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Marteleira

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Portugal Portugal Marteleira 
  Freguesia  
Localização
Administração
Tipo Junta de freguesia
Características geográficas
População total (2001) 1 538 hab.
Densidade 220,7 hab./km²
Outras informações
Orago Nossa Senhora da Saúde e São Sebastião
Sítio www.jfmarteleira.com

A Marteleira é uma freguesia portuguesa do concelho da Lourinhã, com 6,97 km² de área e 1 538 habitantes (2001). Densidade: 220,7 hab/km².

História da Marteleira


Orago: S. Sebastião e Nossa Senhora da Saúde. População: 3 000 habitantes (em 1998). Actividades económicas: Agricultura, indústria transformadora e pequeno comércio. Feiras: Anual (10 de Agosto). Festas e Romarias: Nossa Senhora da Saúde (1º domingo de Agosto), S. Sebastião (último domingo de Agosto), Santo António (domingo mais próximo de 13 de Junho), Corpo de Deus (Junho) e festa dos Bolos (20 de Janeiro). Património cultural e edificado: Igreja de S. Sebastião e Igreja de Nossa Senhora da Saúde . Outros locais de interesse turístico: Paisagem natural. Gastronomia: Papas de milho, matança do porco, enchidos e derivados. Artesanato: Trabalhos em trapinhos, tapetes garridos, pintura em louça de porcelana e azulejos e trabalhos em madeira. Colectividades: Associação Cultural e Social da Marteleira.

Marteleira é uma freguesia do concelho da Lourinhã, criada em 1984. Marteleira é um nome de origem romana, conforme refere Frei João de Santo Estêvão em "Crónica do Mosteiro de S. Lourenço dos Francos: "Esta povoação chamou-se antigamente de Marticolaria, que vale o mesmo que lugar onde se venera Marte, compondo-se este nome de Marte ou Mars, nome de um deus que os gentios adoram por deus da guerra e do nome do Alto, que quer dizer honrar; assim, é o nome do sítio onde se honra o deus Marte". Diz a lenda que por aqui existiu a cidade romana de Monardo, fundada pelo célebre Aníbal. Mais tarde, e continuamos a seguir a tradição popular, aqui se fixaram os francos de D. Jordão, daí o nome de S. Lourenço dos Francos que mais tarde a freguesia de Miragaia recebeu.


A ser verdade a tese explanada por Frei João de Santo Estêvão, como parece que é, o povoamento de Marteleira remontará à época romana, ou até a um período anterior. Aqui terá existido, muito possivelmente, um templo pagão consagrado àquele deus, mas dele não resta qualquer vestígio.

A sucessora deste templo terá sido, se assim se pode dizer, a capela de S. Sebastião. Foi construída no século XVI e iniciou a partir daí uma devoção popular que se mantém nos dias de hoje. Segundo a tradição, o povo cumpriu a promessa feita algum tempo antes, quando uma terrível peste assolou toda a região, poupando apenas esta freguesia de Marteleira e a vizinha de Vale de Lobos. Foi em redor da capela de S. Sebastião que a povoação se começou a desenvolver. Aí se construíram casas, aí se fixaram famílias inteiras, aí se instalaram os principais serviços e actividades económicas necessárias ao dia-a-dia da sua população. Em finais do século passado, o rumo escolhido para crescer era outro. A Marteleira passou a dirigir-se à estrada real que ligava Torres Vedras à Lourinhã escolhendo assim um território que se iria revelar de importância fundamental para o seu futuro.

Em 1527, e recuamos agora no tempo, a Marteleira tinha apenas catorze vizinhos, ou seja, fogos. A esse número deveriam corresponder cerca de sessenta habitantes. Vale de Lobos, por seu lado, tinha apenas quarenta moradores. Constam estes dados do primeiro numeramento populacional mandado efectuar em Portugal, era rei D. João II. Chamou-se a este primeiro numeramento o "Cadastro da População do Reino". Em termos administrativos, a freguesia da Marteleira foi criada, com independência administrativa, em 31 de Dezembro de 1984, através do desmembramento do território da freguesia de Miragaia. Desde sempre, aliás, a Marteleira esteve dependente de outras terras. Até 1555, fez parte da freguesia de Santa Maria de Lourinhã, hoje Nossa Senhora da Anunciação. Nessa mesma data, os irmãos da Confraria de S. Lourenço dos Francos pediram ao arcebispo de Lisboa, D. Femando de Vasconcelos e Meneses, a criação de uma nova freguesia, tendo por orago S. Lourenço e que abrangia os lugares de Miragaia, Joaria, Marteleira, Ribeira, Papagovas, Vale de Lobos e outros casais aí existentes. O primeiro daqueles constituía, logicamente, a sede do novo espaço.

Em 1984 procede-se à elevação da Marteleira à categoria de freguesia. Um processo que se iniciou depois de verificado o extraordinário desenvolvimento que o lugar vinha registando. A nova freguesia passou a contar com os lugares de Vale de Lobos, Cabeça Gorda, Carrasqueira, Casais do Araújo, Casais do Forno, Casais do Arneiro e Casais do Grilo.

Os poderes locais, que há muito lutavam por este desiderato, justificavam da seguinte forma, em decreto-lei de 1983, a sua pretensão: "Considerando que é aspiração da maioria da população dos lugares de Vale de Lobos, Cabeça Gorda, Carrasqueira, Casais do Araújo, Casais do Fomo, Casais do Arneiro e Casais do Grilo a elevação da área onde se encontram implantados os seus lugares a freguesia; Considerando que tal solução corresponde aos interesses sócio-económicos da região; Considerando que a nova freguesia ficará com cerca de dois mil e quinhentos habitantes e um considerável desenvolvimento económico, em virtude do seu comércio e da sua indústria de criação e abate de frangos, fábrica de rações, aviários e explorações agro-pecuárias, garantindo à nova freguesia as receitas ordinárias suficientes para ocorrer aos seus encargos; Considerando que a freguesia de origem, Miragaia, não fica privada dos recursos indispensáveis à sua manutenção e que a sua junta de freguesia, em reunião de 14 de Março de 1979, aprovou a criação da nova freguesia; Considerando que na área da nova freguesia existem pessoas aptas ao desempenho de funções administrativas e à composição e renovação dos órgãos da autarquia; Considerando que a criação da nova freguesia foi requerida pela maioria absoluta dos chefes de família residentes na respectiva área; (...) É criada a freguesia da Marteleira no concelho da Lourinhã, do distrito de Lisboa, cuja área se integrava na freguesia de Miragaia".

Assim se fez, um ano depois. A Marteleira é hoje uma das mais importantes freguesias deste concelho e uma das mais povoadas, facto que vem dar razão a todos aqueles que durante anos exigiram a elevação do lugar à categoria de freguesia. A paróquia de Marteleira, por seu lado, foi criada em 20 de Agosto de 1986 pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro.

A capela de S. Sebastião é o mais importante monumento da freguesia. Muito menos jovem que a povoação que lhe dá guarida. é quinhentista e sofreu desde então várias obras de reconstrução. O retábulo do altar-mor, por exemplo, é bem posterior, do século XVIII. Em 1907. foi construída a torre sineira e em 1952 o cruzeiro que lhe fica em frente. Numa caixa do seu interior, pode ler-se: "Círio da Freguesia de São Lourenço dos Francos, termo da vila da Lourinhã /1754/ Marteleira".


É orago da freguesia o Mártir S. Sebastião. Natural de Narbona, no sul de França, viveu desde muito novo em Milão. Aprendeu ainda criança os ensinamentos da FéCristã, num Império Romano que, em pleno século III d.C., perseguia e torturava quem não abjurasse o seu amor a Jesus Cristo. Lutou pelos seus ideais e por isso mesmo acabou martirizado. É invocado contra a peste, fome e guerra. A ele é dedicada na freguesia uma festa anual, que decorre no último domingo de Agosto, embora o calendário litúrgico indique a data de 20 de Janeiro como o seu dia.

Com cerca de três mil habitantes, esta freguesia encontra-se em pleno desenvolvimento. Refere Rui Marques Cipriano: "No centro de uma região particularmente rica sob o ponto de vista agrícola, de pequena propriedade, onde até há décadas passadas se fazia uma agricultura de subsistência, viram as povoações que constituem esta freguesia a instalação de explorações agro-pecuárias, fazendo desta zona uma das mais importantes do País na produção de aves". Acrescentamos nós que a indústria transformadora tem também algum peso económico para a Marteleira.

Em termos sociais, desempenha papel importante e de nobres objectivos a Santa Casa da Misericórdia da Marteleira. Constituída em 20 de Outubro de 1983, conta com instalações excelentes na ajuda aos mais necessitados da freguesia e desta região da Lourinhã.


A Associação Cultural e Social da Marteleira, por seu lado, trata da vertente cultural social e desportiva da população da freguesia. Foi fundada em 15 de Maio de 1965, com a denominação de Grupo Recreativo Marteleirense. A Assembleia Geral de Sócios, realizada no dia 5 de Maio de 2001, aprovou a sua nova denominação e o seu novo logotipo.


In Dicionário Enciclopédico das Freguesias - 4º Volume - Agosto de 1998 Revisto e adaptado em Março de 2003





MARTELEIRA

Os habitantes da Monardo dos Francos - que na sua maioria eram politeístas -, ergueram nas proximidades desta cidade templos aos deuses que adoravam. Assim como na Joaria levantaram um templo ao deus Júpiter por ser o Pai dos Deuses, sendo eles um povo essencialmente guerreiro e buliçoso, com mais razão ainda levantaram no monte mais alto em frente daquela cidade um templo ao deus Marte, que adoraravam como Pai da Guerra. Lá no alto do monte que hoje se chama Marteleira, estava o sumptuoso templo dedicado a Marte, qual outro sentinela vigilante a guardar a cidade dos seus devotos e a resfriar a cobiça dos povos invasores.



"...Esta povoação chamou-se antigamente Marticolaria que vale o mesmo que lugar onde se venera Marte, compondo-se este nome de Mars ou Marte, nome de um Deus que os gentios adoravam por Deus da guerra e do nome do Alto, que quer dizer Honrar; assim é o nome do sítio onde se honra o Deus Marte" (Crónica do Mosteiro de S. Lourenço).

Destruída a cidade de Monardo, os moradores que dela escaparam, dispersando-se, foram fundar novas povoações nas vizinhanças daquela cidade em que nasceram e foram criados, radicando-se nas proximidades dos templos erguidos aos seus deuses para deles usufruírem das suas bênçãos e protecção. Assim, foram fundadas as povoações da Joaria, Marteleira e outras.

"No sítio onde hoje assenta a povoação da Marteleira, era a MARTICOLARIA, por ser o lugar onde existia o templo ao Deus Marte".

No tempo em que os primitivos povos aí se radicaram, a Marteleira era um bosque espesso, pois só assim se explica a existência dum templo dedicado ao deus pagão, pois os gentios escolhiam sempre os bosques afastados dos povoados para erguerem os templos aos seus deuses e aí praticarem o seu culto e oferecerem os sacrifícios rituais.

"... se na Marticulária honravam a Marte, devia só ser bosque dedicado a Marte, aonde faziam seus jogos e festejos".

Segundo o Cronista do Mosteiro de S. Lourenço, a etimologia do nome da Marteleira provem-lhe precisamente da Marticolaria, por ser lugar onde se honrava o Deus Marte.

Existiu outra fundação daquele tempo, feita num vale que fica a Noroeste da Marteleira, a pouca distância desta, hoje povoado de vinhas, sem algum vestígio de edifícios, além das paredes duma velha e pequena casa, onde em tempos remotos existiu a cidade de Valearduo e hoje se chama Bolardo. (Na vertente do monte que fica a Oeste deste vale e já dentro da área da freguesia da Lorurinhã, existe uma propriedade rústica e urbana, que se denomina Quinta do Bolardo). Chamou-se Valearduo porque é vale denso, espesso e o devia ser muito mais naqueles primitivos tempos, e por ser inacessível e difícil de penetrar se chamaria vale árduo, nome que, decerto, o levou consigo o primitivo fundador que viria de Monardo e, como a etimologia desta palavra é monte árduo, o primitivo fundador daquele povoado, lhe chamou Valardo e hoje com a corrutela se denomina Bolardo (Bolardo e Monardo foram povos distintos. Cf. Ant. Purificação, in Crónica da Provo da Ordem Erem. de Sto. Agostinho, I Parte, p. 356).

A Marteleira já existia em 1527 e é hoje uma florescete povoação que fica ao sul e próximo do extinto Mosteiro de S. Lourenço. Está edificada em sítio alto donde se desfruta um belo e soberbo panorama. Possui Farmácia, lojas, cafés, garagem de reparação de carros, Estação de Abastecimento de Combustíveis aos carros, e os maiores e mais famosos aviários das redondezas. Tem a sua capela dedicada ao mártir S. Sebastião, cuja fundação não se sabe ao certo, parecendo contudo ser devido a esta povoação não ter sido atacada pela peste que no reinado de D. João III assolou o País, como se deduz da confusa tradição que entre os antigos moradores corre.

Esta velha igreja de S. Sebastião, foi restaurada no ano de 1987. Nos anos de 1971 a 1982, foi construída a nova igreja da Marteleira, dedicada a Nossa Senhora da Saúde, construída mais no centro da povoação. Foi inaugurada e benzida solenemente pelo Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, no dia 24 de Janeiro de 1982, estando presente todas as Autoridades Concelhias e o Secretário do Governador Civil de Lisboa.

A Marteleira pertenceu à Freguesia de Miragaia até 31 de Dezembro de 1984, data em que foi elevada a Freguesia civil pela Lei nº 58/84, de 31 de Dezembro, publicada no Diário da República, I Série, de 31.12.1984, e pertenceu à Paróquia de S. Lourenço até 3 de Agosto de 1987. Nesse ano foi elevada a Paróquia com Pároco próprio. Foi seu primeiro Pároco o P. José Rodrigues Paula, Pároco de Campelos, que tomou posse da nova Paróquia em 6.12.1987. Nesse dia deixou de exercer aí as suas funções paroquiais o P. Abílio de Matos, Pároco de S. Lourenço e Moita dos Ferreiros.

A Marteleira é uma ridente povoação que está alcantilada no monte que vai desde o Perdigão até aos Casais Araújo. Tem lojas, cafés, super-mercado e tudo o necessário a uma terra que já é Freguesia e se vai renovando dia a dia. Da Marteleira eram célebres, no passado, os jogadores de malha (fito) e os "bailadores", que ganharam fama conquistando sempre os primeiros lugares nos concursos de dança que se realizavam nas povoações vizinhas. Deles faz memória José Brás Neto Marquez, no seu livro Como era a minha Aldeia, quando na página 97 diz:

"Desço uma alta ladeira Vi a velha Marteleira, Aquele povo sem preguiça. Lá estão todos contentes E são alguns meus parentes E não se esquecem (de) ir à Missa.

Não se esquecem de rezar Mas também para dançar Nunca foram mandriões. Foi-me alguém nisso falar Que tocava para dançar E eles eram campeões. Me disse um Senhor então Tem o nome de João: - Eles vestem o mais barato, Têm povo trabalhador, Mas em povo bailador Campelos dá-lhe empate".

Na Marteleira está a grande Fábrica de Rações Valouro e próximo desta, o Lar da Terceira Idade. A povoação mais próxima é Vale de Lobos, de quem o mesmo Autor faz memória também, dizendo:

"Vale de Lobos, bem te vejo, Marteleira dá-te um beijo Porque é tua mãe. Ninguém lá é meu parente, Penso neles, fico contente P'la boa gente que lá tem".

Estatísticas da população da Marteleira

1527 - 14 Famílias 1911 - 145 fogos e 690 habitantes 1940 - 158 fogos e 584 habitantes 1960 - 589 habitantes 1970 - 683 habitantes 1981 - 743 habitantes


Estatísticas da populaçãoVale de Lobos

1527 - 10 Famílias 1911 - 24 fogos e 96 habitantes 1940 - 34 fogos e 142 habitantes 1960 - 151 habitantes 1970 - 163 habitantes 1981 - 179 habitantes


In Subsídios para a História da Ribeira de Palheiros, Fr. Henrique Perdigão (Franciscano), Braga 1992