Mostrar código-fonte de Recitativo

[[Ficheiro:Handel, Lascia ch’io pianga autograph score, 1711.jpg|miniaturadaimagem|First bars of Lascia ch'io pianga, air from the second act of Rinaldo.]]
'''Recitativo''' é uma forma de [[Composição musical|composição]] usada frequentemente em [[melodrama]]s, [[oratório (música)|oratório]]s, [[cantata]]s, [[ópera]]s, e, eventualmente, em [[concerto]]s, na qual o cantor usa o [[Tempo (música)|tempo]] da fala e não o da música. Embora entoado e quase sempre acompanhado pela orquestra ou por um único instrumento, a melodia visa a se aproximar ao máximo da cadência e das inflexões de uma recitação.<ref>{{it}} ''Vocabolario Treccani'': [http://www.treccani.it/vocabolario/tag/recitativo/ recitativo]</ref> Fica, portanto, a meio caminho, entre o [[canto (música)|canto]] e a [[fala]]. O recitativo é, em geral, cantado por um solista, seguindo uma linha melódica, sem acompanhamento ou com um leve acompanhamento responsivo durante as pausas do cantor.<ref>Bukofzer, Manfred. ''Music in the Baroque Era''. New York, W.W. Norton & Co., 1947. ISBN 0-393-09745-5.</ref>

==História==
O recitativo foi bem desenvolvido no século XVII, durante a [[Música barroca|Era Barroca]], em obras tais como a Paixão, as [[cantata]]s e [[Madrigal|madrigais]]. Ainda permaneceu até mais tarde, nas óperas [[Período Clássico (música)|clássicas]] e [[Música do romantismo|românticas]]. 

O primeiro uso de recitativo em [[ópera]] foi precedido pelas [[Monodia (música)|monodias]] da [[Camerata Fiorentina]], na qual [[Vincenzo Galilei]] (1520-1591) - cantor e compositor que tocava [[alaúde]] e era pai do astrônomo [[Galileo Galilei]] - teve um papel importante.<ref>[http://galileo.rice.edu/fam/vincenzo.html Vincenzo Galilei (ca. 1525 - 1591)]</ref> Vincenzo Galilei, influenciado pelas escritas dos [[Grécia|gregos antigos]] e querendo recriar a antiga maneira de contar histórias e drama, tornou-se um pioneiro<ref>[http://www.recorderhomepage.net/galilei.html ''Ricercares a quattro voci''] {{Wayback|url=http://www.recorderhomepage.net/galilei.html |date=20080325103122 }}, Vincenzo Galilei, 1584 (compilado por Nicholas S. Lander).</ref> quando usava uma linha melódica para contar histórias, acompanhado de acordes simples da [[harpa]] ou [[alaúde]].<ref>[http://galileo.rice.edu/lib/student_work/florence96/vincenzo.html Vicenzo Galilei, 1520-1591, pai de Galileo, Italiano e compositor.]</ref>

Na Era Barroca, os recitativos eram frequentemente ensaiados nos bastidores pelo diretor de palco, e os cantores  traziam a sua própria "bagagem" de [[árias]] favoritas que podiam ser de outro compositor (algumas das [[ária]]s de concerto de [[Mozart]] caem dentro deste grupo). Essa divisão de trabalho perdurou em algumas das obras mais famosas de [[Rossini]] (1792-1868): os recitativos simples para ''[[La Cenerentola]]'' foram compostas por um assistente.

Um dos primeiros compositores a usar o recitativo foi o Italiano, [[Claudio Monteverdi]] (1567-1643), em [[1624]],  na sua [[cantata]] ''[[Il combattimento di Tancredi e Clorinda]]''. 

[[Johann Sebastian Bach|Bach]] usou o recitativo em todas as quase quatrocentas cantatas que escreveu.

Geralmente escrito sem [[Barra de compasso|barras de compasso]] - e, portanto, sem um [[Tempo (música)|tempo]] ou [[andamento]] especificamente definido -, o  recitativo é uma narrativa articulada e, em geral, rápida e breve, durante a qual os personagens normalmente "conversam", em um trecho da obra executada. Se um personagem pede a um servo que traga o jantar, por exemplo, na maior parte das vezes o compositor não escreve música muito elaborada para a frase; escreve um recitativo. Cair simplesmente na linguagem falada quebraria a atmosfera musical da ópera. Por isso, a maioria dos compositores evita fazê-lo, especialmente na ópera [[Itália|italiana]]. 

Na ópera [[Alemanha|alemã]], mais frequentemente, os trechos falados se alternam com trechos cantados. Por isso este tipo de ópera é muitas vezes chamado de ''[[Singspiel]]''. [[Mozart]] é um exemplo marcante de compositor que escreveu tanto óperas em [[língua italiana|italiano]] quanto óperas em [[Língua alemã|alemão]]. Quando ele compunha em italiano, Mozart seguia as convenções da ópera [[Itália|italiana]], e recheava suas óperas de recitativos; quando compunha em alemão, ele seguia as convenções da ópera alemã. Assim, nas poucas óperas que compôs em alemão, como ''[[O Rapto do Serralho]]'' e ''[[Die Zauberflöte|A Flauta Mágica]]'', os trechos falados (que Mozart procura fazer o mais curtos possíveis) alternam-se  com trechos cantados.

Nas óperas de [[Handel]], [[Niccolò Piccinni|Piccinni]], [[Paisiello]], [[Cimarosa]], [[Mozart]], [[Rossini]], entre outros, os recitativos são geralmente acompanhados ao [[Cravo (música)|cravo]]. Nas óperas reformadas de [[Gluck]], os recitativos são sempre acompanhados pela [[orquestra]]. A partir de meados do século XIX, contudo, os compositores o utilizaram cada vez menos. [[Wagner]] aboliu o recitativo quase completamente das suas óperas, procurando criar um todo sinfónico-vocal ininterrupto e mais homogéneo.

Existem, a princípio, duas formas de recitativo: o ''recitativo secco'' e o ''recitativo accompagnato''.

== ''Recitativo secco'' ==

O ''recitativo secco'' é a forma de recitativo na qual o acompanhamento instrumental é reduzido ao mínimo. É composto apenas pelo [[baixo contínuo]]<ref>''Encyclopædia  Britannica''. [http://global.britannica.com/art/recitativo-secco "Recitativo secco"]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}</ref>: [[Cravo (música)|cravo]] ou [[Órgão (instrumento musical)|órgão]] e [[violoncelo]], com mais frequência. Em princípio, nenhum outro instrumento intervém. Na ''[[Paixão segundo São Mateus]]'' de Bach,  por exemplo, o Evangelista canta o seu texto sob a forma de ''recitativo secco''.

== ''Recitativo accompagnato'' ou ''stromentato'' ==

O ''recitativo accompagnato'' (acompanhado) ou ''stromentato'' (instrumentado)<ref>''Oxford dictionaries'': [http://www.oxforddictionaries.com/pt/defini%C3%A7%C3%A3o/ingl%C3%AAs-americano/recitativo-stromentato ''recitativo stromentato'']</ref> é a forma de recitativo na qual a [[orquestra]] intervém, seja para pontuar o texto do solista através de alguma frase, à maneira de "comentários" musicais, ou para reforçar os acordes tocados pelo cravo, como um "tapete" sonoro. No caso da ''Paixão Segundo São Mateus'', as intervenções de Jesus são sob a forma de ''recitativo accompagnato''.

O ''recitativo accompagnato'' deve ser, normalmente, diferenciado do [[arioso]], pois este último está a meio caminho entre a  [[ária]] (sem, no entanto, ter restrições formais) e o ''accompagnato'' (mas sem liberdade rítmica). Todavia, esses dois termos são frequentemente confundidos.

==Recitativos instrumentais ==
Embora o termo "recitativo" refira-se quase sempre à música vocal, há recitativos puramente instrumentais. Encontramos exemplos em [[Johann Sebastian Bach|Bach]], [[Ludwig van Beethoven|Beethoven]], [[Chopin]] e vários outros compositores. 

Um dos mais primeiros exemplos de recitativo instrumental é encontrado no [[movimento (música)|movimento]] lento do ''[[Concerto para violino em ré maior]]'', [[RV]] 208, de [[Vivaldi]], onde está indicado  "Recitativo", embora se trate talvez de algo mais virtuosístico e  brilhante do que seria um recitativo operático. [[C. P. E. Bach]] também usou o recitativo instrumental no segundo movimento da primeira de suas ''[[Sonatas Prussianas]]'' ([[Wq]] 48; H. 24), de [[1742]], compostas na corte de [[Frederico o Grande]], em [[Berlim]]. Em 1761, [[Joseph Haydn]] assumiu seu posto no [[Palácio Eszterháza (Galanta)|Palácio Esterházy]] e pouco depois compôs sua ''[[Sinfonia nº 7 (Haydn)|Sinfonia nº 7]]'' (''Le Midi''), em estilo concertante, isto é, com [[solista]]s. No segundo movimento dessa sinfonia, o violinista é o solista de um recitativo instrumental.

[[Ludwig van Beethoven]] usou o recitativo  instrumental  em pelo menos três peças - ''[[Sonata para piano n.º 17 (Beethoven)|Sonata para piano nº 17 ]]'' (''A Tempestade''), ''[[Sonata para piano n.º 31 (Beethoven)|Sonata para piano nº 31]]'' e na abertura do Finale da  ''[[Sinfonia nº 9 (Beethoven)|Nona Sinfonia]]'', em cuja partitura, Beethoven escreveu (em francês) "à maneira de um recitativo, mas ''in tempo''." Segundo Leon Plantinga, o segundo movimento do ''[[Concerto para piano n.° 4 (Beethoven)|Concerto para piano n.° 4 ]]'', também de Beethoven, também é um recitativo instrumental,<ref>Plantinga, Leon (1999), ''Beethoven's Concertos: History, Style, Performance''. New York: W. W. Norton & Company, Inc. ISBN 0-393-04691-5 p. 186</ref> embora Owen Jander o interprete como um  diálogo.<ref>Jander, Owen (1985), "Beethoven's 'Orpheus in Hades': The Andante con moto of the Fourth Piano Concerto", in ''19th-Century Music'', vol. 8, nº 3 (Spring 1985)</ref>

Outros [[Música romântica|compositores românticos]] que utilizaram o recitativo instrumental foram  [[Rimsky-Korsakov]] (que compôs um recitativo lírico, virtuosístico, para violino solo com acompanhamento de  [[harpa]] para representar o [[Scheherazade|personagem título]] de sua [[suíte]] [[sinfônica]] ''[[Scheherazade (Rimsky-Korsakov)|Scheherazade]]'')  e [[Hector Berlioz]] (cuja [[sinfonia coral]] ''[[Roméo et Juliette (Berlioz)|Roméo et Juliette]]'' contém um recitativo de [[trombone]] como  parte da Introdução).

[[Arnold Schoenberg]]  marcou a última de suas ''[[Cinco Peças Orquestrais]]'', Op. 16,  como "Recitativo obligato" e também compôs uma peça para [[órgão (instrumento musical)|órgão]],  denominada ''[[Variações sobre um recitativo]]'', Op. 40. Outros  exemplos de recitativos instrumentais  na música do século XX incluem o terceiro [[movimento (música)|movimento]] do ''[[Quinteto para clarinete e cordas]]'', de  [[Douglas Moore]] (1946), o primeiro dos ''[[Cinco improvisos]]'' para guitarra  (1968), de [[Richard Rodney Bennett]], e o segundo dos ''[[12 Estudos para piano]]'', de  [[William Bolcom]] (1977–1986).

{{referências}}

==Bibliografia==
*Sadie, Stanley (editor). "The Grove Concise Dictionary of Music". Macmillan Press Ltd., London.1994.
*Palisca, Claude. ''The Florentine Camerata''. New Haven, Connecticut: Yale University Press, 1989.
 
 
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