Menino de Engenho: diferenças entre revisões
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e Carlos com apenas quatro anos ouve e vê tudo sob a |
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a chegada ao engenho, o tio Juca, a tia Maria (irmã de sua mãe), avô José Paulino, os primos, a prima Lili, os moleques, o moleque Ricardo, o banho de rio, |
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o leite mungido, a primeira visita ao engenho, os meninos e |
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o retrato da tia Sinhazinha, brutal e arbitrária, a presença do |
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cangaço no famigerado Antonio Silvino, a visita aos engenhos vizinhos, |
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a enchente, a escola, a professora, as primeiras letras, as “lições de sexo”. |
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Capítulos 16, 23, 26, 28 e 33 – Mostra o coronel José Paulino e sua propriedade, |
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'''Menino de engenho''' é um [[romance]] [[brasil]]eiro de [[José Lins do Rego]], publicado em [[1932]]. |
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admiráveis como grandezas interdependentes, o que se amplia para |
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a dimensão maior do patriarca, senhor do engenho que se confronta |
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com senhores de engenho, no momento agudo de um poderio |
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universo infantil, notícia ambulante dos engenhos, a briga e |
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o assassinato, o carneiro e seu cavaleiro, a doença e a medicina caseira, |
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do “Menino de engenho”. |
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Crendices Populares: O livro faz referências a crendices populares, |
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como a do lobisomem, que é citada através de João Cutia, |
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um comprador de ovos da Paraíba. “Não tinha uma gota de sangue |
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na cara e andava sempre de noite, para melhor fazer as suas caminhadas, |
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sem sol”. Achava-se que ele era lobisomem. |
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“O lobisomem é outro mito presente no imaginário nordestino.” |
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Esse mito, no Nordeste é explicado de várias formas. Uma delas é |
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que quando um casal tem sete filho homens, se não der o último |
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para ser batizado pelo mais velho, ele vira lobisomem. Irmão que |
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tem relações sexuais com a irmã, se tiver filho, ele será lobisomem. |
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Também filho de relação sexual entre compadre e comadre tem tudo para |
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se um “lobo-homem”. Dizem que são nas noites de quinta para sexta-feira, |
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principalmente se for noite de lua cheia, que a pessoa se transforma. |
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Para haver o desencantamento há várias maneiras: deve-se tirar sangue dele, |
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mas sem se sujar, pois se isso acontecer vira-se lobisomem também. Quando ele aparecer, |
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deve-se fazer o sinal da cruz diante dele que ele corre. |
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Ou, então, rezar três ave-marias. |
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José Paulino também fazia remédios – uma crença nos medicamento naturais – |
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ele tratava de tudo, fazia sinapismos de mostarda, dava banhos quentes, |
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óleo de rícino, jacaratiá para vermes. Curava assim os negros, os netos, |
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os trabalhadores. |
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''' Características dos Personagens''' |
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==Sinopse== |
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Carlinhos – é o protagonista da história. Era um menino triste. |
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Carlos Melo (o [[protagonista]]) narra — em [[primeira pessoa]] —, com um tom saudoso, a infância vivida no [[engenho]] Santa Rosa. Carlos, ou melhor, Carlinhos, ficou [[órfão]] de mãe e o pai é enviado para um sanatório após assassiná-la. O menino foi viver no engenho Santa Rosa, que pertencia ao seu avô materno, o Coronel José Paulino. A infância de Carlinhos foi dividida entre o "bem" e o "mal"; ou seja, na companhia de sua tia seu comportamento era mais terno (o "bem"), já quando convivia com seus primos, era extrovertido e libertino (o "mal"). |
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Gostava de ter liberdade, de brincar com os meninos, mas no fundo era triste. |
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Morava em Recife, antes de ir para o engenho Santa Rosa, o qual |
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ficou por quatro anos. Ficou órfão aos oito anos de idade. O engenho era |
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tudo para ele. Apesar de tia Maria cuidar dele como mãe, |
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não davam-lhe notícias a respeito do pai – diziam que estava |
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doente no hospital e o hospital se tornou para ele um lugar para |
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onde se vai e nunca mais volta. |
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A solidão para Carlos deixava falar o que ele guardava |
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por dentro: as preocupações, os medos, os sonhos. |
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Gostava de prender os canários com o alçapão. |
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Eram os seus dias de glória. Faziam todos os gostos para o menino: deram o |
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carneiro Jasmim e fizeram os arreios em Itaibana. |
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'''Carlos''' cresce sem orientação e aos doze anos torna-se um corrompido. |
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'''Avô José Paulino''' – figura representativa da realidade patriarcal |
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nordestina. Aos olhos de Carlos, um verdadeiro deus, uma figura de |
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grandiosidade inatingível. |
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Não era um devoto. “A religião dele não conhecia penitência e |
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esquecia alguns dos mandamentos da lei de Deus. Não ia às missas, |
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não se confessava, mas em tudo o que procurava fazer, lá vinha um |
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“se Deus quiser eu tenho fé em nossa Senhora”. |
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Todos no engenho respeitavam o senhor José Paulino. |
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Depois do jantar ele sentava-se numa cadeira perto do grande banco |
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de madeira do alpendre. Lia os telegramas do “Diário de Pernambuco” |
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ou dava as suas audiências públicas aos moradores. Todo o dinheiro |
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dele era para comprar terras. |
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'''Dona Clarisse''' – mãe de Carlos. É assassinada pelo marido no início do livro. |
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'''Pai de Carlos''' – homem alto e bonito, com olhos grandes, |
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bigode preto. Beijava o menino, contava histórias, fazia os seus gostos. |
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Tudo era para o menino, que mexia nos livros, sujava as roupas. |
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Por outro lado, discutia com Dona Clarisse. Tinha um coração arrebatado |
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pelas paixões, um coração sensível demais às suas mágoas. Fica louco e mata |
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Dona Clarisse. |
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'''Tia Sinhazinha''' – velha de aproximadamente sessenta anos. |
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As negras, os moleques, todos tinham que se submeter à sua dureza e crueldade. |
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Não gostava de ninguém. Só agradava as pessoas para fazer raiva à outras, |
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depois mudava. Não se aproximava de Carlos. No engenho, trancava a despensa e |
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andava com a chave. |
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'''Tio Juca''' – tio que, levando o menino da cidade para o engenho, |
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apresenta-lhe o mundo novo do engenho e também o próprio avô. |
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'''Tia Maria''' – moça que, com ternura, amor e carinho |
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vai substituir a mãe na memória de Carlos. |
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'''Velha Totonha''' – Vivia a contar história de Trancoso. |
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Era pequena, tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava muito a pé, |
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de engenho a engenho. Tinha talento em contar histórias. |
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“Não tinha nenhum dente na boca, mas dava tons às palavras”. |
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Recitava contos inteiros em versos, intercalando a prosa com notas explicativas. |
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“O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local |
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que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino |
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era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e as |
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florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito |
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com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor |
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de engenho do Pernambuco”. |
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Para Carlinhos, as historias de Totonha possuía um |
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“pedaço de gênio que não envelhece”. |
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'''Características de linguagem''' |
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Vivendo no engenho, Carlinhos conheceu as [[desigualdade econômica|desigualdades sociais]] entre os senhores de engenho e os seus empregados; também quase partiu para o [[cangaço]] (chegou a pensar em pedir ao cangaceiro Antônio Silvino para ir com o bando até o conhece-lo melhor). Ali Carlinhos conheceu também o amor, primeiramente com a prima Lili, que veio a falecer ainda criança e depois com outra prima, Maria Clara, que morava no [[Recife]] e foi passar alguns dias no engenho. Maria Clara era um pouco mais velha que Carlinhos e contava-lhe as diversões e novidades da cidade. Mas o romance durou pouco, a prima voltou para o Recife. |
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O garoto, com apenas doze anos, ficar gálico (contrair [[gonorréia]]). |
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A linguagem que José Lins do Rego é regionalista, ou seja, a linguagem própria do local que se situa a história, neste caso, o Nordeste. |
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• Linguagem com poética. |
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A saída encontrada por seus responsáveis para "endireitar" o garoto foi enviá-lo ao [[colégio]]. |
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• Grande carga afetiva. |
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• Escritor espontâneo e instintivo. |
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{{esboço-livro}} |
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• Narrativa de lugares comuns. |
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• Combinação de várias formas de relato objetivo: a lenda, a época, a crônica. |
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[[Categoria:Livros de José Lins do Rego]] |
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• Reflexão do problema social nordestino, diante do fim do patriarcado rural e o desmoronamento do mundo, com surgimento da usina de açúcar e a mecanização da lavoura. |
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[[Categoria:Livros de 1932]] |
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• Submissão da figura feminina. |
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[[Categoria:Livros do Brasil]] |
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• Casamento por conveniência. |
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• Proximidade com a natureza; personagens nativas e rústicas. |
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[[en:Menino de engenho]] |
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''' Vocabulário''' |
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'''Acoito''' – abrigo, acolho, recebo, dou guarida, dou coito. |
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'''Aperreios''' – dificuldades, submissões, aperturas: aperreiação, |
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apoquentação. |
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'''Bexiga-doida''' – espécie de varíola. |
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'''Bilhetes de sisa''' –imposto de transmissão, imposto sobre |
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compras e vendas. |
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''' Bimbinhas''' – pênis de criança, coxas pequenas (de bimba). |
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'''Bodoque''' – arco para atirar bolas de barro endurecidas ao fogo, |
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pedrinhas, etc. Também estilingue, atiradeira. |
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'''Botija''' – vaso de boca estreita, gargalo curto, pequena asa. |
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Espécie de moringa. |
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'''Bueiro''' – chaminé de engenho ou usina. |
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'''Cabroeira''' – os cabras. |
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'''Cacimbas''' – poços. |
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'''Camumbembe''' – vadio, plebe, matuto morador de engenho. |
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'''Doença-do-mundo''' – blenorragia, gonorréia. |
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'''Enganjentas''' – orgulhosas, vaidosas. |
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'''Gálico''' – doença venérea (a que pode deixar sífilis), |
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blenorragia: estar engalicado. |
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'''Jerimuns''' – abóboras |
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'''Latomia''' – choro alto, lamúrias. |
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'''Mezinhas''' – remédios caseiros. |
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'''Obrando''' – defecando. |
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'''Papa-figo''' – bicho- papão. |
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'''Quenga''' – meretriz da pior espécie, vagabunda. |
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'''Repasto''' – refeição. |
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'''Rolinha''' – pênis de criança. |
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'''Sezão''' – febre intermitente. |
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'''Taboca''' – bambu. |
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'''Tapurus''' – os bichos que comem as frutas. |
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'''Varanda''' – guarnição de renda das redes. |
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'''Xeireiro''' – adulador, pateta. |
Revisão das 23h40min de 6 de outubro de 2009
Resumo da Obra
Capítulos de 1 a 3 – Marca a passagem da criança para um novo mundo a ser apreendido. O pai mata a mãe e vai para um hospício, e Carlos com apenas quatro anos ouve e vê tudo sob a perplexidade da compreensão impossível.
Capítulo 4 em diante – O tio Juca leva o menino para o engenho do avô materno. Inicia-se uma Segunda infância que vai até a puberdade. Há rápidos flagrantes: a viagem de trem, a chegada ao engenho, o tio Juca, a tia Maria (irmã de sua mãe), avô José Paulino, os primos, a prima Lili, os moleques, o moleque Ricardo, o banho de rio, o leite mungido, a primeira visita ao engenho, os meninos e os banhos ruidosos, proibidos, as brincadeiras e as traquinagens,
o retrato da tia Sinhazinha, brutal e arbitrária, a presença do
cangaço no famigerado Antonio Silvino, a visita aos engenhos vizinhos,
o primeiro castigo da tia Sinhazinha, a revolta contida do órfão,
a enchente, a escola, a professora, as primeiras letras, as “lições de sexo”.
Capítulos 16, 23, 26, 28 e 33 – Mostra o coronel José Paulino e sua propriedade, admiráveis como grandezas interdependentes, o que se amplia para a dimensão maior do patriarca, senhor do engenho que se confronta com senhores de engenho, no momento agudo de um poderio irremediavelmente ameaçado. Sucessivamente aparecem: quadro religioso, superstições, crendices, o folclore, a literatura oral, seus transmissores no protótipo que é uma gravura do nosso universo infantil, notícia ambulante dos engenhos, a briga e
o assassinato, o carneiro e seu cavaleiro, a doença e a medicina caseira,
os incêndios de partido de cana e o heroísmo do homem na luta contra os elementos de uma natureza em convulsão, os serões, a mesa de refeição, a cozinha, o casamento da tia Maria e os preparativos para o colégio e a transferência para este novo mundo, que ao contrário da primeira transposição, será envolvido pelas sombras das gameleiras, cheiros, sons e imagens do mundo inesquecível do “Menino de engenho”.
Crendices Populares: O livro faz referências a crendices populares,
como a do lobisomem, que é citada através de João Cutia,
um comprador de ovos da Paraíba. “Não tinha uma gota de sangue na cara e andava sempre de noite, para melhor fazer as suas caminhadas, sem sol”. Achava-se que ele era lobisomem.
“O lobisomem é outro mito presente no imaginário nordestino.”
Esse mito, no Nordeste é explicado de várias formas. Uma delas é
que quando um casal tem sete filho homens, se não der o último
para ser batizado pelo mais velho, ele vira lobisomem. Irmão que tem relações sexuais com a irmã, se tiver filho, ele será lobisomem. Também filho de relação sexual entre compadre e comadre tem tudo para se um “lobo-homem”. Dizem que são nas noites de quinta para sexta-feira, principalmente se for noite de lua cheia, que a pessoa se transforma. Para haver o desencantamento há várias maneiras: deve-se tirar sangue dele, mas sem se sujar, pois se isso acontecer vira-se lobisomem também. Quando ele aparecer, deve-se fazer o sinal da cruz diante dele que ele corre. Ou, então, rezar três ave-marias.
José Paulino também fazia remédios – uma crença nos medicamento naturais –
ele tratava de tudo, fazia sinapismos de mostarda, dava banhos quentes, óleo de rícino, jacaratiá para vermes. Curava assim os negros, os netos, os trabalhadores.
Características dos Personagens
Carlinhos – é o protagonista da história. Era um menino triste. Gostava de ter liberdade, de brincar com os meninos, mas no fundo era triste. Morava em Recife, antes de ir para o engenho Santa Rosa, o qual ficou por quatro anos. Ficou órfão aos oito anos de idade. O engenho era tudo para ele. Apesar de tia Maria cuidar dele como mãe, não davam-lhe notícias a respeito do pai – diziam que estava doente no hospital e o hospital se tornou para ele um lugar para onde se vai e nunca mais volta.
A solidão para Carlos deixava falar o que ele guardava
por dentro: as preocupações, os medos, os sonhos.
Gostava de prender os canários com o alçapão.
Eram os seus dias de glória. Faziam todos os gostos para o menino: deram o carneiro Jasmim e fizeram os arreios em Itaibana.
Carlos cresce sem orientação e aos doze anos torna-se um corrompido. Avô José Paulino – figura representativa da realidade patriarcal nordestina. Aos olhos de Carlos, um verdadeiro deus, uma figura de
grandiosidade inatingível.
Não era um devoto. “A religião dele não conhecia penitência e
esquecia alguns dos mandamentos da lei de Deus. Não ia às missas, não se confessava, mas em tudo o que procurava fazer, lá vinha um “se Deus quiser eu tenho fé em nossa Senhora”.
Todos no engenho respeitavam o senhor José Paulino.
Depois do jantar ele sentava-se numa cadeira perto do grande banco de madeira do alpendre. Lia os telegramas do “Diário de Pernambuco” ou dava as suas audiências públicas aos moradores. Todo o dinheiro dele era para comprar terras.
Dona Clarisse – mãe de Carlos. É assassinada pelo marido no início do livro. Pai de Carlos – homem alto e bonito, com olhos grandes,
bigode preto. Beijava o menino, contava histórias, fazia os seus gostos. Tudo era para o menino, que mexia nos livros, sujava as roupas. Por outro lado, discutia com Dona Clarisse. Tinha um coração arrebatado pelas paixões, um coração sensível demais às suas mágoas. Fica louco e mata Dona Clarisse.
Tia Sinhazinha – velha de aproximadamente sessenta anos.
As negras, os moleques, todos tinham que se submeter à sua dureza e crueldade.
Não gostava de ninguém. Só agradava as pessoas para fazer raiva à outras,
depois mudava. Não se aproximava de Carlos. No engenho, trancava a despensa e andava com a chave.
Tio Juca – tio que, levando o menino da cidade para o engenho,
apresenta-lhe o mundo novo do engenho e também o próprio avô.
Tia Maria – moça que, com ternura, amor e carinho
vai substituir a mãe na memória de Carlos.
Velha Totonha – Vivia a contar história de Trancoso.
Era pequena, tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava muito a pé,
de engenho a engenho. Tinha talento em contar histórias.
“Não tinha nenhum dente na boca, mas dava tons às palavras”. Recitava contos inteiros em versos, intercalando a prosa com notas explicativas.
“O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local
que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino
era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e as
florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho do Pernambuco”.
Para Carlinhos, as historias de Totonha possuía um
“pedaço de gênio que não envelhece”.
Características de linguagem A linguagem que José Lins do Rego é regionalista, ou seja, a linguagem própria do local que se situa a história, neste caso, o Nordeste.
• Linguagem com poética. • Grande carga afetiva. • Escritor espontâneo e instintivo. • Narrativa de lugares comuns. • Combinação de várias formas de relato objetivo: a lenda, a época, a crônica. • Reflexão do problema social nordestino, diante do fim do patriarcado rural e o desmoronamento do mundo, com surgimento da usina de açúcar e a mecanização da lavoura. • Submissão da figura feminina. • Casamento por conveniência. • Proximidade com a natureza; personagens nativas e rústicas.
Vocabulário Acoito – abrigo, acolho, recebo, dou guarida, dou coito. Aperreios – dificuldades, submissões, aperturas: aperreiação, apoquentação. Bexiga-doida – espécie de varíola. Bilhetes de sisa –imposto de transmissão, imposto sobre compras e vendas. Bimbinhas – pênis de criança, coxas pequenas (de bimba). Bodoque – arco para atirar bolas de barro endurecidas ao fogo, pedrinhas, etc. Também estilingue, atiradeira. Botija – vaso de boca estreita, gargalo curto, pequena asa. Espécie de moringa. Bueiro – chaminé de engenho ou usina. Cabroeira – os cabras. Cacimbas – poços. Camumbembe – vadio, plebe, matuto morador de engenho. Doença-do-mundo – blenorragia, gonorréia. Enganjentas – orgulhosas, vaidosas. Gálico – doença venérea (a que pode deixar sífilis), blenorragia: estar engalicado. Jerimuns – abóboras Latomia – choro alto, lamúrias. Mezinhas – remédios caseiros. Obrando – defecando. Papa-figo – bicho- papão. Quenga – meretriz da pior espécie, vagabunda. Repasto – refeição. Rolinha – pênis de criança. Sezão – febre intermitente. Taboca – bambu. Tapurus – os bichos que comem as frutas. Varanda – guarnição de renda das redes. Xeireiro – adulador, pateta.