Martim Conrado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Martim Conrado
Martim Conrado
Noli me tangere (Na Igreja Matriz de Porto Santo)
Ocupação pintor
Movimento estético Maneirismo

Martim Conrado foi um pintor cuja nacionalidade permanece desconhecida, provavelmente portuguesa ou espanhola, da época do Maneirismo, activo entre 1640 e 1660, especialmente no arquipélago da Madeira onde existem cinco pinturas assinadas e uma documentada apesar de desaparecida.[1]

Apenas se conhece uma referência manuscrita contemporânea a Martim Conrado, em 1647, quando executava uma empreitada na Sé de Lisboa, juntamente com o pintor régio José de Avelar Rebelo (1600-1657), possivelmente seu mestre, tendo recebido a módica quantia de 52.000 réis por oito painéis e dois quadros mais pequenos, sendo deles sobrevivente a tela oval Adoração do Santíssimo Sacramento Pelos Anjos.[1]

As pinturas de Martim Conrado para a região madeirense são do tempo em que José do Avelar Rebelo executava as telas para o Colégio dos Jesuítas do Funchal, entre 1646 e 1653.[1]

Estilo[editar | editar código-fonte]

Segundo Rita Rodrigues, Conrado assimilou do protobarroco espanhol e português os cromatismos cálidos, suaves, manchados e desmaiados, as plasticidades pictóricas a nível dos jogos lumínicos, tenebrismo e claro-escurismo, o gosto pelo naturalismo, a valorização do decoro, a contenção do espetáculo cenográfico. Estas influências ou referências são consequência de uma formação estética e técnica muito próxima e até junto dos mestres e oficinas (Sevilha, Madrid e Lisboa).[1]

Ainda segundo Rita Rodrigues, nas pinturas para a região da Madeira, Martim Conrado aplicou "uma pintura ao natural que valorizava a observação direta sobre a matéria – o visível, o tátil, o palpável (figuras, objetos, tecidos, paisagens), tão patente nos retratos dos doadores (Caniço e Câmara de Lobos), em muitas figuras sagradas (Cristo, Maria, Madalena), nos objetos (instrumentos da paixão, taças dos perfumes), nos tecidos e jóias (cor, transparências, aveludados) e nas paisagens de fundo. Martim Conrado esboça os passos para a construção pictórica dos objetos no sentido da cópia e apreensão da aparência sensível, contra a idealização classicizante."[1]

Considerando as obras assinadas por Martim Conrado na Madeira (1646-1653) e em Lisboa, neste caso o pequeno painel sobrevivente do Santíssimo Sacramento (1647), bem como as obras anteriores que lhe são atribuídas em Coimbra (c. 1636) e no Funchal (1640/1650), a sua obra revela um amadurecimento fruto da experiência oficinal contínua, do contacto com as obras nacionais, especialmente de outras oficinas lisboetas, e de alguma vivência livresca.[1]

Obras[editar | editar código-fonte]

Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens (1653), no Museu de Arte Sacra do Funchal
  • Visão de Santo António (c. 1636/1637), na Sé Velha de Coimbra.[1]
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens, na Sé Velha de Coimbra
  • Santa Isabel de Aragão – Rainha de Portugal, na Sé Velha de Coimbra
  • Martírio de S. Sebastião, na Sé Velha de Coimbra
  • Imaculada Conceição, S.ta Ana e S. Joaquim, Com Doadores (1646) – no altar-mor da matriz do Caniço, tendo sofrido várias remodelações;
  • Arcanjo S. Miguel e as Almas do Purgatório (1649) – na matriz da Ribeira Brava,
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens (1653) – no Museu de Arte Sacra do Funchal;
  • Noli me tangere (1653) – na matriz do Porto Santo;
  • Nossa Senhora da Piedade (1653) – Capela de S. José (Camacha), sendo desconhecida a sua proveniência;
  • Nossa Senhora das Mercês (c. 1655-1663) – tela desaparecida do demolido convento das Capuchas, classificada por Henrique Henriques de Noronha, em 1722, de vistoso retábulo, obra de Martim Conrado insigne pintor estrangeiro.[1]

Outras obras atribuídas com reservas:

  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens, no Museu Nacional de Arte Antiga, proveniente do Convento da Esperança, mas atribuída por Moura Sobral, em 2004, a oficina nacional de autor desconhecido;[1]
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens no Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa.[1]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Bibliografia citada por Rita Rodrigues, por ordem cronológica:[1]

  • Nunes, Filipe, Arte da Pintura, Symetria e Perspectiva Composta por Philippe Nunes Natural de Villa Real. Em Lisboa. Anno 1615., Porto, Paisagem, 1982;
  • Teixeira, Francisco Augusto Garcez, A Irmandade de São Lucas: Estudo do Seu Arquivo, Lisboa, Imprensa Beleza, 1931.
  • Carita, Rui,, O Colégio dos Jesuítas do Funchal: Descrição e Inventário, vol. II, Funchal, SRE, 1987;
  • Serrão, Vitor, “Conrado, Martim”, in Dicionário da Arte Barroca em Portugal, Fernandes, José Manuel (dir.) e Pereira, Paulo (coord.), Lisboa, Presença, 1989, p. 131;
  • Carita, Rui, História da Madeira (1600-1700), vol. III, Funchal, SREJE, 1992;
  • Noronha, Henrique Henriques de, Memórias Seculares e Eclesiásticas para a Composição da História da Diocese do Funchal na Ilha da Madeira, Funchal, CEHA, 1996;
  • Santa Clara, Isabel, Notas para o Estudo de Duas Pinturas de Nossa Senhora da Piedade, ensaio apresentado no Mestrado em História na Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 1997;
  • Santa Clara, Isabel, “Árvores de Jessé na Ilha da Madeira”, Islenha, n.º 23, jul.-dez. 1998, pp. 136–146;
  • Serrão, Vitor, Pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657: O Triunfo do Naturalismo e do Tenebrismo, Lisboa, Colibri, 2000;
  • Rodrigues, Rita, Martim Conrado, “Insigne Pintor Estrangeiro”: Um pintor do Século XVII na Ilha da Madeira, 2 vols., Dissertação de Mestrado em História da Arte apresentada à Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 2000;
  • Rodrigues, Rita et al., "Algumas Pinturas Religiosas dos Séculos XVI e XVII Pertencentes à Fundação Berardo", Islenha, n.º 38, jan.-jun. 2006, pp. 55–69;
  • Santa Clara, Isabel et al., “Algumas Pinturas Religiosas dos Séculos XVI e XVII Pertencentes à Fundação Berardo”, Islenha, n.º 38, jan.-jun. 2006, pp. 55–69;
  • Rodrigues, Rita, “Capela de Nossa Senhora da Boa Hora”, Girão, vol. II, n.º 3, jun. 2007, pp. 21–52;
  • Rodrigues, Rita, “A Propósito do Retábulo Imaculada Conceição, Santa Ana e São Joaquim, Com Doadores, assinado por Martim Conrado – 1646, hoje na Igreja Matriz do Caniço”, Origens, n.º 16, jun. 2007, pp. 10–49; Id., “Retábulo de Nossa Senhora da Piedade, de Martim Conrado, hoje na capela de São José (Camacha)”, Origens, n.º 17, jan. 2008, pp. 32–49;
  • Rodrigues, Rita, “Martírio de Santa Úrsula e das onze mil virgens”, in Obras de Referência dos Museus da Madeira, 500 de História de um Arquipélago, catálogo de exposição comissariada por Francisco Clode de Sousa e patente na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda, 21 nov. 2009-28 fev. 2010, Funchal, DRAC, 2009, pp. 272–275;
  • Rodrigues, Rita, A Pintura Proto-Barroca e Barroca no Arquipélago da Madeira entre 1646-1750: A Eficácia da Imagem, 2 vols., Dissertação de Doutoramento em Estudos Interculturais apresentada à Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 2012;

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Rodrigues, Rita (8 de Agosto de 2016). Aprender Madeira, ed. «conrado, martim». Consultado em 18 de outubro de 2018