Mostrar código-fonte de Principado da Sérvia (Idade Média)

{{Ver desambig|o principado do {{séc|XIX}}|Principado da Sérvia}}
{{Info/Estado extinto
|_noautocat   = yes
|nome_oficial =Principado Sérvio
|nome_completo=Principado da Sérvia
|nome_comum   =Principado da Sérvia
|nome_nativo  =Cрпска Кнежевина
|continente   =[[Europa]]
|região       =[[Balcãs]]
|era          =[[Idade Média]]
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|legenda_mapa=Sérvia durante o reinado de [[Tzéstlabo da Sérvia|Tzéstlabo]] {{nwrap|r.|927|960}}

|capital = [[Antiga Ras|Ras]]
|idioma        = [[Língua sérvia|Sérvio antigo]]
|religião      =[[Politeísmo eslavo]] (768-869)<br>† <small>'''[[Ortodoxia Oriental]]'''</small>
|título_líder  =''[[Lista de reis da Sérvia|Príncipe]]''
| líder1 = [[Venceslau da Sérvia|Venceslau]] <small>(primeiro)</small>
| ano_líder1 = {{fl.}} 768–814
| líder2 = [[Blastímero]] <small>(notável)</small>
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| líder3 = [[Mutímero]] <small>(primeiro cristão)</small>
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| líder4 = [[Tzéstlabo da Sérvia|Tzéstlabo]] <small>(último)</small>
| ano_líder4 = 927–960
|hoje = {{flag|Sérvia}}<br />{{flag|Montenegro}}<br />{{flag|Bósnia}}<br />{{flag|Croácia}}<br />{{flag|Macedônia}}<br />{{flag|Albânia}}
}}
'''Principado da Sérvia''' ou '''Principado Sérvio''' ({{lang-sr|Cрпска Кнежевина}}) foi um estado medieval dos [[sérvios]] governado pela [[dinastia de Blastímero]] e que existiu entre 768 e 969 no [[sudeste da Europa]]. Ele foi fundado depois da unificação de diversas tribos sob o comando de um certo [[Venceslau da Sérvia|Venceslau]], o primeiro monarca sérvio conhecido pelo nome ({{fl.}} 768-814). Em 822, os sérvios governavam ''"a maior parte da [[Dalmácia]]"'' e, na mesma época, os búlgaros haviam conquistado as terras a leste e se preparavam para atacar os sérvios. [[Blastímero]] derrotou o [[exército búlgaro medieval|exército búlgaro]] numa guerra de três anos (839-842) e as duas potências viveram em paz por algumas décadas. Os três filhos de Blastímero governaram a Sérvia juntos, mas não por muito tempo, pois o país se tornou chave na disputa entre [[bizantinos]] e búlgaros (quase sempre em aliança com os primeiros) e a ameaça provocou uma guerra civil dinástica que perduraria por três década. A Sérvia foi anexada ao [[Primeiro Império Búlgaro|Império Búlgaro]] por três anos (924-927) até o retorno do príncipe [[Tzéstlabo da Sérvia|Tzéstlabo]], até então um refém, que conseguiu unir as províncias e se tornou o mais poderoso dos Blastímeros. Um evento importante foi o estabelecimento do [[cristianismo]] como [[religião estatal]] em 869 e a fundação da primeira [[eparquia]] sérvia, a [[Eparquia de Ráscia]]. Não há mais informações sobre a dinastia de Blastímero depois da obra ''[[Sobre a Administração Imperial]]'' (950–960) de [[Constantino VII Porfirogênito]].

O Principado da Sérvia foi anexado pelos bizantinos em 969 e passou a ser governado como o [[Catapanato de Ráscia]].

== Contexto ==
[[Imagem:Migration of Serbs.png|thumb|esquerda|200px|esquerda|Migração dos [[proto-eslavos]]. Em vermelho, a [[Ráscia (região)|Ráscia]], o principal destino dos [[sérvios]]. Em verde, a [[Sérvia Branca]]]]
=== Esclavínia ===
Os sérvios, um [[povo eslavo]] especificamente do subgrupo dos [[eslavos do sul]], tem sua origem nas comunidades dos séculos VI e VII que se desenvolveram no sudeste da Europa (veja [[Grande migração dos eslavos|Grande Migração]]). [[Raide]]s eslavos ao território bizantino foram mencionados em 518 e, já na década de 580, eles haviam conquistado um grande território que geralmente se denomina [[Esclavínia]] ("Eslavônia"; {{langx|qgk|Σκλαυηνοι||''Sklavenoi''}}, [[esclavenos]], a tribo eslava do sul primitiva que é [[epônimo|epônima]] do atual [[povos indo-europeus|povo indo-europeu]] [[etnia|étnico]] e [[linguística|linguístico]]).<ref name=SLAVY>"Slavyane v rannem srednevekovie" Valentin V. Sedov (Russian language), Archaeological institute of Russian Academy of Sciences, Moscow, 1995</ref>

Durante o período de governo bizantino, o [[arconte]] responsável era supervisionado pelos [[estratego]]s (governadores civis e militares) das cidades bizantinas próximas. Posteriormente, o imperador reconheceu o reino sérvio como [[federados (Roma Antiga)|federados]].

=== Fronteira sérvio-búlgara (805–818) ===
A leste, o [[Primeiro Império Búlgaro|Império Búlgaro]] se tornava cada vez mais poderoso. Em 805, o [[cã búlgaro|cã]] [[Crum]] conquistou os {{ilc|braniceucos||braničevci}}, {{ilc|timocanos||timočani}} e os [[obotritas]], que viviam a leste da Sérvia, e baniu os líderes tribais substituindo-os por administradores nomeados pelo governo central.{{sfn|Bulgarian Academy of Sciences|1966|p=66}} Em 815, os búlgaros e bizantinos assinaram um [[Tratado de 815|tratado de paz de 30 anos]].{{sfn|Živković|2006|p=13}} Três anos depois, durante o reinado do [[canasubigi]] [[Omortague da Bulgária|Omortague]] {{nwrap|r.|814|836}}, os braniceucos e  os timocanos, juntamente com outras tribos vizinhas, se revoltaram e se separaram da Bulgária por causa de uma reforma administrativa que os privou de quase toda autoridade local.{{sfn|Slijepčević|1958|p=35, 41, 52}} Os timocanos deixaram a ''societas'' ("associação, aliança") do Império Búlgaro e buscaram, junto com os obotritas e {{ilc|guduscanos||guduscani}} da região do [[Danúbio]], a proteção do [[Imperador Romano-Germânico|imperador romano-germânico]] [[Luís I, o Piedoso]] {{nwrap|r.|813|840}}, e o encontraram em sua corte em [[Herstal]]. Os timocanos migraram para o território franco - algum lugar na [[Panônia Inferior]] - e desapareceram do registro histórico depois de 819, quando foram convencidos por [[Luís da Posávia]] e a se unirem numa luta contra os francos.{{sfn|Komatina|2010|p=4}} Os obotritas do Danúbio permaneceram em [[Banato]] e resistiram aos búlgaros até 824, quando também desapareceram. O cã enviou emissários aos francos exigindo que uma fronteira precisa fosse demarcada entre os dois países e as negociações perduraram até 826, quando os francos passaram a ignorá-los. Os búlgaros responderam atacando os eslavos que viviam na Panônia e os conquistaram; em seguida, enviaram navios pelo curso do [[Drava]] e, em 828, devastaram a [[Panônia Superior]]. Houve mais combates no ano seguinte também, mas, nesta altura, os búlgaros já haviam conquistado todos os seus antigos aliados eslavos.{{sfn|Komatina|2010|p=19}}<ref>[[Eginhardo]], ano 827</ref>

O Canato Búlgaro (que se tornaria um império depois) seguia uma política externa expansiva na qual eles primeiro impunham o pagamento de tributos a um povo vizinho e a obrigação de suprir recursos militares na forma de uma aliança (''societas''), dando-lhes, a princípio, autonomia para os governantes locais. Quando a necessidade de manter o acordo nestes termos se encerrava, eles geralmente acabavam abruptamente com a autonomia concedida e impunham um controle direto e absoluto, integrando o estado conquistado ao sistema político e cultural búlgaro.{{sfn|Komatina|2010|p=24}}

== História ==
{{multiple image
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   | header    = {{séc|IX}}
   | footer    = No período, os pequenos principados de [[Pagânia]], [[Zaclúmia]] e da [[Dóclea]] conseguiram manter sua independência, enquanto que a [[Travúnia]] desapareceu, incoporada pelos sérvios. O [[Primeiro Império Búlgaro]] se tornou a principal potência na região, enquanto que, ao norte, o [[Principado da Croácia Dálmata]] se consolidou.
   | image1    = Map of the Western Balkans around 814 AD.png
   | alt1      = 
   | caption1  = Balcãs por volta de 814.
   | image2    = Map of the Balkans in the 10th century.png
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   | caption2  = Balcãs em 900.
  }}
{{AP|História da Sérvia|Sérvia na Idade Média}}
=== Primeiros anos (822–891) ===
[[Venceslau da Sérvia|Príncipe Venceslau]] ({{fl.}} 768–814), o primeiro monarca sérvio conhecido pelo nome, governava os territórios hereditários ([[zupano|zupanias]] - "condados") de [[Neretva]], [[Monte Tara|Tara]], [[Piva (Montenegro)|Piva]] e [[Rio Lim|Lim]]. Ele conseguiu unir diversas outras províncias e tribos no que ficou conhecido como "Sérvia". Venceslau foi sucedido por seu filho, [[Todóstlabo da Sérvia|Todóstlabo]] e, depois, por [[Proségoes da Sérvia|Proségoes]], em cujo reinado diz-se que os ''"sérvios habitavam a maior parte da [[Dalmácia]]"'' ([[Anais Reais Francos]], 822). Nesta época, os sérvios estavam em paz com seus vizinhos a leste, os [[búlgaros]], que começaram a expandir seu território significativamente. O filho de Proségoes, príncipe [[Blastímero]], expandiu ainda mais o reino, o que instigou os búlgaros, que já haviam conquistado partes da [[Macedônia (região)|Macedônia]], a invadirem a Sérvia em 839. Depois de uma guerra de três anos, a Sérvia conseguiu uma vitória decisiva. Os búlgaros foram expulsos e Blastímero expandiu para o oeste e para o sul enquanto os búlgaros ainda mantinham a maior parte da região leste da moderna Sérvia. O príncipe [[Mutímero]] {{nwrap|r.|851|891}},<ref>[http://www.srpsko-nasledje.co.rs/sr-l/1998/03/article-06.html Srpsko Nasledje]</ref> filho de Blastímero, conseguiu derrotar os búlgaros novamente em 834-835, capturando desta vez o filho do [[cã búlgaro]]. Os dois países novamente firmaram a paz e a [[cristianização dos eslavos]] finalmente começou; em 870 os sérvios foram batizados e se estabeleceu a [[Eparquia de Ráscia]] por ordem de {{lknb|Basílio|I}}. Os anos seguintes, até boa parte da década de 920, foram marcados por sucessivas guerras civis, conflitos dinásticos entre os diversos ramos da [[dinastia de Blastímero]].

O reino sérvio aumentou seu poder na virada do {{séc|IX}}. Na época, o [[Canato Búlgaro]] estava se expandindo para o ocidente e já havia anexado as tribos eslavas da [[Sírmia]] e a [[Eslavônia]] oriental. Na mesma época, suas forças avançaram pela Macedônia par ao sul, praticamente cercando os sérvios. Como resposta à ameaça, em aliança com os bizantinos, o Principado Sérvio, liderado pelo príncipe ([[cnezo]]) Blastímero - o fundador da dinastia de Blastímero -, atacou os búlgaros. A extensão do reino nesta época corresponde aos territórios modernos do sul da Sérvia, o sudeste da [[Bósnia (região)|Bósnia]], o leste de [[Herzegovina]] e {{ilc|Canali||Konavli}}. Na costa do [[Adriático]] existia um "principado" menor, [[Pagânia]]. [[Travúnia]] e [[Zaclúmia]] foram formados depois das [[guerras búlgaro-sérvias]] e evoluíram de cidades-estado para regiões administrativas mais amplas.

A [[guerra búlgaro-sérvia]] foi travada entre 836 e 846 e terminou com uma vitória sérvia. Blastímero deu a mão de sua filha a {{ilc|Crainas|Crainas da Travúnia|Krajina Belojević}}, o filho de um senhor local, [[Belaes de Travúnia]], criando a Travúnia como um principado parte da [[Ráscia (região)|Ráscia]]. Os filhos de Blastímero - [[Mutímero]], [[Ginico da Sérvia|Ginico]] e [[Estrímero da Sérvia|Estrímero]] - derrotaram um novo ataque búlgaro em 853, capturando o filho de {{lknb|Bóris|I|da Bulgária}}, [[Vladimir da Bulgária|Vladimir]], e outros doze [[boiardo]]s. Os sérvios escoltaram Vladimir até [[Antiga Ras|Ras]], na fronteira sérvio-búlgara, trocaram presentes e firmaram um tratado de paz com os búlgaros. Porém, este principado primitivo estava longe de ser um estado centralizado consolidado e vários jupãs ainda eram semi-independentes. Ao invés de praticar a [[primogenitura]], os monarcas eslavos praticavam a ''staresina'', onde o governo recaía sobre o membro mais velho da família estendida (ao invés de apenas sobre o filho do príncipe). Desta forma, o reino corria o risco de ser dividido entre irmãos sobreviventes, filhos, primos e sobrinhos, o que quase sempre provocava conflitos sucessórios.

Mutímero foi batizado pelos missionários [[Cirilo, o Filósofo|Cirilo]] e [[Metódio]] durante o reinado de Basílio I {{nwrap|r.|867|886}}, que, depois que Mutímero reconheceu a [[suserania]] bizantina, enviou sacerdotes para converter a população. Os sérvios já estavam completamente [[cristianização|cristianizados]] em 873, o que pode ser atestado pela tradição de nomes bíblicos ([[Pedro da Sérvia|Pedro]], [[Paulo da Sérvia|Paulo]] e [[Zacarias da Sérvia|Zacarias]]) e pelo fato de ter se mantido em [[comunhão plena|comunhão]] com o [[patriarca de Constantinopla]] quando o [[papa João VIII]] o convidou a reconhecer a jurisdição do [[bispo]] de [[Sirmio]]. Contudo, sérvios e búlgaros adotaram a [[liturgia]] [[antigo eslavônico eclesiástico|eslavônica antiga]] ao invés da [[rito bizantino|grega]].

Mutímero fundou a [[Diocese de Ráscia]], mencionada no [[Quarto Concílio de Constantinopla (Ortodoxo)|Quarto Concílio de Constantinopla]] de 878-880.

==== Guerras pelo trono ====
Algum tempo depois de derrotar os búlgaros, Mutímero expulsou seus irmãos, que fugiram para a Bulgária, do país. Ele manteve o filho de Ginico, [[Pedro da Sérvia|Pedro]], como refém em sua corte, mas ele conseguiu escapar para a [[Croácia medieval|Croácia]]. Mutímero reinou até 890 e foi sucedido pelo filho, [[Pribéstlabo da Sérvia|Pribéstlabo]], mas ele foi derrubado por Petar, que retornou do exílio por volta de 892. O nome de Petar ("Pedro") é cristão, o que sugere que o cristianismo já havia começado a permear a Sérvia, indubitavelmente por causa dos contatos com búlgaros e bizantinos. Pedro se consolidou no trono (depois de sufocar uma tentativa de derrubá-lo liderada por Clonímero, filho de Estrímero) e foi reconhecido pelo [[czar]] [[Simeão I da Bulgária]]. Os dois monarcas assinaram uma nova aliança. Tendo já a lealdade da Travúnia, Pedro começou sua expansão para o norte e oeste, anexando o vale do [[rio Bosna|Bosna]], e depois marchando para o oeste para assegurar a lealdade da [[Pagânia]] - quer era uma tribo sérvia ferozmente independente e dedicada à [[pirataria]]. Porém, o avanço de Pedro na Dalmácia colocou-o em conflito com o príncipe [[Miguel da Zaclúmia]], que havia se tornado poderoso não apenas em sua terra natal, mas também influenciava a Travúnia e a [[Dóclea]]. [[Constantino Porfirogênito]] explica que Miguel não era da dinastia e não tinha intenção alguma de ceder a Pedro.

Embora fosse aliado de Simeão I, Pedro foi ficando cada vez mais irritado com o fato inescapável de que ele era, essencialmente, subordinado a ele. A sua expansão em direção à costa facilitou seus contatos com os bizantinos através do [[estratego]] de [[Dirráquio]]. Em busca de aliados contra a Bulgária, os bizantinos deram muito ouro a Pedro e lhe prometeram uma autonomia muito maior se ele se juntasse à aliança - um estratégia muito tentadora. É possível que Pedro já estivesse planejando atacar a Bulgária com os [[magiares]], o que demonstra que seu reino se estendia pelo menos até o [[rio Sava]] a norte. Porém, Miguel de Zaclúmia, inimigo de Pedro e vassalo dos búlgaros, avisou Simeão. Simeão atacou a Sérvia em 917 e depôs Pedro, colocado [[Paulo da Sérvia|Paulo]] (um neto de Mutímero) no lugar (embora alguns historiadores afirmem que Simeão teria tomado o controle direto da Sérvia na época). Descontentes com os acontecimentos, os bizantinos enviaram [[Zacarias da Sérvia|Zacarias]] em 920 para expulsar Paulo, mas ele fracassou e acabou preso na Bulgária. Os bizantinos mudaram de tática e começaram a tentar atrair o príncipe Paulo para o seu lado. Os búlgaros, por sua vez, tentaram o mesmo com Zacarias, que acabou invadindo a Sérvia à frente de uma força búlgara e expulsou Paulo em 922. Porém, ele traiu os búlgaros e voltou para os bizantinos. Uma força punitiva enviada pelo czar foi derrotada. Simeão finalmente assinou a paz com os bizantinos para poder encerrar, de uma vez por todas, o assuntos relativos à Sérvia, o traidor vizinho menor. Em 924, ele enviou um enorme exército junto com [[Tzéstlabo da Sérvia|Tzéstlabo]], o filho de [[Clonímero da Sérvia|Clonímero]] e conseguiu forçar Zacarias a fugir para a Croácia. Os jupãs sérvios foram convocados a reconhecer Tzéstlabo como príncipe, mas, quando eles apareceram, foram presos e levados para a Bulgária juntamente com Tzéstlabo. A maior parte da Sérvia foi destruída e muitos fugiram para a Croácia, [[Constantinopla]] ou para a Bulgária. Simeão transformou a Sérvia numa província búlgara e o Império Búlgaro agora fazia fronteira com a Croácia e a Zaclúmia. Irritado com os croatas por eles serem aliados dos bizantinos e por terem abrigado o príncipe Sérvio, Simeão então atacou a Croácia.

Na [[Batalha do Planalto Bósnio]], o [[Reino da Croácia (medieval)|rei croata]] [[Tomislau I da Croácia|Tomislau I]] derrotou os búlgaros enquanto Miguel de Zaclúmia se manteve neutro. Quando a Sérvia caiu, Miguel se tornou o mais importante príncipe sérvio e recebeu o título de [[patrício]] do imperador bizantino.

==== Unificação sob Tzéstlabo e a anexação da Ráscia (927–960) ====
[[Imagem:Central and Eastern Europe around 950 AD.png|thumb|300px|Auge do Principado da Sérvia sob [[Tzéstlabo da Sérvia]] {{nwrap|r.|927|década de 950}}]]
O jugo búlgaro sobre a Sérvia durou apenas três anos. Depois da morte de Simeão, Tzéstlabo (927 - década de 950) liderou os refugiados sérvios de volta para casa. Ele assegurou a aliança dos ducados da Dalmácia e expulsou os búlgaros da Sérvia central. Depois da morte de Tomislava, a Croácia caiu num estado quase [[anarquia|anárquico]] no qual seus filhos brigavam pelo poder. Assim, Tzéstlabo conseguiu estender seus territórios para o norte até o [[rio Vrbas]], obtendo também a lealdade de diversos jupã bósnios.

Durante este apogeu do poder sérvio, a cultura e a religião bizantinas penetraram a Sérvia, favorecidas pela paz que existia entre os dois estados. Porém, apesar de grande, o poder da Sérvia (como era tradicional nos estados eslavos) era tão grande quanto o seu monarca. Não havia um governo central, mas apenas uma [[confederação]] de principados eslavos. A existência de um Grão-Principado unificado dependia da aliança dos príncipes menores com Tzéstlabo. Quando ele morreu defendendo a Bósnia das incursões magiares (entre 950 e 960), a coalizão se desintegrou.

=== Queda e anos seguintes ===
Depois da morte de Tzéstlabo, a Ráscia (Sérvia interior) foi anexada pelos bizantinos ([[Catapanato da Sérvia]], 971-976) e pelos búlgaros. A Sérvia perdeu seu governo central e as províncias, uma vez mais, ficaram sob o controle do império.

[[João Vladimir]] emergiu como o governante de um pequeno estado chamado [[Dóclea]], centrado em [[Bar (Montenegro)|Bar]], na costa do Adriático, como um vassalo bizantino. Seu reino era chamado, entre outros nomes, de "Sérvia", "Dalmácia" e "Esclavônia", e, em algum momento, abarcava a maior parte das [[pomorje|províncias marítimas]], incluindo a [[Travúnia]] e a [[Zaclúmia]], além de, provavelmente, partes do interior. A posição privilegiada de Vladimir sobre os demais nobres eslavos na região explica o motivo pelo qual Basílio tentou firmar com ele uma aliança contra os búlgaros. Com as mãos atadas por causa da guerra na [[Anatólia]], Basílio precisava de aliados contra o czar Samuel. Para se proteger, os búlgaros invadiram a Dóclea em 997 e avançaram através da Dalmácia até a cidade de [[Zadar]], incorporando a Bósnia e a Sérvia ao seus territórios. Depois de derrotar Vladimir, Samuel o recolocou no trono como um príncipe vassalo. Não se sabe o relacionamento exato entre Vladimir e os príncipes da Sérvia ou os reis da Croácia, pois muito do que se sabe sobre ele foi escrito na "[[Crônica do Padre de Dóclea]]", de confiabilidade duvidosa. Vladimir foi assassinado por [[João Vladislau]], o irmão e sucessor de Samuel, por volta de 1016 e o último membro de sua família, seu tio Dragimir, foi morto pela população de Krotor em 1018. No mesmo ano, os bizantinos [[Conquista bizantina da Bulgária|derrotaram os búlgaros]] e, numa tacada, conquistaram virtualmente toda a região dos Balcãs.

== Cultura ==
=== Religião ===
O estabelecimento do cristianismo como uma [[religião estatal]] data da época do príncipe [[Mutímero]] e do imperador bizantino [[Basílio I]] {{nwrap|r.|867|886}},<ref name=SC208>''The entry of the Slavs into Christendom'', p. 208</ref><ref>[[Sobre a Administração Imperial]], ch. 29 [''Of Dalmatia and of the adjacent nations in it'']</ref> que, depois de conseguir colocar os sérvios sob seu comando, enviou sacerdotes acompanhando o almirante [[Nicetas Orifa]], que seguia para enfrentar os [[sarracenos]] em 869.<ref name=ISN>[http://www.rastko.rs/rastko-bl/istorija/corovic/istorija/2_4_l.html Rastko.rs]</ref>

A [[Eparquia de Ráscia|primeira diocese sérvia]] foi fundada na capital [[Antiga Ras|Ras]], perto da moderna cidade de [[Novi Pazar]] às margens do [[rio Ibar]].<ref name=SC208/> A afiliação inicial é incerta, mas é provável que ela estivesse subordinada ou a Split ou a [[Dirráquio]], ambas sés bizantinas.<ref name=SC208/> A [[Igreja dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo (Novi Pazar)|Igreja dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo]] em Ras remonta ao {{séc|IX-X}}, com seu plano característico das primeiras capelas cortesãs.<ref name=SC209>''The entry of the Slavs into Christendom'', p. 209</ref> A diocese foi fundada logo depois de 871, no reinado de Mutímero, e era parte de um plano maior de estabelecer dioceses nas terras eslavas do império confirmado no [[Quarto Concílio de Constantinopla (Ortodoxo)|Quarto Concílio de Constantinopla]] de 879-880.<ref name=SC209/><ref name=DKOS>[http://www.kosovo.net/diocese.html Serbian Orthodox Diocese of Raska and Prizren]</ref> A [[Eparquia de Branichevo]] foi fundada em 878 como uma ampliação de [[Viminácio]] e Hórreo de Margo ([[Ćuprija]]).

O [[sinete]] de [[Estrímero da Sérvia|Estrímero]] (m. entre 880 e 896), o irmão de Mutímero, traz uma [[cruz patriarcal]] no centro e uma inscrição grega que diz ''"Deus, ajude Estrímero" (CTPOHMIP)"''.<ref name=PECAT>[http://arhiva.glas-javnosti.rs/arhiva/2006/07/27/srpski/T06072602.shtml Arhiva.glas-javnosti.rs]</ref><ref name=TGSS>[http://www.scribd.com/doc/19267472/The-Golden-Seal-of-Stroimir Scribd.com]</ref>

== Ver também ==
* [[Lista de reis da Sérvia|Lista dos monarcas da Sérvia]]
* [[Sérvia Branca]] (antes de 610)
* [[Grão-Principado da Sérvia]] (1091–1217)
* [[Reino da Sérvia (medieval)|Reino da Sérvia]] (1217–1345)
* [[Império da Sérvia]] (1345–1371)
* [[Queda do Império da Sérvia]] (1371–1402)
* [[Despotado da Sérvia]] (1402–1459)

{{Referências|col=2}}

=== Bibliografia ===
{{refbegin|2}}
* {{citar livro|autor =[[Bulgarian Academy of Sciences]] |título=Études historiques |volume=3 |url=http://books.google.com/?id=SaniAAAAMAAJ |publicado=Éditions de l'Académie bulgare des sciences |ano=1966 |ref=harv}}
* {{citar livro|último =Bury |primeiro = J. B.|autorlink =J. B. Bury|título=History of the Eastern Empire from the Fall of Irene to the Accession of Basil: A.D. 802–867 | isbn=1-60520-421-8 |ano=2008 | url=http://books.google.com/?id=svPkt-TIHK0C | ref=harv}}
* {{citar livro|último =Carter |primeiro =Francis W. |título=An historical geography of the Balkans | url=|publicado= |ano=1977 | isbn=|ref=harv}}
* {{citar livro|último =Ćorović |primeiro =Vladimir |autorlink =Vladimir Ćorović |título=Istorija srpskog naroda |edição=Internet |ano=2001 |local=Belgrade|publicado=Ars Libri | url=http://www.rastko.rs/rastko-bl/istorija/corovic/istorija/index.html |ref=harv}}
* {{citar livro|último =Ćirković |primeiro =Sima M. |autorlink =Sima Ćirković |título=The Serbs |publicado=Wiley-Blackwell |ano=2004 | url=http://books.google.com/?id=sJJWEnXTHdIC | isbn=0-631-20471-7 | ref=harv}}
* {{citar livro|último =Cuddon |primeiro =John Anthony |título=The companion guide to Jugoslavia | url=http://books.google.com/?id=0dIPlZHZ5q8C|publicado=Collins |ano=1986 | isbn=0-00-217045-0|ref=harv}}
* {{citar livro|último =Evans |primeiro =Arthur |título=Through Bosnia and the Herzegovina on Foot During the Insurrection, August and September 1875 |publicado=Cosimo, Inc. |ano=2007 | url=http://books.google.com/?id=b4h6nDMqYZoC | isbn=1-60206-270-6 | ref=harv}}
* {{citar periódico|último1 =Ferjančić|primeiro1 =Božidar|authorlink1=Božidar Ferjančić|ano=1997|título=Basile I et la restauration du pouvoir byzantin au IXème siècle|trans_title=Vasilije I i obnova vizantijske vlasti u IX veku|periódico=Zbornik radova Vizantološkog instituta|número=36|páginas=9–30|local=Belgrade|língua=fr|ref=harv}}
* {{citar livro|último =Ferjančić |primeiro =Božidar |título=Vizantijski izvori za istoriju naroda Jugoslavije II |edição=fototipsko izdanje originala iz 1959 |ano=2007 |local=Belgrade | url= | isbn=978-86-83883-08-0 |páginas=46–65 | ref=harv}}
* {{citar livro|último =Forbes |primeiro =Nevill |título=The Balkans: A History of Bulgaria, Serbia, Greece, Rumania, Turkey |publicado=Digital Antiquaria |ano=2004 | url=http://books.google.com/?id=qDduhCXNhi0C | isbn=978-1-58057-314-6 | ref=harv}}
* {{citar livro|último =Fine |primeiro =John Van Antwerp |título=The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century |publicado=The University of Michigan Press |local=Michigan |ano=1991 | isbn=0-472-08149-7|ref=harv}}
* {{citar livro|último =Houtsma |primeiro =M. Th. |título=E.J. Brill's first encyclopaedia of Islam 1913–1936 |publicado=BRILL |ano=1993 | url=http://books.google.com/?id=GpQ3AAAAIAAJ | isbn=90-04-08265-4 | ref=harv}}
* {{citar livro|último =Hupchik |primeiro =Dennis P. |ano=2002 |publicado=Palgrave MacMillan |título=The Balkans. From Constantinople to Communism| isbn = 1-4039-6417-3 |ref=harv }}
* {{citar periódico|último1=Komatina|primeiro1=P.|ano=2010|título=The Slavs of the mid-Danube basin and the Bulgarian expansion in the first half of the 9th century|url=http://scindeks-clanci.nb.rs/data/pdf/0584-9888/2010/0584-98881047055K.pdf|periódico=Zbornik radova Vizantološkog instituta|número=47|doi=10.2298/ZRVI1047055K|páginas=55–82|publicado=Serbian Academy of Sciences and Arts – SASA, Institute for Byzantine Studies|local=Belgrade|ref=harv}}{{Ligação inativa|1=data=maio de 2019 }}
* {{citar livro|último =Mijatovic |primeiro =Cedomilj |autorlink =Čedomilj Mijatović |título=Servia and the Servians | url=http://books.google.com/?id=QzyVcM4qUucC|publicado=Cosimo, Inc. |ano=2007 |anooriginal= 1908 | isbn=1-60520-005-0|ref=harv}}
* {{citar livro|último =Runciman |primeiro =Steven |autorlink =Steven Runciman |título=A history of the First Bulgarian Empire |publicado=G. Bell & Sons |local=London |ano=1930 | url=http://www.kroraina.com/knigi/en/sr/sr_2_2.htm | ref=harv}}
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* {{citar livro|último =Živković |primeiro =Tibor |título=Portreti srpskih vladara (IX—XII vek) |ano=2006 |local=Belgrade | url=http://books.google.com/?id=d-KTAAAACAAJ | isbn=86-17-13754-1 |páginas=11–20 | ref=harv}}
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== Ligações externas ==
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