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Batalha de Mauropótamo

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Batalha de Mauropótamo
Guerras bizantino-árabes

Mapa da Ásia Menor bizantina e a fronteira bizantino-árabe por volta de 842.
Data 844
Local Império Bizantino, Mauropotâmia
Desfecho Vitória árabe
Beligerantes
Califado Abássida Império Bizantino
Comandantes
Abu Saide
Ambros
Império Bizantino Teoctisto

A Batalha de Mauropótamo (em grego: Μάχη τοῦ Μαυροποτάμου) foi travada em 844 entre os exércitos do Império Bizantino e do Califado Abássida, em "Mauropótamo" (ou na Bitínia setentrional ou na Capadócia). Após uma fracassada tentativa dos bizantinos de recuperar o Emirado de Creta no ano anterior, os abássidas lançaram um raide na Ásia Menor.

O regente bizantino, Teoctisto, liderou o exército que marchou para deter a invasão, mas foi completamente derrotado e muitos de seus oficiais desertaram para os árabes. Conflitos internos impediram os abássidas de explorarem sua vitória e uma trégua com troca de prisioneiros foi firmada em 845, seguida pelo fim das hostilidades por seis anos, período no qual ambos os lados focaram sua atenção em outros problemas.

Contexto

Após a restauração da veneração de ícones em março de 843, o governo bizantino, liderado pela imperatriz-regente Teodora e pelo logóteta do dromo Teoctisto, iniciou uma decidida campanha contra seu principal adversário político e ideológico, o Califado Abássida e seus estados dependentes. Esta postura agressiva foi por um lado facilitada pela estabilidade interna que o fim da controvérsia iconoclasta trouxe e, por outro, encorajada pelo desejo de justificar a nova política religiosa através de vitórias militares contra os muçulmanos.[1][2]

A primeira campanha foi a tentativa de reconquistar o Emirado de Creta, lidera pelo próprio Teoctisto, e que inicialmente teve sucesso, mas terminou em desastre. Após conseguir uma vitória contra os árabes em Creta, Teoctisto soube de rumores que Teodora pretendia nomear um novo imperador, possivelmente o irmão dela, Bardas. Teoctisto correu de volta para Constantinopla, onde descobriu que o rumor era falso, mas, em sua ausência, o exército bizantino em Creta foi destruído pelos árabes.[3][4]

Batalha

Iluminura representando o imperador Miguel III, o Ébrio (r. 842–867), Teodora e Teoctisto

Em 844, de acordo com fontes bizantinas, Teoctisto soube de uma invasão árabe na Ásia Menor bizantina liderada por um tal Amir, provavelmente o semi-autônomo emir de Melitene, Ambros. As fontes árabes não mencionam explicitamente esta campanha, mas o acadêmico russo Alexander Vasiliev identificou-a como sendo uma expedição citada nos poemas de Abu Tammam e Buhturi, que foi liderada pelo general Abu Saide e que se realizou durante a regência de Teodora. A participação de Ambros é provável, pois ele frequentemente ajudava os abássidas em seus raides contra os bizantinos.[2][5]

De acordo com os relatos árabes, as tropas lideradas por Abu Saide eram compostas de homens dos emirados fronteiriços de Calícala (Erzurum) e Tarso. As forças árabes se reuniram em Ardandun (possivelmente o forte de Rodando) antes de iniciarem o ataque contra os temas Capadócio, Anatólico, Bucelário e Opsiciano. As tropas de Saide saquearam Dorileia e chegaram até as margens do Bósforo.[6]

Teoctisto liderou o exército bizantino contra os invasores, mas foi completamente derrotado em Mauropótamo ("Rio Negro"). A localização exata deste rio, se é que é era um rio ou apenas um topônimo, é disputada; ele era provavelmente um tributário do Sangário na Bitínia ou do Hális na Capadócia. Não apenas os bizantinos sofreram pesadas perdas, mas muitos oficiais graduados bizantinos desertaram para os árabes.[7][8] Teoctisto retornou para Constantinopla, onde culpou Bardas pelas derrotas recentes e o baniu da capital.[4][9][10]

Resultado

Os abássidas foram incapazes de explorar este sucesso por causa da instabilidade interna do califado. Da mesma forma, os bizantinos preferiram concentrar suas forças contra os aglábidas, que estavam tentando conquistar a Sicília. Assim, uma embaixada bizantina foi enviada a Bagdá em 845, onde foi calorosamente recebida. Os abássidas retribuíram com uma embaixada a Constantinopla, onde os dois estados concordaram numa trégua e numa troca de prisioneiros, que se realizou às margens do rio Lamos (atual Limonlu Çayı) em 16 de setembro de 845. Um raide de inverno pelo governador árabe de Tarso logo depois falhou desastrosamente e a fronteira árabe-bizantina ficou em paz por seis anos.[10][11][12]

Referências

  1. Treadgold 1997, p. 446–447.
  2. a b Kiapidou 2003, Chapter 1.
  3. Vasiliev 1935, p. 194–195.
  4. a b Treadgold 1997, p. 447.
  5. Vasiliev 1935, p. 195–196.
  6. Vasiliev 1935, p. 399–404.
  7. Vasiliev 1935, p. 196–198.
  8. Kiapidou 2003, Chapter 2.
  9. Vasiliev 1935, p. 198.
  10. a b Kiapidou 2003, Chapter 3.
  11. Vasiliev 1935, p. 198–204.
  12. Treadgold 1997, p. 447–449.

Bibliografia

  • Kiapidou, Irini-Sofia (14 de março de 2003). Battle of Mavropotamos, 844. Col: Encyclopedia of the Hellenic World, Asia Minor (em inglês). Atenas, Grécia: Foundation of the Hellenic World. Consultado em 3 de janeiro de 2014 
  • Treadgold, Warren (1997). A History of the Byzantine State and Society (em inglês). [S.l.]: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2630-2 
  • Vasiliev, A. A. (1935). Byzance et les Arabes, Tome I: La Dynastie d'Amorium (820–867) (em francês). Bruxelas: Éditions de l'Institut de Philologie et d'Histoire Orientales