Discussão:Manoel Carlos Karam

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Texto de fonte duvidosa[editar código-fonte]

Retirei o texto abaixo pois ele foi editado por um usuário sem perfil, com fonte duvidosa. --Editor br (discussão) 04h40min de 13 de Dezembro de 2008 (UTC)


Serviço de empurrar pedra

É mentira que as histórias que eu sei da minha mãe me foram contadas pelo fantasma do meu pai, é mentira que eu quebrei a janela por vontade de conhecer o som de vidro quando se parte, é mentira que arranquei uma orelha para passar o tempo.

É mentira que contratei mão-de-obra para o serviço de empurrar pedra morro acima, é mentira que tudo começou na infância na ponta esquerda com uma bolada no estômago, é mentira que o tempo passou e eu não percebi e além disto todos estes relógios não me deixam mentir, é mentira que eu tenha o hábito de caminhar pisando em ovos como se eles fossem umas brasas daquelas mais avermelhadas de todas.

É mentira que espalhei ratoeiras pelo mundo mas esqueci do queijo, é mentira que aprendi a voar com o professor de lógica, é mentira que no meu sonho mais habitual há manchas de sangue numa corrente de bicicleta, é mentira que passo horas absolutamente imóvel posando para um pintor imaginário, é mentira que cometi alguns crimes com a cumplicidade de um sósia, é mentira que lancei bosta contra uns pombos que sujaram a estátua de um parente distante, é mentira que eu vivo repetindo que é mentira que contratei mão-de-obra para o serviço de empurrar pedra morro acima, é mentira que espalhei queijo pelo mundo mas esqueci das ratoeiras, é mentira que no baile a minha máscara é um punhal enterrado nas costas.

É mentira que mantive correspondência com personagens fictícios para alimentar a minha coleção de selos, é mentira que basta um iceberg de tamanho médio para os meus naufrágios diários ou hebdomadários porque tanto faz em semanas que passam tão depressa, é mentira que eu tenha treinado até a exaustão para obter este sorriso enigmático de tamanho sucesso, é mentira que eu tenha pedido para riscar o meu nome do teu caderno, é mentira que tentei cobrir o sol com uma peneira feita de arame farpado, é mentira que o fantasma do meu pai andou dizendo coisas do meu tio.

É mentira que tentei a imitação de fazer em seis dias uma eternidade, é mentira que busquei no ar o chão firme que me faltava até porque não sou tão lírico assim, é mentira que decidi no par ou ímpar as minhas diferenças com uma entidade imaginária da crendice popular, é mentira que fiz um drama para ganhar o papel, é mentira que eu sou o homem que matou Liberty Valance, é mentira que o meu jantar foi servido no palco com a platéia lotada, é mentira que eu perguntei o que pesa mais?: um litro de água ou um litro de vinho?

Manoel Carlos Karam