Discussão:1808 (livro)

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Este livro é de fraquíssima qualidade e o seu único propósito é o de justificar a um país o seu atraso económico e social, falo é claro do Brasil, achincalhando a História de outro: Portugal. Como tal, como foi feito para justificar um ponto de vista, não é um trabalho sério, mas infelizmente encontrou eco em instituições brasileiras que deveriam ser sérias, mas que no fundo apenas expiaram um profundo estigma de colonizado.

O livro salta por cima de episódios importantíssimos, desvalorizando sempre a História portuguesa. A título de exemplo, é dado a entender que Portugal apenas foi reconhecido por Espanha em 1440. Ora, em 1440 já Portugal contava com quase 300 anos de existência, e já tinha expulso os mouros, conquistado territórios no Norte de África e começado a navegar no Atlântico. Para dar outro exemplo, não foram as tropas inglesas que entraram em Madrid em 1706, foram maioritáriamente portuguesas (Portugal a invadir Espanha, dá para perceber a dimensão...), além de nem se ficar a entender muito bem (para quem não conhece a História) afinal como é que Portugal, um país pobre e atrasado - uma ideia repetida no livro até à nausea - conseguiu manter um império tão vasto, do qual o Brasil apenas foi um episódio. Uma nota, esse país pobre e atrasado dominou a navegação no Oceano Índico durante 100 anos, um feito ímpar.

A dada altura comparam-se as condições de vida e de higiene nos barcos portugueses (sobrelotados de pessoas e carga) e de como o escorbuto matava milhares de marinheiros portugueses nas suas viagens, ao passo que os ingleses já tinham introduzido regras de higiene e de combate séptico à doença. Só um pequeno pormenor: Portugal já conhecia a cura para o escorbuto há 200 anos (século XVI), tendo sido a fonte de introdução da Laranja doce na Europa, vinda do Índico (as viagens para a Índia tinham escala para comer laranjas e beber refrescos ricos em vitamina C). Em Árabe, laranja diz-se... Porthucal... mas as referências noutras línguas são inúmeras.

A gloriosa e asséptica marinha real britânica orientava-se com instrumentos inventados por portugueses, com mapas (terrestres e marítimos) inicialmente catografados por portugueses e faziam uso dos seus canhões graças a uma aplicação tecnológica portuguesa - o carregamento das bombardas pela culatra...

Outra curiosidade, Portugal é apontado como o último país da Europa a abolir a escravatura, mas nem sequer é referido que o Brasil foi o último do Mundo.

As fontes da época, que retratam portugueses como porcos e de maus modos são sempre, trocando os nomes, oficiais ingleses e outros nobres europeus - que como se sabe desdenhavam tudo o que era do povão, tenha sido o alvo da sua observação a plebe americana, irlandesa ou polaca.

A pessoa de D.João VI serve para exemplificar todo um povo, quezilento e atrasado, mas que na realidade mostrou ao mundo na época que não se deixou amedrontar e resistiu a três invasões napoleónicas, como poucos o fizeram, mesmo com custos elevados para o país, pagos pelas gerações vindouras.

O Império Colonial português não terminou com a Independência do Brasil, em 1822, mas sim em 1974, depois das guerras de independência em África - para o bem e para o mal, Portugal foi o primeiro e o último império colonial do Mundo - depois da chegada da Democracia a Portugal ter terminado com a guerra.

Em 1999, Portugal entregou à China o território de Macau, fechando com chave de ouro uma brilhante História Marítima.

Em certo capítulo, para mostrar a grandiloquência britânica refere-se que a Inglaterra não perdeu uma batalha naval em 200 anos - nada mais fantasioso e absurdo, facilmente contrariado pela inteligência e pela (sem procurar muito) Wikipédia...

Haveria muito mais a apontar... É uma pena que uma parte da intelectualidade brasileira pense desta forma e que leve outros a pensar assim.

Infelizmente este é também o legado que a historiografia anglo-saxónica deixou no mundo, a necessidade de superlativizar os feitos próprios - por poucos que sejam - relativizando os outros actores. Portugal e Espanha quase sempre ficam a perder. Do Império Britânico não se conhecem os países pobres e atrasados, os massacres sobre indígenas, ou perdas militares miseráveis, e da Holanda só se conhece o sistema financeiro - Indonésia ou o Apartheid são dois tabús.

Esta visão anglo-saxónica, é claro, dá jeito para quem tem poucas verdades a partilhar o comentário precedente não foi assinado por 194.79.89.132 (discussão • contrib.)