Lewis Henry Morgan: diferenças entre revisões

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Morgan, Lewis Henry, A Sociedade Primitiva, Editorial Presença, 1973\74;
Morgan, Lewis Henry, A Sociedade Primitiva, Editorial Presença, 1973\74;


Id.,Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family, Oosterhout, N.B., Anthropological Publications, 1966
Marx, Leo, Bruce Mazlich (editions), 1996, Progress: Fact or Ilusion?, Ann Arbor: The University of Michigan Press;

Progress: Fact or Ilusion?, Ann ArborMarx, Leo, Bruce Mazlich (editions), The University of Michigan Press,1996, ;


Stocking Jr., George, 1982 (1965), On The Limits of ‘Presentism’ and ‘Historicism’ in The ‘Historicism’ in The Historiography
Stocking Jr., George, 1982 (1965), On The Limits of ‘Presentism’ and ‘Historicism’ in The ‘Historicism’ in The Historiography

Revisão das 04h08min de 6 de outubro de 2007

Lewis Henry Morgan

Lewis Henry Morgan (Rochester, 21 de Novembro de 181817 de dezembro de 1881) foi um antropólogo, etnólogo e escritor norte-americano. Considerado um dos fundadores da antropologia moderna, fez pesquisa de campo entre os iroqueses, de onde retirou material para sua reflexão sobre cultura e sociedade.

Morgan nasceu em 1818 no estado norte-americano de Nova Iorque. Cursou Direito no Union College, tendo exercido a profissão de advogado por algum tempo em Aurora e Rochester. Envolveu-se com política, filiando-se ao Partido Republicano; foi deputado e depois senador. Foi quando se interessou por antropologia e pelas questões ligadas aos iroqueses.

Entre seus estudos destaca-se o do parentesco, no qual Morgan tenta estabelecer conexões de sistemas de parentesco em escala global (Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family, 1871) ; e o estudo sobre a evolução das sociedades humanas consagrado em Ancient Society (1877), no qual distingue três estados de evolução da humanidade: selvageria, bárbarie e civilização.

Lewis Morgan, nos finais do sec. xix, foi o pioneiro na sistematização dos estudos sobre o parentesco - um conjunto de nomenclaturas utilizadas para designar um certo tipo de tratamento social. São estes estudos que o conduzem ao interesse pelas instituições e pela família - no que respeita à primeira, o autor vai opor duas formas de organização - Societas e Civitas. Esta teoria assenta numa visão evolucionista que postula a passagem de uma organização democrática, sem Estado, baseada no parentesco, para uma outra em que o território e a propriedade assumem papel fundamental, cedendo a democracia os seus direitos ao Estado. Quanto à família, o autor entende que as formas que esta foi sucessivamente adquirindo resulta dos “grandes sistemas de consanguinidade e de afinidade que subsistiram até aos nossos dias(...), os quais ilustram “as relações de parentesco existentes na família nos diversos períodos em que cada um deles se formou.”(Morgan, 1973:9). A teoria evolucionista de Morgan constitui também uma forte oposição ao paradigma bíblico, uma vez que este defende a “impossibilidade de continuar a evocar a teoria da degradação humana para explicar a existência de selvagens e bárbaros”(Morgan, 1973:18). Pelo que então já se conhecia das sociedades australianas, polinésias, ameríndias e das civilizações grega e romana, o autor considerou que estas eram “excelentes exemplos das seis grandes etapas da história da humanidade (constantando que) o progresso foi essencialmente o mesmo nas tribos e nações com igual estádio de desenvolvimento, embora vivendo em continentes diferentes e separadas umas das outras.”Este argumento leva o autor a concluir pela “unidade de origem do género humano” (Morgan, 1973:29-30), pelo que Morgan é levado a formular as etapas do processo evolutivo da seguinte forma: a) Selvajaria

  - inferior (estado de total promiscuidade, ligado à ausência de regras de parentesco e de
    organização social)
   - média 
   - superior

b)Barbárie

  -inferior
  -média
  - superior

c) Civilização

Na selvajaria média e superior e na barbárie domina o critério do parentesco na constituição de gens, fratrias, tribos e confederação de tribos - a Societas; na civilização triunfa o critério da classe e da propriedade - a Civitas.

O trabalho efectuado por Morgan ultrapassa assim os limites dos dois grandes domínios onde se centram as preocupações da sua época (o da família e o da religião), abrangendo outros aspectos da organização humana. Na sua recolha de informações, junto do povo Iroquês, Morgan irá constatar que no seu sistema terminológico é aplicada uma forma diferente de tratamento entre os primos paralelos e os primos cruzados cruzados (G=PX). No seguimento do seu trabalho, descobre que a mesma forma de tratamento sucede com outros povos ameríndios, e desta constatação irá alargar o seu estudo a outros pontos do globo (onde, para além da ajuda de outros “informantes”, recorre aos trabalhos de Max Muller e de MacLennan). Através da realização de investigações com a ajuda de missionários, a recolha de uma grande massa de informação irá, mais tarde, e num plano mais interpretativo, considerar que existem essencialmente dois grandes sistemas de parentesco: sistemas classificatórios (o mesmo termo é aplicado a uma mesma classe de parentes) e sistemas descritivos (a nomenclatura do parentesco segue o parentesco biológico, utilizando um termo para cada membro da família nuclear, que não é utilizado fora desta). Assim, após o estudo efectuado através da observação directa dos Iroqueses e de outras tribos ameríndias, o autor irá construir uma teoria sobre os sistemas de consanguinidade e de afinidade (Sistems of Consanguinity an Afinity of the Human Family, 1871), cujo seguimento posterior dará lugar à obra de síntese do seu pensamento (The Primitive Society, 1877), que influenciou marcadamente o pensamento antropológico posterior. O autor classifica as “quatro categorias de factos que acompanham, em linhas paralelas, os caminhos do progresso humano do estado selvagem à civilização” (Morgan, 1973:9). Estas categorias compreendem essencialmente os pontos seguintes:

1. A estreita associação entre a organização dos meios de subsistência e as tecnologias resultantes da relação do Homem com o meio ambiente, no âmbito da qual terá igualmente havido uma correspondência directa entre o grau de desenvolvimento técnico e o grau de desenvolvimento social. O autor refere como ponto de transição entre os diversos estádios evolutivos, as inovações e as descobertas tecnológicas. Estas “estão em directa relação com o progresso da humanidade, assinalando a sua marcha por uma série de etapas sucessivas” (Morgan, 1973:8).

2. A organização das instituições sociais e civis, que se foram desenvolvendo “a partir de certos germes elementares do pensamento”(Morgan, 1973:14), primeiro em torno das relações de parentesco, passando pela gradual instituição da transmissão hereditária de cargos e de bens - através do reconhecimento e da consolidação dos laços de sangue -, para chegar à afirmação da individualidade, com o aumento de bens e da propriedade privada. À transição de uma fase para a outra, o autor vai fazer corresponder duas diferentes formas de organização política (a democracia primitiva, sem Estado, que designa por Societas, e a organização Civitas, onde a democracia cede lugar ao Estado).

3. A família, que “tomou sucessivamente formas diferentes, dando origem aos grandes sistemas de consanguinidade e afinidade que subsistiram até aos nossos dias(...) permitem compreender “as relações de parentesco existentes na família, nos diversos períodos em que cada um deles se formou” (Morgan, 1973: 9). Com base nos sistemas que conseguiu identificar, Morgan irá deduzir as formas de família que lhes estão subjacentes. Deste modo, estabelece a identificação de “cinco formas diferentes e sucessivas de família, caracterizando-se cada uma delas por uma instituição matrimonial específica” (Morgan, 1974:122), nas quais distingue três principais (as restantes formas enquadram-se apenas em estádios de transição):

a) A família consanguínea (casamento de irmãos e irmãs, carnais e colaterais, no seio de um grupo)

b) A família punaluana (casamento colectivo de grupos de irmãos e irmãs, carnais e colaterais, no seio de um grupo)

c)A família monogâmica (união de um só casal, com coabitação exclusiva dos cônjuges) Nestas três formas faremos corresponder respectivamente os sistemas malaio (G=P=X), turaniano ou ganowiano (G =PX) e ariano (GPX).

4. “A idéia de propriedade teve a mesma evolução e o mesmo desenvolvimento. Desconhecida durante o estado selvagem, a paixão e o interesse pela propriedade, símbolo das riquezas acumuladas, dominam presentemente o espírito humano das raças civilizadas.” (Morgan, 1973:9) Segundo o autor, quanto mais simples forem as artes de subsistência menos objectos se produzem; no seu desenvolvimento até chegar à produção excedentária, estes objectos passam a ser apropriados individualmente, dando origem à propriedade e às regras de herança.

Fontes:

Morgan, Lewis Henry, A Sociedade Primitiva, Editorial Presença, 1973\74;

Id.,Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family, Oosterhout, N.B., Anthropological Publications, 1966

Progress: Fact or Ilusion?, Ann ArborMarx, Leo, Bruce Mazlich (editions), The University of Michigan Press,1996, ;

Stocking Jr., George, 1982 (1965), On The Limits of ‘Presentism’ and ‘Historicism’ in The ‘Historicism’ in The Historiography

Stocking Jr., George, 1987, Vitorian Antropology, New York: Free Press

Evans-Pritchard, E. E., História do Pensamento Antropológico, Edições 70, 1989