Dactyloa punctata

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaDactyloa punctata
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Infraordem: Iguania
Família: Dactyloidae
Género: Dactyloa
Espécie: Dactyloa punctata
Nome binomial
Dactyloa punctata
(Daudin, 1802)

O papa-vento-verde (Dactyloa punctata), também conhecido como calango-verde, lagarto-verde e papa-vento, dentre outros nomes [1] é uma espécie de lagarto arborícola, pertencente à família Dactyloidae. Nativa da América do Sul, ocorre em diversos países, incluindo o Brasil [2].

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Dactyloa deriva do grego daktylos (“dedos”) e oa (“franja”) referente às lamelas subdigitais expandidas assemelhando-se a almofadas[3]. O nome específico punctata deriva do latim e significa “pintado” ou “pontuado” remetendo à presença manchas puntiformes espalhadas pelo corpo.[carece de fontes?]

Taxonomia e sistemática[editar | editar código-fonte]

Dactyloa punctata está inserida na ordem Squamata, infraordem Iguania, no clado Pleurodonta, sendo pertencente à família Dactyloidae. Atualmente, Dactyloidae compreende oito gêneros, 22 grupos de espécies e quase 500 espécies.[3][4]

Originalmente, a espécie foi descrita por Daudin em 1802 como Anolis punctatus[5].  Em 1843, Fitzinger[6] alocou A. punctatus no gênero Dactyloa. Posteriormente, a espécie voltou para o gênero Anolis. Em 2012, um novo estudo propôs a divisão de Anolis, então com 499 espécies mais subespécies, em oito gêneros, incluindo Dactyloa[3]. Contudo, esta proposta é questionada por alguns autores, que argumentam a favor da manutenção de Anolis como um gênero com centenas de espécies[7].

O gênero Dactyloa é suportado por 77 apomorfias, sendo quatro morfológicas e 73 genéticas. Três características morfológicas são exclusivas do gênero dentro de Dactyloidae: cabeça relativamente curta; escama interparietal aumentada; e um maior número de vértebras caudais antes da primeira vértebra de autotomia[3].

Dactyloa punctata é muito semelhante à Dactyloa philopunctata, da qual difere apenas pela ausência de manchas negras no apêndice gular, presentes em D. philopunctata, espécie descrita para algumas localidades no estado do Amazonas, Brasil[8]. Um recente estudo, porém, encontrou que algumas populações de D. punctata são geneticamente mais próximas de D. philopunctata do que de outras populações de D. punctata, de forma que as duas espécies seriam sinônimas.[8]

Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

O Dactyloa punctata é uma espécie que ocorre na América do Sul, podendo ser encontrada no Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. É comum na Amazônia e na Mata Atlântica. No Brasil, D. punctata é registrada nos estados do Amapá, Pará, Maranhão, Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo[2][9].

Biologia e história natural[editar | editar código-fonte]

Habitat[editar | editar código-fonte]

Dactyloa punctata habita floresta primárias e secundárias, borda de matas e margens de rios, sendo geralmente encontrada sobre troncos de árvores, raramente vista no chão. É diurna, e durante a noite repousa em arbustos, folhas e cipós.[9][10][11]

Características e comportamento da espécie

Possuem o comprimento rostro-cloacal de até 90 mm[10]. Possui o corpo e a cauda moderadamente comprimidos. Tem uma coloração verde com manchas azul-claras ou creme, e os indivíduos são capazes de mudar rapidamente sua coloração para marrom. O apêndice gular (“papo”) é laranja a amarelo, menor nas fêmeas que nos machos, os quais também tendem a possuir um focinho protuberante[10].

As escamas dorsais são granulares, lisas ou quilhadas, e as escamas ventrais são maiores que as dorsais, também lisas ou quilhadas. As expansões digitais são bem desenvolvidas e o corpo e a cauda são levemente comprimidos. A espécie apresenta dimorfismo sexual, sendo os machos normalmente maiores que as fêmeas, medindo até 92 mm de comprimento rostro-cloacal (fêmeas medem até 80 mm). Além disso, os machos possuem escamas alongadas brancas ou amarelas no apêndice gular [10][12].

Dactyloa punctata é uma espécie diurna; os machos são territorialistas, defendendo seu território de outros machos. Essa defesa é realizada com movimentos da cabeça de baixo para cima, desdobramento da dobra gular e movimentos da cauda, na tentativa de intimidar o rival. A coloração verde do corpo garante que os indivíduos se camuflam no ambiente, reduzindo as chances de predação.

Alimentação

É uma espécie forrageadora passiva, ou seja, que se movimenta pouco em busca de alimento, de forma a consumir presas mais móveis. Assim, os indivíduos têm baixo gasto energético na procura por alimentos, cuja captura pode ser facilitada pela camuflagem no ambiente florestal. A dieta de D. punctata é composta principalmente por artrópodes, como formigas, ortópteros e coleópteros.[11]

Reprodução

O macho realiza uma dança de cortejo para as fêmeas, que permanece quieta e observando o ritual. Ele faz uma demonstração de movimentos parecida com a de defesa do território, com o movimento da cabeça de baixo para cima e exibindo a prega gular. Ao final, se aceito, o macho se aproxima da fêmea, morde seu pescoço e ambos acasalam.

Dactyloa punctata é uma espécie ovípara. A reprodução parece ocorrer ao longo de todo o ano, com fêmeas fazendo várias desovas de um a dois ovos por ano [10][13].

Conservação[editar | editar código-fonte]

De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção[14] Dactyloa punctata encontra-se na categoria Menos Preocupante (Least Concern - LC) no Brasil, uma vez que possui ampla distribuição geográfica e ocorre em diversas áreas protegidas. Ademais, não há registros de ameaças naturais ou antrópicas, utilização ou comércio ilegal dessa espécie.[15]

Referências

  1. GONZALEZ, Rodrigo Castellari et al. Lista dos Nomes Populares dos Répteis no Brasil–Primeira Versão. Herpetologia Brasileira, v. 9, n. 2, p. 121-214, 2020. https://www.researchgate.net/publication/344037889_LISTA_DOS_NOMES_POPULARES_DOS_REPTEIS_NO_BRASIL_-_PRIMEIRA_VERSAO
  2. a b COSTA, Henrique Caldeira; BÉRNILS, Renato Silveira. Répteis do Brasil e suas Unidades Federativas: Lista de espécies. Herpetologia brasileira, v. 7, n. 1, p. 11-57, 2018.https://www.researchgate.net/publication/324452315_Repteis_do_Brasil_e_suas_Unidades_Federativas_Lista_de_especies
  3. a b c d NICHOLSON, Kirsten E. et al. It is time for a new classification of anoles (Squamata: Dactyloidae). Zootaxa, v. 3477, n. 1, p. 1-108, 2012. https://www.mapress.com/zootaxa/2012/f/zt03477p108.pdf
  4. Uetz, P., Freed, P, Aguilar, R. & Hošek, J. (eds.) (2021) The Reptile Database, http://www.reptile-database.org, acessado em 25.08.2021.
  5. DAUDIN, François Marie. Histoire naturelle, générale et particulière des reptiles: ouvrage faisant suite aux oeuvres de Leclerc de Buffon, et partie du cours complet d'histoire naturelle rédigée par CS Sonnini. F. Dufart, an X-XI, p. 84, 1802. https://www.biodiversitylibrary.org/bibliography/60678
  6. REPTILIUM, Systema. Fasciculus primus, Amblyglossae. Vienna: Braumüller et Seidel, v. 106, 1843. https://www.biodiversitylibrary.org/bibliography/4694
  7. POE, Steven. 1986 Redux: New genera of anoles (Squamata: Dactyloidae) are unwarranted. Zootaxa, v. 3626, n. 2, p. 295-299, 2013. https://www.biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.3626.2.7
  8. a b PRATES, Ivan et al. Phylogenetic relationships of Amazonian anole lizards (Dactyloa): taxonomic implications, new insights about phenotypic evolution and the timing of diversification. Molecular phylogenetics and evolution, v. 82, p. 258-268, 2015.http://www.herpetologiamuseunacional.com.br/pdfs/paulo_melo_sampaio/Prates_etal_2015_MPE_Amazonian_Dactyloa_anoles.pdf
  9. a b RIBEIRO-JÚNIOR, Marco A. Catalogue of distribution of lizards (Reptilia: Squamata) from the Brazilian Amazonia. I. Dactyloidae, Hoplocercidae, Iguanidae, Leiosauridae, Polychrotidae, Tropiduridae. Zootaxa, v. 3983, n. 1, p. 1-110, 2015. https://www.biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.3983.1.1
  10. a b c d e ÁVILA-PIRES, Teresa Cristina Sauer de. Lizards of brazilian amazonia (Reptilia: Squamata). Zoologische verhandelingen, 1995. https://repository.naturalis.nl/pub/317788
  11. a b VITT, Laurie J. et al. Sharing Amazonian rain-forest trees: ecology of Anolis punctatus and Anolis transversalis (Squamata: Polychrotidae). Journal of Herpetology, p. 276-285, 2003. https://bioone.org/journals/journal-of-herpetology/volume-37/issue-2/0022-1511_2003_037_0276_SARTEO_2.0.CO_2/Sharing-Amazonian-Rain-Forest-Trees--Ecology-of-Anolis-punctatus/10.1670/0022-1511(2003)037%5b0276:SARTEO%5d2.0.CO;2.short
  12. Ayala-Varela, F. y Carvajal-Campos, A. 2019. Anolis punctatus En: Torres-Carvajal, O., Pazmiño-Otamendi, G. y Salazar-Valenzuela, D. 2019. Reptiles del Ecuador. Version 2019.0. Museo de Zoología, Pontificia Universidad Católica del Ecuador. https://bioweb.bio/faunaweb/reptiliaweb/FichaEspecie/Anolis%20punctatus, accesado em 25.08.2021.
  13. Vitt, L.J.; Magnusson, W.E.; Ávila-Pires, T.C.S.; Lima, A.P. (2008). Guia de Lagartos da Reserva Adolpho Ducke, Amazônia Central (PDF). Manaus: Áttema Design Editorial. pp. 176 p. 
  14. MACHADO, Angelo Barbosa Monteiro; DRUMMOND, Gláucia Moreira; PAGLIA, Adriano Pereira. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. In: Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. 2008. p. 1420-1420. https://www.gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-diversas/livro_vermelho_2018_vol1.pdf
  15. Castañeda, M.R., Gagliardi, G., Perez, P., Cisneros-Heredia, D.F., Avila-Pires, T.C.S., Rivas, G., Schargel, W. & Aparicio, J. 2020. Anolis punctatus. The IUCN Red List of Threatened Species 2020: e.T44577684A44577693. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T44577684A44577693.en. Downloaded on 25 August 2021.