Celeste Caeiro
Celeste Caeiro | |
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Nascimento | Celeste Martins Caeiro 2 de maio de 1933 Socorro |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | empregada de mesa, costureira |
Celeste Martins Caeiro (Socorro, Lisboa, 2 de Maio de 1933)[1] foi a mulher que, no dia 25 de Abril de 1974, distribuiu cravos pelos militares que levavam a cargo um golpe de estado para derrubar o regime liderado por Marcelo Caetano. Por este motivo, a revolução ficado conhecida pela Revolução dos Cravos.[2]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Celeste nasceu a 2 de Maio de 1933 na antiga freguesia do Socorro, em Lisboa.[3] De mãe galega, Teodora de Viana Martins Caeiro, era a mais nova de três irmãos e quase não conheceu o pai, que os abandonou.[4] A mãe, nascida em Espanha, foi muito nova para a Amareleja, que nos anos finais do Estado Novo era considerada "a aldeia mais vermelha de Portugal", e depois para Lisboa, onde os três filhos foram deixados a instituições de caridade. Com 18 meses, Celeste passou a viver na Creche do Alto do Pina, propriedade da Santa Casa na Rua Barão de Sabrosa, e recebia apenas visitas esporádicas da mãe. Aos 14 anos, passou para o Asilo 28 de Maio, no Lazareto, em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, mas nele permaneceu durante pouco tempo, revoltada com a frieza e a rigidez das freiras responsáveis pelo asilo. Foi transferida novamente para uma instituição da Casa Pia, desta vez para o Colégio de Santa Clara, onde permaneceu até aos 20 anos, formada em pré-enfermagem com equivalência ao segundo ano do liceu. Contudo, nunca chegou a exercer a profissão devido a problemas de saúde que lhe afetavam os pulmões. Em Lisboa, na tabacaria do Café Patinhas, na Rua da Prata, onde trabalhava depois de ter trabalhado numa fábrica de camisas da Avenida Almirante Reis, havia venda clandestina de livros de José Vilhena, momento em que Celeste começou a ter consciência política. Nas tardes de folga, assistia aos julgamentos nos tribunais plenários da Boa Hora, em Lisboa. No café Patinhas, conheceu um homem, que se veio a revelar alcoólico, com quem foi viver e de quem teve uma filha, tendo sofrido violência doméstica e saído de casa com a filha de três anos. Trabalhou no bengaleiro da boîte Marygold antes de começar a trabalhar no restaurante Sir, o primeiro em regime de self-service em Lisboa, no edifício Franjinhas, na rua Braamcamp.[3][5]
Papel na Revolução dos Cravos
[editar | editar código-fonte]Em 1974 Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara ao Chiado, na Calçada do Sacramento, n.º 14. Trabalhava num restaurante do self-service chamado "Sir" no edifício Franjinhas da Rua Braamcamp em Lisboa.[6] O restaurante, inaugurado a 25 de Abril de 1973, fazia um ano de abertura nesse dia, e a gerência planeava oferecer flores para dar às senhoras clientes, e um Porto aos cavalheiros. Nesse dia, todavia, como estava a decorrer o golpe de estado, o restaurante não abriu. O gerente disse aos funcionários para voltarem para casa, e deu-lhes os cravos para levarem consigo, já que não poderiam ser distribuídos pelas clientes. Cada um levou um molho de cravos vermelhos e brancos que se encontravam no armazém.[2][7] Ao regressar a casa, Celeste apanhou o metro para o Rossio e na esquina da Rua do Carmo deparou-se imediatamente com os tanques dos revolucionários. Aproximando-se de um dos tanques, perguntou o que se passava, ao que um soldado lhe respondeu "Nós vamos para o Carmo para deter o Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!". O soldado pediu-lhe, ainda, um cigarro, mas Celeste não tinha nenhum. Celeste queria comprar-lhes qualquer coisa para comer, mas as lojas estavam todas fechadas. Assim, deu-lhes as únicas coisas que tinha para lhes dar: os molhos de cravos, dizendo "Se quiser tome, um cravo oferece-se a qualquer pessoa". O soldado, cuja identidade nunca foi possível apurar, aceitou e pôs a flor no cano da espingarda. Celeste foi dando cravos aos soldados que ia encontrando, desde o Chiado até ao pé da Igreja dos Mártires.[2][8][5]
Depois de seu gesto, Celeste foi chamada Celeste dos cravos.[9] No ano 1999, a poeta Rosa Guerreiro Dias dedicou-lhe o poema Celeste em Flor.[10] A história de Celeste veio desmentir alguns relatos que circulavam acerca da Revolução dos Cravos, nomeadamente, a crença de que os cravos haviam sido oferecidos aos soldados por uma florista do Rossio; que todos os cravos eram vermelhos, quando, segundo Celeste, trazia consigo alguns cravos brancos; que os cravos haviam sido trazidos de uma conservatória do registo civil, onde se iria realizar um casamento adiado pela revolução; ou que haviam sido transportados do aeroporto de Lisboa, onde estavam prestes a ser enviados para o estrangeiro. A entrevista de Celeste à revista Crónica Feminina, de 13 de junho de 1974, conduzida por Ruth Quaresma, contribuiu para a sua celebridade.[5]
Vida em democracia
[editar | editar código-fonte]Depois de se reformar, tornou-se militante do Partido Comunista Português. A 25 de agosto de 1988, perdeu todos os seus pertences quando o apartamento que alugou no edifício dos Armazéns do Chiado foi destruído por um grande incêndio na zona.[11] Mora com uma pensão de 370 euros numa pequena casa a poucos metros da Avenida da Liberdade. Em 2024, foi organizada uma subscrição pública para permitir a Celeste comprar um aparelho auditivo. Participou, em 2024, no desfile comemorativo do 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.[12][5]
Referências
- ↑ Caeiro, Celeste (24 de Abril de 2013). «FUI EU QUE DISTRIBUI OS CRAVOS DA REVOLUÇÃO». "Boa Tarde" (entrevista). Conceição Lino. Lisboa
- ↑ a b c Isabel Araújo Branco (2000). «25 DE ABRIL SEMPRE! - A flor que deu o nome à Revolução: «Um cravo oferece-se a qualquer pessoa»». Avante! (Nº 1378). Consultado em 24 de Abril de 2013
- ↑ a b «Celeste, a lisboeta que deu os cravos à revolução»
- ↑ «Conheça Celeste Caeiro, mulher que com cravos deu nome à Revolução em Portugal - Notícias - R7 Internacional». noticias.r7.com. Consultado em 29 de dezembro de 2017
- ↑ a b c d Araújo, António (28 de julho de 2024). «Celeste e Guilhermina: a flor do acaso». Diário de Notícias
- ↑ O edifício Franjinhas vai ficar de cara lavada
- ↑ RTP, RTP, Rádio e Televisão de Portugal -. «Os cravos vermelhos, símbolos de Abril»
- ↑ Group, Global Media (25 de abril de 2013). «▶ Vídeo: A mulher que fez do cravo o símbolo da revolução». JN
- ↑ «Celeste Caeiro, a mulher que deu nome à revolução em Portugal». Radar Global
- ↑ «Vamos Falar de Abril: Celeste em flor nos canteiros da Mouradia». Vamos Falar de Abril. 17 de março de 2014. Consultado em 29 de dezembro de 2017
- ↑ «O drama de Celeste: deu o nome dos cravos à Revolução de Abril mas recebe uma pensão de miséria». Flash. 25 de abril de 2020. Consultado em 25 de abril de 2023
- ↑ LISBOA, HELENA PONCINI / (24 de abril de 2016). «Ella es Celeste Caeiro, la mujer que, con un pequeño gesto, dio nombre a la Revolución de los Claveles». elperiodico (em espanhol)