Mostrar código-fonte de Língua gaulesa

{{Sem notas|data=junho de 2019}}
{{Info/Língua
| nome        = Gaulês
| corfamília  = Indo-européia
| estados     = [[Gália]] pré-romana (aprox. as atuais [[França]], [[Bélgica]], [[Países Baixos]])
| extinção    = Após {{séc|VI}}
| fam2        = [[línguas celtas|Céltica]]
| escrita     = alfabeto de Lugano, alfabeto grego oriental, alfabeto latino
| iso2        = cel
}}

'''Língua gaulesa''' é a [[línguas celtas|língua celta]] falada na [[Gália]] antes do [[latim vulgar]], que se tornou dominante com a conquista do [[Império Romano]]. A língua é conhecida de várias centenas de inscrições em rochas, em vasilhames e outros artefatos [[cerâmica|cerâmicos]], em [[moeda (peça metálica)|moedas]] e ocasionalmente em metal ([[chumbo]], e em uma ocasião [[zinco]]). Essas inscrições foram encontradas em toda a [[Gália Romana]], principalmente no oeste da [[França]], assim como em regiões da [[Suíça]], [[Itália]], [[Alemanha]] e [[Bélgica]] (Meid 1994).

O gaulês é [[parafilético|parafileticamente]] agrupado com o [[línguas celtibéricas|celtibero]], o [[Língua lepôntica|lepôntico]], o [[Língua gálata|gálata]] e o [[línguas celtas|celta continental]].

== História ==
As mais antigas inscrições celtas continentais, datando de antes do {{-séc|VI}}, estão em lepôntico (às vezes considerado um dialeto do gaulês), encontradas na [[Gália Cisalpina]] e foram escritas em uma forma de alfabeto itálico antigo. Inscrições no [[alfabeto grego]] do {{-séc|III}} foram encontradas em áreas próximas às fozes do [[rio Ródano]], enquanto inscrições posteriores da época da Gália Romana estão principalmente em [[alfabeto latino]].

[[Gregório de Tours]] escreveu no {{séc|VI}} que alguns povos da região em que ele vivia poderiam ainda falar gaulês.

== Fonologia ==
* vogais:
** curtas: a, e, i, o u
** longas: ā, ē, ī, (ō), ū
* semi-vogais: w, y
* oclusivas:  
** surdas: p, t, b
** sonoras: b, d, g
* ressonantes:
** nasais: m, n
** líquidas: r, l
* sibilantes: s
* africadas: t<sup>s</sup>

[χ] é um alofone de /k/ antes de /t/.

Todos os ditongos se transformaram no decorrer do período histórico. ''Ai'' e ''oi'' tornaram-se ''ī'' longo; ''eu'' fundiu-se com ''ou'', ambos tornando-se ''ō'' longo. ''Ei'' tornou-se ''ē'' longo rapidamente. Em geral, os ditongos longos tornaram-se ditongos curtos e depois acabaram em vogais longas.

Outras transformações incluem a transformação do ''i'' sem tonicidade em ''e''. ''Ln'' tornou-se ''ll'', uma oclusiva + ''s'' tornou-se ''ss'' e uma nasal + [[Consoante velar|velar]] tornou-se /ng/ + velar.

As oclusivas dos dois modos também parecem ter sido [[lenis]], em comparação ao latim, que distinguia oclusivas sonoras com uma realização lenis das oclusivas surdas com uma realização [[fortis]] - por esse motivo as confusões como ''Glanum'' para ''Clanum'', ''vergobretos'' para ''vercobreto'' e ''Britannia'' para ''Pritannia''.<ref>Paul Russell, ''An Introduction to the Celtic Languages'', (Londres: Longman, 1995), 206-7.</ref>

== Ortografia ==
[[Ficheiro:Dédicace de Segomaros (inscription gallo-grecque).png|thumb|300px|RIG G-172 inscription {{unicode|Ϲ}}ΕΓΟΜΑΡΟ{{unicode|Ϲ}} ΟΥΙΛΛΟΝΕΟ{{unicode|Ϲ}} ΤΟΟΥΤΙΟΥ{{unicode|Ϲ}} ΝΑΜΑΥ{{unicode|Ϲ}}ΑΤΙ{{unicode|Ϲ}} ΕΙωΡΟΥ ΒΗΛΗ {{unicode|Ϲ}}ΑΜΙ {{unicode|Ϲ}}Ο{{unicode|Ϲ}}ΙΝ ΝΕΜΗΤΟΝ "Segomaros, filho de Uillo, ''toutious'' (líder da tribo) dos [[Nimes|Namausos]], dedicou este [[nemeton|santuário]] a Belesama"]]
O alfabeto de [[Lugano]] usado na [[Gália Cisalpina]] para o [[Língua lepôntica|lepôntico]]:
:AEIKLMNOPRSTΘUVXZ

O alfabeto de Lugano não distingue as oclusivas sonoras das não sonoras. Por exemplo, P representava /b/ ou /p/, T representava /t/ ou /d/ e K, /g/ ou /k/. Z era provavelmente usado para /t<sup>s</sup>/. U /u/ e V /w/ são diferenciados apenas em uma incrição antiga. Θ era provavelmente usado para /t/ e X para /g/. (Lejeune 1971, Solinas 1985).

O [[alfabeto grego|alfabeto grego oriental]] usado no sul da [[Gália Transalpina]]:
:αβγδεζηθικλμνξοπρστυχω

χ era usado para [χ], θ para /t<sup>s</sup>/, ou para /u/, /ū/, /w/; η e ω para /e/, /ē/ e /o/, /ō/ longos e curtos, enquanto ι era usado para  /i/ curto  e ει para /ī/. Perceba que o [[Σ|sigma]] no alfabeto grego oriental parece-se com um C. Todas as letras gregas eram usada, exceto [[Φ]] (phi) e [[Ψ]] (psi).

O alfabeto latino (maiúsculo e cursivo) em uso na [[Gália|Gália Romana]]:
:ABCDÐEFGHIKLMNOPQRSTUVXZ
:''abcdðefghiklmnopqrstuvxz''

G e K são às vezes usados intercambiavelmente (especialmente após R). ''Ð/ð'', ''ds'' e ''s'' podem representar /t<sup>s</sup>/. X, x era usada para [χ] ou /ks/. Q era raramente usado (ex. ''Sequanni'', ''Equos'') e pode representar um arcaismo (um *k<sup>w</sup> retido) ou um dialeto-Q. Ð e ð eram usados para representar a letra ''Tau Gallicum'' (a [[Consoante africada|africada]] dental gaulesa), que ainda não foi adicionada ao [[Unicode]]. Em contraste com o [[glifo]] para Ð, a barra central se estende à direita através do glifo sem contudo sair dele.

=== Leis sonoras ===
* O gaulês converteu o ''k<sup>w</sup>'' labiovelar surdo do [[Proto-Indo-Europeu|PIE]] em ''p'' (sendo assim [[Hipótese celta-P|celta-P]]), um desenvolvimento também observado no [[línguas britônicas|britônico]] (assim como no [[língua grega|grego]] e em algumas [[línguas itálicas]]), enquanto as outras línguas célticas, [[Hipótese celta-Q|celta-Q]], mantiveram a labiovelar. Dessa forma, a palavra gaulesa para "filho" era ''mapos'' (Delmarre 2003: 216-217), contrastando com o [[Língua irlandesa primitiva|irlandês primitivo]] ''maqi'', que se transformou em ''mac'' no irlandês moderno. No galês moderno, a palavra ''map'' (''mab'') (ou sua forma contraída ''ap''(''ab'')) é usada com o sentido de "filho de". De modo similar, uma palavra gaulesa para "cavalo" era ''epos'', enquanto no [[Língua irlandesa antiga|irlandês antigo]] era ''ech'', gaélico moderno (irlandês e escocês) ''each'', manês ''egh''; todas derivam do [[Proto-Indo-Europeu|proto-indo-europeu]] ''*eq<sup>w</sup>os'' (Delmarre 2003: 163-164).
* A labiovelar sonora ''g<sup>w</sup>'' se transformou em ''w''; por exemplo, ''g<sup>w</sup>ediūmi'' > ''uediiumi'', "eu rezo" (cf. o irlandês antigo ''guidiu'' "eu rezo", galês ''gweddi'' "rezar").
* PIE ''t<sup>s</sup>t'' se transformou em /t<sup>s</sup>/, escrito ''ð''; por exemplo, ''*nedz-tamo'' > ''neððamon'' (cf. o irlandês antigo ''nessam'' "o mais próximo", galês ''nesaf'' "próximo", irlandês ''neasa'' [agora usado somente como nome feminino]).
* PIE ''eu'' se transformou em ''ou'' e posteriormente em ''ō''; por exemplo, ''*teutā'' > ''touta'' > ''tōta'' "tribo" (cf. o irlandês antigo ''tuath'', galês ''tud'' "povo").
* Além disso, o /st/ intervocálico se transformou na africada [ts] (oclusiva alveolar + oclusiva alveolar surda), o /sr/ intervocálico se transformou em [ðr] e /str/ se transformou em [þr]. Por fim, quando uma oclusiva labial ou velar vinha antes de /t/ ou /s/, os dois sons se fundiam na fricativa [x].

== Gramática ==
Havia algumas similaridades regionais (ou genéticas, ver [[ítalo-céltico]]) à gramática latina, e o historiador francês A. Lot argumentou que isto ajudou a rápida adoção do latim na Gália Romana.

=== Casos ===
O gaulês possuía cinco ou seis [[Declinação (gramática)|declinações]] (Lambert 2003 pp.&nbsp;51–67). Em comum com o latim havia o [[caso nominativo|nominativo]], o [[caso vocativo|vocativo]], o [[caso acusativo|acusativo]], o [[caso genitivo|genitivo]] e o [[caso dativo|dativo]]; onde no latim havia o [[caso ablativo]], no gaulês havia o [[caso instrumental]] e possivelmente também um [[caso locativo]]. Há mais evidências para casos comuns (nominativo e acusativo) e para afixos comuns (-o- e -a-) que para casos menos frequentes usados nas inscrições, ou afixos raros como -i-, -n- e oclusivas. A tabela seguinte resume os finais casuais que são mais seguramente conhecidos. Um vazio significa que a forma não é atestada.

{| class="wikitable"
! rowspan="2" | Caso
! colspan="5" | Singular
! colspan="5" | Plural
|-
! afixo-ā
! afixo-o
! afixo-i
! afixo-u
! afixo-r
! afixo-ā
! afixo-o
! afixo-i
! afixo-u
! afixo-r
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso nominativo|Nominativo]]
| tōtā
| mapos
| vātis
| dorus
| brātīr
| tōtas
| mapoi > mapī
| vātes
| doroues
| brāteres
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso vocativo|Vocativo]]
| tōta
| mape
| vāti
| doru
|
|
| mapūs
| colspan="3" |
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso acusativo|Acusativo]]
| tōtan, tōten<br> > tōtim
| mapon
| vātin
| *dorun
| brāterem
| tōtās
| mapūs
| vātīs
| doruās
| brāteras
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso genitivo|Genitivo]]
| tōtas
| mapī
| vātes
| dorous
| brāteros
| tōtanom
| mapon
| vātion
| doruon
| brāteron
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso dativo|Dativo]]
| tōtai > tōtī
| mapūi > mapū
| vāte
| dorou
| brāteri
| tōtabo
| mapobo
| *vātibo
| doruebo
| brāterebo
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso instrumental|Instrumental]]
| tōtia
| mapu
| colspan="3" rowspan="2" |
|
| mapobi
|
|
| brāterebi
|-
! style="text-align: left;" | [[Caso locativo|Locativo]]
|
| mape
| colspan="5" |
|}

Em alguns casos a evolução histórica é conhecida, por exemplo o dativo singular do afixo -a- nas inscrições antigas é -ai-, tornando-se inicialmente -e- e finalmente -i-.

=== Numerais ===
Numerais ordinários do [[grafite (arte)|grafite]] do sítio arqueológico de [[La Graufesenque]]:
# ''cintus'' (galês ''cyntaf'', bretão ''kentañ'', irlandês antigo ''céta'', irlandês moderno ''céad'')
# ''allos'' (galês ''ail'', bretão ''eil'', irlandês antigo ''aile'' 'other', irlandês moderno ''eile'')
# ''tritios'' (galês ''trydydd'', bretão ''trede'', irlandês antigo ''treide'', irlandês moderno ''tríú'')
# ''qetwarios'' (galês ''pedwerydd'', bretão ''pevare'', irlandês antigo ''cethramad'', irlandês moderno ''ceathrú'')
# ''qinqetos'' (galês ''pumed'', bretão ''pempet'', irlandês antigo ''cóiced'', irlandês moderno ''cúigiú'')
# ''sueksos'' (talvez um forma errônea de ''suextos'', galês ''chweched'', bretão ''c'hwec'hved'', irlandês antigo ''seissed'', irlandês moderno ''séú'')
# ''sectametos'' (galês ''seithfed'', bretão ''seizhved'', irlandês antigo ''sechtmad'', irlandês moderno ''seachtú'')
# ''octumetos'' (galês ''wythfed'', bretão ''eizhved'', irlandês antigo ''ochtmad'', irlandês moderno ''ochtú'')
# ''nametos'' (galês ''nawfed'', bretão ''naved'', irlandês antigo ''nómad'', irlandês moderno ''naoú'')
# ''decametos'', ''decometos'' (galês ''degfed'', bretão ''degvet'', irlandês antigo ''dechmad'', celtibero ''dekametam'', irlandês moderno ''deichniú'')

== Notas ==
{{reflist}}

== Referências ==
* Delamarre, X. (2003). ''Dictionnaire de la langue gauloise'' ("Dicionário da língua gaulesa") (2nd ed.). Paris: Editions Errance. ISBN 2-87772-237-6
* Lambert, Pierre-Yves (2003) ''La langue gauloise'' ("A língua gaulesa") (2nd ed.) Paris: Editions Errance. ISBN 2-87772-224-4
* Lejeune, Michel (1971). ''Lepontica'' (Monographies linguistiques, 1). Paris: Société d’edition "les Belles Lettres" 
* Meid, Wolfgang (1994) ''Gaulish Inscriptions'' ("Inscrições gaulesas"). Budapeste: Archaeolingua. ISBN 963-8046-06-6
* ''Recueil des inscriptions gauloises'' (XLVe supplément à «GALLIA») ("Coleção de inscrições gaulesas" 14º suplemento «GALLIA») , ed. Paul-Marie Duval et al. 4 vols. Paris: CNRS, 1985-2002. ISBN 2-271-05844-9
* Solinas, Patrizia (1995). ''Il celtico in Italia''. ''Studi Etruschi'' 60:311-408 ("O céltico na Itália. Estudos Etruscos".

== Ver também ==
* [[Línguas da França]]

== Ligações externas ==
* [https://web.archive.org/web/20180218100057/http://www.orbilat.com/Encyclopaedia/G/Gaulish_language.html L.A. Curchin, "Gaulish language"] {{en}}
* [https://web.archive.org/web/20050310221937/http://indoeuro.bizland.com/tree/celt/gaulish.html Gaulish language on TIED] {{en}} 
* [https://web.archive.org/web/20110717220835/http://technovate.org/web/coligny.htm The Coligny Calendar] {{en}}
* [http://www.tartanplace.com/hcustom/allsaints.html All Saints Day: Coligny Calendar] {{en}}
* [http://titus.fkidg1.uni-frankfurt.de/didact/idg/kelt/gallbs.htm two sample inscriptions on TITUS] {{en}}
* [https://web.archive.org/web/20061124071826/http://www.musee-antiquitesnationales.fr/documents/FPlangues.pdf Langues et écriture en Gaule Romaine] por Hélène Chew do Musée des Antiquites Nationale {{fr}}

{{Controle de autoridade}}
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[[Categoria:Línguas célticas continentais|Gaules]]