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Avelino Teixeira da Mota: diferenças entre revisões

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'''Avelino Teixeira da Mota''' ([[Lisboa]], [[22 de Setembro]] de [[1920]] - [[1982]]), foi um distinto oficial da [[Marinha]] e historiador. Era filho de Avelino da Mota e de Isaura Teixeira, tendo nascido na freguesia de S. José de Lisboa.
[[Ficheiro:'''Avelino Teixeira da Mota''' ([[Lisboa]], [[22 de Setembro]] de [[1920]] - [[1982]]), foi um distinto oficial da [[Marinha]] e historiador. Era filho de Avelino da Mota e de Isaura Teixeira, tendo nascido na freguesia de S. José de Lisboa.
'''Figura marcante da historiografia da cultura portuguesa do século XX'''
'''Figura marcante da historiografia da cultura portuguesa do século XX'''
O almirante Avelino Teixeira da Mota evidenciou-se, ao longo da sua vida, por um percurso académico invulgar, num diálogo constante e profícuo entre os múltiplos campos do saber.
O almirante Avelino Teixeira da Mota evidenciou-se, ao longo da sua vida, por um percurso académico invulgar, num diálogo constante e profícuo entre os múltiplos campos do saber.
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Colónia com parcos recursos, rebelde, tardiamente “pacificada”, entrincheirada entre os territórios da África Ocidental Francesa, a Guiné necessitava de um amplo programa de reformas, que a administração de Sarmento Rodrigues se encarregou de pôr em prática, na segunda metade da década de quarenta. Teixeira da Mota aceita de bom agrado os novos desafios que lhe são propostos, e trabalha empenhadamente como Ajudante-de-Campo do Governador. Para além de ser um dos principais obreiros da reforma cultural posta em curso na Colónia, através da fundação do Centro de Estudos, de um Boletim Cultural e da realização em 1946 das comemorações do Centenário do seu Descobrimento, ainda participa na realização da Segunda Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, que se reúne em Bissau em 1947, e dirige um Inquérito Etnográfico, que tem como objectivo a edificação de uma nova carta humana e geográfica do território.
Colónia com parcos recursos, rebelde, tardiamente “pacificada”, entrincheirada entre os territórios da África Ocidental Francesa, a Guiné necessitava de um amplo programa de reformas, que a administração de Sarmento Rodrigues se encarregou de pôr em prática, na segunda metade da década de quarenta. Teixeira da Mota aceita de bom agrado os novos desafios que lhe são propostos, e trabalha empenhadamente como Ajudante-de-Campo do Governador. Para além de ser um dos principais obreiros da reforma cultural posta em curso na Colónia, através da fundação do Centro de Estudos, de um Boletim Cultural e da realização em 1946 das comemorações do Centenário do seu Descobrimento, ainda participa na realização da Segunda Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, que se reúne em Bissau em 1947, e dirige um Inquérito Etnográfico, que tem como objectivo a edificação de uma nova carta humana e geográfica do território.
Avelino Teixeira da Mota vive intensamente esses anos, estabelecendo contactos com personalidades conceituadas do mundo académico e da investigação científica ultramarina, na sua grande maioria cientistas europeus que trabalhavam em África, em pesquisas de campo e nos institutos de investigação locais. Na verdade, a África Ocidental Francesa, juntamente com os territórios ingleses, fervilhava de entusiastas, intelectuais e quadros administrativos, que procuravam um novo rumo para os estudos africanos, e para a investigação sociológica e antropológica. Com esse intuito organizam-se encontros internacionais com assiduidade, onde são procurada respostas e soluções para uma realidade que se transformara por completo depois da IIª Guerra Mundial. A dinamização do Centro de Estudos da Guiné, as edições de obras de temática ultramarina, o incentivo ao trabalho prático, de “investigação de campo” junto das populações da Guiné, inscreve-se, assim, num vasto movimento cultural e científico, englobando o intercâmbio e a troca de experiências com os espaços coloniais dominados por outras potências europeias na costa Ocidental de África.
Avelino Teixeira da Mota vive intensamente esses anos, estabelecendo contactos com personalidades conceituadas do mundo académico e da investigação científica ultramarina, na sua grande maioria cientistas europeus que trabalhavam em África, em pesquisas de campo e nos institutos de investigação locais. Na verdade, a África Ocidental Francesa, juntamente com os territórios ingleses, fervilhava de entusiastas, intelectuais e quadros administrativos, que procuravam um novo rumo para os estudos africanos, e para a investigação sociológica e antropológica. Com esse intuito organizam-se encontros internacionais com assiduidade, onde são procurada respostas e soluções para uma realidade que se transformara por completo depois da IIª Guerra Mundial. A dinamização do Centro de Estudos da Guiné, as edições de obras de temática ultramarina, o incentivo ao trabalho prático, de “investigação de campo” junto das populações da Guiné, inscreve-se, assim, num vasto movimento cultural e científico, englobando o intercâmbio e a troca de experiências com os espaços coloniais dominados por outras potências europeias na costa Ocidental de África.
No final do ano de 1947, Teixeira da Mota passa para a Missão Geo-Hidrográfica da Guiné. Para trás ficava o seu trabalho em solo guineense, que motivou um extenso e emblemático louvor, concedido pelo Governador, “pela porfiada, inteligente e decisiva actuação em vários sectores da actividade cultural da colónia, nomeadamente na organização do Boletim Cultural, na elaboração do Inquérito Etnográfico e na preparação das respectivas respostas para publicação, actividades em que tem dado sobejas provas do seu muito saber, lealdade e superior espírito de colaboração.
No final do ano de 1947, Teixeira da Mota passa para a Missão Geo-Hidrográfica da Guiné. Para trás ficava o seu trabalho em solo guineense, que motivou um extenso e emblemático louvor, concedido pelo Governador, “pela porfiada, inteligente e decisiva atuação em vários sectores da actividade cultural da colónia, nomeadamente na organização do Boletim Cultural, na elaboração do Inquérito Etnográfico e na preparação das respetivas respostas para publicação, actividades em que tem dado sobejas provas do seu muito saber, lealdade e superior espírito de colaboração.
Se antes trabalhara no mato, num contacto intenso com as populações e o meio envolvente, agora navegava nos caudalosos rios da Guiné, sondando, erguendo torres hidrográficas, cartografando as suas costas e litorais.
Se antes trabalhara no mato, num contacto intenso com as populações e o meio envolvente, agora navegava nos caudalosos rios da Guiné, sondando, erguendo torres hidrográficas, cartografando as suas costas e litorais.
A promoção a Primeiro-tenente vem a suceder em 1953, a 31 de Março. Nesse ano é encarregado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de fazer o inventário e reprodução fotográfica da cartografia portuguesa antiga e da cartografia dos territórios ultramarinos, tendo em vista a participação portuguesa nas comemorações no centenário da fundação da cidade de S.Paulo, no ano seguinte. Aproveitando a interrupção dos trabalhos hidrográficos, durante a estação das chuvas, entre Maio e Novembro, trabalha dois anos seguidos (1953-54) nesse projecto: em Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Áustria e Itália.
A promoção a Primeiro-tenente vem a suceder em 1953, a 31 de Março. Nesse ano é encarregado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de fazer o inventário e reprodução fotográfica da cartografia portuguesa antiga e da cartografia dos territórios ultramarinos, tendo em vista a participação portuguesa nas comemorações no centenário da fundação da cidade de S. Paulo, no ano seguinte. Aproveitando a interrupção dos trabalhos hidrográficos, durante a estação das chuvas, entre Maio e Novembro, trabalha dois anos seguidos (1953-54) nesse projeto: em Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Áustria e Itália.
Notado pela propensão para os estudos de cartografia antiga é, três anos mais tarde, convidado a colaborar com Armando Cortesão na preparação de uma edição que reúna toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. O projecto era ambicioso. Podemos, ainda hoje, constatar a sua originalidade no panorama editorial português. As investigações levadas a cabo por Teixeira da Mota nas bibliotecas e arquivos da Europa Ocidental anos antes, foram desde logo aproveitadas para a tão aguardada obra - titulada “Portugaliae Monumenta Cartographica” - sair sem atrasos do prelo em 1960, quando se comemorava o quinto centenário da morte do Infante D. Henrique.
Notado pela propensão para os estudos de cartografia antiga é, três anos mais tarde, convidado a colaborar com Armando Cortesão na preparação de uma edição que reúna toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. O projeto era ambicioso. Podemos, ainda hoje, constatar a sua originalidade no panorama editorial português. As investigações levadas a cabo por Teixeira da Mota nas bibliotecas e arquivos da Europa Ocidental anos antes, foram desde logo aproveitadas para a tão aguardada obra - titulada “Portugaliae Monumenta Cartographica” - sair sem atrasos do prelo em 1960, quando se comemorava o quinto centenário da morte do Infante D. Henrique.
Era a concretização de um sonho para os dois autores, que muitos julgavam megalómano, de ver reunida numa única edição toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. Armando Cortesão chegou a referir, posteriormente, que a colaboração do Comandante Teixeira da Mota foi “preciosíssima e, sem ela, a obra dificilmente poderia ser o que é, e ficar concluída no prazo estabelecido.”
Era a concretização de um sonho para os dois autores, que muitos julgavam megalómano, de ver reunida numa única edição toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. Armando Cortesão chegou a referir, posteriormente, que a colaboração do Comandante Teixeira da Mota foi “preciosíssima e, sem ela, a obra dificilmente poderia ser o que é, e ficar concluída no prazo estabelecido.”
No fim da década de 50, Teixeira da Mota trabalha afincadamente na obra Portugaliae Monumenta Cartopgraphica, centro principal do seu labor nesses anos, por entre múltiplas solicitações de trabalho e projectos de investigação. No entanto, continua a participar em congressos internacionais, a publicar estudos e a prestar serviço na Marinha. A sua comunicação no Colóquio Internacional de História do Navio e da Economia Marítima, que teve lugar em 1957, revela novos dados sobre a criação da navegação astronómica pelos portugueses, analisando detalhadamente a navegação no Mediterrâneo, no Atlântico e no Índico, entre os séculos XIII e XVII. Promovido a oficial superior (Capitão-Tenente) em 1958, frequenta no ano subsequente o Curso Geral Naval de Guerra, concebendo um trabalho sobre estratégia, com dois outros oficiais, onde é abordado a guerra submarina. É também por esses anos eleito deputado à Assembleia Nacional pelo círculo da Guiné (legislatura de 1957-1961). Talvez influenciado pela sua actividade política, e pelos conhecimentos e conceitos adquiridos no Instituto Superior Naval de Guerra, analisa o período de governo de D. João II com o sugestivo título de “As Concepções Geo-políticas de D. João II”, em artigo que saiu no Boletim da Sociedade de Geografia (1958). Vão seguir-se as comemorações henriquinas, em 1960, facto que leva Teixeira da Mota a participar, nesse ano, numa sessão na Academia de Ciências de Lisboa e no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, para além de coordenar uma exposição de cartografia no Padrão dos Descobrimentos e de participar numa edição bilingue ( em português e inglês) sobre o infante D. Henrique.
No fim da década de cinquenta, Teixeira da Mota trabalha afincadamente na obra Portugaliae Monumenta Cartopgraphica, centro principal do seu labor nesses anos, por entre múltiplas solicitações de trabalho e projetos de investigação. No entanto, continua a participar em congressos internacionais, a publicar estudos e a prestar serviço na Marinha. A sua comunicação no Colóquio Internacional de História do Navio e da Economia Marítima, que teve lugar em 1957, revela novos dados sobre a criação da navegação astronómica pelos portugueses, analisando detalhadamente a navegação no Mediterrâneo, no Atlântico e no Índico, entre os séculos XIII e XVII. Promovido a oficial superior (Capitão-Tenente) em 1958, frequenta no ano subsequente o Curso Geral Naval de Guerra, concebendo um trabalho sobre estratégia, com dois outros oficiais, onde é abordado a guerra submarina. É também por esses anos eleito deputado à Assembleia Nacional pelo círculo da Guiné (legislatura de 1957-1961). Talvez influenciado pela sua actividade política, e pelos conhecimentos e conceitos adquiridos no Instituto Superior Naval de Guerra, analisa o período de governo de D. João II com o sugestivo título de “As Concepções Geo-políticas de D. João II”, em artigo que saiu no Boletim da Sociedade de Geografia (1958). Vão seguir-se as comemorações henriquinas, em 1960, facto que leva Teixeira da Mota a participar, nesse ano, numa sessão na Academia de Ciências de Lisboa e no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, para além de coordenar uma exposição de cartografia no Padrão dos Descobrimentos e de participar numa edição bilingue ( em português e inglês) sobre o infante D. Henrique.
Os anos 60 serão consagrados, quase por inteiro, ao ensino. De início na Escola Naval (professor do 12º Grupo de cadeiras), entre 1959 e 1964, onde participa activamente na reforma curricular que é posta em curso pelo comandante da Escola Naval, almirante Sarmento Rodrigues; faz parte da organização do 5º Colóquio Internacional sobre História do Navio e da Economia Marítima e colabora no ciclo de conferências do Gabinete da Actividades Circum-escolares, com lições sobre “A Cartografia Antiga e a Travessia de África pelos Portugueses”. Acresce ainda que participa como relator e com uma comunicação, no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, que decorre em Lisboa (1960).
Os anos 60 serão consagrados, quase por inteiro, ao ensino. De início na Escola Naval (professor do 12º Grupo de cadeiras), entre 1959 e 1964, onde participa activamente na reforma curricular que é posta em curso pelo comandante da Escola Naval, almirante Sarmento Rodrigues; faz parte da organização do 5º Colóquio Internacional sobre História do Navio e da Economia Marítima e colabora no ciclo de conferências do Gabinete da Actividades Circum-escolares, com lições sobre “A Cartografia Antiga e a Travessia de África pelos Portugueses”. Acresce ainda que participa como relator e com uma comunicação, no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, que decorre em Lisboa (1960).
É na Escola Naval que Teixeira da Mota vem a receber quatro louvores, pelos seus serviços exemplares e distintos, do Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, Comodoro Laurindo Henrique dos Santos e Comodoro António Morgado Belo, respectivamente. Prestes a destacar, sobe ao posto de Capitão-de-Fragata em 1964.
É na Escola Naval que Teixeira da Mota vem a receber quatro louvores, pelos seus serviços exemplares e distintos, do Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, Comodoro Laurindo Henrique dos Santos e Comodoro António Morgado Belo, respectivamente. Prestes a destacar, sobe ao posto de Capitão-de-Fragata em 1964.
Durante quatro anos lectivos, entre 1965 e 1969, em paralelo com as suas funções na 2ª Divisão do Estado-Maior da Armada, e como capitão-de-bandeira do navio “Uige”, é incumbido da regência da disciplina de História da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O que não deixou de ser um reconhecimento público ao seu percurso académico.
Durante quatro anos letivos, entre 1965 e 1969, em paralelo com as suas funções na 2ª Divisão do Estado-Maior da Armada, e como capitão-de-bandeira do navio “Uige”, é incumbido da regência da disciplina de História da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O que não deixou de ser um reconhecimento público ao seu percurso académico.
Em 1969, ano em que publica um estudo sobre o ensino náutico - demonstrando com base em documentação inédita, encontrada na Biblioteca da Ajuda, como se processava o ensino técnico da navegação na época dos Descobrimentos -, após uma década votada ao ensino, Teixeira da Mota regressa à África para chefiar o Estado-Maior do Comando da Defesa Marítima da Guiné. Escreverá a amigos referindo que ”é uma espécie de patrão-mor dos rios da Guiné”. As suas funções são, de facto, de planeamento e comando na retaguarda das operações militares contra a guerrilha do PAIGC. Mas no continente “negro” tudo mudara. Muito do que tinha construído na sua juventude parecia agora desabar diante dos seus olhos, perante uma guerra atroz que se eternizava. Triste e desanimado, discordando de algumas directivas vindas dos comandos locais, abandona a Guiné logo no ano seguinte, para ir chefiar o Estado-Maior do Comando Naval de Angola. Aí terá uma vida mais calma, acabando “pacificamente” a sua última comissão no Ultramar. O interesse por África nestes dois anos continua vivo. Mantém produção, assídua, de estudos sobre contactos luso-africanos, com a ajuda de colaboradores em Lisboa.
Em 1969, ano em que publica um estudo sobre o ensino náutico - demonstrando com base em documentação inédita, encontrada na Biblioteca da Ajuda, como se processava o ensino técnico da navegação na época dos Descobrimentos -, após uma década votada ao ensino, Teixeira da Mota regressa à África para chefiar o Estado-Maior do Comando da Defesa Marítima da Guiné. Escreverá a amigos referindo que ”é uma espécie de patrão-mor dos rios da Guiné”. As suas funções são, de facto, de planeamento e comando na retaguarda das operações militares contra a guerrilha do PAIGC. Mas no continente “negro” tudo mudara. Muito do que tinha construído na sua juventude parecia agora desabar diante dos seus olhos, perante uma guerra atroz que se eternizava. Triste e desanimado, discordando de algumas diretivas vindas dos comandos locais, abandona a Guiné logo no ano seguinte, para ir chefiar o Estado-Maior do Comando Naval de Angola. Aí terá uma vida mais calma, acabando “pacificamente” a sua última comissão no Ultramar. O interesse por África nestes dois anos continua vivo. Mantém produção, assídua, de estudos sobre contactos luso-africanos, com a ajuda de colaboradores em Lisboa.
Quando regressa, em 1971, o comandante Teixeira da Mota é destacado em comissão especial para o Ministério do Ultramar, com o intuito de dirigir o Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, onde pensa publicar, com estudos críticos e edições em várias línguas, fontes portuguesas para a História da África. São sobretudo crónicas, relatos, descrições geográficas e antropológicas de autores dos séculos XVI e XVII. Dirige uma equipa de arquivo, coordenando a partir do seu gabinete os projectos; desloca-se a vários arquivos e bibliotecas no estrangeiro; gere as verbas que lhe são atribuídas para a investigação do empreendimento editorial; aprofunda os contactos com muitos investigadores de outras nacionalidades. O Resultado final foi a construção/acumulação de uma gigantesca base de dados sobre a presença portuguesa em África (essencialmente na África Ocidental) e as sociedades africanas. A tarefa de publicar fontes para a História de África e contactos luso-africanos, revelar-se-ia, porém, difícil, e até algo irrealista para o panorama científico e cultural da altura, atendendo ao facto de o país passar nos anos seguintes por um período de transição social e política.
Quando regressa, em 1971, o comandante Teixeira da Mota é destacado em comissão especial para o Ministério do Ultramar, com o intuito de dirigir o Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, onde pensa publicar, com estudos críticos e edições em várias línguas, fontes portuguesas para a História da África. São sobretudo crónicas, relatos, descrições geográficas e antropológicas de autores dos séculos XVI e XVII. Dirige uma equipa de arquivo, coordenando a partir do seu gabinete os projetos; desloca-se a vários arquivos e bibliotecas no estrangeiro; gere as verbas que lhe são atribuídas para a investigação do empreendimento editorial; aprofunda os contactos com muitos investigadores de outras nacionalidades. O Resultado final foi a construção/acumulação de uma gigantesca base de dados sobre a presença portuguesa em África (essencialmente na África Ocidental) e as sociedades africanas. A tarefa de publicar fontes para a História de África e contactos luso-africanos, revelar-se-ia, porém, difícil, e até algo irrealista para o panorama científico e cultural da altura, atendendo ao facto de o país passar nos anos seguintes por um período de transição social e política.
Em 1976, Avelino Teixeira da Mota passa à situação de reserva no posto de Capitão-de-mar-e-guerra (promoção esta de 1973), ficando no entanto na efectividade de serviço. È chamado desempenhar as funções de Presidente Tribunal da Marinha e de Conselheiro no Ministério da Defesa Nacional; faz parte de Comissão Técnica Consultiva do Museu da Marinha e da Comissão para as Comemorações do Dia de Camões; é convidado por universidades e instituições internacionais a proferir palestras e a fazer parte de comissões científicas. No início da década de oitenta, é encarregado de esboçar o Guião para um dos núcleos principais da XVIIª Exposição de Arte, Ciência e Cultura Europeia, que iria decorrer em Portugal no ano de 1983, mas adoece gravemente deixando, todavia, o projecto praticante concluído para a grandiosa exposição, que simbolizava o reapertar dos laços de Portugal com o resto da Europa, tendo em vista a pretensões do país aceder à Comunidade Económica Europeia.
Em 1976, Avelino Teixeira da Mota passa à situação de reserva no posto de Capitão-de-mar-e-guerra (promoção esta de 1973), ficando no entanto na efetividade de serviço. È chamado desempenhar as funções de Presidente Tribunal da Marinha e de Conselheiro no Ministério da Defesa Nacional; faz parte de Comissão Técnica Consultiva do Museu da Marinha e da Comissão para as Comemorações do Dia de Camões; é convidado por universidades e instituições internacionais a proferir palestras e a fazer parte de comissões científicas. No início da década de oitenta, é encarregado de esboçar o Guião para um dos núcleos principais da XVIIª Exposição de Arte, Ciência e Cultura Europeia, que iria decorrer em Portugal no ano de 1983, mas adoece gravemente deixando, todavia, o projecto praticante concluído para a grandiosa exposição, que simbolizava o reapertar dos laços de Portugal com o resto da Europa, tendo em vista a pretensões do país aceder à Comunidade Económica Europeia.
Reconhecido a nível nacional e internacional pelos seus estudos e pelo seu vasto saber em diversas áreas do conhecimento, é convidado a integrar diversas instituições científicas: membro da comissão de redacção da Imago Mundi, revista internacional de História da Cartografia; Vogal da Direcção da Sociedade de Geografia de Lisboa, chegando a ser director da sua biblioteca; sócio efectivo da Academia Portuguesa de História; sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, e seu secretário-geral, onde ocupa a cadeira deixada vaga por Gago Coutinho; membro do Conselho Superior Científico do “Institut Fundamental de l’Afrique Noir”; representante português e conselheiro da “Comission Internationale d’Histoire Maritime”; membro correspondente da “Real Academia de la Historia” de Madrid; membro da Comissão Internacional da História da Náutica e da Hidrografia; sócio da “Society of Discoveries”; membro da Comissão Nacional de História das Ciências; sócio honorário da Sociedade Brasileira de Cartografia; membro do conselho orientador do Centro de Antropologia Cultural, da Junta de Investigações do Ultramar.
Reconhecido a nível nacional e internacional pelos seus estudos e pelo seu vasto saber em diversas áreas do conhecimento, é convidado a integrar diversas instituições científicas: membro da comissão de redação da Imago Mundi, revista internacional de História da Cartografia; Vogal da Direção da Sociedade de Geografia de Lisboa, chegando a ser director da sua biblioteca; sócio efetivo da Academia Portuguesa de História; sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, e seu secretário-geral, onde ocupa a cadeira deixada vaga por Gago Coutinho; membro do Conselho Superior Científico do “Institut Fundamental de l’Afrique Noir”; representante português e conselheiro da “Comission Internationale d’Histoire Maritime”; membro correspondente da “Real Academia de la Historia” de Madrid; membro da Comissão Internacional da História da Náutica e da Hidrografia; sócio da “Society of Discoveries”; membro da Comissão Nacional de História das Ciências; sócio honorário da Sociedade Brasileira de Cartografia; membro do conselho orientador do Centro de Antropologia Cultural, da Junta de Investigações do Ultramar.
Eleito 2º Presidente da Academia de Marinha para o biénio 1980-1981, uma das instituições que ajudou a fundar, Avelino Teixeira da Mota é promovido por distinção, em Setembro de 1981, ao posto de Vice-Almirante, por proposta do Conselho da Revolução. Cerca de seis meses depois, a 1 de Abril de 1982, falecia no hospital da Cruz Vermelha, acometido de uma grave doença, ficando por concluir muitos dos projectos de investigação e de edição que tinha entre mãos.
Eleito 2º Presidente da Academia de Marinha para o biénio 1980-1981, uma das instituições que ajudou a fundar, Avelino Teixeira da Mota é promovido por distinção, em Setembro de 1981, ao posto de Vice-Almirante, por proposta do Conselho da Revolução. Cerca de seis meses depois, a 1 de Abril de 1982, falecia no hospital da Cruz Vermelha, acometido de uma grave doença, ficando por concluir muitos dos projetos de investigação e de edição que tinha entre mãos.
Acumulando funções militares e civis, administrativas e académicas, este oficial de Marinha, historiador, etnógrafo, cartógrafo, geógrafo, africanista, deixou uma vasta obra, assente em criteriosos métodos científicos, dconsiderados de reconhecida qualidade.
Acumulando funções militares e civis, administrativas e académicas, este oficial de Marinha, historiador, etnógrafo, cartógrafo, geógrafo, africanista, deixou uma vasta obra, assente em criteriosos métodos científicos de reconhecida qualidade.




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[[Categoria:Almirantes de Portugal]]
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[[Categoria:Mortos em 1982]]
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Revisão das 16h58min de 25 de março de 2012

[[Ficheiro:Avelino Teixeira da Mota (Lisboa, 22 de Setembro de 1920 - 1982), foi um distinto oficial da Marinha e historiador. Era filho de Avelino da Mota e de Isaura Teixeira, tendo nascido na freguesia de S. José de Lisboa.

Figura marcante da historiografia da cultura portuguesa do século XX
O almirante Avelino Teixeira da Mota evidenciou-se, ao longo da sua vida, por um percurso académico invulgar, num diálogo constante e profícuo entre os múltiplos campos do saber.  
Avelino Teixeira da Mota nasceu às dezanove horas do dia 22 de Setembro de 1920 na Rua da Conceição da Glória, no número vinte e cinco, rés-do-chão, da freguesia de São José, em Lisboa. Fez os seus primeiros estudos na Escola Primária nº 10 e no Liceu Passos de Manuel, integrando nesta escola um grupo de escuteiros, cujos ensinamentos e vivências viriam a ter um peso significativo ao longo da sua vida. Após findar com distinção os estudos secundários, em 1938, inscreve-se na Faculdade de Ciências de Lisboa, para frequentar as cadeiras que lhe permitirão ingressar na Escola Naval a 15 de Setembro de 1939. 

O jovem mancebo é de poucas falas, reservado e algo tímido, mas o seu desempenho académico guinda-o aos primeiros lugares do curso. Promovido ao posto de guarda -marinha a 1 de Outubro de 1942, vem a conceber nesse posto um importante estudo - memória, relacionado com o cálculo da longitude no século XVI e a problemática que rodeou a viagem de Fernão de Magalhães. Professores e demais oficiais da Escola Naval e da Marinha reconhecem o valor e a qualidade do trabalho, propondo-o para publicação. Teixeira da Mota é entretanto aumentado ao efectivo do Corpo de Oficiais da Armada a 16 de Setembro 1943, com o posto de segundo-tenente. De seguida faz estágios de embarque nos navios: contratorpedeiros “Dão” e “Vouga”, canhoneira “Faro”, navio-escola “Sagres”, aviso de 1ª classe “Afonso de Albuquerque”. Frequenta, igualmente na Escócia um curso Asdisc (guerra anti-submarina). No ano seguinte (21 de Setembro de 1944), embarca como “oficial de guarnição” no contratorpedeiro “Lima”. É nos Açores, onde se encontrava em comissão, a bordo do “Lima”, que surgem na imprensa periódica insular os seus primeiros artigos. O Comandante do navio, capitão-de-fragata Sarmento Rodrigues, nota as qualidades, técnicas e intelectuais do jovem oficial. Com efeito, quando o Comandante é nomeado governador da “Guiné Portuguesa”, Teixeira da Mota é naturalmente convidado a integrar a sua equipa, cessando a comissão de embarque a 3 de Abril de 1945.

 No Governo da Guiné

 Colónia com parcos recursos, rebelde, tardiamente “pacificada”, entrincheirada entre os territórios da África Ocidental Francesa, a Guiné necessitava de um amplo programa de reformas, que a administração de Sarmento Rodrigues se encarregou de pôr em prática, na segunda metade da década de quarenta. Teixeira da Mota aceita de bom agrado os novos desafios que lhe são propostos, e trabalha empenhadamente como Ajudante-de-Campo do Governador. Para além de ser um dos principais obreiros da reforma cultural posta em curso na Colónia, através da fundação do Centro de Estudos, de um Boletim Cultural e da realização em 1946 das comemorações do Centenário do seu Descobrimento, ainda participa na realização da Segunda Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, que se reúne em Bissau em 1947, e dirige um Inquérito Etnográfico, que tem como objectivo a edificação de uma nova carta humana e geográfica do território.

Avelino Teixeira da Mota vive intensamente esses anos, estabelecendo contactos com personalidades conceituadas do mundo académico e da investigação científica ultramarina, na sua grande maioria cientistas europeus que trabalhavam em África, em pesquisas de campo e nos institutos de investigação locais. Na verdade, a África Ocidental Francesa, juntamente com os territórios ingleses, fervilhava de entusiastas, intelectuais e quadros administrativos, que procuravam um novo rumo para os estudos africanos, e para a investigação sociológica e antropológica. Com esse intuito organizam-se encontros internacionais com assiduidade, onde são procurada respostas e soluções para uma realidade que se transformara por completo depois da IIª Guerra Mundial. A dinamização do Centro de Estudos da Guiné, as edições de obras de temática ultramarina, o incentivo ao trabalho prático, de “investigação de campo” junto das populações da Guiné, inscreve-se, assim, num vasto movimento cultural e científico, englobando o intercâmbio e a troca de experiências com os espaços coloniais dominados por outras potências europeias na costa Ocidental de África. No final do ano de 1947, Teixeira da Mota passa para a Missão Geo-Hidrográfica da Guiné. Para trás ficava o seu trabalho em solo guineense, que motivou um extenso e emblemático louvor, concedido pelo Governador, “pela porfiada, inteligente e decisiva atuação em vários sectores da actividade cultural da colónia, nomeadamente na organização do Boletim Cultural, na elaboração do Inquérito Etnográfico e na preparação das respetivas respostas para publicação, actividades em que tem dado sobejas provas do seu muito saber, lealdade e superior espírito de colaboração. Se antes trabalhara no mato, num contacto intenso com as populações e o meio envolvente, agora navegava nos caudalosos rios da Guiné, sondando, erguendo torres hidrográficas, cartografando as suas costas e litorais. A promoção a Primeiro-tenente vem a suceder em 1953, a 31 de Março. Nesse ano é encarregado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de fazer o inventário e reprodução fotográfica da cartografia portuguesa antiga e da cartografia dos territórios ultramarinos, tendo em vista a participação portuguesa nas comemorações no centenário da fundação da cidade de S. Paulo, no ano seguinte. Aproveitando a interrupção dos trabalhos hidrográficos, durante a estação das chuvas, entre Maio e Novembro, trabalha dois anos seguidos (1953-54) nesse projeto: em Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Áustria e Itália. Notado pela propensão para os estudos de cartografia antiga é, três anos mais tarde, convidado a colaborar com Armando Cortesão na preparação de uma edição que reúna toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. O projeto era ambicioso. Podemos, ainda hoje, constatar a sua originalidade no panorama editorial português. As investigações levadas a cabo por Teixeira da Mota nas bibliotecas e arquivos da Europa Ocidental anos antes, foram desde logo aproveitadas para a tão aguardada obra - titulada “Portugaliae Monumenta Cartographica” - sair sem atrasos do prelo em 1960, quando se comemorava o quinto centenário da morte do Infante D. Henrique. Era a concretização de um sonho para os dois autores, que muitos julgavam megalómano, de ver reunida numa única edição toda a cartografia portuguesa antiga, anterior ao século XVIII. Armando Cortesão chegou a referir, posteriormente, que a colaboração do Comandante Teixeira da Mota foi “preciosíssima e, sem ela, a obra dificilmente poderia ser o que é, e ficar concluída no prazo estabelecido.” No fim da década de cinquenta, Teixeira da Mota trabalha afincadamente na obra Portugaliae Monumenta Cartopgraphica, centro principal do seu labor nesses anos, por entre múltiplas solicitações de trabalho e projetos de investigação. No entanto, continua a participar em congressos internacionais, a publicar estudos e a prestar serviço na Marinha. A sua comunicação no Colóquio Internacional de História do Navio e da Economia Marítima, que teve lugar em 1957, revela novos dados sobre a criação da navegação astronómica pelos portugueses, analisando detalhadamente a navegação no Mediterrâneo, no Atlântico e no Índico, entre os séculos XIII e XVII. Promovido a oficial superior (Capitão-Tenente) em 1958, frequenta no ano subsequente o Curso Geral Naval de Guerra, concebendo um trabalho sobre estratégia, com dois outros oficiais, onde é abordado a guerra submarina. É também por esses anos eleito deputado à Assembleia Nacional pelo círculo da Guiné (legislatura de 1957-1961). Talvez influenciado pela sua actividade política, e pelos conhecimentos e conceitos adquiridos no Instituto Superior Naval de Guerra, analisa o período de governo de D. João II com o sugestivo título de “As Concepções Geo-políticas de D. João II”, em artigo que saiu no Boletim da Sociedade de Geografia (1958). Vão seguir-se as comemorações henriquinas, em 1960, facto que leva Teixeira da Mota a participar, nesse ano, numa sessão na Academia de Ciências de Lisboa e no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, para além de coordenar uma exposição de cartografia no Padrão dos Descobrimentos e de participar numa edição bilingue ( em português e inglês) sobre o infante D. Henrique. Os anos 60 serão consagrados, quase por inteiro, ao ensino. De início na Escola Naval (professor do 12º Grupo de cadeiras), entre 1959 e 1964, onde participa activamente na reforma curricular que é posta em curso pelo comandante da Escola Naval, almirante Sarmento Rodrigues; faz parte da organização do 5º Colóquio Internacional sobre História do Navio e da Economia Marítima e colabora no ciclo de conferências do Gabinete da Actividades Circum-escolares, com lições sobre “A Cartografia Antiga e a Travessia de África pelos Portugueses”. Acresce ainda que participa como relator e com uma comunicação, no Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, que decorre em Lisboa (1960).

É na Escola Naval que Teixeira da Mota vem a receber quatro louvores, pelos seus serviços exemplares e distintos, do Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, Comodoro Laurindo Henrique dos Santos e Comodoro António Morgado Belo, respectivamente. Prestes a destacar, sobe ao posto de Capitão-de-Fragata em 1964.

Durante quatro anos letivos, entre 1965 e 1969, em paralelo com as suas funções na 2ª Divisão do Estado-Maior da Armada, e como capitão-de-bandeira do navio “Uige”, é incumbido da regência da disciplina de História da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O que não deixou de ser um reconhecimento público ao seu percurso académico. Em 1969, ano em que publica um estudo sobre o ensino náutico - demonstrando com base em documentação inédita, encontrada na Biblioteca da Ajuda, como se processava o ensino técnico da navegação na época dos Descobrimentos -, após uma década votada ao ensino, Teixeira da Mota regressa à África para chefiar o Estado-Maior do Comando da Defesa Marítima da Guiné. Escreverá a amigos referindo que ”é uma espécie de patrão-mor dos rios da Guiné”. As suas funções são, de facto, de planeamento e comando na retaguarda das operações militares contra a guerrilha do PAIGC. Mas no continente “negro” tudo mudara. Muito do que tinha construído na sua juventude parecia agora desabar diante dos seus olhos, perante uma guerra atroz que se eternizava. Triste e desanimado, discordando de algumas diretivas vindas dos comandos locais, abandona a Guiné logo no ano seguinte, para ir chefiar o Estado-Maior do Comando Naval de Angola. Aí terá uma vida mais calma, acabando “pacificamente” a sua última comissão no Ultramar. O interesse por África nestes dois anos continua vivo. Mantém produção, assídua, de estudos sobre contactos luso-africanos, com a ajuda de colaboradores em Lisboa. Quando regressa, em 1971, o comandante Teixeira da Mota é destacado em comissão especial para o Ministério do Ultramar, com o intuito de dirigir o Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, onde pensa publicar, com estudos críticos e edições em várias línguas, fontes portuguesas para a História da África. São sobretudo crónicas, relatos, descrições geográficas e antropológicas de autores dos séculos XVI e XVII. Dirige uma equipa de arquivo, coordenando a partir do seu gabinete os projetos; desloca-se a vários arquivos e bibliotecas no estrangeiro; gere as verbas que lhe são atribuídas para a investigação do empreendimento editorial; aprofunda os contactos com muitos investigadores de outras nacionalidades. O Resultado final foi a construção/acumulação de uma gigantesca base de dados sobre a presença portuguesa em África (essencialmente na África Ocidental) e as sociedades africanas. A tarefa de publicar fontes para a História de África e contactos luso-africanos, revelar-se-ia, porém, difícil, e até algo irrealista para o panorama científico e cultural da altura, atendendo ao facto de o país passar nos anos seguintes por um período de transição social e política. Em 1976, Avelino Teixeira da Mota passa à situação de reserva no posto de Capitão-de-mar-e-guerra (promoção esta de 1973), ficando no entanto na efetividade de serviço. È chamado desempenhar as funções de Presidente Tribunal da Marinha e de Conselheiro no Ministério da Defesa Nacional; faz parte de Comissão Técnica Consultiva do Museu da Marinha e da Comissão para as Comemorações do Dia de Camões; é convidado por universidades e instituições internacionais a proferir palestras e a fazer parte de comissões científicas. No início da década de oitenta, é encarregado de esboçar o Guião para um dos núcleos principais da XVIIª Exposição de Arte, Ciência e Cultura Europeia, que iria decorrer em Portugal no ano de 1983, mas adoece gravemente deixando, todavia, o projecto praticante concluído para a grandiosa exposição, que simbolizava o reapertar dos laços de Portugal com o resto da Europa, tendo em vista a pretensões do país aceder à Comunidade Económica Europeia. Reconhecido a nível nacional e internacional pelos seus estudos e pelo seu vasto saber em diversas áreas do conhecimento, é convidado a integrar diversas instituições científicas: membro da comissão de redação da Imago Mundi, revista internacional de História da Cartografia; Vogal da Direção da Sociedade de Geografia de Lisboa, chegando a ser director da sua biblioteca; sócio efetivo da Academia Portuguesa de História; sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, e seu secretário-geral, onde ocupa a cadeira deixada vaga por Gago Coutinho; membro do Conselho Superior Científico do “Institut Fundamental de l’Afrique Noir”; representante português e conselheiro da “Comission Internationale d’Histoire Maritime”; membro correspondente da “Real Academia de la Historia” de Madrid; membro da Comissão Internacional da História da Náutica e da Hidrografia; sócio da “Society of Discoveries”; membro da Comissão Nacional de História das Ciências; sócio honorário da Sociedade Brasileira de Cartografia; membro do conselho orientador do Centro de Antropologia Cultural, da Junta de Investigações do Ultramar. Eleito 2º Presidente da Academia de Marinha para o biénio 1980-1981, uma das instituições que ajudou a fundar, Avelino Teixeira da Mota é promovido por distinção, em Setembro de 1981, ao posto de Vice-Almirante, por proposta do Conselho da Revolução. Cerca de seis meses depois, a 1 de Abril de 1982, falecia no hospital da Cruz Vermelha, acometido de uma grave doença, ficando por concluir muitos dos projetos de investigação e de edição que tinha entre mãos. Acumulando funções militares e civis, administrativas e académicas, este oficial de Marinha, historiador, etnógrafo, cartógrafo, geógrafo, africanista, deixou uma vasta obra, assente em criteriosos métodos científicos de reconhecida qualidade.


Agremiações de que foi membro

1954: Membro da Academia Portuguesa de História.

1959: Sócio da Academia das Ciências de Lisboa.

Bibliografia

BOXER, Charles Ralph, “Vice-Admiral Avelino Teixeira da Mota”, The Times, 23 April, 1982, p.16 SESSÃO de Homenagem à memória dos Almirantes Sarmento Rodrigues e Teixeira da Mota, 25 de Outubro de 1990, Lisboa, Memórias da Academia de Marinha, 1990. VALENTIM, Carlos Manuel, "Avelino Teixeira da Mota – Uma vida dividida entre a África e o Mar”, Revista da Armada, n.º 352, Abril de 2002, pp. 10-13. VALENTIM, Carlos Manuel, “A África na Acção e na Obra de Avelino Teixeira da Mota (1920-1982). Notas para uma biografia”. Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXXXIV, Outubro -Dezembro 2004, pp.779-809. VALENTIM, Carlos Manuel. O Trabalho de uma Vida. Biobliografia de Avelino Teixeira da Mota (1920-1982), Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 2007.]]

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