Desmontador (arma)

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Desmontador alemão do séc. XVII[1]

O desmontador[2][3] ou derrubador[4] é uma arma de haste medieval, não-letal, mormente utilizada de feição a capturar o alvo, geralmente cavaleiros, pelo pescoço, de maneira a atirá-lo da cavalgadura abaixo. Foi usada durante o período medieval, tendo conhecido pontual utilização até ao séc. XVIII.[5]

Feitio[editar | editar código-fonte]

Derrubadores japoneses

No que respeita à sua configuração, o desmontador consistia numa haste (um cabo de madeira) que encabava em dois dentes metálicos semicirculares ou em forma de V, seguros pelas pontas por uma mola, de maneira a formar um anel ou coleira que cingia o adversário pelo pescoço ou, nalguns exemplares adaptados, pelo tronco, pelas pernas ou pelos braços, de maneira a imobilizá-lo.[6]

Por vezes, encontrava-se guarnecida de espigões e puas, na parte de dentro do anel, que se cravavam no pescoço do cavaleiro, por molde a desencorajá-lo de tentar resistir contra a sua captura, sob risco de se ferir gravemente.[7][1]

Os feitios dos derrubadores alternavam consoante o país.[8]

Uso[editar | editar código-fonte]

Em França e em vários pontos da Europa Central do século XIV, o uso do derrubador popularizou-se no âmbito das ciladas e raptos de fidalgos e cavaleiros, porquanto se podiam tirar rendosos proveitos dos resgates exigidos aos familiares e suseranos dos reféns.[9]

Nas crónicas de Jean Froissart,[10] de 1388, faz-se exactamente uma denúncia a esse tipo de práticas criminosas, em que os raptores usavam este tipo de implementos, que em francês medieval davam pelo nome de désarçonneurs[3][4].

Como reacção começaram a surgir armaduras com gorjal e outras protecções de pescoço, por molde a dar algum resguardo aos cavaleiros.[7] Porém, os derrubadores, com o tempo também se foram adaptando, passando a servir-se, como contra-reacção, de puas e espigões no interior do anel que encoleira o cavaleiro, de modo a perfurar a armadura e a segurar a vítima mais firmemente.[1]

Ulteriormente, os derrubadores continuaram a ser usados, na Prússia do séc. XVIII, se bem que já não às mãos de marginais, mas antes como instrumento de captura de desertores e foragidos da lei, graças à feição não-letal desta arma, que permitia submeter o alvo sem o matar.[7]

Referências

  1. a b c «Making the Modern World - Everyday Life - Control - 1750-1820». webarchive.nationalarchives.gov.uk. Consultado em 25 de julho de 2021 
  2. Callender dos Reis, Josué (30 de junho de 1961). «QUESTÕES PEDAGÓGICAS - NOÇÕES DA ARTE DA ARMARIA». Revista de História: 511. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1961.121520 
  3. a b Veiga Coimbra, Álvaro (1960). QUESTÕES PEDAGÓGICAS - NOMENCLATURA DAS ARMAS OFENSIVAS E PEÇAS DA ARMADURA USADAS PELA CAVALARIA DA IDADE MÉDIA. São Paulo: Departamento de História, Universidade de São Paulo. p. 483. 500 páginas. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1960.120156 «DESMONTADOR — instrumento que servia para derrubar o cava-leiro (em francês, désarçonneur).»
  4. a b M. C. Costa, António Luiz (2015). Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao século XXI. São Paulo: Draco. 121 páginas «O derrubador ou desmontador (em inglês mancatcher, em francês désarçonneur)»)
  5. Sach, Jan (1999). Les armes blanches : encyclopédie illustrée. Paris: Gründ. p. 255. ISBN 978-2-7000-1847-9 
  6. M. C. Costa, António Luiz (2015). Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao século XXI. São Paulo: Draco. 121 páginas 
  7. a b c Stone, George Cameron (1999). A Glossary of the Construction, Decoration and Use of Arms and Armor: in All Countries and in All Times. Dover: Courier Dover Publications. 704 páginas. ISBN 978-0-486-40726-5 
  8. Cunningham, Don (2004). Taiho-jutsu:Law and Order in the Age of the Samurai. Boston: Tuttle Publishing. 192 páginas. ISBN 978-0-8048-3536-7 
  9. Funcken, Liliane (1978). Le Costume, l'Armure et les Armes au Temps de la Chevalerie. Tournai: Casterman. ISBN 2203143193 
  10. Funcken, Liliane (1978). Le Costume, l'Armure et les Armes au Temps de la Chevalerie. Tournai: Casterman. ISBN 2203143193 «"DÉSARÇONNEUR" - La capture de riches guerriers dont on tirait de substantiel-les rançons — en 1388, le chroniqueur Froissart dénonçait déjà ces prises d'otages systématiques qui redeviennentà la mode aujourd'hui — nécessitait des armes spéciales dont nous avons montré des exemplaires p. 87 du tomeprécédent. L'adoption des armures lisses et bien étanche sa mena les pratiquants de cette fructueuse industrie à inventer des fourches à ressorts dites « désarçonneurs »»