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Vencidos da Vida

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Os Vencidos da Vida (fotografia de P. Marinho, in Brasil-Portugal, a. II, 1900).

Vencidos da Vida é o nome porque ficou conhecido um grupo informal formado por algumas das personalidades intelectuais de maior relevo da vida cultural portuguesa das últimas três décadas do século XIX, com fortes ligações à chamada Geração de 70. O nome do grupo, ao que parece, foi adoptado por sugestão de Joaquim Pedro de Oliveira Martins. A denominação decorre claramente da renúncia dos membros do grupo às suas aspirações de juventude.

O grupo reunia-se para jantares e convívios semanais no Café Tavares, no Hotel Bragança ou nas casas dos seus membros, tendo-se mantido activo no período que mediou entre 1887 e 1894.

Os Vencidos da Vida foram definidos por um dos seus membros, embora tardio, o escritor Eça de Queirós, como um grupo jantante. O grupo assumia o carácter de uma sociedade exclusivista, congregando vultos da literatura, da política e da alta sociedade, com relevo para alguns dos vultos mais ilustres das rodas mundanas e aristocráticas.

Entre os membros dos Vencidos da Vida estavam alguns dos intelectuais e políticos que tinham gizado a tentativa de transformação do país subjacente à fase tardia da Regeneração, que, face ao percebido insucesso desse processo modernizador, canalizavam a sua frustração e desengano dos ideais revolucionários juvenis para um diletantismo elegante e irónico. Surge assim a idealização vaga de uma aristocracia iluminada, contraponto do socialismo utópico que alguns deles antes tinham defendido.

O grupo incluía, entre outros, José Duarte Ramalho Ortigão, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, António Cândido Ribeiro da Costa, Guerra Junqueiro, Luís de Soveral, Francisco Manuel de Melo Breyner (3.° conde de Ficalho), Carlos de Lima Mayer, Carlos Lobo de Ávila e António Maria Vasco de Mello Silva César e Menezes (9.º conde de Sabugosa). Eça de Queirós integrou o grupo a partir de 1889.

Apesar de Vencidos da Vida, a actividade do grupo fez renascer e crescer entre os seus membros uma nova esperança, pois tinham-se tornado um círculo influente junto do príncipe herdeiro e, após a morte de D. Luís I, em 1889, passaram a influenciar o novo rei, D. Carlos I. Nesse contexto, Eça de Queiroz escreveu na Revista de Portugal logo que o príncipe subiu ao trono: O Rei surge como a única força que no País ainda vive e opera.

Chegaram a julgar que se abria um novo ciclo político, com os Vencidos da Vida a acreditarem que, por intermédio de um acrescido papel do rei e de uma nova política externa liberta da velha aliança inglesa, se conseguiria debelar a crise provocada pelo regime oligárquico da Carta. Contudo, o assassínio de D. Carlos e do príncipe Luís Filipe, acabaram por deitar por terra as suas últimas esperanças.

A publicidade feita em torno das actividades do grupo pelo jornal O Tempo, editado por Carlos Lobo de Ávila, levou a que o nome suscitasse a troça de muita da intelectualidade lisboeta, resultado do misto de desdém e de inveja que sempre tem caracterizado o relacionamento entre os membros da intelectualidade portuguesa. Esse clima de ressentimento e troça em certos sectores da vida lisboeta, conduziu a que os seus membros fossem criticados e satirizados. Sobre o tema, o dramaturgo Abel Botelho escreveu em 1892 uma peça intitulada Os Vencidos da Vida, que acabou por ser proibida pela polícia, dada a violência da sátira e dos ataques pessoais nela contidos.

Referências

  • MACHADO, Álvaro Manuel, A Geração de 70 – Uma Revolução Cultural e Literária, Instituto de Cultura Portuguesa, 1977, pág. 211;
  • QUEIRÓS, José Maria Eça de, Cartas Inéditas de Fradique Mendes e Mais Páginas Esquecidas, Porto, Livraria Chardron, 1929;

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