Cerimónia do Fogo Novo

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O glifo asteca para a cerimónia do Fogo Novo, com o ano 2 Cana (Ome Acatl).
Representação de uma cerimónia do Fogo Novo (Codex Borbonicus, p.34).

A cerimónia do Fogo Novo (em náuatle xiuhmolpilli - a União dos Anos) era uma cerimónia asteca executada uma vez em cada 52 anos - um ciclo completo do calendário asteca - de forma a impedir o fim do mundo.

A primeira cerimónia asteca do Fogo Novo descrita em fontes etno-históricas data de 1090, segundo o mapa de Sigüenza, mas existem evidências de cerimónias do Fogo Novo terem sido celebradas em civilizações anteriores aos astecas, por exemplo em Xochicalco, no século VI. Segundo Bernardino de Sahagún, a última cerimónia do Fogo Novo foi efectuada em 1507; a tradição terminou com a conquista do México pelos espanhóis em 1519-1521.

O facto de as cerimónias do Fogo Novo serem celebradas antes da ascensão asteca, sugere que os astecas herdaram a cerimónia de anteriores civilizações do México Central, não se tratando assim de uma invenção original dos astecas.[1] Os Anales de Tlatelolco mencionam que os astecas, após obterem a independência do estado tepaneca, celebraram uma cerimónia do Fogo Novo que marcou o início da contagem calendárica dos astecas. Tal sugere que a cerimónia era também usada como um ritual de fundação dinástica.[2]

Descrição da celebração em fontes etno-históricas[editar | editar código-fonte]

A celebração da cerimónia do Fogo Novo é descrita por Sahagún. Os preparativos começaram durante os últimos cinco dias (chamados nemontemi[3]) do último ano do ciclo. Estes preparativos incluíram abstinência de trabalho, jejum, limpeza ritual, sangria ritual, destruição de velhos objectos domésticos e respeitar silêncio.[4] Acreditava-se que durante estes dias o mundo corria grave perigo por causa da instabilidade inerente à mudança de ciclo. Receava-se que as deidades estelares femininas, as Tzitzimime, descenderiam e devorariam a Terra.

Ao pôr-do-sol do último dia do ano, uma procissão de sacerdotes do culto do fogo de Huehueteotl caminhava desde o centro cerimonial de Tenochtitlan, passando pelo caminho oriental em direcção a uma montanha chamada Huixachtecatl (também Huixachtepetl, actualmente Cerro de la Estrella) na margem oriental do lago Texcoco, próximo de Colhuacan.[5] O cume de Huixachtecatl era visível desde a maior parte da bacia do México, e próximo existia uma plataforma-templo. Por esta altura todos as chamas no domínio asteca eram extintas e todos olhavam em direcção ao cume da montanha. Quando a constelação que os astecas chamavam "broca de fogo" (Cinturão de Orion) surgia acima do horizonte, um homem era sacrificado no cume de Huixachtecatl e uma broca de fogo era colocada sobre o seu peito. Quando as primeiras faíscas saltavam da broca de fogo, declarava-se o início de um novo Ciclo Calendárico e acendia-se uma grande fogueira. Nesta fogueira eram acendidas tochas que eram transportadas por estafetas a todos os bairros da cidade, onde as fogueiras dos templos eram acendidas. Os primeiros fogos a serem acendidos desta forma eram os do Templo Mayor com a participação do tlatoani e mais tarde os fogos do calmecac de Huitzilopochtli e em seguida os dos templos e calmecacs menores e telpochcallis e por fim as residências privadas.

Arqueologia[editar | editar código-fonte]

Foi sugerido que provas arqueológicas de cerimónias do Fogo Novo podem ser encontradas sob a forma de depósitos de cerâmica e utensílios domésticos descartados no início da celebração. Esta ideia foi inicialmente avançada por George Clapp Vaillant na década de 1930, mas o seu modelo foi criticado por não ter fundamento teórico e abandonado. Em 2001 Elson e Smith repensaram a proposta à luz de descobertas de vários depósitos de cerâmica que parecem estar de acordo com a ideia do provável aspecto de restos de uma cerimónia do Fogo Novo. Concluem que as cerimónias do Fogo Novo eram realizadas por toda a esfera e influência asteca, tendo uma importância distinta localmente, em cada casa e no plano político mais abrangente da religião do estado.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Elson & Smith 2001 p. 170
  2. Ibid.
  3. «O Nemontemi e o mês Quahuitlehua no calendário solar asteca». World Digital Library 
  4. Elson & Smith 2001 p. 159
  5. Elson & Smith 2001 p. 158
  • Elson, Christina; and Michael E. Smith (2001). «Archaeological deposits from the Aztec New Fire Ceremony». Ancient Mesoamerica. 12: 157–174. doi:10.1017/S0956536101122078 
  • Townsend, Richard F. (2000). The Aztecs revised ed. Nova Iorque: Thames