Prosopon: diferenças entre revisões

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'''''Prosopon''''', do {{lang-grc|{{politônico|πρόσωπα}}}}; plural: {{lang-grc|{{politônico|πρόσωπα}}}} - ''prosopa'') é um termo técnico encontrado na teologia grega. Ele é geralmente traduzido como "pessoa" e, como tal, é por vezes confundido nas traduções com ''[[hipóstase (religião)|hypostasis]]'', que também pode ser traduzido como "pessoa". ''Prosopon'' originalmente significava "face" ou "máscara" em grego e deriva do [[teatro grego]], no qual os atores no palco vestiam máscaras para revelar ao público o personagem e seu estado emocional. Tanto o termo ''prosopon'' quanto ''hypostasis'' tiveram um papel central no desenvolvimento da teologia sobre a [[Santíssima Trindade|Trindade]] e sobre [[Jesus Cristo]] ([[cristologia]]), com intensos debates indo do quarto ao sétimo século.
'''''Prosopon''''', do {{lang-grc|{{politônico|πρόσωπα}}}}; plural: {{lang-grc|{{politônico|πρόσωπα}}}} - ''prosopa'') é um termo técnico encontrado na teologia grega. Ele é geralmente traduzido como "pessoa" e, como tal, é por vezes confundido nas traduções com ''[[hipóstase (religião)|hypostasis]]'', que também pode ser traduzido como "pessoa". ''Prosopon'' originalmente significava "face" ou "máscara" em grego e deriva do [[teatro grego]], no qual os atores no palco vestiam máscaras para revelar ao público o personagem e seu estado emocional. Tanto o termo ''prosopon'' quanto ''hypostasis'' tiveram um papel central no desenvolvimento da teologia sobre a [[Santíssima Trindade|Trindade]] e sobre [[Jesus Cristo]] ([[cristologia]]), com intensos debates indo do quarto ao sétimo século.


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Dois diferentes cristologistas da [[Escola de Antioquia]], [[Teodoro de Mopsuéstia]] e, depois, [[Nestório]], seu discípulo, apoiaram a união prosópica das duas naturezas de [[Jesus Cristo]] em contraste com a então aceita [[união hipostática]].
Dois diferentes cristologistas da [[Escola de Antioquia]], [[Teodoro de Mopsuéstia]] e, depois, [[Nestório]], seu discípulo, apoiaram a união prosópica das duas naturezas de [[Jesus Cristo]] em contraste com a então aceita [[união hipostática]].


Teodoro de Mopsuéstia defendia uma visão de Cristo que ele via como uma união das naturezas (''prosopon'') humana e divina. Esta era uma união onde Jesus seria apenas um homem ligado de forma indissolúvel com [[Deus]] através da habitação permanente do [[Logos]]<ref>Grillmeir, 428-39</ref>. Ele acreditava que a [[encarnação de Jesus]] representa uma habitação do espírito de Deus que é distinto da habitação que foi experimentada pelos [[profeta]]s do [[Antigo Testamento]] e pelos [[Doze Apóstolos|apóstolos]] do [[Novo Testamento]]. Jesus era visto como um ser humano que compartilhava o atributo filial divino do Logos; o Logos se uniu a Jesus a partir do momento de sua [[concepção]]. Após a [[ressurreição de Jesus|sua ressurreição]], o Jesus humano e o Logos revelam que eles foram sempre uma única ''prosopon''. Esta unidade entre Jesus e o Logos seria, então o que ele chama de "união prosópica"<ref>Norris , 25</ref>.
Teodoro de Mopsuéstia defendia uma visão de Cristo que ele via como uma união das naturezas (''prosopon'') humana e divina. Esta era uma união onde Jesus seria apenas um homem ligado de forma indissolúvel com [[Deus]] através da habitação permanente do [[Logos]]<ref>Grillmeir, 428-39</ref>. Ele acreditava que a [[encarnação de Jesus]] representa uma habitação do espírito de Deus que é distinto da habitação que foi experimentada pelos [[profeta]]s do [[Antigo Testamento]] e pelos [[Doze Apóstolos|apóstolos]] do [[Novo Testamento]]. Jesus era visto como um ser humano que compartilhava o atributo filial divino do Logos; o Logos se uniu a Jesus a partir do momento de sua concepção. Após a [[ressurreição de Jesus|sua ressurreição]], o Jesus humano e o Logos revelam que eles foram sempre uma única ''prosopon''. Esta unidade entre Jesus e o Logos seria, então o que ele chama de "união prosópica"<ref>Norris , 25</ref>.


Teodoro trata da união prosópica ao aplicar o conceito de ''prosopon'' a Cristo. Ele reconhece duas expressões de Cristo - humana e divina. Porém, para ele isso não significa que Cristo atingiu a unidade de duas expressões através da formação de uma terceira ''prosopon'', mas que uma ''prosopon'' é produzida pelo Logos dando seu próprio semblante ao homem escolhido<ref>Grillmeier, 432</ref>. Ele interpreta a unidade entre Deus e o homem em Cristo na linha de uma unidade entre corpo e alma. ''Prosopon'' tem um papel importante na interpretação de Cristo, pois ele rejeitava o conceito da ''hypostasis'', acreditando que ele estava em contradição com a verdadeira natureza de Cristo. Ao invés disso, ele afirmava que, em Cristo, tanto o corpo quanto a alma podem ser assumidos: Ele assumiu uma alma e, pela graça de Deus, a trouxe para um estado de [[imutabilidade]] e de controle completo sobre as vicissitudes do corpo<ref>Grillmeier, 424-27</ref>.
Teodoro trata da união prosópica ao aplicar o conceito de ''prosopon'' a Cristo. Ele reconhece duas expressões de Cristo - humana e divina. Porém, para ele isso não significa que Cristo atingiu a unidade de duas expressões através da formação de uma terceira ''prosopon'', mas que uma ''prosopon'' é produzida pelo Logos dando seu próprio semblante ao homem escolhido<ref>Grillmeier, 432</ref>. Ele interpreta a unidade entre Deus e o homem em Cristo na linha de uma unidade entre corpo e alma. ''Prosopon'' tem um papel importante na interpretação de Cristo, pois ele rejeitava o conceito da ''hypostasis'', acreditando que ele estava em contradição com a verdadeira natureza de Cristo. Ao invés disso, ele afirmava que, em Cristo, tanto o corpo quanto a alma podem ser assumidos: Ele assumiu uma alma e, pela graça de Deus, a trouxe para um estado de [[imutabilidade (teologia)|imutabilidade]] e de controle completo sobre as vicissitudes do corpo<ref>Grillmeier, 424-27</ref>.


Nestório ampliou a crença de Teodoro sobre a união prosópica da seguinte forma: "''Prosopon'' é a aparência da ''[[ousia]]'': a ''prosopon'' torna conhecida a ''ousia''". As duas ''prosopa'' estão unidas ''"Em Cristo... a 'prosopon' única não pertence à natureza ou à hipóstase que surgiu a partir da união natural da Divindade e a Humanidade, mas à unidade de duas naturezas inconfusas"''<ref>Grillmeier, 510</ref>
Nestório ampliou a crença de Teodoro sobre a união prosópica da seguinte forma: "''Prosopon'' é a aparência da ''[[ousia]]'': a ''prosopon'' torna conhecida a ''ousia''". As duas ''prosopa'' estão unidas ''"Em Cristo... a 'prosopon' única não pertence à natureza ou à hipóstase que surgiu a partir da união natural da Divindade e a Humanidade, mas à unidade de duas naturezas inconfusas"''<ref>Grillmeier, 510</ref>

Revisão das 00h02min de 18 de dezembro de 2011

Prosopon, do em grego clássico: πρόσωπα; plural: em grego clássico: πρόσωπα - prosopa) é um termo técnico encontrado na teologia grega. Ele é geralmente traduzido como "pessoa" e, como tal, é por vezes confundido nas traduções com hypostasis, que também pode ser traduzido como "pessoa". Prosopon originalmente significava "face" ou "máscara" em grego e deriva do teatro grego, no qual os atores no palco vestiam máscaras para revelar ao público o personagem e seu estado emocional. Tanto o termo prosopon quanto hypostasis tiveram um papel central no desenvolvimento da teologia sobre a Trindade e sobre Jesus Cristo (cristologia), com intensos debates indo do quarto ao sétimo século.

Acepções do termo

O termo é utilizado para indicar a "a auto-manifestação de um indivíduo" que pode ser expandida por meio de outras coisas. Por exemplo, um pintor que inclui seu pincel em seu próprio prosopon[1]. Prosopon também é a forma na qual a hipóstase aparece. Toda natureza e toda hipóstase tem sua prosopon apropriada: face ou semblante. Ela dá a expressão à realidade da natureza, com seus poderes e características[2].

Paulo de Tarso utiliza o termo quando fala sobre sua própria apreensão no coração quando deparado com a Face (prosopon) de Cristo (em II Coríntios 4:6).

Controvérsias

Dois diferentes cristologistas da Escola de Antioquia, Teodoro de Mopsuéstia e, depois, Nestório, seu discípulo, apoiaram a união prosópica das duas naturezas de Jesus Cristo em contraste com a então aceita união hipostática.

Teodoro de Mopsuéstia defendia uma visão de Cristo que ele via como uma união das naturezas (prosopon) humana e divina. Esta era uma união onde Jesus seria apenas um homem ligado de forma indissolúvel com Deus através da habitação permanente do Logos[3]. Ele acreditava que a encarnação de Jesus representa uma habitação do espírito de Deus que é distinto da habitação que foi experimentada pelos profetas do Antigo Testamento e pelos apóstolos do Novo Testamento. Jesus era visto como um ser humano que compartilhava o atributo filial divino do Logos; o Logos se uniu a Jesus a partir do momento de sua concepção. Após a sua ressurreição, o Jesus humano e o Logos revelam que eles foram sempre uma única prosopon. Esta unidade entre Jesus e o Logos seria, então o que ele chama de "união prosópica"[4].

Teodoro trata da união prosópica ao aplicar o conceito de prosopon a Cristo. Ele reconhece duas expressões de Cristo - humana e divina. Porém, para ele isso não significa que Cristo atingiu a unidade de duas expressões através da formação de uma terceira prosopon, mas que uma prosopon é produzida pelo Logos dando seu próprio semblante ao homem escolhido[5]. Ele interpreta a unidade entre Deus e o homem em Cristo na linha de uma unidade entre corpo e alma. Prosopon tem um papel importante na interpretação de Cristo, pois ele rejeitava o conceito da hypostasis, acreditando que ele estava em contradição com a verdadeira natureza de Cristo. Ao invés disso, ele afirmava que, em Cristo, tanto o corpo quanto a alma podem ser assumidos: Ele assumiu uma alma e, pela graça de Deus, a trouxe para um estado de imutabilidade e de controle completo sobre as vicissitudes do corpo[6].

Nestório ampliou a crença de Teodoro sobre a união prosópica da seguinte forma: "Prosopon é a aparência da ousia: a prosopon torna conhecida a ousia". As duas prosopa estão unidas "Em Cristo... a 'prosopon' única não pertence à natureza ou à hipóstase que surgiu a partir da união natural da Divindade e a Humanidade, mas à unidade de duas naturezas inconfusas"[7]

Referências

  1. Grillmeier, 126
  2. Grillmeier, 431
  3. Grillmeir, 428-39
  4. Norris , 25
  5. Grillmeier, 432
  6. Grillmeier, 424-27
  7. Grillmeier, 510

Ligações externas

  • «Nestorius» (em inglês). Encyclopædia Britannica Online. Consultado em 17 de dezembro de 2011