50&dq=term+%27Celt%27+meanings&lr=&as_brr=3&sig=D4qYebxycQfNoTY1TkSpCiO7yAY#PPA50,M1 Race and Practice in Archaeological Interpretation ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=3B0LFhbmkocC&pg=PA186&dq=the+celts+definition&lr=&as_brr=3&client=firefox-a&sig=sWyJV9GEf_AUKZPw6MWvsOsJidI#PPA186,M1 Archaeology and Ancient History: Breaking Down the Boundaries pg.186]</ref>

Segundo os [[Linguística|linguistas]], são celtas os povos que falaram ou falam uma [[Línguas celtas|língua celta]],<ref>[http://books.google.com/books?id=2PxFkzlzDvcC&pg=PA33&dq=the+Celts+are+speak&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U20JIxwtO-teWEbeh6OQOHFLLlqQg The Rise of the Celts pg33]</ref><ref>[http://books.google.com/booksid=G73f6pKxa70C&pg=PA81&dq=For+the+linguist,+the+Celts+are&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U1AbPMpO3EuIJnb_O9LM5J3WEbbAw The Atlantic Celts: Ancient People Or Modern Invention? Pg81]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=P93YLsvbHxMC&pg=PA157&dq=linguist+celts+are++speak+celtic+languages&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U02xcGyVEYWHo3AkdFXTSjhb26i9Q#PPA157,M1 Celtic Geographies: Old Culture, New Times pg157]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=bi1tP7tReP4C&pg=PA348&dq=never++called+Celts&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT&sig=ACfU3U3QUzMoEeYJj5oQh86BDUm6QovIEA A World History of Nineteenth-Century Archaeology: Nationalism, Colonialism, and the Past (Oxford Studies in the History of Archaeology) pg348 ]</ref> e, por associação, são celtas as terras onde eles vivem.<ref>Payton, Philip. Cornwall: A History - Page 36</ref> Segundo esta teoria, os povos celtas que deixaram de falar uma língua celta também deixaram de ser designados de celtas.

Em arqueologia determinou-se chamar ''celtas'' aos povos que partilham uma cultura material e um estilo de arte específico. Associam-se as culturas de [[Hallstatt]] e [[Cultura de La Tène|La Tène]] às culturas celtas e proto-celtas. Definem-se como celtas os povos das áreas da Europa continental, da Irlanda e das Ilhas Britânicas que partilharam estas culturas.<ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA1464&dq=proto+celtic+culture&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U1HEALo4Gzr4RYXFrJhSFFbxtwWwA Celtic Culture: A Historical Encyclopedia pg 1464 ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=SZEkg7k0RysC&pg=RA1-PA173&dq=celtic+term+in+archaeology&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U2RqL3NOkMBCLLpz0Nbc2QfzRYrYg Cultural Identity and Archaeology pg 173 ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=olv7LzKg0CEC&pg=PA140&dq=archaeologists+celtic+is&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U00Re0e4P-aej6lqoU3qNmn2DgPJg#PPA141,M1 A Dictionary of Archaeology pg 141 ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA386&dq=archeology+celtic&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U2ZvDFg4jvtxwX4hK5P5Zqv98GFAQ#PPA386,M1 Celtic Culture: A Historical Encyclopedia pg 386 ]</ref>

== A localização dos Celtas segundo os autores da Antiguidade ==
[[Imagem:Dying gaul.jpg|thumb|esquerda|''[[O gaulês moribundo]]'', cópia romana em mármore de uma [[escultura helenística]] do {{-séc|III}}, famosa representação de um celta. [[Museus Capitolinos]], Roma]]

O mais antigo documento, que nos dá notícia de celtas, é um roteiro [[fenício]] do século VI a.C., utilizado por [[Avieno]] na sua [[Ora marítima]]. Neste roteiro, que compreende a viagem entre a ilha de [[Tartesso]], na foz do Bætis, e as ilhas britânicas, são mencionados os povos que ocupavam então o sudoeste e poente da Espanha, a Inglaterra e a Irlanda. No sul da Inglaterra conhece o nosso documento uns [[lígures]], que haviam primitivamente habitado nas regiões geladas da Ursa, sendo daí expulsos pelos celtas, depois de tentarem debalde resistir aos invasores. A invasão céltica tinha sido feita por mar, pois que, já refugiados na Inglaterra, os lígures viveram muito tempo embrenhados pelos montes, sem ousar chegar-se à praia, “porque o seu antigo desastre os fazia olhar o mar com susto”. Receavam portanto uma nova invasão marítima, que desta vez só lhes podia vir da Morínia. A antiga pátria dos lígures, nas regiões geladas da Ursa, e numa posição sujeita a uma agressão por mar, não pode ser colocada senão nas margens do Báltico, em frente da Escandinávia, sendo da Escandinávia — a vagina nationum, de Jornandes — que, segundo este velho documento descem os emigrantes célticos, que fazem a sua aparição no mundo conhecido dos antigos.<ref>SARMENTO; Francisco Martins, Os Lusitanos — Questões de Etnologia, Ed. do Autor. — Typ. Silva Teixeira, Porto, 1880 http://www.csarmento.uminho.pt/docs/sms/obra/FMSDispersos_008.pdf pag. 2</ref>

* {{-séc|VI}}

Os celtas são referidos pela primeira vez na [[literatura grega]] por [[Hecateu de Mileto]]. Da sua obra sobrevivem fragmentos muito curtos sobre os celtas: escreve que o país celta fica perto de [[Marselha|Messália]], uma colónia de comerciantes gregos e refere-se a [[Narbona]] como cidade de comércio celta e a [[Nirax]] como cidade celta.

{{quote2|Massália: cidade da Ligúria perto do país celta, uma colónia dos foceus. Narbona: centro de comércio e cidade dos celtas. Nírax: cidade celta.}}

* {{-séc|V}}<ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA898&dq=hecataeus+of+miletus+massalia&hl=en&ei=BAwcTPOuBuKJOOKyjcMM&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CDcQ6AEwAw#v=onepage&q=hecataeus%20of%20miletus%20massalia&f=false pg 898]</ref>

Segundo [[Heródoto]], a localização dos celtas era para além dos [[Pilares de Hércules]] e vizinha dos [[Cônios]].

{{quote2|Os Celtas vivem para além dos [[colunas de Hércules|Pilares de Hércules]], sendo vizinhos dos cinésios e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa".|[[Heródoto]], II, 33<ref>[http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_11/gamito_6_11.html]</ref>}}

{{quote2|O rio [[Danúbio|Ister]] nasce na terra dos celtas na cidade de [[Pyrene]] e percorre o centro da Europa. Os celtas vivem além das [[colunas de Hércules]], sendo vizinhos do cinésios e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa. E assim, se estendem por toda a Europa até às fronteiras da [[Cítia]].|[[Heródoto]], IV, 49<ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA907&lpg=PA907&dq=herodotus+city+of+pyrene&source=bl&ots=p_YAhgAwYI&sig=GliBhCo2HYQpg5gB1sh7uqlFxRs&hl=en&ei=KY8bTJf0IcWF4QaD-KixCg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CBoQ6AEwAg#v=onepage&q=herodotus%20city%20of%20pyrene&f=false pg 907]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=yIDC97iYraUC&pg=PA90&lpg=PA90&dq=Herodotus+the+city+of+Pyrene&source=bl&ots=qlqw6f8af_&sig=8FMygfyvrz91ukI5D5jasSsxnZw&hl=en&ei=LYwbTKamIM-r4QbD6_yXCg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CCsQ6AEwBg#v=onepage&q&f=false pg90]</ref><ref>[http://www.sacred-texts.com/cla/hh/hh4040.htm]</ref>}}

* {{-séc|III}}

[[Eratóstenes]] situava os celtas na parte ocidental da Europa, segundo o comentário de [[Estrabão]].

{{quote2|[[Eratóstenes]] diz que até [[Cádis|Gades]], o exterior (SC. da Ibéria) é habitado pelos [[gálatas]]; e se a parte ocidental da Europa é ocupada por eles, esqueceu-se deles na sua descrição da Ibéria, nunca faz menção aos gálatas.}}

* {{-séc|I}}

[[Diodoro]] refere a diferença das denominações dada aos celtas por romanos e gregos.

{{quote2|E agora, será útil fazer uma distinção que é desconhecida de muitos: Os povos que habitam no interior, acima de Massalia, os das encostas dos Alpes, e os deste lado das montanhas dos Pirenéus são chamados celtas, ao passo que os povos que estão estabelecidos acima desta terra [[Céltica]], nas partes que se estendem para o norte, ambas ao longo do oceano e ao longo da [[Montanha Hercinia]], e todos os povos que vêm depois destas, tão longe como [[Cítia]], são conhecidos como gauleses, os romanos, no entanto, incluem todas estas nações juntando-as debaixo de um único nome, chamando-as a uma, e a todos [[gauleses]].|[[Diodoro Sículo]]<ref>[http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Diodorus_Siculus/5B*.html Diodorus Siculus- The Library of History - Book V-32]</ref>}}

; Sobre a terra dos Celtas
A primeira referência à terra dos celtas, Céltica, é provavelmente do geógrafo [[Timageto]].

{{quote2|[...] o Fásis [e o Istro] procedem dos [[montes Ripeos]], que são da terra céltica, e logo vão desaguar numa lagoa dos celtas}}

Estrabão indica a informação que [[Éforo de Cime|Éforo]] possuía sobre a terra dos celtas.

{{quote2|Ephorus, em seus relatos, faz [[Céltica]] tão excessiva em seu tamanho, que ele atribui às regiões da Céltica a maioria das regiões, tão longe quanto [[Cadiz|Gades]], no que hoje chamamos [[Península Ibérica]]"''.|[[Estrabão]], IV, 4, 6}}

== Demografia ==
As origens dos povos celtas são motivo de [[controvérsia]], especulando-se que entre 1900 e 1500 a.C. tenham surgido da fusão de descendentes dos agricultores [[Danúbio|danubianos]] [[neolítico]]s e de povos de pastores oriundos das [[estepes]].<ref>A.H.N.(1964). ''Celtas'' in "Enciclopédia Barsa". Vol. 4, p. 181-2. Rio de Janeiro, São Paulo: Encyclopædia Britannica Editores Ltda.</ref> Esta incerteza deriva da complexidade e diversidade dos povos celtas, que além de englobarem grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias. Na [[Península Ibérica]], por exemplo, parte da população celta se misturou aos [[ibero]]s, o que resultou no surgimento dos [[Celtiberia|celtiberos]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=xh1a7SLBt2oC&pg=PA3&dq=celtici+celts+celtiberians+pure&as_brr=3&sig=EtQqMoi9rLR2y3EhJX55mIskjsQ&hl=pt-PT|título=A History of Spain from the Earliest Times to the Death of Ferdinand the Catholic|ultimo=Burke|primeiro=Ulick Ralph|data=2006-02|editora=Read Books|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=9y0BAAAAQAAJ&pg=PA1087&dq=celtici+celts+celtiberians+pure&as_brr=3&hl=pt-PT|título=Dictionary of Greek and Roman Geography: Abacaenum-Hytanis. 1854. v. 2 Iabadius-Zymethus. 1857|ultimo=Smith|primeiro=William|data=1854|editora=Walton & Maberly|lingua=en}}</ref>

Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 por [[Daniel Bradley]],<ref>[http://www.breakingnews.ie/2004/09/09/story165780.html Geneticists find Celtic links to Spain and Portugal]</ref> do Trinity College de [[Dublin]], demonstraram que os laços [[gene|genéticos]] entre os habitantes de áreas célticas como [[Gales]], [[Escócia]], [[Irlanda]], [[Bretanha]] e [[Cornualha]] são muito fortes e trouxeram uma novidade: a de que, de entre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais próximos destes eram encontrados na [[Península Ibérica]].

Daniel Bradley explicou que a sua equipa propunha uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do [[Atlântico]]: há pelo menos 6000 anos ou até antes disso. Os grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do Noroeste europeu teriam saído da costa atlântica da Península Ibérica nos finais da última [[Idade do Gelo]] e ocupada as terras recém-libertadas da cobertura glacial no Noroeste europeu, expandindo-se depois para as áreas continentais mais distantes do mar.

O geneticista [[Bryan Sykes]] confirma esta teoria no seu livro ''Blood of the Isles'' (2006), a partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipa de geneticistas da [[Universidade de Oxford]]. O estudo analisou amostras de [[ADN]] recolhidas de {{fmtn|10000}} voluntários<ref>[http://news.independent.co.uk/uk/this_britain/article1621766.ece Adams, Guy (2006). ''Celts descended from Spanish fishermen, study finds''. The independent.]</ref> do Reino Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, — escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da Península Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4000 e 5000 a.C.<ref>[http://thescotsman.scotsman.com/index.cfm?id=1393742006 JohnSton, Ian (2006). ''We're nearly all Celts under the skin''.The Scotsman]</ref><ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15224.shtml Estudo conclui que britânicos descendem de espanhóis. France Presse, em Londres. Folha Online]</ref>

Outro geneticista da Universidade de Oxford, [[Stephen Oppenheimer]], corrobora esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na [[Europa Central]], mas entre os povos que se refugiaram na [[Península Ibérica]] durante a última [[Idade do Gelo]].<ref>[http://www.ft.com/cms/s/6921f5fa-6d67-11db-8725-0000779e2340.html Cookson, Clive (2006). ''Pedigree chums''. Financial Times.]</ref>

Estudos da [[Universidade do País de Gales]] defendem que as [[Escritas paleo-hispânicas|inscrições]] encontradas em [[Estela (monumento)|estelas]] no sudoeste da Península Ibérica demonstram que os celtas do [[País de Gales]] vieram do [[sul]] de Portugal e do [[sudoeste]] de Espanha.<ref>[http://icwales.icnetwork.co.uk/news/wales-news/2008/05/05/our-celtic-roots-lie-in-spain-and-portugal-91466-20863971/ Our Celtic roots lie in Spain and Portugal] - [[icWales]] {{en}}</ref><ref>[http://www.aber.ac.uk/aberonline/en/archive/2008/05/au7608/ ‘People called Keltoi, the La Tène Style, and ancient Celtic languages: the threefold Celts in the light of geography’]. [[Aber News]] {{en}}</ref>

== História ==
[[Imagem:Celtic expansion.PNG|thumb|250px|Distribuição dos celtas na [[Europa]]]]
=== As origens ===
{{VT|Proto-Indo-Europeus|Cultura de La Tène|Cultura de Hallstatt|Protoceltas}}
[[Arquivo:La Tène Culture.jpg|thumb|upright=1.8|A área original da [[cultura La Tène]] no [[século V aC]], comumente considerada o [[Urheimat|berço]] do povo Celta{{sfn|Villar 1997|p. 445}}.]]

[[Arqueologia|Arqueólogos]] e [[linguística|linguistas]] concordam, por uma grande maioria, em identificar os celtas com os povos que trouxeram a cultura La Tène, que se desenvolveu durante a [[Idade do Ferro]] a partir da anterior [[Cultura de Hallstatt]]. Esta identificação permite-nos identificar a [[Urheimat|pátria original]] dos celtas numa área entre o alto [[Reno (Alemanha)|Reno]] (de ''Renos'', palavra de origem celta cujo significado é "maré"<ref name="Ellis23">{{sfn|Ellis 1997|p. 23}}.</ref>) e as fontes do [[Danúbio]] (do celta ''Danuvius'', cujo significado é "fluxo rápido"<ref name="Ellis23" />), entre o atual sul da [[Alemanha]], leste da [[França]] e norte da [[Suíça]]: aqui os [[Protoceltas]] são consolidados como um povo, com a sua própria [[proto-céltico|língua ]], evolução linear de um vasto ''continuum'' de povos [[indo-europeu|indo-europeus]] estendido pela [[Europa Central]] desde o início do [[III milénio a.C.]]<ref name="Villar443-444">{{sfn|Villar 1997|pp. 443-444}}.</ref>

Alguns estudiosos levantaram a hipótese de que os primeiros celtas colonizaram as Ilhas Britânicas já no período [[Calcolítico]] ([[Cultura do Vaso Campaniforme]]).<ref>[[James Patrick Mallory]], [[Douglas Q. Adams] ] , ''[[Enciclopédia da Cultura Indo-Europeia]]'', p. 55.</ref>

Na área de La Tène tem havido continuidade na evolução cultural desde os tempos da [[Cultura dos campos de urnas]] (a partir do [[Século VIII a.C.]]<ref>{{sfn|Ellis 1997|pp. 19 ff}}.</ref>). No início do século VIII a.C. estabeleceu-se a cultura de Hallstatt, a civilização proto-céltica que já apresentava as primeiras características culturais que mais tarde se tornariam típicas da cultura celta clássica. O nome deriva de um [[Hallstatt|importante sítio arqueológico austríaco]] a cerca de cinquenta quilómetros de [[Salzburgo]]. A Cultura de Hallstatt, com base agrícola, mas dominada por uma classe guerreira, fazia parte de uma rede comercial bastante grande envolvendo [[Grécia Antiga|Gregos]], [[Citas]] e [[Etruscos]]. É a partir desta civilização do centro-oeste da Europa que, por volta do século V a.C., a própria cultura celta se desenvolveu de forma ineterrupta: na terminologia arqueológica, a Cultura La Tène.

=== Expansão para a Europa ===
A identificação dos celtas com a cultura Hallstatt-La Tène permite, com base em achados arqueológicos, traçar um retrato do seu processo de expansão a partir da estreita área do centro-oeste da Europa em que se cristalizaram como povo. A penetração na Península Ibérica e ao longo das costas atlânticas da actual França remonta, portanto, ao [[século VIII a.C.|VIII]]-[[século VII a.C.]], ainda na era Hallstattiana. Mais tarde, quando já haviam desenvolvido a Cultura La Tène, chegaram ao [[Canal da Mancha]], à foz do Reno, onde hoje é o noroeste da Alemanha e as Ilhas Britânicas; posteriormente ocorreu a expansão para as atuais [[Boêmia]], [[Hungria]] e [[Áustria]]. Contemporâneos destes últimos movimentos foram os assentamentos, já registados por fontes históricas, no [[norte da Itália]] e, em parte da [[Itália central]] (início do [[século IV a.C.]]) e na [[Península Balcânica]]. No [[século III a.C.|século III]] o grupo dos Gálatas passou da [[Trácia]] para a Anatólia, onde se estabeleceram definitivamente<ref name="Villar444">{{sfn|Villar 1997|p. 444}}.</ref>. O avanço foi favorecido principalmente pela superioridade técnica das armas possuídas pela belicosa aristocracia guerreira, que orientou esses povos durante as suas migrações.

=== Teoria centro-europeia ===
{{sem-fontes}}
A área verde na imagem sugere a possível extensão da área (proto-)céltica por volta de 1000 a.C. A área laranja indica a região de nascimento da [[cultura de La Tène]] e a área vermelha indica a possível região sob influência céltica por volta de {{AC|400|x}} Vestígios associados à cultura celta remontam a pelo menos {{AC|800|x}}, no Sul da [[Alemanha]] e no Oeste dos [[Alpes]]. Todavia, é muito provável que o grupo étnico celta já estivesse presente na [[Europa Central]] há centenas ou milhares de anos antes desse período.

Durante a primeira fase da [[Idade do Ferro]] céltica (do {{séc|VIII}} ao {{AC|V|x}}), as sepulturas encontradas pelos [[Arqueologia|arqueólogos]] indicam o surgimento de uma nova aristocracia e de uma crescente [[estratificação social]]. Essa estratificação aprofundou-se a partir do {{-séc|VI}}, quando grupos do Norte da Europa e da região oeste dos Alpes entraram em contato comercial com as colónias [[Grécia Antiga|gregas]] fundadas no [[Mediterrâneo]] Ocidental.

O intercâmbio com os gregos, que chamavam aos celtas indistintamente ''keltoi'', é evidenciado pelas finas peças de [[cerâmica]] gregas encontradas nos túmulos. É igualmente provável que os gregos tenham adoptado o costume de armazenar o [[vinho]] em vasos de cerâmica após os contactos com os celtas, que já os utilizavam como forma de armazenamento de provisões.

[[Imagem:Gallia cisalpina.jpg|thumb|250px|'''[[Gália Cisalpina]]''' 391-{{AC|192|x}}]]

Os objectos inumados das sepulturas comprovam que o comércio dos celtas se estendia a regiões ainda mais afastadas, tendo sido encontradas peças de [[bronze]] de origem [[Etruscos|etrusca]] e tecidos de [[seda]] seguramente oriundos da [[China]].

A partir do {{-séc|V}}, verifica-se um deslocamento dos centros urbanos celtas, até então localizados ao longo dos rios [[Ródano]], [[Rio Saona|Saona]] e [[Danúbio]], evento associado a segunda fase da [[Idade do Ferro]] europeia e ao desenvolvimento artístico da cultura ''La Tène''. As sepulturas deste período apresentam armas e carros de combate, embora sejam menos ricas do que as do período pacífico anterior, provavelmente, reflexo da sua fase de maior expansão, quando invadiram o Sul da Europa após {{AC|400|x}}.

Em {{AC|390|x}} os celtas [[Invasão gaulesa de Roma|invadiram a parte central da Itália e saquearam Roma]]. Por volta de {{AC|279|x}}, [[Invasão gaulesa dos Bálcãs|invadiram a região da Grécia antiga]] e pilharam [[Delfos]]. As hostes celtas conquistaram territórios na [[Ásia Menor]], nos [[Bálcãs]] e no norte da Itália, o contingente mais numeroso de celtas era o dos [[gauleses]].

A partir do {{-séc|II}}, os celtas começam a perder território para os povos de língua germânica, e os [[Roma antiga|romanos]], pouco a pouco, conseguem dominá-los, o que consolidam a partir de {{AC|192|x}}, quando anexam a Gália Cisalpina ao [[Império Romano]].

Os golpes finais na dominância celta ocorrem no {{-séc|I}}, quando [[Júlio César]] conquista a Gália, e no {{+séc|I}}, quando o imperador [[Cláudio]] domina a [[Britânia (província romana)|Bretanha]]. Somente a [[Irlanda]] e o norte da [[Escócia]], onde viviam os ''escotos'', permaneceram fora da zona de influência directa do Império Romano.

=== Críticas ===
Críticos afirmam que não há qualquer evidência linguística, arqueológica ou genética que comprove que as regiões onde se originaram as culturas Hallstatt ou La Tène sejam o local de origem dos povos celtas. Indicam que este conceito deriva de um erro feito pelo historiador [[Heródoto]] há 2500 anos, num comentário sobre os celtas, onde os localizava na nascente do [[rio Danúbio]], a qual ele julgava ser perto dos [[Pirenéus]].

Este erro foi depois mais tarde, em fins do {{séc|XIX}}, aproveitado pelo historiador francês Marie Henri d'Arbois de Jubainville para basear a sua teoria de que Heródoto queria dizer que a terra original dos celtas era no sul da Alemanha.<ref>[http://www.prospectmagazine.co.uk/2006/10/mythsofbritishancestry/ Oppenheimer,Stephen.''Myths of British ancestry''. "Prospect Magazine", Nº 127, outubro de 2006]{{en}}</ref><ref>[http://www.timeshighereducation.co.uk/story.asp?storycode=146663 Cunliffe, Barry. Con on the barbarian. times Higher Education]</ref>

=== Teoria da idade do bronze atlântica ===
Segundo esta teoria, os celtas teriam origem no norte e ocidente da [[Península Ibérica]]. Baseia-se na evidência histórica, de que Heródoto localizava os celtas na [[Ibéria]] e dizia que eram vizinhos dos [[cónios]] localizados na atual região do [[Algarve]]; na hipótese da língua [[Escrita do sudoeste|tartéssia]] ser uma língua celta, o que indicaria que as línguas celtas se teriam originado na zona atlântica durante a [[Idade do Bronze]]; e em evidências genéticas.<ref>[http://www.wales.ac.uk/Resources/Documents/Research/ODonnell.pdf O´Donnel lectures 2008. Apendix A]{{en}}</ref><ref>[http://www.oxbowbooks.com/bookinfo.cfm/ID/88298//Location/DBBCCeltic from the West: Alternative Perspectives from Archaeology, Genetics, Language and Literature]{{en}}</ref><ref>[http://www.gwales.com/goto/biblio/cy/9781891271175/ Koch, John. Tartessian - Celtic in the South-West at the Dawn of History]{{en}}</ref><ref>[http://uhblog.ulsterheritage.com/2009/07/atlantic-zone-celts.html The Atlantic Zone Celts. Ulster Heritage Magazine]{{en}}</ref>

== Língua e cultura ==
[[Imagem:Celtic ornament.jpg|thumb|250px|Ornamento celta da [[Idade do Ferro]] (''Museu Nacional da Antiguidade'', [[Saint-Germain-en-Laye]], [[França]])]]

=== Língua ===
As [[línguas célticas]] derivam de dois ramos [[Língua indo-europeia|indo-europeus]] do grupo denominado ''centum'': o celta-Q ([[Línguas goidélicas|goidélico]]), mais antigo, do qual derivam o [[língua irlandesa|irlandês]], o [[língua gaélica escocesa|gaélico]] da [[Escócia]] e a [[língua manx]] da [[Ilha de Man]], e o celta-P ([[Línguas galo-britânicas|galo-britânico]]), falado pelos [[gauleses]] e pelos habitantes da Bretanha, cujos descendentes modernos são o [[língua galesa|galês]] (do [[País de Gales]]) e o [[língua bretã|bretão]] (na [[Bretanha]]). Os registos mais antigos escritos numa língua celta datam do {{-séc|VI}}.<ref>[http://books.google.com/books?id=afsDrP9K3pQC&pg=PA32&dq=the+oldest+records+the+word+celt&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U0psBJUV24N2sG-Yin7Xfp6u4t2VQ The Foundations of Latin: foundations of Latin Tilsm 117. pg 32]</ref>

As informações actualmente disponíveis sobre os celtas foram obtidas principalmente através do testemunho dos autores greco-romanos. Isto não permite traçar um quadro completo e imparcial do que foi a realidade quotidiana desses povos.

O chamado "alfabeto das árvores" ou ''[[Ogham]]'' surgiu apenas por volta de 400.<ref>[http://books.google.com/books?id=vn0g6ItICtUC&printsec=frontcover&dq=ogham&lr=&as_brr=3&sig=VjY9Z5l7pLJBJ-Q8KNKiZaiCuTo#PPA1,M1 The Celtic Inscriptions of Britain: Phonology and Chronology, C.400-1200]</ref>

[[Edward Lhuyd]] identificou em 1707 uma [[Família linguística|família de línguas]] ao notar a semelhança entre o [[Língua irlandesa|irlandês]], o [[Língua bretã|bretão]], o [[Língua córnica|córnico]] e o [[Língua galesa|galês]] e a extinta [[língua gaulesa]], as quais classificou como ''[[línguas celtas]]''. Lhuyd justificou o uso da expressão pelo fato de estas pertencerem à mesma família linguística do gaulês e a língua gaulesa e a maioria das tribos gaulesas terem sido chamadas de celtas.<ref>[http://books.google.com/books?id=-KmhFOHixXYC&pg=PA122&dq=celtiberian+celtic+celts+celtic&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U18-NRfDec44NdxemsWEUrHKwUiKA Globalization and Europe pg122]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=7cgUAAAAYAAJ&pg=PA200&dq=celtic+in+archaeology&lr=&as_brr=3 The Anthropological Review pg200]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=aTsusrwDxgkC&pg=PA125&dq=celtic+term+in+archaeology&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U3CMnF02WEEW20MpzUp9K-bQUGqzw The Peopling of Britain: The Shaping of a Human Landscape pg125]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=SZEkg7k0RysC&pg=RA1-PA173&dq=celtic+term+in+archaeology&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U2RqL3NOkMBCLLpz0Nbc2QfzRYrYg#PRA1-PA132,M1 Cultural Identity and Archaeology pg132]</ref>

Fontes clássicas e arqueológicas atestam que os celtas faziam uso limitado da escrita. [[Júlio César]], no ''[[De Bello Gallico]]'', comentou que os [[helvécios]] usavam o [[alfabeto grego]] para registar o [[Censo demográfico|censo]] da população e que os druidas se recusavam a registar por escrito os [[verso]]s, mas que faziam uso do alfabeto grego para as transacções públicas e pessoais.<ref>[http://classics.mit.edu/Caesar/gallic.6.6.html The Gallic Wars]</ref> [[Diodoro Sículo|Diodoro]] disse que nos funerais os gauleses escreviam cartas aos amigos, e atiravam-nas para a [[pira|pira funerária]], como se elas pudessem ser lidas pelos defuntos.<ref>[http://books.google.com/books?id=agd-eLVNRMMC&printsec=titlepage#PPA314,M1 The Historical Library of Diodorus the Sicilian: In Fifteen Books.pg 314]</ref> Já [[Ulpiano]] determina que os ''[[fidei comunis]]'' podiam ser escritos em gaulês, entre outras línguas, o que gerou especulações de que no {{séc|III}} esta língua ainda seria escrita e falada.<ref>[http://books.google.com/books?id=P6I2AAAAMAAJ&pg=PA91&dq=celtic+cesar#PPA96,M1 Cambrian Quarterly Magazine and Celtic Repertory pg96]</ref>

O alfabeto [[Escrita Ibérica Levantina|ibérico]] foi usado para registar o [[Línguas celtibéricas|celtibéro]], uma língua celta da Península Ibérica. O alfabeto de [[Lugano]] e [[Sondrio]] foi usado na [[Gália Cisalpina]] e o alfabeto grego na [[Gália Transalpina]]. Variações do [[alfabeto latino]] foram usadas na Península Ibérica e na Gália Transalpina.<ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA1594&dq=celt+write+greek+script+iberian&lr=&as_brr=3&sig=ACfU3U1KjB-ZR_pGzqUr-5BxXUROmOcu8g#PPA1594,M1 Celtic Culture: A Historical Encyclopedia pgs 847-1594]</ref> Estudos colocam a hipótese de haver uma relação entre as inscrições de Glozel e um dialecto celta.

=== Arte ===
As manifestações artísticas celtas possuem marcante originalidade, embora denotem influências asiáticas e das civilizações do [[Mediterrâneo]] ([[Grécia Antiga|grega]], [[etruscos|etrusca]] e [[Roma Antiga|romana]]). Há uma nítida tendência abstrata na decoração de peças, com figuras em espiral, volutas e desenhos geométricos. Entre os objectos inumados, destacam-se peças ricamente adornadas em [[bronze]], [[prata]] e [[ouro]], com incisões, relevos e motivos entalhados. A influência da arte celta está ainda presente nas [[iluminura]]s medievais irlandesas e em muitas manifestações do [[folclore]] do noroeste europeu, na música e arquitectura de boa parte da [[Europa ocidental]]. Também muitos dos [[conto]]s e mitos populares do ocidente europeu têm origem na cultura dos celtas.

Alguns [[estereótipo]]s modernos e contemporâneos foram associados à cultura dos celtas, como imagens de guerreiros usando capacetes com chifres<ref>[http://books.google.com/books?id=T7cOAAAAQAAJ&pg=PA43&dq=in+some+cases+horns+are+attached+so+as+to+form+one+piece&as_brr=3&sig=ACfU3U1r20bHlHVUmTBjB3Al4sepYmYxOw The Celtic World PG43]</ref> e ou asas laterais (vide [[Astérix]]),<ref>[http://books.google.com/books?id=SZkUAAAAYAAJ&pg=PA129&dq=gaulish+winged+helmet&lr=&as_brr=3#PPA129,M1 Ancient Coins of Cities and Princes, Geographically Arranged and Described ]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=rztlAAAAIAAJ&pg=RA1-PA294&dq=statue+winged+helmet+gaul&lr=&as_brr=3#PRA1-PA295,M1 Iconographic encyclopaedia of science, literature, and art pg295]</ref> comemorações de festas com taças feitas de [[crânio]]s dos inimigos,<ref>[http://books.google.com/books?id=f899xH_quaMC&pg=PA1611&dq=celtic+skull+cup&sig=ACfU3U1TI-1Sr4MmSc9Uojl85Y8nQDL4kQ Celtic Culture: A Historical Encyclopedia pg1611]</ref> entre outros. Essas imagens são devidas em parte ao conhecimento divulgado sobre os celtas durante o {{séc|XIX}}.

[[Diógenes Laércio]], na sua obra ''Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres'', comenta que a origem do estudo da [[filosofia]] era atribuída aos celtas, (entre outros povos considerados [[bárbaros]]). O conhecimento da filosofia era atribuído aos [[druida]]s e aos semnóteos (''semnothei'').<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=9-YFAAAAQAAJ&printsec=frontcover&dq=diogenes+laertius&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=The Lives and Opinions of Eminent Philosophers|ultimo=Diogenes (Laertius)|ultimo2=Laertius|primeiro2=Diogenes|data=1853|editora=H. G. Bohn|lingua=en}}</ref>

[[Marselha|Massália]] era um conhecido centro de aprendizagem onde os celtas iam aprender a [[cultura grega]], a ler e a escrever.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=tJIfAAAAMAAJ&pg=PA294&dq=massalia++learning&as_brr=3&hl=pt-PT|título=Dictionary of Greek and Roman Geography: Isabadius-Zymethus. 1857|ultimo=Smith|primeiro=William|data=1857|editora=Walton and Maberly|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=WJbd0m6YaFkC&pg=PA726&dq=celts+massalia+learning&lr=&as_brr=3&ei=tdW7SbfpL46yMJqN-aUL&hl=pt-PT|título=A History of Ancient Greek: From the Beginnings to Late Antiquity|ultimo=Christidis|primeiro=A.-F.|ultimo2=Arapopoulou|primeiro2=Maria|ultimo3=Χρίτη|primeiro3=Μαρία|data=2007-01-11|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref>

Entre os eruditos da antiguidade de origem celta ou oriundos das regiões celtas são conhecidos [[Pompeu Trogo|Gneu Pompeu Trogo]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=TIYMAAAAYAAJ&pg=PA151&dq=Marcus+Antonius+Gnipho&as_brr=3&hl=pt-PT|título=A Classical Dictionary: Containing an Account of the Principal Proper Names Mentioned in Ancient Authors and Intended to Elucidate All the Important Points Connected with Geography, History, Biography, Mythology, and Fine Arts of the Greeks and Romans ; Together with an Account of Coins, Weights, and Measures, with Tabular Values of the Same|ultimo=Anthon|primeiro=Charles|data=1855|editora=Harper & Brothers|lingua=en}}</ref> [[Marcelo Empírico]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=bhMDAAAAQAAJ&pg=PA177&dq=Marcellus+Empiricus+gaul&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=The Medical Profession in Ancient Times. An Anniversary Discourse, Etc|ultimo=Watson|primeiro=John|data=1856|editora=The Academy|lingua=en}}</ref> [[Públio Valério Catão]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=NJGp_dkXnuUC&pg=PA140&dq=Publius+Valerius+Cato&lr=&as_brr=3&ei=leW7SY2rH5DoyAS-yNn0Cw&hl=pt-PT|título=Latin Literature: A History|ultimo=Conte|primeiro=Gian Biagio|data=1999-11-19|editora=JHU Press|lingua=en}}</ref> [[Marco Antônio Gnífon]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=TIYMAAAAYAAJ&pg=PA151&dq=Marcus+Antonius+Gnipho&as_brr=3&hl=pt-PT|título=A Classical Dictionary: Containing an Account of the Principal Proper Names Mentioned in Ancient Authors and Intended to Elucidate All the Important Points Connected with Geography, History, Biography, Mythology, and Fine Arts of the Greeks and Romans ; Together with an Account of Coins, Weights, and Measures, with Tabular Values of the Same|ultimo=Anthon|primeiro=Charles|data=1855|editora=Harper & Brothers|lingua=en}}</ref> [[Cornélio Galo]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=s2nYkd8Zc7kC&pg=PA119&dq=cornellius+gallus+gaul&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=Tiberius the Tyrant|ultimo=Tarver|primeiro=John Charles|data=2008-12|editora=BiblioBazaar|lingua=en}}</ref> [[Rutílio Cláudio Namaciano]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=NJGp_dkXnuUC&pg=PA705&dq=Rutilius+gaul&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=Latin Literature: A History|ultimo=Conte|primeiro=Gian Biagio|data=1999-11-19|editora=JHU Press|lingua=en}}</ref> [[Virgílio]], [[Víbio Galo]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=dt9WAAAAMAAJ&pg=PA444&dq=vibius+gallus&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=Bibliotheca Classica, Or, A Dictionary of All the Principal Names and Terms Relating to the Geography, Topography, History, Literature, and Mythology of Antiquity and of the Ancients: With a Chronological Table|ultimo=Lemprière|primeiro=John|data=1833|editora=W.E. Dean, printer|lingua=en}}</ref> [[Tito Lívio]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=q0BRw_1TJEgC&pg=RA1-PA48&dq=livy+cisalpine+gaul&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT|título=The Roman Historians|ultimo=Mellor|primeiro=Ronald|data=1999-01|editora=Routledge|lingua=en}}</ref> [[Cornélio Nepos]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=m4NfAAAAMAAJ&pg=PA9&dq=cornelius+nepos+gaul&lr=&hl=pt-PT|título=Justin, Cornelius Nepos, and Eutropius: Literally Translated with Notes and an Index|ultimo=Watson|primeiro=John Selby|data=1853|editora=H.G. Bohn|lingua=en}}</ref> e [[Sidônio Apolinário]].

== Organização social ==
[[Imagem:Maeve&druid.jpg|thumb|upright|esquerda|A rainha [[Maeve]] e um [[druida]] (ilustração de [[Stephen Reid]] para ''The Boys' Cuchulainn'' de [[Eleanor Hull]], 1904)]]

A unidade básica da sua organização social era o [[clã]], composto por famílias aparentadas que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado que apascentavam.

Com base em estudos efectuados na Irlanda, determinou-se que a sua organização política era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos, refugiados e [[escravo]]s. Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes ([[druida]]s), [[bardo]]s e [[ovado]]s, todos com grande influência sobre a sociedade.

Mais recentemente foram apresentadas novas perspectivas sobre a celtização do Noroeste de [[Portugal]] e a identidade étnica dos [[galaicos brácaros]] .<ref>Coutinhas, J.M. Porto. 2006</ref> No país, os povoados [[Castro|castrejos]] do tipo [[citânia|citaniense]] apresentavam características similares às dos povoados celtas. A [[citânia de Briteiros]] é exemplo de um povoado com características celtas, sendo, porém, necessário tomar esta designação no seu sentido lato: isto é - seria o local de habitação das numerosas tribos celtizadas (''celtici'').<ref>Cardozo, Mário. ''Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso''. 11.ª edição, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1990, p.13.</ref> [[Tongóbriga]] é um sítio arqueológico situado na freguesia de [[Freixo (Marco de Canaveses)|Freixo]], também antigo povoado dos galaicos brácaros.<ref>DIAS, Lino Augusto Tavares. ''Tongobriga''. Lisboa: IPPAR, 1997. ISBN 972-8087-36-5</ref>

=== Religião ===
{{Mitologia celta}}
{{Artigos principais|[[Politeísmo celta]], [[Mitologia céltica]], [[Druida]] e [[Homem de vime]]}}

Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza era a expressão máxima da [[Deusa-Mãe]]. A divindade máxima era feminina, a Deusa-Mãe, cuja manifestação era a própria natureza e por isso a sociedade celta, embora não fosse [[sociedade matriarcal|matriarcal]], mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da natureza.<ref>[http://www.misteriosantigos.com/celtas.htm ''Mistérios Antigos'', Celtas]</ref> A religião celta era [[Politeísmo|politeísta]] com características [[animismo|animistas]], sendo os ritos quase sempre realizados ao ar livre. Suspeita-se que algumas das suas cerimônias envolviam [[Sacrifício|sacrifícios humanos]]. O calendário anual possuía várias festas místicas, como o [[Imbolc]] e o [[Belthane]], assim como celebrações dos [[equinócio]]s e [[solstício]]s.

Embora se saiba que os celtas adoravam um grande número de divindades, do seu culto hoje pouco se conhece para além de alguns dos nomes. Tendo um fundo animista, a religião celta venerava múltiplas divindades associadas a atividades, fenómenos da natureza e coisas. Entre as divindades contavam-se [[Tailtiu]] e [[Macha (mitologia da Irlanda)|Macha]], as deusas da natureza, e [[Epona]], a deusa dos cavalos. Entre as divindades masculinas incluíam-se deuses como [[Goibiniu]], o fabricante de cerveja, e [[Tan Hill]], a divindade do fogo. O escritor romano [[Lucano]] faz menções a vários deuses celtas, como Taranis, Teutates e Eso, que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.

[[Imagem:Cernunnos.jpg|thumb|esquerda|upright|[[Cernuno]] (''Museu da Idade Média'', [[Paris]])]]

Algumas divindades eram variantes de outras, reflectindo a estrutura tribal e clânica dos povos celtas. A esta complexidade veio juntar-se a plêiade de divindades romanas, criando novas formas e designações. É nesse contexto que a deusa galo-romana dos cavalos, Epona, parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou ainda Macha, que era adorada na região do Ulster.

As crenças religiosa dos celtas também originaram muitos dos mitos europeus. Entre os mais conhecidos está o mito de Cernuno, também chamado de Slough Feg ou Cornífero na forma latinizada, comprovadamente um dos mitos mais antigos da Europa ocidental, mas do qual pouco se conhece.

Com a assimilação no [[Império Romano]], os deuses celtas perderam as suas características originais e passaram a ser identificados com as correspondentes divindades romanas. Posteriormente, com a ascensão do [[Cristianismo]], a [[Paganismo|Velha Religião]] foi sendo gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta, estando ainda hoje presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no cristianismo.<ref name="Celts">{{citar web|url=http://www.uwlax.edu/urc/jur-online/PDF/2008/grunke.pdf|título=The Effect of Christianity upon the British Celts|autor=Kimberly Rachel Grunke|formato=pdf|editor=University of Wisconsin-La Crosse|data=2008|acessodata=08-01-2014}}</ref>

Com a crescente secularização da sociedade europeia, surgiram [[Neopaganismo|movimentos neopagãos]] pouco expressivos, que buscam a adaptação aos novos tempos das crenças do paganismo antigo, sendo alguns dos principais representantes a [[wicca]] e os [[neodruidismo|neodruidas]], que, embora contenham alguns elementos celtas, não são célticos, nem representam a cultura do povo celta.

A wicca tem sua origem na obra de [[Ocultismo|ocultistas]] do {{séc|XX}}, como [[Gerald Gardner|Gerald Brousseau Gardner]] e [[Aleister Crowley]]. Já o [[neodruidismo]] não tem uma fonte única, sendo uma tentativa de reconstruir o druidismo da Antiguidade, tendo a sua estruturação sido iniciada em [[sociedades secretas]] da [[Grã-Bretanha]] a partir do {{séc|XVIII}}.

== Mitologia ==
{{Artigo principal|Mitologia celta}}
Consideram-se três as fontes principais sobre a mitologia celta, os autores greco-romanos, a arqueologia, e os documentos britânicos e irlandeses.

São riquíssimas as narrativas mitológicas celtas, principalmente as transmitidas oralmente em forma de [[poema]], como "''O Roubo de Gado em Cooley''". Nesta, o herói irlandês [[Cú Chulainn]] enfrenta as forças da rainha [[Maeve]] para defender o seu condado. Outra narrativa, do ''Livro das Invasões'' (''[[Lebor Gabala Erren]]''), conta a lenda dos filhos de [[Míle Espáine]] e o seu trajecto até chegarem à [[Irlanda]].

Outros legados dos celtas são as histórias do ''[[Ciclo arturiano|Ciclo do Rei Artur]]'' da Inglaterra e relatos míticos dos quais se originaram os [[contos de fadas]], como, por exemplo, ''[[Capuchinho Vermelho|Chapeuzinho Vermelho]]'' (onde a menina representa o [[Sol]] devorado pela noite do [[Inverno]], ou seja, o [[lobo]]).<ref>LURKER, Manfred. ''Hund und Wolf in ihrer Beziehung zum Tode'', 1969, p. 212.</ref>

== Figuras históricas ==
* [[Ambiorix]]
* [[Ambrósio]]
* [[Boadiceia]]
* [[Breno (século IV a.C.)|Breno]]
* [[Breogam]]
* [[Carataco]]
* [[Cartimândua]]
* [[Cassivelauno]]
* [[Catelo]]
* [[Cunobelino]]
* [[Vercingetórix]]
* [[Viriato]]

== Cidades históricas ==
* [[Alésia]]
* [[Armagh]]
* [[Bourges]]
*[[Bragança (Portugal)|Bragança]]
* [[Caerphilly]]
* [[Cardiff]]
* [[Carmarthen]]
*[[Corunha|La Coruña]]
* [[Numância]]
* [[Porto]]
* [[Tara (Irlanda)|Tara]]
* [[Tintagel]]

== Ver também ==
* [[Arte celta]]
* [[Celtismo]]
* [[Cultura de Hallstatt]]
* [[Cultura de La Tène]]
* [[Cultura castreja]]
* [[Línguas celtas]]
* [[Lista de tribos celtas]]
* [[Nações celtas]]
* [[Topónimos celtas em Portugal]]

{{Referências|col=2}}

== Bibliografia ==
* ''Atlas da História Universal'' (Times Books Ltds., Sociedad Comercial y Editorial Santiago Limitada, O Globo Ltda., Rio de Janeiro, 1995)
* ''Conhecer'', vol. III (Abril Cultural Ltda., São Paulo, 1970)
* Coutinhas, J. M. - "Callaeci Bracari - aproximação à identidade etno-cultural". Porto. 2006.
* Powell, T.G.E - ''The Celts'', ed. rev. (Thames & Hudson Publishers, Inc., Londres, 1959)
* {{Link|en|2=http://www.agal-gz.org/portugaliza/numero01/celt.pdf|3=The Longue ''Durée'' of Genetic Ancestry: Multiple Genetic Marker Systems and Celtic Origins on the Atlantic Facade of Europe}}
* "''Barbarians''", Episódio 1: "''The Primitive Celts''", documentário em 4 episódios de [[Terry Jones]], exibido pela [[BBC]], exibido no Brasil pela [[TV Escola]] (versão dublada), apresenta o [[Império Romano]] romanos a partir de uma perspectiva não-romana.

== Ligações externas ==
{{Commons|Celts}}
* {{Link|en|2=http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/index.html|3=''E-Keltoi''. Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula}}
* {{Link|pt|2=http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/Grecia/celtas.html |3=Celtas}}
* {{Link||2=http://www.arqueotavira.com/Mapas/Iberia/Populi.htm |3=Mapa pormenorizado dos Povos Pré-Romanos da Península Ibérica ({{AC|200|x}})}}
* {{Link|pt|2=http://citania.csarmento.uminho.pt/default.asp?language=1 |3=Citânia de Briteiros: visita virtual}}
* {{Link|it|2=http://www.terrediconfine.eu/i-celti-tra-storia-e-leggenda.html |3=I Celti tra storia e leggenda''}}
* {{Link|en|2=http://rokus01.wordpress.com/2010/04/19/the-celtic-origin-revise/# |3=The Celtic Origin Revised: the Atlantic View}}
* {{Link|en|2=http://celticscholar.wordpress.com/2011/03/08/an-introduction-to-theories-of-origin-and-definitions-of-the-celts/# |3=Theories of Origin and Definitions of the Celts}}

{{Impérios}}
{{Portal3|História|Estados extintos}}

{{DEFAULTSORT:Celtas}}
[[Categoria:Celtas| ]]