Dreche

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Amostra de dreche.

A dreche ou drèche é um subproduto da indústria cervejeira, constituído por resíduos de cereais, como a cevada, o trigo ou a aveia. Representa tipicamente 85% dos subprodutos totais da produção de cerveja.[1]

A dreche é obtida na etapa de filtração do mosto, que tem como objectivo a remoção da fase insolúvel constituída pelos revestimentos dos grãos de cevada, alguns lípidos, proteínas e outros componentes. É esta fase insolúvel que é designada por dreche.

A dreche consiste em camadas de revestimento de sementes, casca e pericarpo que cobrem os grãos de cevada ao início. O componente maioritário da dreche serão as paredes do revestimento-pericarpo-semente, que são ricas em polissacáridos celulósicos e não celulósicos e lenhina, e possívelmente contêm algumas proteínas e lípidos. A casca também contém quantidades consideráveis de sílica e muitos componentes polifenólicos dos grãos de cevada.[2]

Para além da indústria cervejeira clássica, as centrais de produção de bio-etanol têm também surgido como uma fonte cada vez maior de dreche.[3]

Produção[editar | editar código-fonte]

Na produção de cerveja, os grãos de cereal sofrem um processo de moagem para que o grão do malte seja transformado em farinha. Após a adição de água em condições controladas de pH e temperatura, as enzimas do malte degradam o amido e as proteínas em açúcares e aminoácidos necessários para o metabolismo da levedura (sacarificação). Da mistura resultante é separada, por filtração, a fase insolúvel chamada de dreche. Este subproduto pode depois pode depois ser vendido ou itilizado para a produção de energia.

Aplicações[2][editar | editar código-fonte]

Nutrição animal[editar | editar código-fonte]

A principal aplicação da dreche passa pela sua incorporação na alimentação animal. Pode ser usada imediatamente após a sua obtenção do processo de produção de cerveja e é um excelente ingrediente para os ruminantes, desde que combinado com fontes de azoto.[4] A dreche tem tido como uso principal a alimentação diária de gado leiteiro, mas devido à sua riqueza proteica, fibrosa e energética, tem sido alvo de vários estudos para a sua aplicação na alimentação de outro tipo de animais.

Nutrição humana[editar | editar código-fonte]

A dreche tem sido também avaliada para a produção de cereais, pão de trigo, biscoitos e snacks aperitivos. No entanto, é demasiado granulada para ser usada directamente na alimentação, tendo por isso de ser convertida em farinha primeiro.[5] Existem algumas limitações em usar a farinha de dreche como aditivo proteico ou como substituto parcial das farinhas presentes devido à sua cor e sabor.

Produção de energia[editar | editar código-fonte]

A produção de energia é outro dos principais destinos da dreche, sendo a energia produzida por combustão directa ou gaseificação. A dreche pode ser também usada para produzir biogás por combustão ou fermentação. A combustão e produção de biogás a partir da dreche tem sido avaliada como alvo de reciclagem na própria indústria cervejeira.

Materiais de construção[editar | editar código-fonte]

O reduzido teor de cinzas na dreche e a elevada quantidade de material fibroso (celulose, polissacáridos não celulósicos e lenhina) tornam-na adequada para ser usado em material de construção como o tijolo.

Adsorvente[editar | editar código-fonte]

Devido ao seu baixo custo e elevada disponibilidade, a dreche tem sido testada como um adsorvente de diversos tipos de compostos, particularmente para a remoção de metais pesados de soluções aquosas e de compostos voláteis orgânicos (VOCs) de resíduos gasosos.[6] A capacidade de adsorção dos VOCs pela dreche pirolisada é similar à do carvão de casca de côco. Já foi também emonstrada a capacidade da dreche de adsorver cádmio e chumbo[7] e crómio[8] a partir de soluções aquosas.

References[editar | editar código-fonte]

  1. Reinold, Matthias R. (1997). Manual prático de cervejaria. São Paulo: [s.n.] ISBN 85-86395-01-3 .
  2. a b Sara Patrícia Pinto Padinha, Valorização da dreche para obtenção de novos produtos, Tese de Mestrado, 2016.
  3. «Fact Sheets for Feeding Distillers Grains» (PDF). web.archive.org. 12 de novembro de 2011. Consultado em 17 de janeiro de 2019 
  4. Huige, Nick J. (1994). «Brewery By-Products and Effluents». Handbook of Brewing. Marcel Dekker. doi:10.1201/9781420015171-22. Consultado em 17 de janeiro de 2019 
  5. Hassona, H. Z. (1993). «High fibre bread containing brewer's spent grains and its effect on lipid metabolism in rats». Food / Nahrung (em inglês). 37 (6): 576–582. ISSN 1521-3803. doi:10.1002/food.19930370609 
  6. Chiang, Pen-Chi; Chang, Pu; You, Jiann-Hwa (1 de junho de 1992). «Innovative technology for controlling VOC emissions». Journal of Hazardous Materials. 31 (1): 19–28. ISSN 0304-3894. doi:10.1016/0304-3894(92)87036-F 
  7. Low, K. S; Lee, C. K; Liew, S. C (1 de setembro de 2000). «Sorption of cadmium and lead from aqueous solutions by spent grain». Process Biochemistry. 36 (1): 59–64. ISSN 1359-5113. doi:10.1016/S0032-9592(00)00177-1 
  8. Low, Kun-She; Lee, Chnoong Kheng; Low, Choy Hoong (2001). «Sorption of chromium (VI) by spent grain under batch conditions». Journal of Applied Polymer Science (em inglês). 82 (9): 2128–2134. ISSN 1097-4628. doi:10.1002/app.2058