Vírus da esgana canina: diferenças entre revisões
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O '''vírus da esgana canina''' (CDV, do inglês Canine Distemper Virus), também conhecido como '''vírus da cinomose canina''', é um vírus com invólucro de [[Ácido ribonucleico|ARN]] de cadeia simples e polaridade negativa pertencente ao género ''[[Morbillivirus]]'', à família ''[[Paramyxoviridae]]'' e à ordem ''[[Mononegavirales]]''. Apesar do vírus ser primariamente conhecido pela doença que causa em cães, a [[Cinomose|esgana]] ou cinomose, o vírus infecta uma variedade de hospedeiros incluindo lobos, guaxinins, hienas, leões, furões, focas e macacos. <ref>{{citar periódico|ultimo = Bieringer|primeiro = M|titulo = Experimental Adaptation of Wild-Type Canine Distemper Virus (CDV) to the Human Entry Receptor CD150|jornal = PLoS ONE|doi = 10.1371/journal.pone.0057488|url = |acessadoem = |coautores = Jung Woo Han; Sabine Kendl; Mojtaba Khosravi; Philippe Plattet; Jürgen Schneider-Schaulies}}</ref> O vírus da esgana canina |
O '''vírus da esgana canina''' (CDV, do inglês ''Canine Distemper Virus''), também conhecido como '''vírus da cinomose canina''', é um vírus com invólucro de [[Ácido ribonucleico|ARN]] de cadeia simples e polaridade negativa pertencente ao género ''[[Morbillivirus]]'', à família ''[[Paramyxoviridae]]'' e à ordem ''[[Mononegavirales]]''. Apesar do vírus ser primariamente conhecido pela doença que causa em cães, a [[Cinomose|esgana]] ou cinomose, o vírus infecta uma variedade de hospedeiros incluindo lobos, guaxinins, hienas, leões, furões, focas e macacos. <ref>{{citar periódico|ultimo = Bieringer|primeiro = M|titulo = Experimental Adaptation of Wild-Type Canine Distemper Virus (CDV) to the Human Entry Receptor CD150|jornal = PLoS ONE|doi = 10.1371/journal.pone.0057488|url = |acessadoem = |coautores = Jung Woo Han; Sabine Kendl; Mojtaba Khosravi; Philippe Plattet; Jürgen Schneider-Schaulies}}</ref> O vírus da esgana canina tem elevada importância veterinária e ambiental. |
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== Patologia == |
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O vírus da esgana canina provoca uma doença do mesmo nome caracterizada por uma infecção sistémica, com especial incidência no sistema gastrointestinal, [[sistema respiratório]] e [[sistema nervoso]].<ref>{{citar periódico|ultimo = Beineke|primeiro = A|titulo = Pathogenesis and immunopathology of systemic and nervous canine distemper|jornal = Veterinary Immunology and Immunopathology|doi = 10.1016/j.vetimm.2008.09.023|url = |acessadoem = 23/10/2015|coautores = Seehusen F; Baumgärtner W}}</ref> Após exposição, o vírus infecta inicialmente os [[Linfonodo|nódulos linfáticos]] bronquiais e as [[Tonsila|amígdalas]] seguido por um estado de virémia que leva a um reduzido número de [[Linfócito|linfócitos]] circulantes e plaquetas. Febre, inflamação ocular anorexia são sintomas comuns desta fase. Doze dias após contacto |
O vírus da esgana canina provoca uma doença do mesmo nome caracterizada por uma infecção sistémica, com especial incidência no sistema gastrointestinal, [[sistema respiratório]] e [[sistema nervoso]].<ref>{{citar periódico|ultimo = Beineke|primeiro = A|titulo = Pathogenesis and immunopathology of systemic and nervous canine distemper|jornal = Veterinary Immunology and Immunopathology|doi = 10.1016/j.vetimm.2008.09.023|url = |acessadoem = 23/10/2015|coautores = Seehusen F; Baumgärtner W}}</ref> Após exposição, o vírus infecta inicialmente os [[Linfonodo|nódulos linfáticos]] bronquiais e as [[Tonsila|amígdalas]] seguido por um estado de virémia que leva a um reduzido número de [[Linfócito|linfócitos]] circulantes e plaquetas. Febre, inflamação ocular anorexia são sintomas comuns desta fase. Doze dias após contacto inicial com o vírus, sistemas gastrointestinais, como diarreia, vómito e perda de apetite, e sintomas respiratórios, como apneia e tosse, começam a aparecer acompanhados por infecções secundárias de patogénios oportunistas.<ref>{{citar periódico|ultimo = Leisewitza|primeiro = A L|titulo = Canine distemper infections, with special reference to South Africa, with a review of the literature|jornal = Journal of the South African Veterinary Association|doi = 10.4102/jsava.v72i3.635|url = |acessadoem = |coautores = A Carterb, M van Vuurenc, L van Blerkd}}</ref> Complicações do sistema nervoso comuns nesta infeção incluem a inflamação do [[Cérebro humano|cérebro]] e da medula espinal que levam a espasmos musculares e episódios de extensa salivação e movimentos involuntários da [[mandíbula]].<ref>{{citar periódico|ultimo = Creevy|primeiro = Kate|titulo = Overview of Canine Distemper|jornal = The Merck Veterinary Manual: Veterinary Professionals: Generalized Conditions|doi = |url = http://www.merckvetmanual.com/mvm/generalized_conditions/canine_herpesviral_infection/overview_of_canine_herpesviral_infection.html|acessadoem = 21/10/2015}}</ref> Esta convulsões pioram com o desenvolvimento da doença, culminando na morte do animal em 50% dos casos em cães adultos e 80% em cachorros<ref>{{citar web|URL = https://acadogs.com/Canine_Distemper.html|título = CANINE DISTEMPER|data = |acessadoem = |autor = |publicado = American Canine Association, Inc.}}</ref>. |
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Cerca de 50% dos cães suscetíveis ao vírus da esgana são infetados mas apresentam não apresentam sintomas clínicos. No entanto, em cachorros existe uma maior prevalência do vírus. <ref>{{Citar periódico|titulo = Canine distemper virus detection in asymptomatic and non vaccinated dogs|url = http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0100-736X2010000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=en|jornal = Pesquisa Veterinária Brasileira|issn = 0100-736X|paginas = 132-138|volume = 30|numero = 2|doi = 10.1590/S0100-736X2010000200007|primeiro = Del|ultimo = Puerto|coautores = Helen}}</ref> |
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Em Portugal Continental, para além de cães domésticos, o vírus da esgana também infecta animais selvagens, como sugerido pela deteção de anticorpos específicos para o vírus da esgana em lobos e raposas-vermelhas. <ref>{{Citar periódico|titulo = Serologic Survey for Canine Distemper Virus and Canine Parvovirus in Free-ranging Wild Carnivores from Portugal|url = http://dx.doi.org/10.7589/0090-3558-45.1.221|jornal = Journal of Wildlife Diseases|data = 2015-01-02|paginas = 221-226|volume = 45|numero = 1|doi = 10.7589/0090-3558-45.1.221|idioma = EN|primeiro = Nuno|ultimo = Santos|coautores = Cláudia}}</ref> |
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O vírus da esgana é bastante semelhante ao [[vírus do sarampo]] e é composto por uma única molécula de [[Ácido ribonucleico|ARN]], linear de cadeia simples e polaridade negativa. Contém cerca de 15.000 nucleótidos codifica oito proteínas: seis proteínas estruturais e duas não-estruturais. As proteínas estruturais são: '''N''' ou nucleoproteína; '''P''' ou fosfoproteína; '''M''' ou proteína da matrix; '''H''' ou hemaglutinina; '''F''' ou proteina de fusão e '''L''' ou ARN-polimerase dependente de ARN. As proteínas '''C''' e '''V''' (não-estruturais) são traduzidas alternadamente do gene de P. O genoma de ARN encontra-se associado à nucleoproteína, formando uma longa cadeia helicoidal. Por sua vez, esta nucleocápside associa-se às proteínas L e P formando um complexo conhecido como o complexo '''ribonucleoproteico''' (RNP). Sendo um vírus com invólucro, o complexo RNP é circundado por um invólucro lipídico o que tem origem na membrana citoplasmática da célula hospedeira. Nesta membrana, encontram-se duas proteínas virais H e F. <ref>{{Citar periódico|titulo = Phylogenetic Characterization of Canine Distemper Viruses Detected in Naturally Infected Dogs in North America|url = http://jcm.asm.org/content/43/10/5009|jornal = Journal of Clinical Microbiology|data = 2005-10-01|issn = 0095-1137|pmid = 16207955|paginas = 5009-5017|volume = 43|numero = 10|doi = 10.1128/JCM.43.10.5009-5017.2005|idioma = en|primeiro = Ingrid D. R.|ultimo = Pardo|coautores = Gayle C.}}</ref><ref>{{Citar periódico|titulo = The Hemagglutinin of Canine Distemper Virus Determines Tropism and Cytopathogenicity|url = http://jvi.asm.org/content/75/14/6418|jornal = Journal of Virology|data = 2001-07-15|issn = 0022-538X|pmid = 11413309|paginas = 6418-6427|volume = 75|numero = 14|doi = 10.1128/JVI.75.14.6418-6427.2001|idioma = en|primeiro = Veronika von|ultimo = Messling|coautores = Gert}}</ref> |
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== Referências == |
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Revisão das 15h57min de 14 de fevereiro de 2016
O vírus da esgana canina (CDV, do inglês Canine Distemper Virus), também conhecido como vírus da cinomose canina, é um vírus com invólucro de ARN de cadeia simples e polaridade negativa pertencente ao género Morbillivirus, à família Paramyxoviridae e à ordem Mononegavirales. Apesar do vírus ser primariamente conhecido pela doença que causa em cães, a esgana ou cinomose, o vírus infecta uma variedade de hospedeiros incluindo lobos, guaxinins, hienas, leões, furões, focas e macacos. [1] O vírus da esgana canina tem elevada importância veterinária e ambiental.
Patologia
O vírus da esgana canina provoca uma doença do mesmo nome caracterizada por uma infecção sistémica, com especial incidência no sistema gastrointestinal, sistema respiratório e sistema nervoso.[2] Após exposição, o vírus infecta inicialmente os nódulos linfáticos bronquiais e as amígdalas seguido por um estado de virémia que leva a um reduzido número de linfócitos circulantes e plaquetas. Febre, inflamação ocular anorexia são sintomas comuns desta fase. Doze dias após contacto inicial com o vírus, sistemas gastrointestinais, como diarreia, vómito e perda de apetite, e sintomas respiratórios, como apneia e tosse, começam a aparecer acompanhados por infecções secundárias de patogénios oportunistas.[3] Complicações do sistema nervoso comuns nesta infeção incluem a inflamação do cérebro e da medula espinal que levam a espasmos musculares e episódios de extensa salivação e movimentos involuntários da mandíbula.[4] Esta convulsões pioram com o desenvolvimento da doença, culminando na morte do animal em 50% dos casos em cães adultos e 80% em cachorros[5].
Epidemiologia
A transmissão do vírus da esgana é normalmente feita por via de pequenas gotículas expelidas pelo animal infetado, denominadas de aerossóis, ou por exposição a exsudados respiratórios.
Cerca de 50% dos cães suscetíveis ao vírus da esgana são infetados mas apresentam não apresentam sintomas clínicos. No entanto, em cachorros existe uma maior prevalência do vírus. [6]
Portugal
Em Portugal Continental, para além de cães domésticos, o vírus da esgana também infecta animais selvagens, como sugerido pela deteção de anticorpos específicos para o vírus da esgana em lobos e raposas-vermelhas. [7]
Organização molecular
O vírus da esgana é bastante semelhante ao vírus do sarampo e é composto por uma única molécula de ARN, linear de cadeia simples e polaridade negativa. Contém cerca de 15.000 nucleótidos codifica oito proteínas: seis proteínas estruturais e duas não-estruturais. As proteínas estruturais são: N ou nucleoproteína; P ou fosfoproteína; M ou proteína da matrix; H ou hemaglutinina; F ou proteina de fusão e L ou ARN-polimerase dependente de ARN. As proteínas C e V (não-estruturais) são traduzidas alternadamente do gene de P. O genoma de ARN encontra-se associado à nucleoproteína, formando uma longa cadeia helicoidal. Por sua vez, esta nucleocápside associa-se às proteínas L e P formando um complexo conhecido como o complexo ribonucleoproteico (RNP). Sendo um vírus com invólucro, o complexo RNP é circundado por um invólucro lipídico o que tem origem na membrana citoplasmática da célula hospedeira. Nesta membrana, encontram-se duas proteínas virais H e F. [8][9]
Referências
- ↑ Bieringer, M; Jung Woo Han; Sabine Kendl; Mojtaba Khosravi; Philippe Plattet; Jürgen Schneider-Schaulies. «Experimental Adaptation of Wild-Type Canine Distemper Virus (CDV) to the Human Entry Receptor CD150». PLoS ONE. doi:10.1371/journal.pone.0057488
- ↑ Beineke, A; Seehusen F; Baumgärtner W. «Pathogenesis and immunopathology of systemic and nervous canine distemper». Veterinary Immunology and Immunopathology. doi:10.1016/j.vetimm.2008.09.023
- ↑ Leisewitza, A L; A Carterb, M van Vuurenc, L van Blerkd. «Canine distemper infections, with special reference to South Africa, with a review of the literature». Journal of the South African Veterinary Association. doi:10.4102/jsava.v72i3.635
- ↑ Creevy, Kate. «Overview of Canine Distemper». The Merck Veterinary Manual: Veterinary Professionals: Generalized Conditions. Consultado em 21 de outubro de 2015
- ↑ «CANINE DISTEMPER». American Canine Association, Inc.
- ↑ Puerto, Del; Helen. «Canine distemper virus detection in asymptomatic and non vaccinated dogs». Pesquisa Veterinária Brasileira. 30 (2): 132-138. ISSN 0100-736X. doi:10.1590/S0100-736X2010000200007
- ↑ Santos, Nuno; Cláudia (2 de janeiro de 2015). «Serologic Survey for Canine Distemper Virus and Canine Parvovirus in Free-ranging Wild Carnivores from Portugal». Journal of Wildlife Diseases (em inglês). 45 (1): 221-226. doi:10.7589/0090-3558-45.1.221
- ↑ Pardo, Ingrid D. R.; Gayle C. (1 de outubro de 2005). «Phylogenetic Characterization of Canine Distemper Viruses Detected in Naturally Infected Dogs in North America». Journal of Clinical Microbiology (em inglês). 43 (10): 5009-5017. ISSN 0095-1137. PMID 16207955. doi:10.1128/JCM.43.10.5009-5017.2005
- ↑ Messling, Veronika von; Gert (15 de julho de 2001). «The Hemagglutinin of Canine Distemper Virus Determines Tropism and Cytopathogenicity». Journal of Virology (em inglês). 75 (14): 6418-6427. ISSN 0022-538X. PMID 11413309. doi:10.1128/JVI.75.14.6418-6427.2001