Epístola dos Apóstolos

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Jesus e os Doze Apóstolos, protagonistas desta Epístola.
Por Ghirlandaio, na Capela Sistina.

A Epístola dos Apóstolas (em latim: Epistula Apostolorum) é uma obra dos apócrifos do Novo Testamento. Acreditava-se que ela tinha sido perdida até que ela foi redescoberta em uso pela discreta Igreja Ortodoxa Etíope.

Uma das razões do texto ter sido declarado herético é a sua alegação de que a Segunda vinda de Cristo deveria ocorrer 150 anos após as visões dos apóstolos (cap. 17), algo que obviamente não ocorreu.

Texto[editar | editar código-fonte]

O texto é datado como sendo provavelmente da metade do século II d.C.[1] Ele parece ter se baseado tanto no Novo Testamento, em particular no Evangelho de João, como também no Apocalipse de Pedro, na Epístola de Barnabé e no Pastor de Hermas, todos considerados inspirados por vários grupos e indivíduos durante o Cristianismo primitivo.

Ainda que a estrutura do texto seja a de uma carta e o primeiro quinto (10 capítulos) comecem desta forma, contando sobre a natividade, a ressurreição e os milagres de Jesus, esta estrutura é apenas superficial. Na realidade, o resto do texto reconta uma visão e um diálogo de Jesus com os doze apóstolos, na forma de sessenta questões divididas em 41 breves capítulos. É de longe a maior epístola, no Novo Testamento ou nos apócrifos.

Conteúdo[editar | editar código-fonte]

Ananias curando a cegueira de Paulo, episódio que a Epístola modifica, atribuindo a cura aos Apóstolos.
Por Pietro De Cortana (1631), na Igreja Anglicana de São Timóteo.

Gnosticismo[editar | editar código-fonte]

A obra parece ter sido criada com a intenção de refutar os ensinamentos de Cerinto, ainda que um "Simão" (provavelmente Simão Mago) também seja mencionado (cap. 1). O conteúdo crítica fortemente o Gnosticismo, embora ele não chegue ao ponto de ser uma polêmica, sendo mais uma tentativa de evitar que mais pessoas se convertam a ele. Em particular, o texto usa um estilo de discurso e uma série de questões com uma visão de Jesus, uma imagem que era popular entre gnósticos como forma de ser atraente para estes leitores. Porém, o texto luta para afirmar que não é um ensinamento secreto, que o conteúdo se aplica universalmente ao invés de um certo grupo e que todos podem facilmente entender seu conteúdo, algo diametralmente oposto dos mistérios esotéricos do Gnosticismo.

Docetismo[editar | editar código-fonte]

Outras características polêmicas incluem a ênfase na natureza física da ressurreição (cap. 11) - com o objetivo de conter o docetismo - com os apóstolos efetivamente colocando os dedos nas feridas dos pregos, na ferida da lança e verificando se havia pegadas (muito similar às imagens no Evangelho de João em João 20), parecendo mesmo serem passagens especificamente criadas para conter o docetismo e não com o objetivo de contar a história).

Quase 20% do texto está dedicado a confirmar a doutrina da ressurreição de fato, do corpo de Cristo, em conflito direto com a crítica feita à esta crença no Evangelho da Verdade. Ele afirma que a ressurreição da carne acontece "antes" da morte, que é entendida esotericamente. Quando Jesus é questionado sobre este assunto, ele fica muito bravo, sugerindo que o autor da Epístola achava esta crença gnóstica em particular ofensiva e enfurecedora.

Paulo de Tarso[editar | editar código-fonte]

Uma vez que o texto trata dos apóstolos durante o período imediatamente depois da ressurreição de Jesus, ele necessariamente exclui Paulo de Tarso. Porém, dada a sua importância e de seus escritos para a Igreja antiga, o autor do texto escolheu colocá-lo em uma previsão de sua futura vinda. Também, a descrição da cura da cegueira de Paulo nos Atos dos Apóstolos pelas mãos de Ananias (Atos 9:10–18) foi modificada para as mãos de um dos apóstolos, subordinando assim Paulo a eles. Ela também cita uma antiga profecia sobre uma Nova Jerusalém surgindo da Síria e a velha Jerusalém sendo capturada e destruída (como de fato ocorreu em 70). Esta última profecia parece ter sido inventada, pois não se encontra em nenhum texto anterior que tenha chegado a nós.

Referências

  1. Wilhelm Schneemelcher, ed. (1991). New Testament Apocrypha: Gospels and related writings (em inglês). 1. [S.l.]: Westminster John Knox Press. 251 páginas. ISBN 066422721X 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]