Interpretação Dialectica

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Em teoria da prova, a Interpretação Dialectica[1] é uma interpretação de prova da aritmética intuicionística (Aritmética de Heyting) em uma extensão de tipos finitos da aritmética primitiva recursiva, o chamado Sistema T. Foi desenvolvida por Kurt Gödel para fornecer uma prova de consistência da aritmética. O nome da interpretação vem do periódico Dialectica, onde o trabalho de Gödel foi publicado em uma edição especial dedicada a Paul Bernays em seu 70º aniversário.

Motivação[editar | editar código-fonte]

Através da tradução negativa de Gödel–Gentzen, a consistência da Aritmética de Peano clássica já havia sido reduzida à consistência da Aritmética de Heyting. A motivação de Gödel para desenvolver a interpretação Dialectica foi para obter uma prova de consistência relativa para a aritmética de Heyting (e conseqüentemente para a Aritmética de Peano).

Interpretação Dialectica da lógica intuicionística[editar | editar código-fonte]

A interpretação tem dois componentes: uma tradução de fórmula e uma tradução de prova. A tradução de fórmula descreve como cada fórmula da aritmética de Heyting é mapeada para uma fórmula sem quantificadores do sistema T, onde e são tuplas de novas variáveis (não livres em ). Intuitivamente, é interpretada como . A tradução de prova mostra como uma prova de tem informação suficiente para testemunhar a interpretação de , i.e. a prova de pode ser convertida em um termo fechado e uma prova de no sistema T.

Tradução de fórmula[editar | editar código-fonte]

A fórmula sem quantificadores é definida indutivamente na seguinte estrutura lógica de , onde é uma fórmula atômica:

Tradução de prova (correção)[editar | editar código-fonte]

A interpretação de fórmula é tal que sempre que é demonstrável na aritmética de Heyting então existe uma sequência de termos fechados tal que é demonstrável no sistema T. A sequência de termos e a prova de são construidos a partir da prova de na aritmética de Heyting. A construção de é bastante simples, exceto pelo axioma de contração , o qual requer a suposição de que fórmulas sem quantificadores são decidíveis (Decidibilidade).

Princípios da caracterização[editar | editar código-fonte]

Também foi mostrado que a aritmética de Heyting estendida com os seguintes princípios

são necessários e suficientes para caracterizar as fórmulas de HA, as quais são interpretáveis pela interpretação Dialectica.

Extensões da interpretação básica[editar | editar código-fonte]

A interpretação Dialectica básica da lógica intuicionista foi estendida em vários sistemas mais fortes. Intuitivamente, interpretação Dialectica pode ser aplicada a um desses sistemas, contanto que a interpretação Dialectica deste princípio extra pode ser testemunhada por termos no sistema T (ou em uma extensão do sistema T).

Indução[editar | editar código-fonte]

Dados os teoremas da incompletude de Gödel (que implicam que a consistência de PA não pode ser provada por Finitismo) é razoável esperar que o sistema T deve conter construções não-finitistas. Realmente é este o caso. As construções não-finitistas aparecem na interpretação da indução matemática. Para dar uma interpretação Dialectica de indução, Gödel faz uso dos funcionais recursivos primitivos, que são funções de alta ordem com descrições recursivas primitivas.

Lógica clássica[editar | editar código-fonte]

Fórmulas e provas na aritmética clássica também podem receber uma interpretação Dialectica ao embutí-las na aritmética de Heyting seguido da interpretação Dialectica da aritmética de Heyting. Shoenfield, em seu livro, combina a tradução negativa e a interpretação Dialectica em uma única interpretação da aritmética clássica.

Compreensão[editar | editar código-fonte]

Em 1962 Spector [2] estendeu a interpretação Dialectica de Gödel da aritmética em uma análise matemática completa, ao mostrar como o esquema de escolhas contáveis pode ser dado uma interpretação Dialectica ao estender-se o sistema T com recursão bar.

Interpretação Dialectica da lógica linear[editar | editar código-fonte]

A interpretação Dialectica tem sido usada para construir um modelo do refinamento de Girard da lógica intuicionística conhecido como lógica linear, através dos espaços da Dialectica.[3] Visto que a lógica linear é um refinamento da lógica intuicionística, a interpretação Dialectica da lógica linear pode ser vista como um refinamento da interpretação Dialectica da lógica intuicionística.

Apesar da interpretação linear no artigo de Shirarata [4] validar a regra do enfraquecimento (na verdade é uma interpretação da lógica afim), a interpretação do espaços da Dialectica de Paiva não valida enfraquecimento para fórmulas arbitrárias.

Variantes da Interpretação Dialectica[editar | editar código-fonte]

Várias variantes da Interpretação Dialectica foram propostas. A variante de Diller-Nahm (para evitar o problema da contração), a monotônica de Kohlenbach e as interpretações limitadas de Ferreira-Oliva (para interpretar o lema fraco de König) são as mais notáveis. Tratamentos abrangentes da interpretação podem ser encontrados em, [5] [6] e [7]

Referências

  1. Kurt Gödel (1958). Über eine bisher noch nicht benützte Erweiterung des finiten Standpunktes. [S.l.]: Dialectica. pp. 280–287 
  2. Clifford Spector (1962). Provably recursive functionals of analysis: a consistency proof of analysis by an extension of principles in current intuitionistic mathematics. [S.l.]: Recursive Function Theory: Proc. Symposia in Pure Mathematics. pp. 1–27 
  3. Valeria de Paiva (1991). The Dialectica Categories (PDF). [S.l.]: University of Cambridge, Computer Laboratory, PhD Thesis, Technical Report 213 
  4. Masaru Shirahata (2006). The Dialectica interpretation of first-order classical affine logic. [S.l.]: Theory and Applications of Categories, Vol. 17, No. 4. pp. 49–79 
  5. Jeremy Avigad and Solomon Feferman (1999). Gödel's functional ("Dialectica") interpretation (PDF). [S.l.]: in S. Buss ed., The Handbook of Proof Theory, North-Holland. pp. 337–405 
  6. Ulrich Kohlenbach (2008). Applied Proof Theory: Proof Interpretations and Their Use in Mathematics. [S.l.]: Springer Verlag, Berlin. pp. 1–536 
  7. Anne S. Troelstra (with C.A. Smoryński, J.I. Zucker, W.A.Howard) (1973). Metamathematical Investigation of intuitionistic Arithmetic and Analysis. [S.l.]: Springer Verlag, Berlin. pp. 1–323