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Menno Simons: diferenças entre revisões

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MENNO SIMONS & Igreja Evangélica Irmãos Menonitas
MENNO SIMONS & Igreja Evangélica Irmãos Menonitas
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== Teólogo ==
== TEÓLOGO ==


Foi um teólogo originário da Frísia (*) ordenado padre católico em março de 1524 e é considerado um dos reformadores radicais ligado aos anabatistas(*). Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536.
Foi um teólogo originário da Frísia (*) ordenado padre católico em março de 1524 e é considerado um dos reformadores radicais ligado aos anabatistas(*). Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536.
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O anabatismo foi duramente perseguido na Suíça. Com o passar do tempo, os que não se integraram na Igreja Reformada, buscaram refúgio em áreas com maior tolerância religiosa, o que diminuiu muito o número de congregações anabatistas na Suíça. Alguns soberanos europeus acabaram aceitando de bom grado a vinda desses imigrantes re¬ligiosos para povoar seus países escassamente habitados. Os territórios de maior atração para os anabatistas foram o Palatinado, a Alsácia e a Morávia. Foi essa migração que possibilitou a sobrevivência do anabatis¬mo e sua difusão para outras regiões da Europa, como os Países Baixos. Lá, desde o século XIV, havia uma forte tendência para uma reforma da Igreja. Diversos movimentos de reavivamento, como os sacramentários, a Devotio Moderna e os Irmãos da Vida Comum, prepararam o caminho para os refugiados anabatistas. Na Holanda, os anabatistas encontraram um líder religioso capaz de uni-los, o ex-padre católico Menno Simons.
O anabatismo foi duramente perseguido na Suíça. Com o passar do tempo, os que não se integraram na Igreja Reformada, buscaram refúgio em áreas com maior tolerância religiosa, o que diminuiu muito o número de congregações anabatistas na Suíça. Alguns soberanos europeus acabaram aceitando de bom grado a vinda desses imigrantes re¬ligiosos para povoar seus países escassamente habitados. Os territórios de maior atração para os anabatistas foram o Palatinado, a Alsácia e a Morávia. Foi essa migração que possibilitou a sobrevivência do anabatis¬mo e sua difusão para outras regiões da Europa, como os Países Baixos. Lá, desde o século XIV, havia uma forte tendência para uma reforma da Igreja. Diversos movimentos de reavivamento, como os sacramentários, a Devotio Moderna e os Irmãos da Vida Comum, prepararam o caminho para os refugiados anabatistas. Na Holanda, os anabatistas encontraram um líder religioso capaz de uni-los, o ex-padre católico Menno Simons.

== RELATOS FUNDAÇÃO IGREJA MENONITA==


Relatos sobre a fundação da Igreja Menonita e impacto na vida de Menno Simons:
Relatos sobre a fundação da Igreja Menonita e impacto na vida de Menno Simons:
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A LIDERANÇA DE MENNO SIMONS E AS COLÔNIAS ISOLADAS
==A LIDERANÇA DE MENNO SIMONS E AS COLÔNIAS ISOLADAS==


Menno, por seu estudo metódico da Bíblia, estava profundamente convencido da visão anabatista acerca dos sacramentos(*), em especial do batismo infantil. Essas convicções foram mantidas em silêncio e só foram reveladas após o desmantelamento do reino anabatista de Münster (*). Depois disso, ele decidiu se pronunciar publicamente a favor do anaba¬tismo e liderá-lo. Sua liderança entre os anabatistas holandeses num mo¬mento crucial de sua história acabou por fazer com que os anabatistas adotassem a denominação de menonitas, para fugir da conexão existente entre o termo anabatista e o episódio de Münster, e também para fazer uma homenagem ao líder holandês.
Menno, por seu estudo metódico da Bíblia, estava profundamente convencido da visão anabatista acerca dos sacramentos(*), em especial do batismo infantil. Essas convicções foram mantidas em silêncio e só foram reveladas após o desmantelamento do reino anabatista de Münster (*). Depois disso, ele decidiu se pronunciar publicamente a favor do anaba¬tismo e liderá-lo. Sua liderança entre os anabatistas holandeses num mo¬mento crucial de sua história acabou por fazer com que os anabatistas adotassem a denominação de menonitas, para fugir da conexão existente entre o termo anabatista e o episódio de Münster, e também para fazer uma homenagem ao líder holandês.
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(sacramentum, em latim) // origem e significados amplos // Resumindo: uma concordância, um juramento, uma aliança sem dúvidas, uma manifestação consciente pública com testemunhas. No texto referindo-se ao batismo nas águas.
(sacramentum, em latim) // origem e significados amplos // Resumindo: uma concordância, um juramento, uma aliança sem dúvidas, uma manifestação consciente pública com testemunhas. No texto referindo-se ao batismo nas águas.


ALGUNS DE SEUS TÓPICOS:
==ALGUNS DE SEUS TÓPICOS:==


A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos.
A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos.

Revisão das 17h56min de 27 de setembro de 2013

Menno Simons
Menno Simons
Nome completo Menno Simons
Nascimento 1496
Witmarsum na Holanda
Morte 1561 (65 anos)
Wüstenfelde em Bad Oldesloe na Alemanha
Página oficial
www.menonitasbrasil.com.br

MENNO SIMONS Nascimento: 1496 Witmarsum (Friesland) Holanda Morte: 1561 (23 ou 31 de Janeiro) em Wüstenfelde, Bad Oldesloe na Alemanha.


Foi um teólogo originário da Frísia (*) ordenado padre católico em março de 1524 e é considerado um dos reformadores radicais ligado aos anabatistas(*). Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536. Sua influência sobre o grupo anabatista foi tão forte que o grupo anabatista no norte da Europa foi chamado de menonita.

(*) anabatistas (*) Frísia: É uma província ao norte dos Países Baixos. Os Países Baixos são frequentemente referidos como Holanda

VIDA:

Menno Simons, um sacerdote católico do povoado de Witmarsum, no norte da Holanda, aderiu ao movimento anabatista, defendendo uma postura pacifista. Em 1536 ele já tinha cortado todos os laços com a igreja Católica Romana e passou a ser perseguido. Em 1542, o imperador romano Carlos V prometeu 100 florins como recompensa pela captura de Menno. Ainda assim, ele conseguiu formar algumas congregações compostas de anabatistas, e não demorou muito para eles serem chamados de Menonitas. Com o as traduções e impressões de Bíblias nas línguas comuns da Europa do século 16, estimulou-se de novo o interesse no estudo da Bíblia que resultariam na Reforma e no Anabatismo. Alguns criam que uma pessoa tem de tomar uma decisão consciente antes de ser batizada para se tornar membro da congregação cristã, o que resultou no Anabatismo. Pregadores que aceitavam essa crença começaram a viajar pelas cidades e aldeias batizando os adultos.


DEPOIS DE 1527

O anabatismo foi duramente perseguido na Suíça. Com o passar do tempo, os que não se integraram na Igreja Reformada, buscaram refúgio em áreas com maior tolerância religiosa, o que diminuiu muito o número de congregações anabatistas na Suíça. Alguns soberanos europeus acabaram aceitando de bom grado a vinda desses imigrantes re¬ligiosos para povoar seus países escassamente habitados. Os territórios de maior atração para os anabatistas foram o Palatinado, a Alsácia e a Morávia. Foi essa migração que possibilitou a sobrevivência do anabatis¬mo e sua difusão para outras regiões da Europa, como os Países Baixos. Lá, desde o século XIV, havia uma forte tendência para uma reforma da Igreja. Diversos movimentos de reavivamento, como os sacramentários, a Devotio Moderna e os Irmãos da Vida Comum, prepararam o caminho para os refugiados anabatistas. Na Holanda, os anabatistas encontraram um líder religioso capaz de uni-los, o ex-padre católico Menno Simons.

RELATOS FUNDAÇÃO IGREJA MENONITA

Relatos sobre a fundação da Igreja Menonita e impacto na vida de Menno Simons:

No primeiro ano do sacerdócio de Menno, em 1525, o mesmo ano em que Conrad Grebel e sua irmandade fundavam a Igreja Menonita em Zurique (Suíça), uma séria dúvida começou a perturbar a vida frívola e despreocupada da sua cerimoniosa religião. Mas enquanto Menno lutava vigorosamente a boa batalha da verdade contra o erro dos Münsteritas, se introduzia cada vez mais profundamente num sério conflito interno. Ele havia se preocupado em resgatar as almas piedosas que discordavam da Igreja Católica, de envolver-se nas heresias dos Münsteritas, e unicamente lhes proporcionava algo melhor, não apareceria diante deles como um simples defensor e apoiador da Igreja Católica? E quando, seus amigos católicos usavam o seu nome e os seus argumentos para combater aos Münsteritas, não estava permitindo comparecer como aliado da manutenção do império das trevas na dita Igreja? Quanto mais êxito tinha em esmagar aos Münsteritas, tanto mais intolerável para a sua consciência se tornava a situação. O clímax do conflito se produziu quando sobreveio a tragédia da Velha Abadia próxima de Bolsward, onde cerca de três mil almas extraviadas perderam a vida, entre eles seu próprio irmão carnal. O grupo era um dos citados anteriormente, que estavam impregnados do veneno revolucionário dos Münsteritas e haviam decidido erigir a sua própria cidade em refúgio e começar a campanha para o estabelecimento do reino de Deus em Friesland. Em março de 1535, uma grande companhia de 3.000 pessoas havia se apoderado de um velho monastério (Oude Kloster) nos subúrbios da cidade de Bolsward, encerrando-se nele. Não puderam suportar por muito tempo o assédio das forças governamentais e depois que 1.300 haviam perecido, o resto foi capturado e executado em 7 de abril. O exemplo destas “pobres ovelhas extraviadas” como as chama Menno, dando seu sangue e a sua vida pela sua fé, apesar de ser uma fé falsa, produziu uma extraordinária impressão na alma de Menno Simons. “Se tivesse tido a valentia de chegar ao fim, renunciando a doutrina e práticas católicas, e constituindo-se no pastor dessas ovelhas errantes, talvez teria conseguido salvá-las por adverti-las da aproximação da tragédia. Sentia que o sangue deles caia sobre a sua consciência, queimando-o e fazendo-o ver o seu opróbio.” “O sangue dessa gente, dizia, tornou-se para mim uma carga tão pesada que não podia suportá-la nem encontrar descanso para minha alma”. Era verdade que havia falado contra algumas das abominações do sistema papal, mas, no entanto não havia feito uma ruptura definitiva com todo o sistema. A tragédia da Velha Abadia colocou a Menno na encruzilhada; agora observava claramente o seu dever. Como servo de Deus não podia escapar da responsabilidade de guiar as ovelhas errantes, e como alguém que professava obediência e a crença em Deus, não devia vacilar mais e deveria tomar a cruz da perseguição e do sofrimento, qualquer que fosse o custo. Não podia continuar indo contra a sua consciência e convicções. E foi neste estado de ânimo que Menno se voltou à Deus com gemidos e lágrimas, clamando por graça e perdão, clamando por um coração puro e valentia para pregar o Seu santo nome e Palavra com toda a verdade. No relato da sua conversão Menno descreve a mudança de seu coração com as seguintes palavras: “Meu coração tremia dentro de mim. Rogava a Deus com lágrimas e gemidos que concedesse a mim, pobre e atribulado pecador, o dom da Sua graça, e que criasse um coração limpo dentro de mim pelos méritos do precioso sangue de Cristo, que perdoasse a minha vida ímpia e egoísta e me investisse de sabedoria, sinceridade e valor para pregar o Seu glorioso e bendito nome e a Sua santa Palavra sem adulterações e que manifestasse a Sua verdade e a Sua Glória”. A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos.


A LIDERANÇA DE MENNO SIMONS E AS COLÔNIAS ISOLADAS

Menno, por seu estudo metódico da Bíblia, estava profundamente convencido da visão anabatista acerca dos sacramentos(*), em especial do batismo infantil. Essas convicções foram mantidas em silêncio e só foram reveladas após o desmantelamento do reino anabatista de Münster (*). Depois disso, ele decidiu se pronunciar publicamente a favor do anaba¬tismo e liderá-lo. Sua liderança entre os anabatistas holandeses num mo¬mento crucial de sua história acabou por fazer com que os anabatistas adotassem a denominação de menonitas, para fugir da conexão existente entre o termo anabatista e o episódio de Münster, e também para fazer uma homenagem ao líder holandês. O novo líder conseguiu organizar os menonitas e mantê-los unidos com base exclusiva em sua lealdade para com Cristo e de seu amor de uns para com os outros. Essa vida de discipulado os separaria do mundo. Essa separação do mundo era aconselhada através do estabelecimento de colô¬nias isoladas, autossuficientes, com pouco contato com o mundo exterior. Tal isolamento passou a ser mais e mais necessário em razão da persegui¬ção sistemática que os menonitas sofriam. Regiões inóspitas e pouco povoadas foram sendo procuradas e colô¬nias menonitas foram sendo estabelecidas, muitas vezes com o benepláci¬to dos soberanos dessas regiões, desejosos de povoar seus territórios com camponeses ativos, para aumentar a riqueza de seus domínios. Várias lo¬calidades da Europa acolheram refugiados menonitas, concedendo-lhes liberdade de religião, isenção de prestação de juramentos e de servir nos exércitos do rei. Regiões do centro e do leste da Europa, Prússia, Polônia e Rússia foram sendo ocupadas num período de quase trezentos anos, entre 1549 e 1763 (PENNER, 1995, p. 71).

(*) sacramento: (sacramentum, em latim) // origem e significados amplos // Resumindo: uma concordância, um juramento, uma aliança sem dúvidas, uma manifestação consciente pública com testemunhas. No texto referindo-se ao batismo nas águas.

ALGUNS DE SEUS TÓPICOS:

A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos.

1. A Autoridade das Escrituras 2. A Trindade de Deus 3. Cristo, Sua Divindade e Humanidade 4. A Encarnação 5. O Espírito Santo 6. O Pecado 7. A Expiação 8. Arrependimento 9. Fé 10. Justificação pela Fé 11. Regeneração - A nova vida 12. A Santidade da Vida 13. A Igreja 14. Separação do Mundo 15. Fraternidade Verdadeira 16. As Ordenanças 17. Batismo 18. A importância do Batismo 19. Batismo na infância 20. Salvação das crianças 21. O Erro da Regeneração Batismal 22. A Ceia do Senhor. (Santa Ceia). 23. Disciplina 24. Arrependimento no caso de Pecado Secreto 25. Chamada Missionária da Igreja 26. Não-resistência 27. O juramento dos juramentos 28. A pena de morte 29. Não conformidade com o Mundo 30. Liberdade de Consciência 31. Predestinação 32. Aperfeiçoamento 33. Novas Revelações 34. Educação superior 35. Ante Ocultamento 36. Atitude para com outras Denominações 37. Exemplos de consagração ao serviço do Senhor. 38. Trabalhando sob Dificuldades 39. Perseguição 40. Uma oração de Menno Simons


1. A Autoridade das Escrituras:

Querido leitor: admoesto e aconselho-te que se procura a Deus com todo o teu coração e não quer ser enganado, não deve depender dos homens nem de suas doutrinas, não importa o quão antigas, santas e excelentes que sejam consideradas, pois os teólogos se contradizem entre si, tanto nos tempos passados como nos atuais. Baseie-se em Cristo unicamente e em Sua Palavra, no ensino seguro e prática de seus santos apóstolos e será pela graça de Deus, preservado de toda falsa doutrina e do poder do diabo e andará diante de Deus confiante e piedosamente. Esta santa Igreja Cristã tem somente uma doutrina: a Palavra de Deus pura, sem mistura e sem adulteração, o Evangelho da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todo ensino e mandamento que não concorde com a doutrina de Cristo, sejam eles ensinos e opiniões de doutores, mandamentos de papas, concílios ecumênicos ou o que for, não são mais do que ensinos e mandamentos de homens (Mateus 19:5) doutrinas diabólicas (1ª Timóteo 4:1) e portanto, malditas (Gálatas 1:8). Não ensinamos nem escrevemos, senão a Palavra pura e divina e os mandamentos perfeitos de Cristo Jesus e seus apóstolos. Visto que Gellius apela a Tertuliano, Cipriano, Orígenes e Agostinho, a minha resposta é, primeiro: se estes escritores podem apoiar o seu ensino com a Palavra de Deus e seus mandamentos, estou disposto a admiti-los. Do contrário é doutrina de homens, e maldita de acordo com as Escrituras. (Gálatas 1:8). Falamos a verdade e não mentimos. Se qualquer um, sob a abóbada celeste, pode demonstrar com as Sagradas Escrituras que Jesus, o Filho do Deus Altíssimo, a sabedoria e verdade eternas ao qual unicamente reconhecemos como o legislador e mestre do Novo Testamento, tenha ordenado uma só palavra a este respeito (Batismo Infantil), ou que seus santos apóstolos ou ensinaram ou praticaram, não será necessário recorrer a tortura nem a força para convencer-nos. Mostra-nos somente a Palavra de Deus a respeito e tudo terminará. Considero necessário e conveniente aconselhar aos meus bem amados leitores que não aceitem a minha doutrina como o Evangelho de Jesus Cristo até que tenham investigado por si mesmos e comprovado que concordam com o Espírito e Palavra do Senhor, assim a sua fé não estará fundada em mim ou em nenhum outro mestre ou escritor, mas unicamente em Jesus.


2. A Trindade de Deus:

Cremos e confessamos com as Sagradas Escrituras que há um só eterno Deus, criador do céu e da terra, do mar e de tudo o que contém; um Deus a quem o céu e céu dos céus não podem conter, cujo trono é o céu e a terra o escabelo de Seus pés. Deus de deuses e Senhor de senhores, que é sobre tudo, poderoso, santo, terrível, digno de louvor e admiração; fogo consumidor; cujo reino, poder, domínio, majestade e glória são eternos e durarão para sempre ... E visto que é um Espírito tão grande, temível e invisível, também é inexplicável, inconcebível, indescritível. Neste único, eterno, onipotente, inefável, invisível, inexprimível e indescritível Deus cremos, e confessamos com as Sagradas Escrituras ser o eterno, incompreensível Pai com o seu eterno incompreensível Filho e com o seu eterno incompreensível Espírito Santo. Confessamos que o Pai é verdadeiro Pai, o Filho verdadeiro Filho e o Espírito Santo verdadeiro Espírito Santo, não carnal e compreensível mas espiritual e incompreensível, pois Cristo disse: Deus é Espírito. (II:183). João disse: “Três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.” Leia também Mateus 28:19; Marcos 1:8; Lucas 3:8; João 14:16;15:26; 1ªCoríntios 12:11. E ainda que são três, são um em divindade, vontade, poder e operação, e não podem ser separados um do outro, como sol, luz e calor; pois um não existe sem o outro. Queridos irmãos, declaro que antes prefiro morrer do que crer ou ensinar aos meus irmãos uma simples palavra concernente ao Pai, ao Filho ou ao Espírito Santo em desacordo com o expresso testemunho da Palavra de Deus, que tem sido tão claramente dado pela boca dos profetas, evangelistas e apóstolos.


3. Cristo, Sua Divindade e Humanidade:


Cremos e confessamos que Jesus Cristo é o primeiro e Unigênito Filho de Deus, o verbo eterno e incompreensível, pelo qual todas as coisas foram criadas; o primogênito de toda criatura. (Colossenses 1:15). Que se fez homem real em Maria, a virgem imaculada, pelo Espírito e poder do Pai Eterno e Todo-poderoso, além da compreensão e conhecimento dos homens; enviado e dado a nós por pura misericórdia e graça de Deus; imagem manifesta do Deus invisível e resplendor da Sua glória. (Hebreus 1:3). E o incompreensível, inexprimível, espiritual, eterno e divino Ser, que é divinamente e incompreensivelmente Unigênito do Pai, anterior a toda criatura, cremos e confessamos que é Cristo Jesus o primeiro e Unigênito Filho de Deus, as primícias de toda criatura, a sabedoria eterna, o poder de Deus, a luz eterna, verdade e vida, o verbo eterno. Irmãos amados, entendam-me bem; tenho falado de sabedoria eterna, poder eterno. Porque assim como cremos e confessamos que o Pai é desde a eternidade e será por toda a eternidade, e que além disso é o Primeiro e o Último, também cremos e confessamos que a Sua sabedoria, Seu poder, Sua luz, Sua verdade, Sua vida, Seu verbo Cristo Jesus, tem sido desde a eternidade com o Pai e no Pai, visto que Ele é o Alfa e o Ômega. Do contrário, teríamos que confessar que este unigênito, incompreensível Ser verdadeiramente divino, Cristo Jesus, que os Pais da Igreja chamam de pessoa, pelo qual o Pai Eterno fez todas as coisas, teve um princípio como toda criatura; ideia que todos os cristãos, consideram como blasfêmia, maldição terrível e abominação. Que possuía uma natureza humana real, tanto como divina, é demonstrado pelos fatos que evidenciam a realidade de sua natureza humana, sentindo-se faminto, sedento, fatigado, suspirava, sofria canseira, sofrimento e morte. Considerai, fiéis irmãos, apegue-se ao incompreensível nascimento de Cristo, Sua glória divina e numerosos, preciosos e claros testemunhos dos santos profetas, evangelistas e apóstolos, todos os quais com clareza e poder irrefutáveis testemunharam e indicaram a verdadeira e incompreensível divindade de nosso Senhor Jesus Cristo. Cremos e confessamos que Cristo Jesus com seu Pai Celestial são o verdadeiro Deus, pelo claro testemunho dos santos profetas, evangelistas e apóstolos. Afirmo que no que se refere a este incompreensível e sublime assunto, não tenho tido a nenhum sábio por conselheiro, mas que me baseio na Palavra do meu Deus, que me ensina claramente ... Apesar de que se humilhou a si próprio, por amor a nós, deixando de lado os seus divinos privilégios, direitos e majestade, continuou sendo Deus e o Verbo de Deus. Cristo é verdadeiro Deus e homem, homem e Deus. Reconheço ambas naturezas em Cristo, a divina e a humana.


4. A Encarnação: O Verbo se fez carne.

Observe fiel leitor; assim como eu não compreendo ao Todo-poderoso, Único e Eterno Deus na sua natureza divina, no domínio da sua glória, na criação e preservação das suas criaturas, na recompensa do bem e do mal, e em muitas das suas obras, no entanto creio nele como tal e por esta razão: porque as Escrituras o ensinam; da mesma forma não posso compreender como, nem de que modo o Verbo Eterno se fez carne ou homem em Maria. No entanto devo crer que foi assim porque as Escrituras o ensinam. Visto que sabemos claramente que o Espírito Santo não nos revelou este mistério (o da Encarnação) nas Sagradas Escrituras de nenhuma forma, nem pelos profetas, nem pelos apóstolos, nem pelo próprio Filho, e já que está claro que não pode ser sondado pela razão... E por sua vez sabemos que pela história e encontramos em nossos dias que muitos entendidos ficaram perdidos nas trevas impenetráveis, aconselho a todas as almas piedosas que queiram andar diante de Deus com a consciência limpa, não especular a respeito deste inefável e indecifrável mistério da Divindade Eterna, nem chegar a conclusões, assegurar, ensinar ou ir além do que o Espírito Santo nos tem ensinado e revelado na Sua santa Palavra. E portanto, declaro que não tenho a intenção de argumentar sobre este ponto inexplicável, mas que quero seguir a Palavra de meu Deus que é completamente clara a respeito.


5. O Espírito Santo:

Havendo concretizado e confessado a nossa fé e doutrina da divindade de Cristo, trataremos agora com a ajuda de Deus, de expor em poucas palavras a nossa fé e doutrina do Espírito Santo. Os temerosos de Deus julgarão. Cremos que o Espírito Santo é um Espírito Santo Pessoal, real ou verdadeiro, no sentido divino, assim como o Pai é verdadeiro Pai e o Filho verdadeiro Filho; cujo Espírito Santo é (em sua natureza) incompreensível, indescritível e inexprimível, como testemunhamos a respeito do Pai e do Filho. É divino em Seus atributos, procede do Pai por meio do Filho, ainda que sempre permaneça com Deus e em Deus, e que nunca está separado em Sua natureza do Pai e do Filho. A razão pela qual confessamos que é uma pessoa real e verdadeira é porque as Escrituras assim o ensinam. Ele nos guia a toda verdade, Ele nos justifica; nos limpa, santifica, pacifica, consola, reprova, anima e assegura. Ele dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. SIM, irmãos, pelas Escrituras tão explícitas, testemunhos e referências e muitos outros textos que seria demorado enumerar, mas que devem ser procurados e lidos nas Sagradas Escrituras, cremos que o Espírito Santo é o verdadeiro Espírito de Deus, que nos completa com os Seus dons celestiais e divinos, nos livra do pecado, nos anima, pacifica, consagra, satisfaz os nossos corações e mentes, e nos torna Santos em Cristo.


6. O Pecado:

Assim como Adão e Eva foram contaminados e envenenados pela serpente infernal e se tornaram pecadores por natureza e ficaram sujeitos a eterna perdição, se Deus, por meio de Jesus Cristo não os tivesse recebido novamente na graça (depois que fizeram sua a promessa de Gênesis 3:15) como afirmava mais acima, todos nós, seus descendentes, somos por natureza pecadores de nascimento, envenenados pela serpente, inclinados ao mal e por nossas própria natureza inerente somos filhos do inferno. Não podemos salvar-nos dele (falamos dos que, chegados a idade do discernimento, cometem pecado) a menos que nós, por uma fé real e não fingida aceitemos a Cristo Jesus, o único e eterno meio de graça; e assim com os olhos da mente olhemos para a serpente de bronze, que fora levantada por Deus nosso Pai celestial como sinal de salvação para nós, pecadores miseráveis e contaminados. Porque fora dele e sem ele, não há salvação possível para as nossas almas, nem expiação, nem paz, mas somente desgraça, ira e morte por toda a eternidade. Aonde quer que estes dois, a saber, o pecado original (a mãe) e o pecado atual (os frutos) tenham evidência e poder, não haverá perdão e nem promessa de vida, mas que estarão sujeitos a ira e morte, salvo no caso de arrependimento, como ensinam as Escrituras. Para que o pecado original perca o seu poder sobre nós e para que os pecados atuais sejam perdoados, temos que crer na Palavra do Senhor, nascer de novo pela fé e com a força deste novo nascimento por meio do verdadeiro arrependimento, resistir ao pecado inato, morrer para com os pecados atuais e estar espiritualmente alerta. Não conhecia a minha verdadeira condição até que me foi revelada por Teu Espírito. Eu acreditava que era cristão, mas quando me examinei cuidadosamente, comprovei que era completamente mundano, carnal e sem a Tua Palavra; então aprendi a conhecer, assim como Paulo, a minha cegueira, nudez, imundice, natureza depravada, e que nada de bom residia na minha carne.


7. A Expiação:

Creio, que este bem pode ser chamado de Evangelho da alegria e boas novas para todas as almas convictas e aflitas, que por meio da lei chegaram ao conhecimento de seu pecado e sabem que estão em perigo da morte eterna; que tremem diante da justa ira e juízo de Deus, já que o Todo-poderoso e Eterno Deus e Pai amou de tal maneira a nós, pobres, desagregáveis pecadores, que tanto havíamos nos afastado dele e que de acordo com o seu justo juízo estávamos destinados a morte eterna, que mandou ao mundo o seu Todo-poderoso e Eterno Verbo, seu único, eterno e amado Filho, o esplendor de sua Glória, em forma de simples mortal, semelhante a Adão antes da caída, como prova e meio de sua graça, o qual, mediante a Sua perfeita justiça, obediência voluntária e morte inocente nos levou do domínio de Satanás para o reino da Sua divina graça e eterna paz. Por toda a eternidade não se encontrará outro remédio para os nossos pecados, nem no céu e nem na terra; nem nas obras, méritos e ordenanças (nem ainda nas que são observadas de acordo com as Escrituras na lei) nem perseguição, nem tribulação, nem o sangue inocente dos santos, nem anjos, nem homens, nenhum outro meio, mas unicamente o imaculado sangue do Cordeiro, o qual, pela graça, misericórdia e amor, foi derramado uma vez para remissão dos nossos pecados. Todos eles procuram algum remédio para os seus pecados, mas não reconhecem a Cristo, o único remédio verdadeiro; imaginaram e inventaram tantos, que não podemos contá-los nem descrever a todos eles: tais como as indulgências romanistas, água benta, jejuns, confissões, missas, peregrinações, batismo infantil, pão e vinho, etc. Querido leitor; falamos à você a verdade em Cristo: pode acreditar, fazer, esperar e procurar aonde e o que quiser, estamos certos que por toda a eternidade não encontrará outro remédio para os teus pecados que sejam válidos diante de Deus, a não ser este que acabamos de mostrar-lhe, o qual é Cristo Jesus, a menos que toda a Escritura seja errônea e falsa. Portanto, aqueles que procuram outro meio de salvação, não importa quão santo que possa parecer, fora do único meio providenciado pelo próprio Deus, negam a morte do Senhor, que padeceu por nós, e seu inocente sangue que foi derramado por nós. Não há outro remédio para o pecado, senão o sangue precioso de Cristo; nem obras, nem méritos, nem batismo, nem ceia (ainda que sabemos que os verdadeiros cristãos praticam estas cerimônias em cumprimento da Divina Palavra) de outro modo, o que conseguimos mediante os méritos de Cristo é atribuído aos elementos e criaturas. As ordenanças cristãs são sinais de obediência, por meio da qual se exercita a nossa fé. Entendemos que o novo nascimento se produz por meio da Palavra de Deus. (Romanos 10:14; 1ªCoríntios 4:15; Tiago 1:18; 1ªPedro 1:23).


8. Arrependimento:

Eis aqui, amado leitor, o arrependimento que ensinamos, a saber: morrer quanto a antiga vida pecaminosa e não viver mais de acordo com as concupiscências da carne, mas fazer o que Davi fez. Quando foi reprovado pelo profeta por causa de seu pecado, chorou amargamente, clamou a Deus, se afastou do pecado e não voltou a cometê-lo nunca mais. Pedro pecou gravemente somente uma vez. Mateus, depois da sua chamada não voltou para a sua antiga vida. Zaqueu e a mulher pecadora não voltaram a tornar-se culpáveis das obras impuras das trevas. Zaqueu fez a restituição do que havia defraudado e enganado e deu aos pobres e desamparados, a metade dos seus bens. A mulher chorou amargamente e lavou os pés do Senhor com as suas lágrimas, o ungiu com unguento precioso e se assentou humildemente a seus pés para escutar a sua bendita palavra. Estes são os verdadeiros frutos do arrependimento que é aceitável ao Senhor. Este arrependimento ensinamos e não outro, a saber: que ninguém pode gloriar-se da graça de Deus e do perdão de seus pecados e dos méritos de Cristo, enquanto que os verdadeiros frutos do arrependimento não se produzirem em sua vida. Não é suficiente que digamos que somos filhos de Abraão, quer dizer, que levamos o nome de Cristãos, mas que devemos fazer as obras de Abraão (João 8:39). Temos que andar como todo verdadeiro filho de Deus, que é guiado e ordenado pela Palavra de Deus, como disse João: “Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. (1ªJoão 1:6-7). Mas se quiser se arrepender e se confessar sinceramente, e receber a verdadeira absolvição de Deus, aproxime-se dele com o coração confiante, penitente, contrito, com a alma dolorida e amargurada; esqueça o pecado, faça o que é justo e reto ao teu próximo, ame, ajude, sirva, reprove e conforte como deve. E se pecou contra ele, ou se alguma vez o tenha prejudicado de alguma forma, confessa-o e dê a ele satisfação. Porque esta é a verdadeira confissão auricular e penitência ensinada na Palavra de Deus.


9. Fé:

A verdadeira fé que tem valor diante de Deus é um poder vivo e salvador, que por meio da pregação da santa palavra é conferida por Deus ao coração, mudando-o, transformando-o e regenerando-o. Destroe toda maldade, vaidade, ambição pecaminosa e egoísmo, nos tornando como crianças para com a malícia, etc. Esta é a fé que as Escrituras nos ensinam, e não uma vã, morta e infrutífera ilusão, como o mundo imagina. Sim, querido leitor, a verdadeira fé cristã, como as Escrituras a requerem, é tão viva, ativa e forte em todos aqueles que por meio da graça de Deus a obtiveram, que não vacilam em abandonar pai, mãe, esposa, filhos, fortuna e posses pelo testemunho e Palavra do Senhor. Estão dispostos a suportar todo tipo de escárnios, desgraças, privações e prisões, e finalmente a que seus frágeis corpos sejam queimados na fogueira como vemos que frequentemente ocorre com piedosos filhos de Deus e fiéis seguidores de Cristo, especialmente nestes nossos Países Baixos. É certo que a fé realiza tudo plenamente, sendo que Deus não pode faltar com as suas promessas, mas que as cumpre, pois Ele é a verdade e não pode mentir, como está escrito, por isso é que a fé torna aos crentes generosos, otimistas e alegres no Espírito, ainda que estejam confinados em prisões e cadeias ou sofram a morte por água, fogo ou espada. Porque a fé coloca em seus corações a segurança que Deus não faltará com as suas promessas, mas que as cumprirá no seu devido tempo. Creem em Cristo, no qual a promessa tem sido confirmada, reconhecem por intermédio dele, a sua graça, palavra e vontade, apesar de terem vivido em tempos passados tão impiamente e de acordo com a carne. Não, leitor amado, não cremos que a fé tenha valor por si mesma, de nenhuma maneira, mas que o beneplácito de Deus uniu a sua promessa com a verdadeira e genuína fé por meio da palavra. A fé salva não por seus próprios méritos, mas pela promessa que traz consigo. Observe que a verdadeira fé Cristã por meio da graça, é a única fonte da qual fluem não somente uma vida nova, mas obediência para com as cerimônias evangélicas tais como o batismo e a Ceia do Senhor; não como uma imposição da lei, pois o cetro da opressão está destruído, mas pelo espírito submisso e voluntário do amor, o qual, a semelhança da natureza de Cristo está disposto e ansioso para toda boa obra em obediência quanto a santa e divina Palavra.


10. Justificação pela Fé:

Aqueles que confiam em suas obras ou cerimônias para obter a salvação, negam a graça e méritos de Cristo. Porque se a reconciliação consistisse em obras e ritos, a graça seria desnecessária e os méritos e virtude do sangue de Cristo, seriam vãos. Oh, não! É graça e será graça por toda a eternidade o que o misericordioso Pai fez mediante o Seu amado Filho e Espírito Santo, por nós, pobres pecadores. O fato de que fugimos das obras pecaminosas e desejamos amoldar-nos dentro da nossa imperfeição a sua Palavra e mandamentos, se deve a que Ele tem ensinado, e requer isto de nós. Porque qualquer um que não andar de acordo com a sua doutrina, mostra pelas suas obras que não crê nele e não o conhece, e que não está na comunhão dos santos. (João 15:7;1ª João 3:10; 5:10; 2ªJoão cap.6). Ensinamos enfaticamente que não poderemos ser salvos nem agradar a Deus por obras externas, não importa quão grandes e boas pareçam, pois em todo caso estão sujeitas a imperfeição e debilidade e considerando a corrupção da carne não poderemos, por seu intermédio, conseguir a justificação requerida nos mandamentos. Manifestemos, portanto, somente a Jesus Cristo que é a nossa única e eterna justificação, reconciliação e propiciação com o Pai, e não confiemos nas nossas próprias obras. Leitor meu, escrevo a verdade em Cristo e não minto. Observe leitor amado, que não cremos nem ensinamos a salvação pelas nossas obras e méritos, como os nossos antagonistas nos acusam sem nenhum fundamento, mas somente por graça, por meio de Cristo Jesus como já foi dito.


11. Regeneração - A nova vida:

O novo nascimento não consiste certamente em água nem em palavras, mas é o poder vivificante e celestial de Deus em nossos corações que provém dele, e mediante a pregação da palavra divina, se a aceitamos por fé, comove, penetra, renova e transforma o nosso coração, de tal maneira que somos trasladados da infidelidade para a fé, da injustiça para a justiça, do mal para o bem, da carnalidade para a espiritualidade, do terreno para o celestial, da natureza pecaminosa de Adão para a natureza santa de Jesus. Todos aqueles que aceitam por fé esta graça de Cristo, que é pregada pelo Evangelho, e se apropriam dela de todo o coração, são novamente nascidos de Deus pelo poder do Espírito Santo. Seus corações e mentes são transformados e renovados; são transferidos de Adão para Cristo. Andam em nova vida como filhos obedientes na graça que lhes é oferecida. São renovados, tenho falado; se tornam pobres em espírito, mansos, misericordiosos, compassivos, pacifistas, pacientes, famintos e sedentos, prosseguindo com bastante empenho por meio de boas obras atrás da vida eterna; porque creem, são nascidos de Deus, estão em Cristo e Cristo neles; participam de seu Espírito e natureza e portanto, vivem pelo poder de Cristo que está neles, de acordo com a Palavra do Senhor. Isto é o que significa, de acordo com as Escrituras, crer, ser cristão, estar em Cristo e Cristo em nós. Deus não procura palavras nem aparências, mas poder e obras. Crê que é suficiente conhecer a Cristo de acordo com a carne? Ou somente dizer que pela justiça, estão prontos para sofrer pela verdade? Crê nele, que sois batizados e Cristãos e que sois comprados pelo sangue e morte de Cristo? Ah, não! Eu tenho falado e repito; terão que ser nascidos de Deus, e a vossa vida mudada e convertida de tal maneira, que sereis novos homens em Cristo, que Cristo esteja em vós e vós nele, ou nunca podereis ser cristãos, pois “Se alguém está em Cristo, nova criatura é.” Mas primeiramente, se querem ser salvos, a vossa vida terrena, carnal e ímpia, deve mudar. Porque as Escrituras, com todas as suas admoestações, ameaças, reprovações, milagres, exemplos, cerimônias e ordenanças, não ensinam outra coisa a não ser arrependimento e nova vida. E se não se arrepender, não haverá nada no céu e nem na terra que possa ajudá-los, pois sem o verdadeiro arrependimento, toda consolação é vã. Temos que nascer do alto, ser mudados e renovados em nosso coração, e assim ser trasladados da injusta e pecaminosa natureza de Adão para a justa e santa de Cristo, ou não poderemos ser auxiliados por toda a eternidade por nenhum meio, seja divino ou humano. A regeneração da qual escrevemos, e da que surgem vidas piedosas e contritas, possuidoras da promessa, se efetua somente pela pregação da Palavra do Senhor se for ensinada corretamente e recebida no coração por meio da fé e do Espírito Santo.


12. A Santidade da Vida:

A verdadeira fé evangélica é de uma natureza tal que não pode permanecer inativa ou vã; sempre manifesta o seu poder. Assim como, devido a sua natureza o fogo não produz senão chamas e calor, o sol calor e luz, a água humidade e a boa árvore, bons frutos de acordo com as suas propriedades naturais, assim também a verdadeira fé evangélica produz frutos evangélicos em concordância com a sua verdadeira, boa e pura natureza evangélica. Os verdadeiros crentes mostram em suas vidas e ações que creem, são nascidos de Deus e guiados espiritualmente. Levam uma vida humilde e piedosa diante dos homens, são batizados de acordo com os mandamentos do Senhor, como prova e testemunho de que seus pecados tem sido apagados pela morte de Cristo e que desejam andar com Ele numa nova vida; compartilham o pão da paz com os seus amados irmãos, como prova e testemunho de que são um com Cristo e com sua Igreja e que não tem e nem conhecem outro meio de graça e de remissão de pecados, nem no céu, nem sobre a terra, senão no corpo inocente e no sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais somente uma vez, por seu Espírito Eterno e em obediência ao Pai, ofereceu e verteu sobre a cruz por nós, pobres pecadores. Os verdadeiros cristãos vivem em todo amor e misericórdia, ajudam ao seu próximo, etc. Enfim, ordenam as suas vidas, dentro da sua imperfeição, de acordo com as palavras, mandamentos, ordenanças, espírito, regras, exemplo e medida de Cristo, como as Escrituras ensinam, pois estão em Cristo e Cristo neles. E portanto, não continuam com a antiga vida pecaminosa herdada do Adão terreno (com exceção da própria debilidade humana) mas na nova vida de justiça que é pela fé, proveniente do segundo Adão Celestial, Cristo; como disse Paulo: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gálatas 2:20). E Cristo disse que aqueles que o amam, guardarão os seus mandamentos. (João 14:15). Além disso, ensinamos o verdadeiro amor e temor de Deus, o verdadeiro amor ao próximo, a servir e ajudar ao necessitado e a não ofender a ninguém; a crucificar a carne e os seus desejos e concupiscências; a despojar o coração, boca e o corpo inteiro de todo pensamento impuro, palavras e ações inconvenientes, com a espada da Palavra divina. Considere agora se não é esta a vontade de Deus, a verdadeira doutrina de Jesus Cristo, o uso correto de suas ordenanças e a verdadeira vida, a qual é de Deus, ainda que se oponham a ela insistentemente todas as portas do inferno. Por outro lado, os pensamentos daqueles que são cristãos de verdade, são puros, castos, suas palavras são verazes e temperadas com sal; para eles o sim é sim e o não é não, e suas ações estão inspiradas no temor de Deus. Seus corações são celestiais e renovados, sua alma pacífica e alegre; procuram a justiça com todo empenho. Enfim, tem por meio do Espírito e Palavra de Deus, uma segurança tal de sua fé, que podem por meio dela afrontar a sangrentos e cruéis tiranos com todas as suas torturas, prisões, exílios, despojos de propriedades, armadilhas, fogueiras, carrascos e tormentos; e com verdadeiro zelo divino, com puro e inocente coração, com um simples sim e não, estão dispostos a morrer. A glória de Cristo, a doçura da sua Palavra, a salvação de suas almas, são mais preciosas para eles do que todas as outras coisas abaixo do céu.


13. A Igreja:

Os verdadeiros mensageiros do Evangelho, que são um com Cristo em espírito, amor e vida, ensinam o que lhes tem sido confiado por Ele; a saber, o arrependimento e o pacífico Evangelho da graça que Ele próprio recebeu do Pai e pregava no mundo. Todos quantos o ouvem, creem, aceitam e cumprem como é devido, tornam-se parte da Igreja de Cristo, a verdadeira e fiel Igreja Cristã, o corpo e a noiva do Senhor, a arca de Deus, etc. Eles são os eleitos para proclamar o poder daquele que os chamou das trevas para a sua luz admirável. A Igreja de Cristo é composta dos eleitos de Deus, seus santos e amados, que lavaram suas roupas no sangue do Cordeiro, que são nascidos de Deus e guiados pelo Espírito de Cristo, que estão em Cristo e Cristo neles, que ouvem e creem na sua Palavra, vivem, dentro da sua fraqueza, de acordo com seus mandamentos e com paciência e mansidão seguem as suas pisadas; que odeiam o mal e amam o bem, que procuram ardentemente apossar-se de Cristo como Cristo apossou-se deles. Porque todos os que estão em Cristo são novas criaturas, carne de sua carne, osso de seus ossos e membros de seu corpo. As verdadeiras características pelas quais pode ser reconhecida a Igreja de Cristo são: 1. Doutrina pura e sem adulterações. 2. Prática das ordenanças de acordo com as Santas Escrituras. 3. Obediência a Palavra. 4. Sincero amor fraternal. 5. Aberta confissão de Deus e Cristo. 6. Suporta perseguição e ódio por causa da Palavra do Senhor.

Algumas das outras parábolas, como a da rede na qual caem peixes bons e maus; a das virgens prudentes e insensatas e suas lâmpadas; a das bodas do filho do rei e seus hóspedes e a época com trigo e joio, apesar de que o Senhor mencionou sobre elas na Igreja, não significa que se deva aceitá-las em seu seio, nem manter em comunhão com ela aos transgressores; nesse caso Cristo e Paulo difeririam em doutrina, pois Paulo disse que os tais devem ser disciplinados e separados (1ªCoríntios 15:11). Mas isso era necessário porque muitos se misturavam com os cristãos adotando aparências de tais e colocando-se no mesmo nível a respeito da Palavra e seus sacramentos, quando na realidade somente eram hipócritas e simuladores diante de Deus; estes são os semelhantes aos peixes rejeitados que serão lançados fora da rede pelos anjos no Dia do Senhor; as virgens insensatas que não tem azeite em suas lâmpadas; ao hóspede sem o traje de boda e ao joio. Eles simulam temer a Deus e seguir a Cristo, recebem o batismo e a Ceia do Senhor, tem todas as boas aparências, mas não tem fé, arrependimento, verdadeiro temor e amor de Deus, Espírito, poder, frutos e nem obras.


14. Separação do Mundo:

O inteiro Evangelho ensina que a Igreja de Cristo era e tem que ser um povo separado do mundo em doutrina, vida e culto. Assim foi no Antigo Testamento. (2ªCoríntios 6:17; Tito 2:14; 1ªPedro 2:9-10;1ªCoríntios 5:17; Êxodo 19:12). Visto que a Igreja sempre foi e deve ser um povo separado, como se falou, e sendo evidente como o sol luminoso, que por vários séculos não se tem observado nenhuma diferença entre a Igreja e o mundo, mas que todos tem estado confundidos no batismo, Ceia do Senhor, vida e culto, sem nenhuma diferença, numa forma abertamente disputada com os princípios das Sagradas Escrituras; portanto nós nos sentimos compelidos pelo Espírito e pela Palavra de Deus, a adoração de Cristo e ao serviço e melhoramento de nosso próximo, por motivos elevados, como já foi dito, para conseguir, não para nós, mas para o Senhor, uma congregação ou Igreja piedosa, penitente ... não pela força das armas ou por compulsão, (como é habitual nas seitas populares) uma Igreja separada do mundo como ensinam as Escrituras. Os ministros (das igrejas do Estado) deveriam pregar honestamente a palavra do arrependimento sincero, no poder do Espírito. Todos aqueles que o aceitam de coração e se arrependem, devem em seguida participar dos sacramentos de Cristo de acordo com as ordenanças. E aqueles que não creem e deliberadamente os menosprezarem, devem, com a autorização da Palavra divina, ser separados da comunhão da sua Igreja, sem respeitar a pessoa, seja ela rica ou pobre. Deste modo poderá reunir-se uma Igreja para Cristo e praticar-se as ordenanças do Senhor corretamente de acordo com as Escrituras.


15. Fraternidade Verdadeira:

Somos acusados e se afirmar que temos as nossas propriedades em comum. Replicamos que tal acusação é falsa e sem nenhum fundamento. Não ensinamos nem praticamos a comunidade de bens. Mas ensinamos e sustentamos com a autoridade da Palavra de Deus, que todos os verdadeiros crentes são membros de um mesmo corpo, estão batizados por um Espírito num corpo. (1ªCoríntios 10:3) e tem um Senhor e um Deus. (Efésios 4:5-6). Visto que desta forma são um, é pois razoável e cristão que se amem uns aos outros sinceramente e que um membro se preocupe pelo bem estar do outro, pois tanto a natureza como as Escrituras o ensinam assim. As Escrituras exigem caridade e amor, e esta é a característica pela qual se reconhece ao verdadeiro cristão, como disse Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos (quer dizer cristãos), se vos amardes uns aos outros”. (João 13:35). Leitor amado, nunca se observou uma pessoa sensata que vista e cuide de uma parte de seu corpo e deixe o resto sem cuidados e desnudo. Não. É lógico distribuir cuidados a todos os membros. O mesmo deve ocorrer com os que formam a Igreja ou o corpo do Senhor. Todos aqueles que são nascidos de Deus, são feitos partícipes de seu Espírito e chamados a um corpo de amor, de acordo com as Escrituras, e dispostos por causa desse amor, a servir a seus semelhantes, não somente com dinheiro e bens, mas também conforme ao exemplo de seu Senhor e Cabeça, Jesus Cristo, a maneira evangélica, quer dizer, com a sua vida e com o seu sangue. Praticam a caridade e o amor em todo o possível; não toleram que haja mendigos entre eles; distribuem o necessário entre os santos, recebem ao miserável, hospedam ao estrangeiro, consolam ao afligido, dão assistência ao necessitado, vestem ao desnudo, alimentam ao faminto, não menosprezam ao pobre e não descuidam de seus membros necessitados - sua própria carne -. (Isaías 58:7-8). Repito: Este é o amor, caridade e comunidade que ensinamos e praticamos e que por dezessete anos temos ensinado e praticado de tal forma que, apesar de termos sido muitas vezes despojados de nossas propriedades e de ser ainda vítimas de roubos, ainda que muitos pais e mães piedosos e tementes a Deus tem sido levados para a morte por meio do fogo, água ou espada e ainda que nós mesmos não temos domicílio seguro ou morada, como é conhecido, e apesar das circunstâncias difíceis, em nenhum caso, graças sejam dadas a Deus por isto, nenhum irmão ou algum de seus filhos que nos foram confiados foram vistos com a necessidade de mendigar. Eles se jactam de seguir a Palavra de Deus e de ser a verdadeira Igreja Cristã, e não compreendem que tem perdido por completo as características do Cristianismo verdadeiro; pois ainda que possuam de tudo em abundância e que muitos de seus membros vivam na suntuosidade e na voluptuosidade, em gastos supérfluos, vestindo-se com seda e veludo, ouro e prata e todo tipo de pompa e vaidade; que mobíliam as suas casas com todo tipo de custosos ornamentos e tem seus cofres repletos, no entanto, permitem que na sua congregação andem mendigando muitos dos membros pobres e afligidos, apesar de ser crentes semelhantes a eles e de ter recebido o mesmo batismo e participar do mesmo pão com eles; permitem que alguns sofram a mais cruel miséria, fome e necessidade e que muitos idosos, enfermos, mutilados, cegos, se vejam obrigados a mendigar o pão na porta de seus próprios irmãos mais afortunados.


16. As Ordenanças:

Os regenerados na verdade e guiados espiritualmente concordam em tudo com as palavras e ordenanças do Senhor; não porque esperam conseguir com isto a propiciação de seus pecados e a vida eterna; de maneira alguma. Para isto dependem exclusivamente do sangue e dos méritos de Cristo - confiando na promessa que o Pai misericordioso deu a todos os crentes- cujo sangue é e será, por toda a eternidade, repito, o único meio possível de reconciliação, e não as obras, batismo e a Santa Ceia como já foi dito. O arrependimento deve anteceder as ordenanças e não o inverso. Visto que as ordenanças do Novo Testamento são em si mesmas completamente impotentes, vãs e inúteis, se aquilo que significam, em especial a nova vida, não está em evidência, como tenho dito ao tratar do batismo. Em poucas palavras; em tudo o que se refere a Igreja Cristã, meu único argumento e sincera convicção é que diante de Deus nem o batismo, Santa Ceia, e nenhuma outra cerimônia externa vale, se for realizada sem o Espírito de Deus e sem a nova criatura; mas que, como claramente ensinou Paulo, diante de Deus somente tem valor a fé, espírito e regeneração. (Gálatas 5:6). Todos os que pela graça de Deus tem recebido isto do alto, podem ser batizados de acordo como mandamento do Senhor e participar da Santa Ceia. Desta forma, com ardente desejo acatam todas as ordenanças e doutrinas de Cristo e nunca se opõem a santa vontade e testemunho de Deus. As cerimônias sem realidade não tem nenhum mérito diante de Deus. Porque Ele não é um Deus que se agrada com aparências externas, cerimônias, símbolos, pão, vinho, água e serviço nominal, mas em espírito, poder, obras e verdade. Porém ainda o príncipe das trevas, a serpente antiga, o diabo, se transforma em anjo de luz; aparentemente nada se torna para ele difícil nem incômodo; sempre que puder apoderar-se da cidadela do nosso coração e expulsar a natureza de Cristo, seu espírito e poder, então já terá conseguido o prêmio pelos seus esforços. Na realidade, se um homem fosse batizado por Pedro ou pelo próprio Paulo e recebesse o pão da Santa Ceia das próprias mãos do Senhor, e nunca mais participasse da idolatria dos sacerdotes, mas se retivesse uma só das obras do diabo, a saber, ódio, inveja, rancor, sede de vingança, ou ganância, orgulho, desonestidade ou qualquer outro vício, poderia afirmar-se com as Escrituras que o seu espírito é mau e sua vida hipócrita.


17. Batismo:

Não somos regenerados por termos sido batizados ... ... mas somos batizados porque temos sido regenerados pela fé e pela palavra de Deus, (1ªPedro 1:23). A regeneração não é o resultado do batismo, mas o batismo é a consequência da regeneração. Isto não pode ser discutido pelo homem e nem desaprovado pelas Escrituras. As Escrituras não reconhecem senão um remédio, o qual é o Cristo com seus méritos, morte e sangue. Portanto, aquele que procura a remissão de seus pecados no batismo, despreza o sangue de Cristo e faz da água, o seu ídolo. Por isto, que cada um tenha cuidado para não atribuir a honra e glória devidos a Cristo, as cerimônias externas e aos elementos visíveis. O crente obtêm a remissão de seus pecados não por meio do batismo, nem no batismo, mas da seguinte forma: quando de todo coração crê no precioso Evangelho de Jesus Cristo que lhe foi pregado e ensinado, a saber, as boas novas da graça, remissão de pecados, paz, favor, misericórdia e vida eterna por meio de Cristo, nosso Senhor, experimenta uma mudança de mente; renuncia a si mesmo, se arrepende de sua velha vida pecaminosa, e com toda diligência presta atenção a Palavra do Senhor, que lhe tem demostrado um amor tão grande e cumpre com tudo aquilo que se ensina e ordena em seu santo Evangelho. A sua confiança repousa firmemente sobre a palavra da graça que lhe promete a remissão de seus pecados pelo precioso sangue e os méritos de nosso Senhor Jesus Cristo. Em seguida, então, recebe o santo batismo como sinal de obediência que procede da fé, como testemunho diante de Deus e de sua Igreja de que firmemente crê na remissão de pecados por Jesus Cristo, como lhe foi pregado e ensinado pela Palavra de Deus. Este é o menor dos mandamentos dados por Ele. Muito maior é o mandamento de amar aos inimigos, fazer bem aos que nos odeiam, orar em espírito e verdade por aqueles que nos perseguem, submeter a carne a Palavra de Deus, pisotear todo orgulho, cobiça, impureza, ódio, inveja e intemperança; ajudar ao próximo com ouro, prata, lar, posses, trabalho e ações, com vida e morte; além de ser libertados de todo desejo mal, palavras inconvenientes e más obras; amar a Deus e a sua justiça, vontade e mandamentos com todo o coração e levar a cruz do Senhor Jesus Cristo com alegria. Pode o mandamento do batismo ser comparado com qualquer um destes? Volto a repetir que é o menor dos mandamentos que nos foram dados, pois não mais do que um pequeno rito externo, consistente na aplicação de um pouco de água. Todo aquele que obteve o mais importante, a saber a obra interior, não dirá: “De que me pode servir a água?” Senão que estará disposto, com coração obediente e agradecido a ouvir e cumprir com a Palavra de Deus. Mas enquanto não tiver obtido a obra interior, bem poderá exclamar: “De que me pode servir a água?”


18. A importância do Batismo:

Todos aqueles que pela graça de Cristo tem sido transferidos de Adão para Cristo, feitos participes da natureza divina, e batizados por Deus com Espírito e fogo do amor celestial, não contenderão ironicamente com Cristo dizendo: “De que me pode servir a água.” Mas que dirão como o temeroso Saulo: “Senhor, que queres que eu faça?” e como os penitentes dos dias de Pentecostes: “Homens irmãos, o que faremos?” Renunciarão a sua própria opinião voluntariamente e obedecerão a Palavra de Deus, pois são guiados por seu santo Espírito, e por meio da fé, cumprem alegremente com todas as coisas ordenadas pelo Senhor. Mas enquanto as suas almas não forem renovadas e não tiverem a mente de Cristo (Filipenses 2:5), não são lavados no homem interior com a água clara da fonte viva de Deus, (Hebreus 10:22), bem pode dizer: “De que nos pode servir a água?”. Pois todo o oceano não os limpará enquanto estiverem inclinados ao mundanismo e para a carnalidade.


19. Batismo na infância:

Por enquanto não encontramos na Bíblia uma só palavra pela qual Cristo ordenara o batismo de crianças, ou que seus apóstolos o ensinaram ou praticaram. Afirmamos e confessamos que o batismo infantil não é, senão, uma invenção humana, opinião dos homens, perversão dos ensinos de Cristo. Batizar antes do requerido para o batismo, a saber, a fé, é como se quisesse colocar a carroça na frente do cavalo, semear antes de arar, construir antes de ter os materiais, ou fechar a carta antes de tê-la escrito. Eles apelam para Orígenes e Agostinho como último recurso, e dizem que estes asseguravam ter recebido a doutrina do batismo infantil dos apóstolos. A isto replicamos e perguntamos se Orígenes e Agostinho provam isto com as Escrituras; se for assim, gostaríamos de saber. Do contrário, devemos ouvir e crer em Cristo e em seus apóstolos e não em Agostinho e Orígenes. Além disso, se os que batizam crianças afirmam que este batismo não é proibido e que portanto, é correto, sustento que não estão expressamente proibidos nas Escrituras: a bênção, como eles chamam, de água benta, velas, palmas, cálice e vestimentas, a celebração de missas e outras cerimônias; apesar disso, afirmamos e sustentamos que tudo isso é mal, primeiramente porque o povo põem a sua fé nessas coisas, e em segundo lugar porque é realizado sem o mandamento de Deus, pois nada disto tem sido instituído por Ele, e não se deve observar nenhum mandamento que não esteja contido ou implicado na sua Santa Palavra, em letra ou espírito. Amados: visto que as ordenanças de Cristo são imutáveis e que somente elas são aceitas por Deus, e visto que Ele ordenou que o Evangelho deve ser primeiramente pregado e em seguida batizados aqueles que creem, ocorre que os que batizam e são batizados sem que se tenha sido ensinado o Evangelho e sem fé, batizam e são batizados na sua própria opinião, sem a doutrina e mandamentos de Cristo Jesus, e portanto, é uma cerimônia ímpia, inútil e vã. Pela mesma razão, Israel poderia ter circuncidado as mulheres, pois não estava expressamente proibido, poderiam tê-lo feito sem o mandamento de Deus, porque Ele havia ordenado que fossem circuncidados os varões. O mesmo é neste caso. Se batizamos as crianças inconscientes porque não está expressamente proibido pelas Escrituras, assim como não o está circuncidar as mulheres, o fazemos sem a ordenança de Cristo, porque Ele mandou que fossem batizados aqueles que ouviam e acreditavam em seu santo Evangelho. (Mateus 28:19; Marcos 16:16; Atos 2:38; 9:18; 10:48; 16:33). Eu sei que Lutero ensinou que a fé está presente nas crianças exatamente como num crente que dorme. A isto respondo, primeiro, que ainda no caso de que existisse tal fé nas crianças inconscientes (coisa que não é mais do que um sofisma humano) seria, não obstante, impróprio batizá-las enquanto não puderem confessá-la verbalmente e não mostrem os frutos requeridos. Porque os santos apóstolos não batizaram nenhum crente enquanto dormia, como temos provado nos escritos interiores. Em terceiro lugar replicamos que nas Escrituras temos registrados quatro casos de famílias que foram batizadas, a saber: a de Cornélio, a do carcereiro, a de Lídia e Estéfanas (Atos 10:48; 16:15,33; 1ªCoríntios 1:16), e as Escrituras claramente provam que em três destas famílias, todos eram crentes, a saber, a de Cornélio (Atos 10:2,44-47); a do carcereiro (Atos 16:34) e a de Estéfanas (1ªCoríntios 16:15); Mas no que se refere a família de Lídia, o leitor deve saber que, apesar de que a Bíblia nada diz a respeito, não é usual nas Escrituras nem é costume no mundo, chamar a família pelo nome da mulher enquanto viver o marido. Visto que Lucas designa a família pelo nome da mulher, e não pelo do homem, a razão nos diz que Lídia devia ser nessa época, viúva ou solteira, e a respeito de opinar se em seu lar havia ou não crianças, deixamos isto para o livre juízo dos leitores pios e tementes a Deus.


20. Salvação das crianças:

Apesar das crianças não receberem o batismo, não pense que por isso estão perdidas. Oh não! São salvas, porque tem a promessa do próprio Senhor, que delas é o reino de Deus. Não por meio de algum elemento, cerimônia, nem rito exterior, mas somente pela graça de Jesus Cristo. E é sabido que cremos sinceramente que a graça se estende até elas, e que além disso, são aceitas diante de Deus, puras e santas, herdeiras de Deus e da vida eterna. Com base nesta crença, todos os cristãos devem estar seguros e regozijar-se ante a certeza de que suas crianças são salvas. Se morrerem antes de chegar a idade do entendimento e de poder ouvir e crer, estarão sob a promessa de Deus e serão salvas, e isto não por outros meios, mas pela preciosa promessa da graça dada pelo Senhor Jesus. (Lucas 18:16). Mas se, tendo chegado a idade da compreensão, ouvem e creem, devem ser batizadas. Se não aceitam ou não creem na palavra uma vez que chegaram nesta época da vida, sejam ou não batizadas, estarão perdidas, como Cristo mesmo ensinou. (Marcos 16:16). Visto que, se sob a Antiga Dispensação as crianças eram recebidas no pacto de Deus mediante a circuncisão, e os da Nova Dispensação por meio do batismo como ele (Gellius) afirma, daí se desprende irrefutavelmente que as crianças que morreram antes do oitavo dia e aquelas que não foram circuncidadas no deserto (Josué 5:5) assim como todas as mulheres, não pertenciam a Igreja ou congregação Israelita e portanto não tinham parte na graça, pacto ou promessa. O mesmo deveria aplicar-se as crianças que morrem antes de terem sido batizadas. Oh abominação espantosa!


21. O Erro da Regeneração Batismal:

Ensinar e crer que a regeneração se obtém por meio do batismo, meus irmãos, é tremenda idolatria e blasfêmia contra o sangue de Cristo. Porque não há nada no céu nem na terra que apague nossos pecados, sejam eles simples propensão ao mal ou transgressões, mas somente o sangue de Cristo, como falamos anteriormente (1ªPedro 1:19; 1ªJoão 1:7; Colossenses 1:20). Se atribuímos ao batismo a remissão de pecados, e não ao sangue de Cristo, fazemos do batismo um bezerro de ouro e o colocamos no lugar de Cristo. Porque se podemos ser lavados ou limpos pelo batismo, então Cristo e seus méritos ficariam desprezados, exceto se confessamos que há dois meios para a remissão de pecados, a saber o batismo e o sangue de Cristo. Mas isto não é assim, nem o será por toda a eternidade; porque o imaculado e precioso sangue de Nosso Senhor Jesus, deve ser e é digno de ter esta glória, como os profetas e apóstolos tão claramente profetizaram e testemunharam por meio das Escrituras.


22. A Ceia do Senhor. (Santa Ceia):

Do mesmo modo cremos e confessamos que a Ceia do Senhor é um símbolo sagrado, instituído pelo próprio Senhor, com pão e vinho, e encomendado aos seus em memória dele, ensinado e administrado também de acordo ao instituído pelo Senhor, pelos Apóstolos entre os irmãos. Ensinamos, praticamos e desejamos que a Ceia que o próprio Senhor instituiu e administrou, seja observada pela Igreja que esteja visivelmente livre de manchas ou infâmia, que dizer, sem transgressões ou pecados conhecidos; pois ela somente julga aquilo do qual tem conhecimento; mas o pecado oculto, que não é visível, Deus é quem deve julgá-lo, porque somente Ele conhece os corações e os pensamentos. A Ceia do Senhor deve ser observada no seu duplo significado, a saber, pão e vinho comemorando a morte do Senhor, e como renovação e evidência de amor fraternal. Ensinamos, procuramos e exigimos que a Ceia do Senhor seja observada como Jesus a instituiu e observou, ou seja por uma Igreja livre exteriormente de ofensa e de vergonha, alheia a toda transgressão e pecado visível, porque a igreja julga o que é visível. Mas no caso de pecado oculto, que não se manifesta abertamente para a Igreja como a traição de Judas, Deus é quem deve julgar e sentenciar, pois somente Ele e não a Igreja, discerne o coração e as entranhas.


23. Disciplina:

É evidente que uma congregação ou Igreja não pode continuar na sã doutrina e vida piedosa e imaculada sem a prática apropriada da disciplina. Como uma cidade sem muros e portas, ou um campo sem cercado, ou uma casa sem paredes, assim é a Igreja sem a verdadeira excomunhão ou anátema apostólicos. Porque ficaria exposta a todos os espíritos enganadores, ímpios, escarnecedores, soberbos e desdenhosos, a todos os idólatras e transgressores insolentes, assim como a todos os libertinos e adúlteros, como ocorre nas grandes seitas do mundo que se chamam a si mesmas, ainda que impropriamente, igrejas de Cristo. No meu entender, é uma característica primordial, uma honra e um meio de prosperidade para a verdadeira Igreja, ensinar com discrição cristã a verdadeira excomunhão apostólica e observá-la cuidadosamente, com amor vigilante, conforme os ensinos das Sagradas Escrituras. Porque enquanto os pastores e mestres (na primitiva Igreja Cristã) ensinaram cuidadosamente e exigiram vidas pias, administraram o batismo e a Santa Ceia somente aos piedosos, e praticaram corretamente a disciplina de acordo com as Escrituras, constituíram a Igreja e congregação do Senhor. Portanto, tenha cuidado; se ver o teu irmão pecar, não passe junto a ele como alguém a quem não tem interesse pela sua alma, pois se a queda não é de morte, ajude-o em seguida a levantar-se com amáveis conselhos e amor fraternal, como alguém que procura ardentemente a sua salvação, antes de começar a comer, beber, dormir ou fazer qualquer outra coisa, não seja que o teu pobre irmão errante se afunde no pecado e pereça.


24. Arrependimento no caso de Pecado Secreto:

Poderia acontecer em qualquer ocasião que alguém pecasse contra o seu Deus secretamente, em qualquer das abominações carnais, das quais Ele com o Seu grande poder nos preserve a todos, e que o Espírito e a graça de Cristo, que é o único que pode despertar um arrependimento sincero, tocasse de novo em seu coração e lhe concedesse um arrependimento genuíno; sobre isto nada temos que julgar, pois é um assunto entre ele e Deus. Por isso é evidente que não procuramos a nossa justiça e salvação e a remissão de nossos pecados, satisfação, reconciliação e vida eterna por disciplina ou mediante a excomunhão, mas unicamente pela justiça, intercessão, méritos, morte e sangue de Cristo, e visto que os dois motivos para os que a excomunhão é permitida nas Escrituras não estão neste caso, porque, primeiramente o seu pecado é em particular e portanto não ofende a outros, e em segundo lugar ele está contrito e humilhado de coração, portanto não há necessidade de envergonhá-lo a fim de que possa chegar ao arrependimento, pois não há mandamento de Cristo nem ordem divina que autorizem a considerá-lo com mais severidade, nem excluí-lo, nem desprezá-lo diante da Igreja.


25. Chamada Missionária da Igreja:

Procuramos e desejamos ardentemente e mesmo com as custas de nosso sangue e vida, que o santo Evangelho de Jesus Cristo e seus apóstolos, que é a única doutrina verdadeira que persistirá até que Cristo reapareça nas nuvens, possa ser ensinado e pregado por todo o mundo, como o Senhor Jesus comissionou aos seus discípulos nas últimas palavras que lhes dirigiu estando na terra. (Mateus 28:19; Marcos 16:15). Procuro e desejo de todo coração (Ele bem sabe) que o glorioso nome, a divina vontade e o louvor de nosso Senhor Jesus sejam conhecidos por todo o mundo. A este fim pregamos em qualquer oportunidade que aparecer, de dia ou de noite, nas casas ou nos campos, nos bosques e nos desertos, nestas terras ou no exterior, na prisão e na escravidão, na água, fogo e patíbulo, sobre o cadafalso ou no torno, diante de senhores e príncipes, oralmente e por escrito, arriscando posses e vida, como estamos fazendo todos estes anos sem cessar. Perseguimos e desejamos unicamente poder mostrar ao mundo inteiro (que está na perversidade) a senda verdadeira, e que muitas almas possam, pela Palavra de Deus, mediante a sua ajuda e poder, ser resgatadas do domínio de Satanás e conduzidas a Cristo. Não luto por outra coisa a não ser para que o Deus do céu e da terra, por meio de seu bendito Filho Jesus tenha a glória por meio da sua bendita Palavra; que todos os homens neste tempo aceitável de graça, sejam levantados do profundo sono de pecado em que se encontram afundados. Desejamos de todo coração ver realizar-se a salvação de toda a humanidade, e isto não somente dando os nossos bens e trabalho, mas também (entenda o seu significado evangélico) nossa vida e sangue. Esta é a minha única alegria e o desejo de meu coração; poder estender as fronteiras do reino de Deus, fazer conhecer a verdade, reprovar o pecado, ensinar a justiça, alimentar as almas famintas com a Palavra do Senhor, guiar a ovelha extraviada pela senda reta e ganhar muitas almas para o Senhor mediante o seu Espírito, poder e graça.


26. Não-resistência:

Os regenerados não vão para a guerra nem lutam. São os filhos da paz, que transformaram as suas espadas em foices e as suas lanças em enxadões, e não amam a guerra. Dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Sua espada é a palavra do Espírito que manejam com boa consciência, guiados pelo Espírito Santo. Visto que seremos conformados a imagem de Cristo (Romanos 8:29), como poderemos então lutar com nossos inimigos fazendo uso da espada? O apóstolo Pedro disse: “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não njuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”. (1ªPedro 2:21-23; Mateus 16:24). E isto concorda com as palavras de João que ensinava: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1ªJoão 2:6) e o próprio Cristo disse: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. (Marcos 8:34; Lucas 9:23). Também “Minhas ovelhas ouvem a minha voz...e elas me seguem”. (João 10:27). Amado leitor, se este pobre e ignorante mundo aceitasse com coração honesto esta doutrina odiada e desprezada, que não é nossa, mas de Cristo, transformaria então as suas espadas mortíferas em foices e as suas lanças em enxadões, derrubariam portas e muros, destituiriam aos seus executores e carrascos. Porque todos os que aceitam esta doutrina com a sua autoridade, não terão, pela graça de Deus dificuldades com ninguém sobre a terra, nem mesmo com seus piores inimigos, e muito menos lhes ofenderão nem prejudicarão de nenhuma forma, porque são filhos do Altíssimo que amam de todo o coração o que é bom, odeiam o mal e são inimigos dele. Ah homem! Homem! Observe os seres irracionais e aprenda sabedoria. Os leões que rugem, os ursos temíveis, os lobos vorazes, todos vivem em paz entre eles cada um com a sua espécie. Mas vós, pobres, incapazes, criados a imagem de Deus e chamados de seres racionais, que nascem sem dentes, sem garras, nem chifres, com uma natureza fraca, sem uma linguagem articulada, sem força, incapazes até para andar ou para erguer-se, dependendo exclusivamente do cuidado maternal para ensinar-lhes que devem ser homens de paz e não de luta. Foi ordenado a Pedro que guardasse a espada na bainha. Todos os cristãos estão obrigados a amar a seus inimigos, fazer bem aos que lhes prejudicam, e orar por aqueles que os ultrajam ou perseguem; a dar a capa se alguém quiser pleitear a sua túnica, e quando lhe ferirem uma face, oferecer a outra. Diga-me pois, leitor amado, como poderá um cristão de acordo com as Escrituras tomar vingança, rebelar-se, fazer a guerra, matar, assassinar, torturar, saquear, assaltar e incendiar cidades e conquistar países? (Mateus 26:52; João 18:10; Mateus 5:12,39-40). Estou ciente que os tiranos que chamam a si próprios de cristãos, tentam justificar as suas horríveis guerras e o derramamento de sangue e fazer dele uma boa obra remetendo-nos a Moisés, Josué, etc. Mas não pensam que Moisés e seus sucessores, com suas espadas de aço serviram para a sua época, e que o Senhor Jesus tem nos dado agora um novo mandamento e cingiu os nossos lombos com outra espada. Eles não consideram que estão manejando a espada da guerra e que a usam contrariando toda a Escritura, contra os seus próprios irmãos, a saber, contra aqueles que professam a mesma fé, e receberam o mesmo batismo, participando do mesmo pão com eles e são, portanto, membros do mesmo corpo. Repito, a nossa fortaleza é Cristo, a nossa defesa é a paciência, a nossa espada é a Palavra de Deus e a nossa vitória é a fé firme e não fingida em Cristo Jesus. Deixemos as espadas e as lanças de aço para aqueles que, oh dor! consideram o sangue humano e o de um porco no mesmo nível. Aquele que é avisado, julgue o que quero dizer. Capitães, cavaleiros, soldados e outros homens sanguinários pelo estilo, oferecem a venda corpo e alma por dinheiro, e juram com a mão levantada, destruir cidades e países, prender e matar cidadãos e habitantes, despojando-os de seus bens mesmo que nunca lhes tenham ofendido e nem provocado. Oh! Quão abominável, maldita e perversa ocupação! E ainda se diz que eles são os que protegem a nação e o povo e os que ajudam a administrar a justiça!


27. O juramento dos juramentos:

Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés” (Mateus 5:33-35). E você, Micron, diz que unicamente o juramento leviano e falso deve ser proibido, como se Moisés tivesse permitido tais juramentos a Israel e por isso Cristo, sob o Novo Testamento os teria proibido. Se temos a mesma liberdade que os Israelitas sobre este assunto, como você assegura ... diga-me então, por que não disse o Senhor: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, e eu vos digo: Obedecei a este mandamento. Mas Ele disse: Moisés vos permitiu jurar honestamente; porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis”. O juramento é requerido unicamente com o propósito de obter uma declaração e um testemunho sincero. A verdade não poderá ser dita se não houver um juramento? Falam sempre a verdade todos os que estão sob juramento? Admitirá que a primeira pergunta deve ser respondida com uma afirmação e a segunda negativamente. É pois o juramento em si mesmo, a verdade do testemunho, ou depende este de que se jure? Por quê, então as autoridades não exigem que a verdade seja expressada por si e não como Deus ordena, em vez de fazê-lo por meio do juramento, que é proibido por Deus, já que podem castigar aquele que seja achado falso em sua afirmação ou negação da mesma forma que ao perjúrio? O fato de que o sim é sim e o não é não para os verdadeiros cristãos, fica plenamente provado nestes Países Baixos pelos que tem sido tão cruelmente perseguidos com prisões, confiscos e torturas, com fogo, fogueira e espada, quando com uma só palavra poderiam ter escapado de tudo isto se quisessem ter quebrantado o seu sim e o seu não. Mas desde que nasceram para a verdade, andam na verdade e testemunham para a verdade até a morte, como se vê frequentemente em Flandes, Brabante, Holanda, Frieslândia Oeste...


28. A pena de morte:

Se um criminoso se arrependesse sinceramente diante de Deus e fosse nascido do alto, seria então um santo, um filho de Deus, partícipe da graça e membro espiritual do corpo do Senhor, limpo pelo seu sangue precioso e ungido pelo Espírito Santo. Conceituo portanto, ser estranho e inoportuno, (considerando a misericórdia, compaixão e amável disposição, espírito e exemplo de Cristo, o manso Cordeiro, cujo exemplo Ele ordenou aos seus que seguissem), que algum destes réus seja pendurado na forca, executado no torno, queimado na fogueira ou torturado de qualquer forma por outro cristão, com o qual é em Cristo Jesus de um coração e uma alma. Além disso, se permanece inconvertido e se lhe tira a vida, não se fará outra coisa que encurtar-lhe desapiedadamente o tempo para o seu arrependimento, que, no caso de se lhe conservar a vida, poderia chegar a obter; é entregar cruelmente ao Diabo a sua alma, que foi comprada com tão precioso tesouro, sem ter em conta ao Filho do Homem que disse: “Aprendei de mim” (Mateus 11:29), “Porque eu vos dei o exemplo” (João 13:15), “Siga-me” (Mateus 16:24), “Não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. (Mateus 18:11; Lucas 19:10 e 9:56). A história secular mostra que os Espartanos apesar de ter sido pagãos, não condenavam a morte aos seus criminosos, mas que os aprisionavam e os faziam trabalhar.


29. Não conformidade com o Mundo:

Estaria muito mais de acordo com os ensinos evangélicos dele (Gellius) se destacasse diante de pessoas tão vaidosas e enaltecidas, a humildade de Cristo; que aprendessem a negar a si mesmos e a considerar a sua origem e destino; que abandonem a sua excessiva pompa e vaidade, sua presunção e impiedade, temam a Deus de coração, andem em seus caminhos e com verdadeira humildade de coração ajudem ao seu próximo com as suas riquezas. Este não é um reino onde alguém se adorna a si mesmo com ouro, prata, pérolas, seda, púrpura e custosos enfeites, como faz o mundo vaidoso e orgulhoso, e vossos dirigentes, dando liberdade para que faça outro tanto, com a desculpa de que é inofensivo se o coração está isento dele. Dessa maneira Satanás pretende dissimular a sua arrogância e mostrar que a cobiça de seus olhos é pura e boa. Mas este é um reino de humildade no qual não é o ornamento exterior do corpo, mas o adorno do espírito o que se busca e procura com grande zelo e diligência, com coração contrito e humilhado. E tudo o que fizer, faça no nome e no temor do Senhor Jesus e não vos adorneis com ouro, prata, pérolas, nem cabelos trançados, nem com trajes custosos e vistosos, mas vistam-se da maneira que convém a homens e mulheres piedosos.


30. Liberdade de Consciência:

Diga-me, leitor amado, se já leu em toda a tua vida nas Escrituras apostólicas ou ouviu que Cristo ou os apóstolos recorreram ao poder dos magistrados contra os que não queriam escutar a sua doutrina ou obedecer os seus ensinos. Sim, meu leitor, tenho a certeza de que onde quer que reine o regime de aplicar o anátema pela espada, não existe o verdadeiro conhecimento, Espírito, palavra e Igreja de Cristo. A fé é um dom de Deus, portanto não se pode impô-la a ninguém por meio de autoridades terrenas ou pela força. Tem que ser obtida unicamente mediante a pura doutrina da Santa Palavra e com a oração humilde e fervorosa, como um dom da graça do Espírito Santo. Além disso, não é a vontade do dono da casa que o joio seja arrancado antes que chegue o dia da colheita, como a parábola das Escrituras ensinam e demonstram com grande clareza. Se os nossos perseguidores são cristãos como pretendem, e acatam a Palavra de Deus, por que então não guardam e praticam a palavra e mandamentos de Cristo? Por quê arrancam o joio antes do tempo? Como não temem extirpar o bom trigo em vez do joio? Por que tentam realizar o trabalho dos anjos, que no seu devido tempo atarão o joio em feixes e o lançarão nas chamas do fogo eterno? Digo além disso que se os governantes verdadeiramente conhecessem a Cristo e seu reino, creio que escolheriam a morte antes que usar o seu poder terreno e espada para dirimir assuntos espirituais que não estão submetidos a autoridade dos homens, mas exclusivamente a de Deus Todo-poderoso. Mas eles (os magistrados) são instruídos pelos seus teólogos para que arrastem, prendam, torturem e deem a morte aos que não seguem as suas doutrinas, como infelizmente é comum ver em muitas cidades e países. Governantes e juízes amados, se aceitardes de todo o coração as citadas Escrituras e com toda atenção meditardes nelas, observareis que a vossa função não é exclusivamente vossa, mas que é o serviço e função de Deus, e que corresponde a vós, humilhar-se diante da sua majestade, respeitar o seu grande e adorável nome, e desempenhar equitativa e honestamente as vossas funções. Além disso, não deveria tão inescrupulosamente com vosso poder terreno e temporário tentar intervir no que pertence a jurisdição e reino de Cristo, o Príncipe de todos os príncipes; não deveria julgar nem castigar com o vosso aço o que é reservado somente ao juízo do Altíssimo, a saber a fé e o que é concernente a ela, como também Lutero e outros sustentaram no princípio de sua obra, mas depois de ter conseguido uma posição exaltada, o esqueceram. Digam amados, aonde as Sagradas Escrituras ensinam que no reino e Igreja de Cristo, a consciência e a fé, que dependem unicamente da autoridade de Deus, devem ser regulados e regidos pela violência, tirania e espada das magistraturas? Em que caso Cristo e seus apóstolos o fizeram, aconselharam ou ordenaram? Porque Cristo somente disse: “Acautelai-vos dos falsos profetas” e Paulo ordena que devemos esquivar-nos do herege depois de uma ou duas exortações. João disse que não devemos saudar nem receber em nossa casa aos transgressores, que não são portadores da doutrina de Cristo. Mas ele não disse: Abaixo com os hereges, acusai-os as autoridades, prendei-os, retirai-os das cidades e países, atirai-os no fogo e na água, como os Romanistas tem feito por muitos anos, e como ainda se encontra espalhado entre vós que pretendem ser dedicados a Palavra de Deus. Por outra lado, os príncipes altaneiros, carnais, mundanos, idólatras e tiranos, que não creem em Deus (falo dos maus príncipes)publicam seus mandatos, decretos e leis como autoridades, não obstante, opõem-se muitos deles a Deus e a sua bendita Palavra, como se o Pai Todo-poderoso, o Criador de todas as coisas, que tem o céu e a terra em suas mãos e que governa tudo com a palavra de seu poder, lhes tivesse ordenado legislar, reger, e de acordo com seu próprio critério prescrever ordenanças, não somente no reinado temporário deste mundo perecível, mas também no retiro celestial de Nosso Senhor Jesus Cristo. Oh, não, amados, não! esta não é a vontade de Deus, mas que é abominação diante de seus olhos que um pobre mortal usurpe para si a sua autoridade. Creio, queridos irmãos, que demonstrei claramente que as desculpas dos tiranos, com as quais pretendem provar que as suas matanças tirânicas são justas e retas, somente é paganismo em princípio.


31. Predestinação:

Zwinglio ensinou que a vontade de Deus movia o ladrão a roubar e ao criminoso a matar, e que seu castigo seria também executado pela vontade de Deus, coisa que, no meu conceito é uma abominação superior a todas as abominações. O que eu devo dizer, amado Senhor? Deverei dizer que Tu tens ordenado ao perverso delinquir como alguns tem dito? Longe esteja de mim tal coisa. Eu sei, oh Senhor, que Tu és bom e nada de mal pode achar-se em Ti. Nós somos a obra da Tua mão, criados em Cristo Jesus para boas obras e para que andemos nelas. Deixou a vida e a morte para a nossa escolha. Tu não quer a morte do pecador, mas que se arrependa e viva. Tu és a luz eterna e portanto odeia toda a treva. Tu não quer que ninguém pereça, mas que todos se arrependam, venham ao conhecimento da Tua verdade e sejam salvos. Oh querido Senhor, blasfemaram tão gravemente do Teu grande e inefável amor, da Tua misericórdia e majestade, que fizeram de Ti, o Deus de toda graça e Criador de todas as coisas, um verdadeiro demônio, afirmando que Tu é a causa de todo mal, TU, que é chamado de o Pai das luzes. Evidentemente nada mal pode ser proveniente do bom, nem luz das trevas, nem vida da morte; no entanto, seus teimosos corações e mentes carnais são atribuídos a Tua vontade, de modo que podem continuar no caminho largo e ter uma desculpa para os seus pecados!


32. Aperfeiçoamento:

Não acredite, leitor amado que falamos isto para jactarmos de ser perfeitos e imaculados. De maneira alguma. Não acreditamos e nem ensinamos que somos salvos por próprios méritos ou obras, como falsamente afirmam os nossos acusadores, mas por meio da graça de Cristo, como foi dito anteriormente. Porque ensinamos pela boca do Senhor que aquele que quer entrar na vida eterna, deve guardar os mandamentos. (Mateus 19:17; Marcos 10:19; João 15: 10); que em Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão valem, mas sim, guardar os mandamentos de Deus (1ªCoríntios 7:19); que este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e seus mandamentos não são pesados, (1ªJoão 5:3); por esta razão somos chamados pelos pregadores de assaltantes do céu e santarrões, e falam que pretendemos salvar-nos por nossas boas obras, apesar que sempre confessamos e confessaremos pela eternidade, por Deus, que não seremos salvos senão unicamente pelos méritos, intercessão, morte e sangue de Cristo e não por outros meios no céu, nem sobre a terra, como plenamente temos demonstrado antes. Desta forma estas pessoas perversas trocaram o excelente pelo péssimo. Não compreendem que a Escritura condena claramente aos dissolutos, soberbos, menosprezadores e transgressores da palavra de Deus, e que provam claramente com seus atos, que são alheios a graça salvadora de Deus, que não creem em Jesus e que, de acordo com as Escrituras, estão em condenação, ira e morte. (João 3:36). Mas aqueles que dizem que somos hipócritas, e mentem dizendo que garantimos estar sem pecado, é porque ensinamos com as Escrituras uma vida que mostra os frutos de arrependimento; testemunhamos com Paulo que os devassos, adúlteros, bêbados, avarentos, mentirosos, iníquos, não herdarão o reino de Deus (1ªCoríntios 6:10; Gálatas 5:21; Efésios 5:5) que os inclinados para a carnalidade, morrerão (Romanos 8:13) e afirmamos com João que aquele que peca (entenda-se de propósito ou de maneira impudica) é do diabo. (1ªJoão 3:8) e portanto, sentimos um profundo terror por tais coisas. Por isso, muitas vezes afirmamos com Moisés de palavra e por escrito e sustentemos sempre, que ninguém é inocente diante de Deus em razão da sua natureza inata (Gênesis 6:5, 8:21) e com Isaías, que todos somos como a sujeira. (Isaías 64:6), etc.


33. Novas Revelações:

Por outra lado, não tenho visões ou revelações angelicais, nem as busco nem desejo, a fim de não ser enganado por elas. Porque a Palavra de Deus é suficiente para mim. Se não sigo o seu testemunho, então tudo está perdido. E ainda que tivesse tais revelações, que não é o caso, não poderiam desviar-me da Palavra e do Espírito de Cristo, ou do contrário, seriam unicamente alucinações, sedução e engano diabólicos.


34. Educação superior:

Leitor, não me interprete mal. Nunca na minha vida desprezei a instrução e o conhecimento de idiomas, mas que desde a minha juventude os tenho honrado e amado. Ainda que nunca os tenha adquirido, no entanto (graças a Deus) não estou tão privado de sentido como para desprezar ou ridicularizar o conhecimento dos idiomas pelos quais chegou até nós a divina palavra da graça. Desejaria de todo coração que eu e todos os piedosos possuíssemos tais conhecimentos, e que todos, com verdadeira humildade os usássemos corretamente para o louvor de nosso Deus e no serviço de nosso próximo, no puro temor de Deus.


35. Ante Ocultamento:

Da mesma forma que desde o princípio de nosso ministério temos estado dispostos e ansiosos de dar uma explicação da nossa fé a quantos a pedirem de boa-fé, seja governantes ou cidadãos, instruídos ou não, ricos ou pobres, homem ou mulher. Ainda hoje estamos dispostos a fazê-lo na medida do possível, visto que não nos envergonhamos do glorioso Evangelho de Cristo. Se alguém deseja ouvir algo de nós, estamos dispostos a ensinar-lhe; se alguém deseja conhecer nossos princípios, é o desejo do nosso coração, se não bastaram os nossos escritos, explicar-lhes claramente. Porque faremos o maior empenho para que a verdade seja trazida a luz. Mas não permitimos de maneira alguma que o extermínio sanguinário do Anticristo seja tentado, pois isso é coisa do diabo, e incompatível com um cristão.


36. Atitude para com outras Denominações:

Leitor meu, entenda-me bem. Não discutimos a respeito de que Deus tenha ou não os seus eleitos entre as Igrejas anteriormente citadas (as igrejas perseguidoras do Estado) mas que o deixamos livre agora e para sempre ao reto juízo de Deus... ...mas o assunto em questão é com que espírito, doutrina, sacramentos, ordenanças e vida, Cristo ordenou formar para Si uma Igreja permanente e mantê-la em seus caminhos.


37. Exemplos de consagração ao serviço do Senhor:

Sim, querido leitor, a verdadeira fé Cristã como as Escrituras a requerem, é tão viva, ativa e poderosa para todos aqueles que mediante a graça do Senhor a receberam em seu coração, que não hesitam em deixar pai e mãe, mulher e filhos, dinheiro e posses pela palavra e testemunho do Senhor; estão dispostos a sofrer escárnio e desprezos, privações e perigos, e finalmente a que seus miseráveis e fracos corpos, tão resistentes ao sofrimento, sejam queimados na fogueira, como tem sido observado especialmente nestes Países Baixos, para exemplo de muitos e fiel testemunho de Jesus. Quantos, ai! Que conheci em tempos passados, e conheço a maior parte deles agora, homens e mulheres, rapazes e donzelas, (queira Deus que cresçam para a sua glória e para a salvação do mundo, de muitos milhares e milhares) que desde o mais profundo das suas almas procuram a Cristo e a sua palavra, levam (dentro de sua imperfeição) uma vida piedosa e irrepreensível diante de Deus e dos homens; são sinceros e puros de doutrina, irrepreensíveis, como foi dito, em suas vidas, cheios do temor e amor de Deus, atenciosos para todos, misericordiosos, compassivos, humildes, sóbrios, castos, não rebeldes e sediciosos, mas tranquilos e pacíficos, obedientes ao governo, em tudo o que não seja contrário a Deus; apesar disso, por anos não tem dormido em suas próprias camas, nem ainda hoje podem fazê-lo. Porque são tão odiados pelo mundo que são perseguidos sem misericórdia, são traídos, capturados, exilados e despojados de suas propriedades e vida como criminosos, assassinos ou malfeitores. E tudo isto pela única razão de temer a Deus verdadeiramente, não concordar em participar da abominável vida carnal nem da maldita e vergonhosa idolatria deste mundo cego. Visto que se provou com atos e em verdade que nossos fiéis irmãos e irmãs em Cristo, os amados companheiros em tribulação e no reino e paciência de nosso Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 1:9) temem ao Senhor seu Deus tão sinceramente, que antes de pronunciar uma palavra falsa deliberada ou voluntariamente (negando que foram batizados) ou operar hipocritamente de forma contrária a Palavra de Deus (opondo-se aparentemente a suas próprias convicções diante da igreja dominante a fim de evitar a perseguição), dariam o seu bom nome, reputação, assim como o seu dinheiro, posses, corpos e tudo o humanamente desejável, como despojo aos sanguinários; portanto, deixaremos livre ao juízo de Vossas Excelências e Honorabilidades, determinar se estas pessoas são tão perniciosas e más como, infelizmente são chamadas por muitos, e geralmente conceituadas. Não considero que a minha vida seja melhor do que a que os amados homens de Deus, viveram. Não posso ser privado de nada, exceto deste perecível corpo mortal que algum dia há de morrer e retornar ao pó (mesmo que vivesse até a idade de Matusalém). Nem um cabelo cairá da minha cabeça sem a vontade de meu Pai celestial. Se perder a vida por amor de Cristo e seu testemunho, e por causa do meu sincero amor pelo meu próximo (em cuja salvação estou empenhado) tenho a certeza que conseguirei a vida eterna. Portanto, não posso guardar a verdade para mim mesmo, mas devo dar testemunho dela e ensiná-la sem hipocrisia e em verdadeiro temor de Deus, aos meus amados senhores.


38. Trabalhando sob Dificuldades:

Aquele que me comprou com o sangue do seu amor, e me chamou sem ser digno para o seu serviço, me conhece e sabe que não busco posses terrenas nem vida fácil, mas somente a glória de Deus, minha salvação e a de muitas almas. Porque tanto eu como a minha fraca esposa e filhos temos suportado por volta de dezoito anos de ansiedade extrema, opressão, aflição, falta de um lar, perseguição, risco de vida e grande perigo em todo momento. Ah! Enquanto os ministros da igreja oficial repousam em leitos macios e cômodas almofadadas, nós geralmente devemos ocultar-nos nos mais afastados esconderijos. Enquanto eles se entregavam indecorosamente aos banquetes de casamento e batismos, distraídos com flauta, tambor e alaúde, nós permanecíamos na expectativa de quando os cães ladravam, pois o guarda estava na porta. Enquanto eles são saudados como doutores, pregadores e mestres por todo o mundo, nós temos que ouvir eles nos chamarem de anabatistas, pregadores ocultos, sedutores e hereges, e ser saudados em nome do diabo. Enfim, enquanto eles são largamente recompensados por seus serviços com grandes entradas e tranquilidade, a nossa recompensa e porção deve ser o fogo, a espada e a morte. Considere fiel leitor, no meio de quanta ansiedade, pobreza, opressão e perigo de morte desempenhei eu, um homem despojado, o serviço do meu Senhor até hoje, e espero, por meio da sua graça, continuar nele para a sua glória enquanto permanecer neste tabernáculo terrestre. O que eu e meus fiéis colaboradores temos procurado ou poderíamos ter perseguido nesta jornada árdua e perigosa, é evidente por nossas obras e frutos para todas as pessoas de boa vontade. Em efeito, se chegou neste extremo (que Deus mude as coisas) que onde quatro ou cinco, dez ou vinte, se tem reunido no nome do Senhor, para falar da Palavra de Deus e para fazer a sua obra, no meio dos quais está Cristo, que temem a Deus com todo o seu coração e levam uma vida piedosa, irrepreensível diante do mundo, se são surpreendidos numa reunião, ou se há uma acusação contra eles, devem ser entregues para ser queimados na fogueira, ou afundados na água. Mas aqueles que se reúnem em nome de Babel ... em lugares públicos de má fama e nas malditas tabernas de bêbados; que vivem em franca ignominia e trabalham impiamente contra a Palavra de Deus, os tais vivem em plena liberdade e paz. Enfim, leitor amado, que se o misericordioso Senhor no seu grande amor, não tivesse amenizado os corações de alguns governantes e magistrados e os tivesse deixado proceder de acordo com as instigações e pregações sanguinárias de seus teólogos, não teria sobrevivido nem uma pessoa piedosa. Mas mesmo sendo escassos, podem encontrar-se alguns que, deixando de ouvir as palavras e escritos de todos os teólogos, toleram aos exilados e por um tempo lhes mostram misericórdia; pelos quais louvaremos ao Deus altíssimo para sempre e por sua vez retribuiremos a nossa gratidão a tão bondosos e discretos governantes, com todo amor. Quando era do mundo, falava e me comportava como o mundo e o mundo não me odiava. Naquilo que servi ao mundo, o mundo me recompensou. Todos falavam bem de mim, o mesmo que fizeram os seus pais com os falsos profetas. Mas agora que amo não o mundo mas aos que estão no mundo com amor divino, procuro com todo o meu coração a sua salvação e bênção, lhe admoesto, instruo e repreendo com a Tua Santa Palavra e lhe mostro a Cristo Jesus crucificado, o mundo se converteu para mim numa pesada cruz e num fel de amarguras. Tão grande é o seu ódio que não somente eu, mas todos aqueles que me mostraram amor, misericórdia e piedade em alguns lugares, devem enfrentar prisões e morte. Oh, Senhor bendito! Sou considerado por eles menos digno de clemência do que um ladrão e assassino declarados.


39. Perseguição:

Quantos piedosos filhos de Deus, pelo testemunho de Deus e por razões de consciência, tem sido despojados de seus lares e posses e confiscadas suas propriedades para encher os insaciáveis cofres do Imperador; quantos tem sido traídos, lançados fora de cidades e países, atados à estaca e torturados, enviando os pobres órfãos desnudos pelas ruas. Alguns deles são pendurados, outros torturados com crueldade desumana e depois enforcados. Alguns assados e queimados vivos. Alguns tem sido mortos pela espada e entregues aos abutres para serem devorados; outros foram lançados aos peixes; os lares de alguns destruídos, outros atirados em lamaçais e a outros se lhes cortaram os pés; tenho visto a um destes últimos e tenho conversado com ele. Outros vagam daqui para lá na miséria, sem lar, em aflição, por montanhas e desertos, em grutas e covas da terra como disse Paulo. Devem fugir de uma cidade para outra, de um país para outro, com sua esposa e filhos. São odiados, ultrajados, caluniados, e denegridos por todos os homens; denunciados pelos teólogos e magistrados; tem sido privados de seu alimento, atirados fora no cruel inverno e apontados com o dedo do escárnio. Qualquer um que colaborava na perseguição dos pobres e oprimidos cristãos, pensava que fazia um serviço à Deus, como disse Jesus. (João 16:2). Se um ladrão é levado ao patíbulo, um criminoso esquartejado no torno, ou qualquer outro malfeitor castigado com uma pena de morte inusitada, todo o mundo pergunta o que ele fez. A sentença não é dita enquanto os juízes não entenderem plenamente a causa e conhecerem a verdade no que se refere ao delito. Mas toda vez que um inocente e contrito cristão ao qual o Senhor na sua graça resgatou do caminho da perversidade e do pecado, e guiado pelos caminhos de paz, é acusado pelos sacerdotes e pregadores, e conduzidos diante dos tribunais, não o consideram digno de investigar detidamente que razões e Escrituras o impelem para não mais escutar a sacerdotes e pregadores ... Não desejam saber por que corrigiu a sua vida e recebeu o batismo de Cristo, ou qual pode ser o motivo pelo qual está disposto a sofrer e morrer pela sua fé. A única pergunta que lhe é feita é se foi batizado. Se a resposta for afirmativa, a sentença já está dada e tem que morrer. Visto que é evidente que todo o mundo está tão hostilmente predisposto contra nós, mesmo que injustamente, ao extremo de não querer nem nos ver nem nos ouvir, e que muitas inocentes ovelhas do Senhor, mais do que um piedoso que sem ser mestre é levado para a degola aqui e ali, executado e assassinado sem clemência pela espada, fogo e água; e que a nós, míseros mestres, em nenhuma parte se nos concede muito mais do que uma pocilga para viver em liberdade, com o conhecimento e aprovação das autoridades, mas por meio de editos públicos somos julgados antes de sermos presos e condenados antes de sermos persuadido; sendo que tais condições não prevaleceram, que eu saiba, nos tempos dos apóstolos em nenhuma parte. Rogo a todos os meus leitores pelo amor de Deus, que considerem no temor do Senhor quão grande injustiça cometem conosco Gellius e seus seguidores com suas perversas e cruéis palavras, a saber: pregadores noturnos, pregação clandestina, etc. quando não podemos proceder de outra maneira como é bem conhecido. . . Estamos dispostos em qualquer momento a prestar contas da nossa fé diante de qualquer um e a defender a verdade onde quer que se possa fazê-lo de boa-fé, sem ardis ou tentativas contra nossas vidas. Por muitos anos temos proclamado a doutrina da Palavra divina nas comarcas alemãs com poder e clareza cada vez maiores, de modo que era palpável e evidente que se tratava da obra e dedo de Deus. Porque os orgulhosos tornam-se humildes, os avaros tornam-se generosos, os beberrões tornam-se sóbrios, os impuros tornam-se honestos, etc. Porque a Palavra de Deus é aceita por eles com tanta firmeza que não hesitam em abandonar pai e mãe, esposo, mulher, filhos e posses por causa dela, e voluntariamente sofrer a morte. Porque muitos são queimados na fogueira, muitos afogados, muitos executados com a espada, muitos, encarcerados, exilados e seus bens confiscados. No entanto, nada é válido diante dos inflexíveis perseguidores. Basta dizer, quando tem sido degolado um pobre inocente, um do rebanho do Senhor, que “é Anabatista” para que seja o suficiente. Não se verifica que provas ou base bíblica tem, de que natureza são a sua vida e a sua conduta, se ofendeu a alguém, ou não. Ninguém medita ou considera que tem que ser uma obra e poder especiais... para causar a um homem tanto sofrimento, vergonha e infâmia inacreditáveis, grande perseguição, miséria e até a morte, como podeis ver. Ainda que infelizmente aqui devemos ser perseguidos, oprimidos, golpeados, saqueados, queimados, afogados, pelo Infernal Faraó e seus cruéis e desapiedados servos, no entanto, logo chegará o dia da nossa libertação, em que nos serão enxugadas todas as lágrimas e seremos adornados com vestimentas brancas da justiça, junto ao Cordeiro, e com Abraão, Isaque e Jacó nos sentaremos no reino de Deus e possuiremos a deliciosa e prazerosa terra do gozo eterno e imperecível. Louvai ao Senhor e levantai a cabeça, vós os que sofreis por amor a Jesus; está próximo o dia em que ouvireis: “Vinde, benditos” e vos regozijareis com Ele para sempre.


40. Uma oração de Menno Simons:

Oh, Senhor! Estou certo que nem a vida nem a morte, nem anjos, nem principados, nem potestades, nem as coisas presentes, nem as coisas por vir, nem o alto, nem o baixo, nem nenhuma outra criatura nos separará do Teu amor que está em Cristo Jesus. Contudo, não me conheço a mim mesmo; toda a minha confiança está em Ti. Mesmo que tenha bebido um pouco do cálice até o fim. Porque quando se padecem prisões e cadeias, e quando a morte por água, fogo e aço ameaçam e então o ouro é separado da madeira, a prata da palha, as pérolas da folharada. Portanto, não me abandones, benigno Senhor; porque sei que podem desarraigar-se árvores de profundas raízes pela violência do furação, e as altas e firmes montanhas partir-se em dois pela força do cataclismo. Por acaso Jó e Jeremias, verdadeiros exemplos de integridade, não titubearam no Teu caminho pela fraqueza da carne? Rogo, bendito Senhor, conforme a Tua fidelidade e graça, sei que não permites que eu seja tentado mais do que sou capaz de suportar, para que a minha alma não seja envergonhada pela eternidade. Não rogo pelo meu corpo, eu sei que está sujeito a sofrimento e morte. Somente por isto Te rogo: não me abandones na hora da prova, mas providencies um meio de escape para a tentação. Livra-me de todas as minhas angústias porque em Ti coloco a minha confiança. (Meditação sobre o Salmo 25). Oh Senhor! Oh amado Senhor! Não permita que Teu pobre e pequeno rebanho seja completamente devorado pelo furioso dragão; conceda-nos por Tua graça e paciência que possamos impor a espada de Tua boca e deixar uma semente permanente que guarde os Teus mandamentos, preserve o Teu testemunho e louve para sempre o Teu grande e glorioso nome. Amém, querido Senhor, Amém.


Referências

  • George, Timothy. Teologia dos Reformadores. Editora Vida Nova, 1994.
  • Raphael Mello Block Soma de Estudos. Itajaí SC - Brasil, 2013 - sac@triuno.com.br
  • Igreja Evangélica Irmãos Menonitas - www.menonitasbrasil.com.br
  • Igreja Evangélica Irmãos Menonitas Blumenau SC Brasil www.menonitasblumenau.com.br - Pastor Coordenador: Arnold Friesen
  • Igreja Evangélica Irmãos Menonitas Itajaí SC Brasil www.menonitasitajai.com.br - Pastor(Missionário): Leonardo Augusto Thieme